And if escrita por Deschain


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/520573/chapter/5

.

.

.

Capítulo 4

.

.

.

Se não fosse a dor que sentia pelo corpo, teria a certeza de que estava sonhando.

A velha sacerdotisa tratava seu ferimento no braço direito. Estavam ambas sentadas, de volta a cabana da velha. Podiam ouvir os sons das pessoas andando de um lado para o outro e conversando entre si do lado de fora. Os sons de marretas e cerras se tornou tão comum que mal os percebia agora.

Estavam reconstruindo a vila e ela ajudaria com prazer se seu braço dominante não estivesse em estado lamentável, assim como todos os músculos de seu corpo. Parecia-lhe que havia sido moída e espremida de tal forma que nunca mais conseguiria se sentir 100% fisicamente.

Engoliu o gemido que subiu à garganta quando Kaede apertou o laço em volta de seu braço. Olhou para a senhora sentada ao seu lado.

– Vocês terão um trabalho difícil para consertar todos os estragos... – Comentou.

– Não será tão difícil se pensarmos no que teremos pela frente. – A velha suspirou, lavando as mãos em uma bacia de madeira ao seu lado. Havia concluído seu trabalho. – Agora que a Shikon no Tama reapareceu, mais e mais situações como a de ontem ocorrerão. Não apenas Youkais virão atrás da joia; humanos com maldade no coração também desejarão ter seus desejos atendidos.

Kagome analisou a pedra presa em sua bokuto. Logo depois dirigiu um olhar curioso para o rapaz deitado displicentemente ao seu lado.

– E o que você está fazendo aqui?

– Ele já deve ter percebido o poder do colar. – A velha murmurou divertida enquanto se levantava.

– Você já não é forte o suficiente? Para que precisa dessa pedrinha? – Perguntou.

O rapaz manteve-se em silêncio.

– Isso é porque ele é um meio-Youkai...

Kaede mal teve tempo de terminar sua fala. O rapaz socou furioso o chão, partindo a madeira facilmente.

– Acho melhor ficar quieta, velha. Você fala como se me conhecesse. – O tom de raiva estava claro na voz dele.

– Continua o mesmo de sempre, Inuyasha. Claro que você não reconheceria a irmã mais nova de Kikyou. – Andou até o fogão a lenha que mantinha ao lado da porta, alimentando o fogo com alguns gravetos que possuía ao lado.

– Kaede? – Estava incerto.

– Depois de 50 anos seria pedir demais que você ainda me reconhecesse. – Ela murmurou com um quê de divertimento.

– A Kikyou está tão gagá quanto você? É uma pena que os humanos envelheçam tão rápido... – Era óbvio que Inuyasha tentava fazer troça, apesar de soar incomodado com algo.

– Minha irmã morreu logo após te lacrar naquela árvore.

As orelhas de Inuyasha se agitaram levemente. Ele voltou a se deitar.

– Kagome. – Kaede a chamou, fazendo com que parasse de fitar o rapaz dos cabelos prateados e voltasse sua atenção para a senhora em frente ao forno. – Eu acredito que você seja a reencarnação da minha irmã, Kikyou. Você possui a joia de quatro almas, assim como é idêntica a ela.

Kagome a observou calmamente, mas preferiu ficar em silêncio. Conseguia sentir o incomodo de Inuysha, deitado a seu lado, então sem pensar muito decidiu espairecer. Segurou a bokuto, que passara o tempo todo ao seu lado, e após se levantar a amarrou firmemente à cintura, no cinto que havia modificado e que sempre usava em conjunto com o uniforme. Atraiu a atenção tanto da idosa quanto do meio-Youkai, mas não se importou em dar satisfações.

Era seu segundo dia naquele local e já tinha sido atacada por um humano, um meio-Youkai e uma Youkai. Recebera uma flechada, fora amarrada e quase morta. Não sabia onde estava, mas sabia que precisava voltar; quanto mais tempo passasse ali, maior era o risco de acontecer algo sério. Era seu dever proteger Souta e pouco importava ser reencarnação de alguém. Precisava voltar e inteira.

Suspirou. Apertou a bokuto.

Queria tanto que Darsh estivesse com ela. Ele com certeza saberia o que fazer...

