And if escrita por Deschain


Capítulo 4
Capítulo 3




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Capítulo 3

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A dor em seu braço nem passou pela mente de Kagome. A imagem de seu irmão era tudo o que se permitia pensar e graças a ele, sentia que tinha forças para acabar com aquela coisa. Mas precisava de espaço para lutar e o único lugar que conhecia por ali era a clareira onde a árvore sagrada estava.

Correu tanto que seu coração parecia que explodiria dentro do peito, mas de algum modo, conseguira despistá-la dando lhe uma boa dianteira. Já via a árvore sagrada claramente, conseguia ver o garoto preso nela, conseguia ver seu rosto perfeitamente, assim como o dourado dos seus olhos...

– O que...? – Estacou em frente a ele.

– O que foi, Kikyou? Surpresa? – Ele ria debochadamente.

– Você está vivo? Mas como...?

– Por que você está brincando com essa yokai? Por que não a mata com um golpe, assim como fez comigo? Não me diga que perdeu seus poderes de sacerdotisa...

Kagome parou de prestar atenção no garoto quando ouviu um barulho estranho. Tentou concentrar-se para localizar a fonte.

– Ela está aqui... – O garoto disse sério.

Kagome viu a centopeia sair da copa da árvore sagrada, se jogando sobre ela, mas conseguiu se desviar dando um pulo para trás. Soltou a bokuto da cintura, segurando sua empunhadura com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.

– Vamos Darsh, você sempre quis me proteger de tudo e todos, aqui está sua chance. Não desperdice. – Sentiu algo pulsar dentro de si novamente, mas não tinha tempo de pensar a respeito porque o monstro já se lançava de novo sobre ela. Correu para cima do que quer que aquilo fosse, mas no último momento jogou-se ao chão deslizando por baixo da barriga dele. O yokai, como o garoto havia chamado mais cedo, percebeu tardiamente que não existia garota alguma em sua frente; quando voltou-se ela já corria sobre seu corpo, em direção a sua cabeça. Tentou derrubá-la, mas a menina saltou, usando a gravidade para ampliar a força do golpe, acertando a coluna da mulher.

Kagome pôde ouvir o estralo de algo se partindo sob sua espada, mas sabia que aquilo não era o final. Sem apoio cairia direto ao chão e na altura em que estava, quase uns dez metros, talvez acabasse deslocando ou até mesmo quebrando um osso. Logo, por reflexo, agarrou-se aos cabelos da mulher para que conseguisse mudar a rota de sua queda. Conseguiu coloca-la sob seu corpo de modo que diminuísse o impacto com o chão. Saiu de cima dela aspirando grandes quantidades de ar, as pernas tremiam e o ferimento no braço voltara a doer, dessa vez com intensidade dobrada.

Jogou-se no chão. Estava cansada. Novamente a única coisa que gostaria de fazer era dormir.

– Ei, Kikyou, o que foi isso? Desde quando você trocou o arco e flecha pela espada? – O garoto parecia incomodado com alguma coisa.

Kagome o olhou de soslaio, os olhos apertados em irritação. Estava pronta pra dizer alguma coisa quando viu a centopeia se mexer. Levantou-se em um salto enquanto a centopeia erguia-se rapidamente.

– Você acha mesmo que pode acabar comigo com isso? – O protótipo de mulher riu. – Agora que já brincamos, me dê a Shikon no Tama!

– Por acaso você é idiota? – Ela perguntou entredentes. – O que te faz pensar que eu vou te dar alguma coisa?

– Garota insolente! – Ela avançou sobre Kagome, mas a garota defendeu o ataque novamente, dessa vez aparando o golpe com a bokuto e disputando força com o Yokai. Ela empurrou o Yokai o suficiente para sair de seu caminho e acertar os braços que pendiam do lado direito de seu corpo, arrancando-os.

– Nem que eu tenha que te despedaçar, eu vou acabar com você! – Atacou novamente, dessa vez perfurando a barriga do Yokai.

– Feh, perdendo pra uma humana... – O garoto comentou debochadamente.

Kagome não entendeu o porquê da centopeia ter se irritado tanto com o comentário dele, mas ela a esqueceu e lançou-se em direção a ele.

– Como se um hanyo... – Cuspiu essas palavras. – ...tivesse direito de abrir a boca para falar alguma coisa a mim!

O garoto arregalou os olhos. Ele não podia se mover, estava lacrado, e a Yokai com certeza tiraria proveito disso. Foi quando um corpo surgiu, bloqueando rapidamente o ataque. Os longos cabelos negros ainda dançavam a sua frente devido ao movimento quando o olhar dele se prendeu no pedaço de pano que cobria as pernas da garota. O pano levantara dando-lhe visão total das cochas dela.

Ele levantou os olhos, de repente tomando noção do que estava fazendo. Seu olhar encontrou com o dela, que tinha virado o rosto parcialmente para ver como ele estava e provavelmente o flagrara olhando para onde não devia. Ela sorriu de canto e voltou-se para a Yokai.

O coração dele falhou uma batida.

