Após algo que posso chamar de “reconciliação da amizade”, eu e Jack voltamos para a sala, Matthew veio me perguntar sobre o que havia acontecido, se Jack havia feito algo de ruim... Enfim. Eu disse que lhe contaria depois, e ele concordou. Agora já tivemos aula de inglês, de história, e agora teríamos aula de Literatura e Redação, ao qual os professores nem sempre são bons, mas apesar de tudo ainda é minha matéria favorita. O sinal tocou tirando-me de meus pensamentos, e vendo a professora entrar. Não era uma velha com uma verruga cheia de pêlos. Era uma mulher jovem, aparentava ter uns 22, no máximo, 25 anos, tinha cabelos loiros até os ombros e olhos castanhos puxados para o mel. Ela disse:

– Olá, bom dia. Sou Rosie Carey, a nova professora de Literatura. Eu espero que gostem de mim. Como é meu primeiro dia, e de alguns alunos também, irei fazer pequenas apresentações. Irei chamar os alunos de um em um e eles devem vir até aqui, e falar sobre si. Seu nome, idade, coisas que gosta, não gosta... Uma coisa simples. Apenas para que eu conheça melhor vocês. – Ela disse sorrindo. – É claro que não vou lembrar de todos, mas vamos nos conhecer melhor com o tempo

Porque ela está sorrindo?! Não vejo nada de bom nisso. Sempre acontece alguma coisa que acaba fazendo você se passar por um idiota. Então. Ela foi chamar o primeiro aluno – refém, no caso – e disse:

– Você. – Ela apontou para Jack. Ele apontou para si mesmo, num gesto de dúvida. – Sim, você. Venha até aqui. – Ele se levantou e foi até lá. – Qual seu nome?

– Jack. Jack Lennon.

– Belo nome, Jack. Você é um novato ou veterano?

– Novato.

– E o que está achando da escola?

– Cá entre nós... Não vim muito com intenção de estudar. – Ele deu um sorriso malicioso de canto e olhou pra mim. Corei. – Mas é legal esse colégio. Acho que vou me divertir esse ano.

– Hum... E o que você gosta de fazer Jack?

– Normalmente costumo andar de skate. Gosto também de jogar futebol, ou nadar.

– E o que não gosta?

– Que mexam com o que é meu. – Disse por fim olhando para mim, sorriu, e voltou para sua cadeira.

Foi só impressão minha ou ele estava me paquerando indiretamente?!

Voltando aqui.

Fui completamente tirada de meus pensamentos quando aquela professora disse:

– Ei você – Ela apontou para mim. – Venha se apresentar. – Ela sorriu.

É sério isso?

Ela mal chegou e já quer ter alguém que a mande ir para um lugar não muito legal?!

– Er... Não obrigada. – Disse.

– Ora, o que é isso, venha.

– T-tudo bem. – Cerrei os punhos. Faltava muito, muito pouco para eu mandá-la ir fazer companhia por carinha lá de baixo...

– Pode começar.

– Meu nome é Charlotte Miller. Tenho 14 anos. Gosto de ler, escrever, desenhar, nadar e patinar. Detesto que me dêem ordens, tem uma pessoa que detesto eternamente, e, principalmente, odeio que me façam fazer coisas desnecessárias. – Dei uma indireta clara para Rosie, lançei um olhar fuzilante a ela e perguntei calmamente: – Posso sair? – Falei com uma mudança ultra veloz de personalidade. Sabe, tem vezes me pergunto como eu consigo mudar minha personalidade desse jeito. Ás vezes me acho bipolar.

– Er... Sim, sim... – Ela disse. Parecia um pouco apavorada. Acho que exagerei um pouquinho. Só um pouco... Bem pouquinho... Ah que se dane tudo!

– Obrigada. – E sentei.

– Exagerou aí né Charlie? – Matthew sussurrou pra mim e deu uma risada. – Parecia que tinha metralhadoras nos olhos, juro! – Ele riu.

– Ficou tão na cara assim?