Foi tirada de seus pensamentos pelos murmúrios dos camponeses. Ao que parecia a história de que ela era reencarnação da tal Kikyou havia se espalhado como fogo em grama seca. E a irmã da velha sacerdotisa devia ser muito querida, pois logo estavam a cumprimentando, oferecendo frutas e rezando para ela. Desconsiderando todo o resto, até que era engraçado.

Já estava com as mãos cheias de frutas quando finalmente encontrou um lugar tranquilo para descansar. Não foi com dificuldade, no entanto, que avistou a figura do meio-Youkai sentado em um dos galhos de uma árvore ali por perto. Decidiu se aproximar jogando uma das frutas maduras para o rapaz, que apesar de estar de costas segurou-a com precisão. Viu quando ele analisou a fruta com curiosidade.

– Ganhei várias iguais a essa. Não quer me ajudar? Acho que não consigo dar conta de tantas... – Apontou para a sacola que havia colocado ao lado quando sentou. Estava recostada no tronco, aproveitando da sombra que a árvore oferecia.

– Feh... – Virou o rosto, incomodado.

Ela não lhe deu maior atenção. Puxou uma das frutas de dentro da sacola e com calma se pôs a comer. Estava perdida em pensamentos enquanto observava a paisagem, até que sentiu Inuyasha ao seu lado. Virou o rosto a tempo de ver o olhar analítico que ele focava em seu rosto.

– Eu realmente não gosto quando ficam me encarando... – Ela comentou.

– Você, com certeza, não é a encarnação dela! – Mais uma vez virou o rosto.

Kagome deu de ombros, puxou outra fruta de dentro da sacola e jogou para ele.

– Que bom. Então quer dizer que você não precisa ter raiva de mim. – Piscou, sorrindo.

Ele saltou de volta ao galho em que estava, mas não antes que ela notasse o leve rubor que tomou suas feições.

– Está enganada! Ainda quero a joia, mulher!

Ela teria rido da previsibilidade do rapaz, mas voltou a morder o fruto, pensando no que poderia fazer para voltar para casa. Já estava escurecendo quando decidiu voltar para a cabana da velha Kaede.

.

.

Acordou cedo, o céu ainda estava escuro. A resolução do dia anterior foi endurecida durante a noite. Voltaria para casa.

Não era como se soubesse como devia agir em uma situação daquelas, em primeiro lugar ela nem devia estar ali, então foi sem peso na consciência que saiu da vila sem ao menos se despedir. Não gostava de despedidas de qualquer maneira.

Não sabia que tipo de ervas a sacerdotisa havia utilizado, mas seu braço, assim como o corpo em geral, estava quase perfeitamente curado. Movimentou-o testando os músculos para logo depois voltá-lo a posição ao lado do dorso e apoiar a mão na empunhadura de sua arma. Sentia a Shikon no Tama bater levemente contra a madeira enquanto caminhava de volta ao poço.

O caminho não foi difícil, os camponeses tinham feito uma trilha até a árvore sagrada, como chamavam, e de lá até o poço era uma distância pequena, facilmente percorrida e sem chance de se perder.

Já conseguia avistar o poço de madeira, coberto por trepadeiras, quando sentiu movimento em volta de si. Estava com a espada em punhos quando os três indivíduos surgiram do mato a cercando. Eles tentaram agarrá-la, mas eram enormes comparados a ela e mesmo que isso pudesse ser uma vantagem, estavam vestidos com armaduras pesadas o que diminuía consideravelmente a velocidade dos ataques. Não foi problema desviar deles e em pouco tempo tinha derrubado todos os três.

Apontou a bokuto para a garganta do primeiro que tentou levantar.

– Quem são vocês? E por que tentaram me atacar?

O homem a olhou ansioso, ainda de quatro, paralisado no meio do processo de se erguer. Lançou um olhar rápido para os colegas, mas percebeu que dali não conseguiria ajuda. Os outros dois estavam com medo da garota.

– Não queríamos machucá-la. Só estávamos cumprindo ordens. Nosso chefe pediu para que a levássemos até ele.

– Seu chefe? – Analisou as feições dele, tentando encontrar alguma indicação que estivesse mentindo. – Quem é seu chefe? E o que ele quer comigo?