– Sua luta é comigo. – Ela tentou soar firme o suficiente para não demonstrar que aparar aquele golpe consumira mais de sua estamina do que gostaria.

Então ela sentiu aquela pulsação novamente.

Kagome pulou para a Yokai sentindo aquela mesma força estranha do início da luta. Tinha certeza que venceria mesmo que seu braço estivesse aos frangalhos. Com um golpe fatal acertara o crânio da oponente, partindo-o em dois. O corpo tombou imóvel ao seu lado. Ela respirava com dificuldade, mas sorria.

Observou o garoto preso na árvore e andou até ele, lembrando-se do que ocorrera ao defende-lo. Sorriu.

– O príncipe sempre ganha algo quando salva sua princesa. – Ela parou poucos centímetros dele. – Estou pegando minha recompensa... – Com um movimento rápido a garota colou os lábios na boca do garoto. Se afastou sorrindo enquanto segurava a flecha encravada no corpo dele. – Vou tirá-lo daqui. – Quebrou com facilidade a flecha que se desfez em pó instantaneamente. Olhou maravilhada o processo enquanto o corpo do garoto despencava.

O rapaz a olhava espantado. Não entendia o que ela queria, mas após o beijo teve certeza de que ela não era Kikyou e não sendo a sacerdotisa, sua aparência lhe incomodava.

– Venha, vou te levar até o vilarejo. – Agachou-se ao lado dele, pegando um de seus braços e passando sobre o ombro.

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Mesmo que fosse um hanyo passar cinquenta anos preso a uma árvore, sem mover um único músculo, fez com que seu corpo esquecesse parcialmente como se sustentar sozinho. A irritação de ser salvo por uma humana foi aumentada por ter que depender dela para se locomover. E não era uma humana qualquer, era a cópia da mulher que amava e que o aprisionou na maldita árvore por meio século!

– Eu consigo sentir seu olhar. Não é muito legal ficar encarando os outros. – Ela tentou parecer relaxada, mesmo sabendo que aquele garoto não era humano, que poderia matá-la se quisesse e que tinha razão para isso, já que ela decidira fazer aquela brincadeira idiota mais cedo. Parecera mais engraçado quando Shino a fez com Darsh...

– Feh! – Ele virou o rosto para o lado contrário, meio envergonhado por ter sido pego no flagra.

– Então... Por que você estava preso naquela árvore? – Tentou quebrar o silêncio incômodo que os rodeava. As garras dele estavam encravadas na pele de seu ombro, mesmo que ela soubesse que não fosse de propósito. Ao que parecia, tanto tempo sem se movimentar tinha tirado a noção de força de seus músculos.

– Não é de sua conta, humana.

– Sabe... Eu tenho nome. – Ela o observou atentamente. – Sou Kagome Higurashi. E você é... ?

O garoto manteve-se quieto e como ela não era de ficar insistindo, decidiu-se pelo silêncio. Voltar para a vila estava sendo algo extremamente trabalhoso para ficar preocupada em entreter seu novo "amigo". Já estava escuro e ainda tinha que carregar o garoto parcialmente, o braço doía e sentia que seus músculos iriam se romper a qualquer minuto. Ela estava alcançando o mais avançado estágio de dor que sentira na vida.

Se aparecesse outra coisa igual à mulher-centopeia não tinha certeza se conseguiria dar conta. Instintivamente levou a mão a bokuto... Sempre se sentia aliviada ao tocá-la. Era a mesma sensação que tinha quando estava com Darsh.

Notou com divertimento as espiadas que o garoto tentava dar.

– Se eu sou tão interessante, basta você olhar. Encarar é ruim, mas fazer o que se eu sou tão irresistível assim? – Piscou para ele, apenas para rir da cara emburrada que ele fez.

Aos poucos a vila apareceu sob o monte, até onde os rastros da youkai os guiou; segui-los mostrou-se uma boa ideia no final das contas. Estava pensando em como desceria o pequeno barranco com o rapaz apoiado em seus ombros quando a velha Kaede e um grupo de camponeses liderados por Ryou surgiu a frente deles.

– Kagome! – A velha gritou enquanto se aproximava.

– Senhorita! Está tudo bem?! – O líder acompanhava a velha sacerdotisa, mas parou abruptamente ao ver quem estava ao lado da garota.

– Está tudo bem sim, mas acho que estraguei seu trabalho, senhora Kaede. – Sorriu sem graça, lançando um olhar rápido para o braço direito onde o pano que a senhora havia amarrado em volta de seu braço se mostrava vermelho. A ferida voltara a sangrar.

A velha estava pronta para falar quando o rapaz-da-árvore [como ela havia nomeado mentalmente] afastou-se dela como se tivesse levado um choque. Pôs-se de pé com uma firmeza que não existia até segundos atrás, como se não tivesse estado tão fraco ao ponto de necessitar de ajuda para se movimentar.

Kagome o observou interessada, mas a idosa foi mais rápida e quebrou o silêncio que caíra sobre o grupo.