– Tanto quanto ficou na cara o idiota te paquerando. – Matthew olhou parecendo ter muita raiva de Jack. – O que aconteceu antes de voltarem?

– Apenas fizemos as pazes. – Matthew arregalou os olhos.

– Vocês... o que? E tudo que ele fez?

– Matt... Em parte ele tinha razão. O que ele fez não foi certo, mas eu nunca deixei ele se explicar...

– Tudo bem Charlotte. – Disse. Estava bem claro que Matthew ainda estava com raiva dele, por medo dele me machucar. Por essas e outras, nunca acredite nele quando faz cara de raiva escondida, e diz “tudo bem”. Ele detesta todos que me tratam ou já me trataram mal. Tudo bem que ás vezes ele exagera mas... Eu não sei o que faria se Matt não fosse meu melhor amigo. Com esse pensamento o abracei. Ele estranhou meu gesto mas retribuiu, e disse: – O que foi? – Sussurrou.

Continuava com aquele pensamento. Seriamente... O que eu faria sem esse garoto fofo que está ao meu lado? Não imagino uma vida sem ele. Eu não lembro da vida sem ele.

–Obrigada... – Sussurrei ainda o abraçando e sorri.

– Pelo quê?

– Você é o melhor amigo do mundo. – Disse e o apertei no abraço. Logo após, o soltei.

– Você também é a melhor amiga de todo o universo, Charlie. – Ele sorriu. –Porque isso de repente?

– Sei lá... Me lembrei agora de tudo que você fez até agora por mim. Nunca me deixou sozinha até quando eu te tratava mal. Nem sei como você me aguenta – Dei uma risada. – Te adoro Matt.

– Também te adoro Charlie. – Disse, me abraçou de lado, e me deu um beijo na bochecha. Me soltou e depois se virou para frente. Sorri de lado.

Acabou a apresentação da menina que estava na frente, e a professora chamou Matt que foi até lá.

– Olá. Meu nome é Matthew Knight. Tenho 15 anos. Gosto de praticar atletismo e corrida, e tem poucas coisas que não gosto. – Disse com um sorriso muito fofo, gesto que fez algumas meninas suspirarem, inclusive Meredith.

– Gosta de literatura Matthew?

– Sim. – Disse ainda sorrindo.

– Certo... Então pode voltar ao seu lugar e começaremos a conversar um pouco sobre minhas aulas, já que você é o último aluno que chamei.

– Tudo bem. – Matthew voltou e eu disse:

– Como você consegue dar esse sorriso que deixa as meninas caidinhas por você Matthew Knight? – Falei rindo.

– Eu? – Falou confuso. A coisa mais engraçada em Matthew é que ele nunca percebia quando alguém estava gostando dele. E também não percebe que deixa as garotas doidinhas. Por exemplo agora, ele não percebeu que metade da sala quase morreu quando ele sorriu.

Acho que não posso falar nada não é? Eu sou lerda pra caramba, ainda mais no assunto “amor”.

– Não, minha avó – Ironizei. – Lógico que é você, idiota. Não sei como não percebe que metade do colégio cai aos seus pés! Depois diz que não namora por falta de opção. – Ele riu. – E em hipótese alguma se apaixone pela Meredith. – Ele fez uma careta quando disse isso.

– Santo Deus, Charlie. Não tenho o dedo tão podre assim. – Ele disse. – Além do mais, não acredito nessa coisa de “ficar”. Quero a garota certa pra mim. Que goste de mim e eu goste dela, e não uma menina de roupas curtas, que beija cada um que vê pela frente.

– Um dos poucos que pensa assim. Agradeço muito por você fazer parte dessa minoria. – Falei sorrindo.

– Vamos ouvir a professora?

– Sim.

Não ouvi tudo do começo, mas ela parecia estar falando sobre o planejamento das aulas. Resolvi dar um pouco de minha preciosa atenção.

– Então, como eu dizia, minhas aulas vão ser um pouco diferentes. Passarei alguns trabalhos de acordo com os livros que eu irei mandar. Hoje é o primeiro dia, então irei passar apenas um resumo. Vocês poderão escolher um livro, o favorito de vocês, e fazer um resumo dele. Lembrando que o título deve ser o nome do livro.