– Não sabemos o que ele quer com você. Ele só pediu para que a gente pegasse a menina que tinha a Shikon no Tama.

As palavras da velha sacerdotisa ecoaram em sua mente.

[(...)Agora que a Shikon no Tama reapareceu, mais e mais situações como a de ontem ocorrerão. Não apenas Youkais virão atrás da joia; humanos com maldade no coração também desejarão ter seus desejos atendidos.]

Ela decidiu dar uma olhada nesse "chefe" e descobrir suas intenções.

– Levem-me até seu chefe.

Os homens ainda demoraram a entender o que ela estava pedindo, mas assim que aquele para quem ela apontava a espada pareceu digerir a ordem não demorou em gritar para que os outros dois se levantassem e mostrassem o caminho para ela.

Kagome seguia os dois enquanto conversava com o que parecia ser o líder do grupo. Descobriu que faziam parte de um bando de mercenários, mas que estavam só de passagem. Haviam se estabelecido em uma velha choupana ali por perto, não tinha uma semana, porém desde o dia anterior o chefe agia de maneira estranha. Era um cara forte e amigável, todos o respeitavam, e conquistara o poder não por violência, mas sim por merecimento, era dado a conversa e bebida, mas estava fechado e taciturno.

– E o cheiro... É como se alguma coisa tivesse podre... O Hiro diz que são os gases, mas eu digo que se alguém peida daquele jeito então alguma coisa não anda bem por dentro... – O líder gesticulava, passando a mão na barriga. – Mas ninguém fala nada para ele... O chefe anda muito esquisito. Desde ontem que murmura coisas que o pessoal não entende e quando diz algo com clareza é a respeito da bolinha. – Apontou para a pedra amarrada à bokuto da garota.

– Ele tem algum desejo? Ter dinheiro, mais poder... Algo assim?

– Quem não tem?– A olhou curioso, como se ela tivesse perguntado se o céu era azul. – Somos mercenários. Dinheiro é o que nos move. – E dizendo aquilo deu o assunto como encerrado.

Kagome estava pensativa quando finalmente chegaram a velha construção. Escoltada pelos três, foi introduzida no único cômodo: um grande salão. Havia vários homens parecidos com aqueles que estavam a seu lado, mas não deu grande atenção. Preferiu analisar o recinto e as rotas de fuga, no entanto não se prendeu a tarefa por muito tempo, já que a única saída era a porta em que havia entrado e o lugar não possuía móvel algum, apenas pedaços de pano jogados ao chão displicentemente: provavelmente a cama dos rapazes.

– Aqui está a garota, como o senhor pediu, chefe. – O líder do trio falou com uma sombra ao fundo do lugar.

Ela não viu com quem ele estava falando, até que em um movimento bamboleante o maior homem que ela havia visto na vida se arrastou para fora das sombras. Só então o cheiro a atingiu: forte, acre, azedo; ruim o suficiente para ser insuportável.

– Me entregue... a pedra...– A voz saia engrolada enquanto o quase gigante lutava para manter o equilíbrio.

– O que você quer com ela? – Recuou um passo, estava espantada com o tamanho do homem e incomodada com os modos dele. Não parecia ser a única, já que a tensão dos outros mercenários era quase palpável.

– A pedra... Me dê ou morre. – Puxou a enorme espada que tinha presa a cintura, acertando um dos seus ao brandi-la aleatoriamente após retirar da bainha. O mercenário morreu na hora, dividido ao meio como se fosse manteiga.

Os outros homens correram para a porta, fugindo do caminho da arma. O chefe movimentava a espada como se estivesse bêbado, acertando indiscriminadamente tudo que se colocava em seu caminho. Kagome não teve dificuldade em se desviar dos movimentos, era pequena e rápida, manter-se fora do raio de alcance do homenzarrão era fácil para ela. Os homens ao contrário eram lentos e tentavam fazer o chefe perceber a loucura que estava fazendo, muitos foram mortos até que decidiram apenas fugir. E o caos que se instalou só acabou quando o quase gigante acertou uma viga da fundação, causando um pequeno desabamento, justamente no único lugar que tinham para sair. Os poucos que ainda estavam dentro do salão, correram para a garota, procurando proteção na única pessoa que parecia calma o suficiente naquela situação.

Kagome fitou-os irritada.