– A jóia de quatro almas... Foi provavelmente ela que atraiu aquele Yokai... – Ela apontou para a pedrinha amarrada firmemente na empunhadura da espada de madeira.

– Essa pedrinha? Mas por que...?

– A Shikon no Tama aumenta os poderes Yokais, não serve para você, humana. Me dê a pedra se não quiser morrer! – O rapaz-da-árvore falou num tom firme.

Estava surpresa pela mudança do rapaz, que aumentou quando a velha colocou-se entre os dois, como se tentasse protegê-la. Seguindo o movimento da velha, o grupo de camponeses se espalhou em volta deles, criando uma barreira que impediria o rapaz de fugir.

– Você não pode entregar a pedra para ele, Kagome. Não importa o que lhe diga! – Kaede sussurrou, mantendo os olhos no rapaz-da-árvore.

– Eu odeio esse seu cheiro... Feh...

Kagome não pôde ver o rosto do rapaz-da-árvore com clareza, mas percebeu a contração na boca. Os lábios repuxados mostraram os caninos anormalmente desenvolvidos. Levantou as garras e saltou para cima dela.

O braço direito estava vermelho do sangue que o pano saturado não conseguia estancar e o esquerdo estava dormente devido a força que usara na luta com o Yokai centopeia. Sem alternativa, a garota virou-se e correu do alcance do rapaz-da-árvore, mas as pernas estavam bambas da corrida anterior. Sentiu o ataque e conseguiu desviar-se por pouco das garras dele, no entanto perdeu o equilíbrio durante o movimento e caiu.

– Não achei que você seria ingrato a esse ponto... – Exclamou para ele. Tentou demonstrar divertimento, mas estava irritada. Não tinha condições de se defender daquele jeito.

Os camponeses que possuíam arco escolheram esse momento para atirar no rapaz-da-árvore, mas mostrou-se inefetivo, já que com apenas um movimento ele partiu todas as flechas que por pouco não o acertaram. Sorrindo maliciosamente saltou para eles e com um ataque duplo cortou algumas árvores que estavam no local, no intuito de acertá-los enquanto caiam.

– Saiam daí! – Ela gritou, mas isso não aumentaria a velocidade dos homens e alguns foram apanhados pelas árvores, ficando presos por baixo delas. Os gemidos de dor eram audíveis e logo o restante dos camponeses correram, ou para ajudar os feridos ou de volta à vila.

– Vocês não passam de insetos! – Ele gritou irritado, encarando os poucos que ainda estavam por ali.

– Você é idiota por acaso! – Kagome gritou, tomada pela fúria. – O que você pensa que está fazendo?! Eles não te fizeram nada! Seu problema é comigo!

Atrás dela a velha se mexeu minimamente, mas ela não deu importância. Fitava seriamente o rapaz-da-árvore, esperando que ele fizesse algum movimento.

Se olharam por alguns instantes. Os cabelos prateados tão longos se agitavam ao sabor do vento, os olhos âmbares brilhavam maldosos como os de um predador, a boca fina ainda estava repuxada, agora em um sorriso irritado, deixando amostra os caninos brancos. A mão dele estava levantada de modo que as garras ficassem visíveis, o corpo tenso, pronto para dar o bote a qualquer momento. Apesar de estar com uma vestimenta vermelha, folgada nas pernas e braços, seus movimentos eram rápidos demais para que ela captasse satisfatoriamente, como havia testemunhado anteriormente, e por isso evitava piscar, prestando total atenção.

Sem aviso ele saltou. Ela mais sentiu do que viu o movimento, mas foi suficiente para que se levantasse e corresse para longe da velha e dos camponeses. O golpe atingiu o chão, fez pedras e terra subirem, a desequilibrou e fez com que sua bokuto fugisse de seu enlace. Apenas nesse momento ela percebeu que havia segurado a espada de madeira durante todo o tempo.

Sabia que ele não lhe daria tempo, então rolou sobre o próprio corpo, estendeu a mão e agarrou a espada e, sem pensar no movimento, a colocou em frente ao corpo, pronta para aparar o golpe. As garras chegaram a tocar a madeira da espada, mas não possuíam um décimo da força inicial.

O rapaz olhava espantado para um colar brilhante que envolvia seu pescoço, que não estava lá segundos atrás.

– Mas o que...? – Segurou o colar.

– Kagome, use o Kotodama para controlá-lo! – Kaede gritou.

– Koto-o-que? – Dirigiu-lhe um olhar confuso.

– Uma palavra de ordem! Diga qualquer coisa para detê-lo!

Ele pareceu perder o interesse em tentar tirar o colar do pescoço, voltando mais uma vez a atenção para ela. Andou em passos firmes, porém lentos até o lugar em que estava caída, percorrendo a distância que ela havia imposto enquanto ele estava distraído. Foi apenas um instante, mas ela pôde perceber a leve agitação das orelhas em sua cabeça e não conseguiu se impedir de fazer a associação com um animal, muito menos de segurar a palavra que escapou de sua boca em seguida.

– Senta!

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[Como um cachorro.]


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