O sinal tocou.

– Para semana que vem. Não esqueçam. – Ela disse e saiu.

Enquanto o próximo professor não chegava Melannie e Allyce puxaram assunto comigo.

– Finalmente! – Disseram em uníssono.

– Finalmente o que? – Perguntei.

– Queríamos perguntar quem é aquele garoto lindo! – Melannie suspirou com cara de apaixonada. – Vocês se conhecem de onde? Ele tem namorada? Cara ele é tão lindo!

– Calma, calma – Dei uma risada. – Uma coisa de cada vez. Jack é... meu ex namorado.

– Ai... Desculpa Charlie. – Disse Allyce.

– Não, tudo bem! Ele fez umas coisas ruins comigo antes porque estava com alguns problemas. Hoje ele me pediu desculpas e eu o perdoei. Não nos reconciliamos mas voltamos a ser amigos. Ele parece ter mudado muito... Vocês gostaram dele? – Melannie assentiu. – E você Ally?

– Eu? Nem. Não gosto de meninos, tirando nosso amigo Matt. Mas tenho que admitir que ele é lindo.

– Querem que eu apresente ele pra vocês? – Assentiram. Melannie assentiu freneticamente.– Vamos então.

Elas me seguiram e fomos até a cadeira de Jack. Aparentemente ele estava ouvindo música. Ele percebeu minha presença, retirou os fones e disse:

– Olá Charlotte.

– Vim te apresentar minhas amigas, Jack. Essas são Melannie e Allyce. – Elas sorriram e acenaram para ele, e Jack acenou de volta. – Eu falei de você pra elas e elas te acharam um gato. Queriam te conhecer. – Elas fizeram uma cara de “não acredito que você disse isso”.

– Oi meninas. Obrigado pelo elogio, mas meu coração já tem dona. – Ele piscou pra mim, e é bem provável que agora eu esteja parecendo uma pimenta.

– N-não eram essas nossas intenções! – Melannie disse também corada e gaguejando. – Nós queríamos só conhecer o ex namorado da nossa melhor amiga!!!

– Prazer, Jack Lennon. – Ele sorriu e esticou o braço para um aperto de mão. Melannie a apertou e logo depois, Allyce. – Agora vocês me conhecem.

– Satisfeitas meninas? – Falei me contendo para não rir dessa situação.

– ...

– Tchau Jack.

– Até mais, Miller. – Ele pegou minha mão e depositou um beijo na mesma. Logo após se sentou. Deu um sorriso de canto e colocou os fones novamente.

Eu tinha que admitir: Jack era lindo, charmoso, galanteador, cavalheiro, e sabia conversar. Aqueles olhos verdes me faziam ficar boba, assim como a muitas outras garotas. Cabelos loiros, olhos esmeraldas, pele macia, charme de matar, cavalheirismo... Eu preciso mesmo dizer mais alguma coisa?!

Eu e as meninas voltamos para nossos lugares. Sentamos e elas logo falaram:

– Cara não acredito que você fez isso! – Allyce disse pra mim rindo e eu comecei a rir junto.

– Ele era lindo! Você já me deixou uma primeira impressão horrível, Charlotte! – Disse Melannie fazendo bico.

– Desculpa. Não aguentei. – Disse ainda rindo.

– Assunto encerrado gente. – Disse Allyce. – Mas o “assunto Jack” não acabou ok? Enfim. Charlie, ele tá super a fim de você!

– Nada a ver Ally. Não nos reconciliamos, apenas fizemos as pazes.

– Sei Charlotte... Sei.

Conhecendo-as como conheço estão desconfiadas.

Já vou começar a me preparar psicologicamente para o interrogatório que elas vão fazer depois.

O professor de matemática chegou, deu bom dia, e colocou suas coisas na mesa.

Esse foi meu primeiro dia de aula.

Nem imagino com serão os próximos.