– Deviam tentar desobstruir a passagem! – Gritou.

– Sim, chefa!– Eles gritaram de volta.

Observou divertida todos eles correrem para a porta.

– Vou distraí-lo, então se concentrem em liberar a passagem.

– Sim! – Gritaram, já motivados.

A garota focou sua atenção no inimigo. Já havia lutado com vários tipos, mas nunca com alguém tão grande e desajeitado como ele. A melhor tática seria cansa-lo, mas o homem continuava com o mesmo vigor apesar de ter matado mais de cinco pessoas e derrubado uma viga grossa o suficiente para ter a largura dela. Os movimentos ainda eram desordenados o que dificultava que ela os previsse e enquanto tudo o que ela tinha era uma espada de madeira, o homem empunhava uma espada com o dobro do tamanho dela e tão afiada que conseguia cortar um homem ao meio como se fosse massinha de modelar.

Ainda analisava sua situação quando ele a atacou. Podia não conseguir prever os movimentos dele, mas ao menos via seus ataques, o que era mais do que podia dizer da luta no dia anterior com Inuyasha.

– Joguem uma espada! – Ela gritou, voltando-se parcialmente para os mercenários que se amontoavam em volta do pequeno monte de escombros que tapavam a porta. Um deles soltou a arma da cintura e jogou para ela, que a apanhou ainda no ar e a tirou da bainha em tempo para desviar o golpe que teria no mínimo arrancado seu braço esquerdo fora.

O chefe se desequilibrou após o ataque, se inclinando para a frente. Deu dois grandes passos antes de se firmar e trazer a arma para a posição inicial, voltou-se para a garota, mas ela já estava entre suas pernas. Abaixou a cabeça para acompanhar o movimento dela e, como se não estivesse pensando no que estava fazendo, cortou desajeitadamente o lugar onde ela estava. Porém, não foram pedaços de um corpo feminino que caíram ao chão e sim metade de uma perna enorme. Sem uma das pernas para se equilibrar o já desequilibrado gigante tombou para o lado, ainda segurando fortemente a espada.

Kagome saltou para o lado, evitando ser esmagada pelo enorme corpo. Segurou a arma emprestada com força e lançou sua lâmina de encontrou ao punho da espada, decepando a mão que ainda segurava a monstruosa arma. Só então reparou que tanto o ferimento na perna quando o do punho não sangravam, eram como cortes em um cadáver seco.

O monstro tentava se levantar quando um buraco enorme surgiu de uma das paredes e por ele entrou Inuyasha.

– A joia está segura?– Pousou ao lado dela em um movimento preciso, observando sua cintura a procura da Shikon no Tama. Só após ver a bolinha presa a espada de madeira que dirigiu o olhar para ela. Estava irritado e não se preocupou em ocultar. – O que você acha que está fazendo, mulher idiota!

Kagome abriu a boca para dar uma resposta malcriada, mas antes que pudesse falar o gigante já se arrastava em direção a eles. O peitoral pendia revelando o grande buraco no peito do mercenário e de dentro dele brilhavam três olhos vermelhos.

Inuyasha cobriu o nariz com a manga da roupa.

– Esse corpo tem cheiro de carne morta. – E como se para confirmar o que ele dizia, os três olhos vermelhos brilharam maldosos, projetando-se de dentro do corpo na forma de um corvo medonho. – O corvo deve ter comido o coração e passou a controlar o corpo...

A garota se manteve calada, observando em choque.

– O shibugarasu não tem poder suficiente, então ele usa outros corpos para lutar...– Inuyasha saltou para o corpo enorme cravando suas garras no buraco, mas o corvo conseguiu escapar ao ataque rasgando as costas do morto. – Covarde!– O meio-Yokai rugiu ao ver o pássaro demônio dar uma meia volta no lugar.

Preparava-se para atacar mais uma vez quando o pássaro se adiantou e mergulhou em direção a garota. Kagome levantou os braços, tentando se proteger do ataque, mas o pássaro mirava mais abaixo e ela só percebeu o motivo do ataque quando sentiu o pequeno puxão em sua bokuto. Olhou para a espada de madeira apenas para confirmar que a joia não estava mais em seu lugar.

Inuyasha também viu o movimento, mas não pode fazer nada. Achava que o pássaro tentava atacar a garota e aquilo o pegou de surpresa. O shibugarasu era fraco e nunca atacava abertamente usando o próprio corpo, mas ele devia ter imaginado que não era a humana que o demônio mirava. E foi com irritação que viu o pássaro escapar pela abertura que fizera na parede.

Sem pensar duas vezes agarrou o pulso da garota e a levou para fora.

– Temos que pegá-lo. – Observando os arredores encontrou um arco e uma aljava de flechas em uma das montarias dos mercenários. Pegou-os e empurrou para a garota, logo depois agachou-se de costas para ela. – Suba, não temos tempo.

Entorpecida, Kagome fez como lhe ordenava. Subiu nas costas do rapaz, ajeitando a aljava nas costas e segurando firmemente o arco.

Pouco tempo depois estavam seguindo o pássaro demônio, saltando pelas copas das árvores. Inuyasha logo conseguiu cobrir a distância que o shibugarasu havia imposto.

– O que está esperando? Atire! – Gritou.

– Eu não sei como usar isso! Não tem como eu acertar, de jeito nenhum! – Ela gritou de volta, nervosa. Agarrou o arco com mais força, sentindo a palma suar.

– Ele come carne humana e está indo em direção a vila. Não acha perigoso deixá-lo vivo?! Atire logo! A Kikyou era uma grande arqueira!– Disse aquilo mais como repreensão pela incerteza dela.

Ela sentiu o enorme buraco se abrir no estômago assim que viu o corvo engolir a joia. Ajeitou-se o melhor que pode nas costas de Inuyasha, encaixou uma flecha no arco e puxou até sentir a tensão. Tentou mirar o corvo com a ponta da flecha, mas os pulos do meio-Yokai não ajudavam. Um fio de racionalidade a fez calcular o vento e a velocidade do corvo, porém ela teria que atirar uma vez antes de calcular qualquer coisa. Soltou a flecha.

Quase alcançou o corvo, mas não tinha força suficiente.

Inuyasha tropeçou no meio do pulo e caiu.

– Você é idiota ou o que, garota? – Virou o rosto para fitá-la irritado, como se o erro tivesse sido proposital.

Viram o shibugarasu triplicar de tamanho.

– O shibugarasu está ficando maior.– Inuyasha levantou-se novamente e mais uma vez correu atrás do demônio. Pela segunda vez cobriu a distância. – Atire!

Kagome encaixou a flecha, puxou a corda com mais força e soltou. A flecha ganhou alcance, mas ainda não conseguiu alcançar o corvo.

Inuyasha parou de correr e a derrubou.

– Você não é a reencarnação dela.– Gritou enquanto apontava o dedo para o rosto dela. – Definitivamente, não é a reencarnação da Kikyou. Não espero mais nada!

Sem esperar uma resposta ele virou-se e voltou a perseguir o shibugarasu, deixando-a para trás. Viu o pássaro planar sobre o rio que passava ao lado da vila, se ela corresse conseguiria chegar à vila a tempo de evitar qualquer tragédia. Ao menos esperava que sim.

Correu tanto quanto seu corpo lhe permitia. Estava quase na ponte que a levaria até a vila quando viu a sombra do corvo, enorme devido a joia, baixar sobre um grupo de camponeses. Quando o corvo tomou altitude novamente, foi com horror que viu que entre suas garras havia uma criança.

– Inuyasha! Você tem que salvar a criança!– Gritou quando o meio-Yokai entrou em seu campo visual. Ele ainda seguia a criatura, agora muito mais próximo, livre do peso morto.

– Sankon Tetsusou!– Talvez não tivesse ouvido ou apenas a ignorou, ele saltou da copa e atacou o corvo, retalhando-o por inteiro. Não demonstrou qualquer interesse na criança que despencou e caiu no rio, junto com os pedaços do monstro. Estava mais preocupado em procurar a joia que devia ter caído após o retalhamento.

A criança gritava da água quando não estava submersa, a mãe gritava por ela e o resto dos camponeses corriam na margem seguindo o corpo que se debatia, mas sem nada fazer. Pensando no irmão, Kagome tirou os sapatos e as meias e se jogou na água, se sentindo grata por ter feito aula de natação. Assim que mergulhou na água fria do rio, tratou de colocar a corrente a seu favor, nadando o mais rápido que pôde até o menino.

Ele agarrou-se a ela no instante em que conseguiu aproximar seu corpo ao dele.

– Vai ficar tudo bem. Se segure em mim, mas não se mexa muito. Eu vou te levar de volta a sua mãe. – Sussurrou, tentando acalmá-lo.

O garoto aquietou-se o máximo que pôde, mas não aliviou o aperto em volta do pescoço dela. Kagome concentrou-se em levá-los à margem, dando pequenas braçadas para não perder o equilíbrio e alterar a posição do garoto, correndo a chance da corrente puxá-lo para a morte certa.

Sentiu a terra sob os pés, mas não conseguia se firmar; assim que apoiava o pé sentia-a desmanchar. Estava para gritar por ajuda quando sentiu uma mão agarrar seu pulso firmemente e içá-la para fora do rio, junto com o garoto. Sorriu para o aldeão que a ajudou e agachou-se para que o menino pudesse se apoiar nas próprias pernas e soltar seu pescoço.

– Vamos... Está tudo bem... – Acariciou a cabeça dele, falando o mais docemente que podia. Quando se livrou do enlace da criança viu os olhos cheios de lágrimas e só pôde sorrir e o abraçar. – Já passou. Olha ali sua mamãe.

A mãe do menino vinha correndo ao encontro deles. A criança ainda voltou-se mais uma vez para ela antes de se lançar em direção a mãe. Kagome sorriu ao ver a cena, sorriso que morreu quando voltou-se para o outro lado do rio ao ouvir Inuyasha gritando.

– Ei, mulher! Onde está a joia?!

Irritada, fez questão de ignorá-lo e voltar-se para a mãe do garoto que a agradecia. Mas, mais uma vez, ouviu-o gritar.

– Ele está escapando!

O shibugarasu estava recomposto, como se nada tivesse acontecido, e se debatia, tentando sair do rio. Ouviu o menino gritar e ao olhá-lo percebeu a garra que ainda segurava a parte de trás de suas roupas. Ela se remexia e puxava em direção ao corvo gigante que se debatia nas águas do rio.

Não era burra ao ponto de não perceber o que aquilo significava. Passou os olhos por todos os camponeses que a rodeavam até que encontrou um homem com um arco e uma aljava de flechas.

– O senhor poderia me emprestar por um momento? – Apontou para o arco. O homem concordou sem pensar duas vezes.

Kagome pegou a flecha que ele lhe oferecia e caminhou até o garoto, arrancou a garra e com uma corda que conseguira de outro camponês, amarrou-a firmemente a flecha. Encaixou-a no arco e repetiu o processo que por duas vezes não mostrara resultado. Nesse ponto o shibugarasu já estava de volta ao céu, voando o mais rápido possível para longe do alcance deles.

O poder de regeneração da joia era grande demais, a garra amarrada a flecha se contorcia cada vez mais, atraída pelo corpo de origem. Foi com a certeza que acertaria que Kagome liberou a flecha.

Segundos depois o local onde antes havia o corvo foi tomado por uma iluminação rosa, quase tão forte quanto o sol.

– Que luz... é essa? – A pergunta saiu mais como um sussurro.

E quase como resposta à pergunta, a luz se dispersou em várias direções, criando feixes luminosos que cobriram o céu quase que totalmente, mas que logo desapareceram.

Inuyasha surgiu ao lado dela.

– Temos que procurar a Shikon no Tama. – E mais uma vez se curvou para que ela subisse em suas costas. Atravessaram o rio facilmente e Inuyasha os levou rapidamente até o local onde a joia provavelmente teria caído após a destruição do corvo.

Procuravam a joia quando de entre as árvores a cabeça do shibugarasu surgiu. Voou em direção a Kagome, mas Inuyasha o deteve no meio do ataque, dilacerando-o.

Foi então que ela viu. O pedacinho brilhante que caiu da cabeça do shibugarasu. E então ela entendeu o que era a luz rosada que vira momentos antes. E sentiu o buraco se abrir novamente em seu estômago.

Kagome Higurashi havia quebrado a Shikon no Tama com sua última flecha.

.

.

.

[Ele vai me matar...]


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "And if" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.