And if escrita por Deschain


Capítulo 2
Capítulo 1




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Capítulo 1

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Chegar em casa sempre era um alívio, apesar das atividades do templo que sempre a aguardavam. Nos primeiros anos após a morte de seu pai sempre sentia uma sensação ruim ao subir a longa escadaria, como se quando chegasse lá não encontraria mais nada. Nunca descobriu realmente o porquê daquilo, mas logo foi esquecido. Tornara-se forte. Protegeria sua família com suas próprias mãos.

Souta sempre pedia que ela o ensinasse a usar a bokuto de Darsh, mas ela sempre adiava. Talvez porque achasse que era algo muito pessoal, talvez porque considerava o irmão muito novo. Então sempre que ele lhe abordava ela corria para o avô perguntando se ele a havia chamado e como o senhor sempre tinha algo para pedir Souta nunca conseguiu ser mais insistente.

Aquele dia não foi diferente e assim que encontrou o senhor ele logo lhe apontou algumas caixas a sua volta.

– Estou pensando em colocar isso aqui lá no poço.

Ela assentiu e reparou em algo que o velho segurava.

– O que é isso vovô?

Ao olhar para direção que a menina apontava o senhor sorriu.

– Shikon no Tama... – Levantou-a de modo que a colocasse contra a luz. – Esta pequena pedrinha foi criada há muito tempo, quando os demônios ainda andavam sobre a terra. Naquele tempo existia uma brava sacerdotisa, talvez bonita, mas quem sabe? Sua aparência realmente não importa... – Ele pausou parecendo se lembrar de algo engraçado e continuou. – Esta sacerdotisa protegia como podia aqueles que a rodeavam dos ataques de yokais poderosos. Mas como humana não era onipotente.

A garota o olhava curiosamente. Seu avô sempre contava histórias estranhas desde que se lembrava, mas a partir de um momento sempre se repetia, como todo idoso parecia fazer. Aquela história, no entanto, era nova atraindo sua curiosidade.

– Não sei como, mas ela conseguiu criar esta joia para auxilia-la no combate aos yokais. Tudo o que sabemos é que ela fundiu suas quatro almas e daí vem o nome da joia.

– Quatro almas? – Perguntou em dúvida. – Mas cada ser humano não possui apenas uma alma?

O senhor sorriu e coçou a cabeça.

– Neste caso acho que é no sentido figurado da coisa. As quatro almas seriam algo como a amizade, a coragem, a sabedoria e o amor, os quatro pilares que regem o ser humano.

A garota o analisou meio divertida.

– Vovô, o senhor acredita mesmo nessa história? – Tampou parcialmente a boca para esconder o sorriso que não conseguiu controlar.

– Nem um pouco. – Ele riu. Mas acredito que sendo a Shikon no Tama ou não essa pedrinha é um amuleto e já que você vive se metendo em confusão... – Estendeu a mão contendo a pedra rosada para a neta. – Pegue.

A garota sorriu.

– Ok, vovô. – Pegou a pedra e a amarrou na bokuto que desde o início estava segurando. – Pronto, já que é um amuleto assim como minha Bokuto, nada mais justo que fiquem os dois juntos. – Mostrou a espada com a pedrinha amarrada na empunhadura. – Satisfeito?

– Ainda não, preciso que você carregue essas caixas para o poço. Seu irmão é franzino demais para carrega-las e eu, velho demais. – O idoso levantou-se vagarosamente para reforçar o que dizia.

– O senhor faz muito drama... – Ela rolou os olhos ao mesmo tempo em que suspirava e se levantava. – Avise a mamãe que assim que eu terminar com essas caixas eu subirei para jantar.

O avô apenas acenou com a cabeça, saindo logo em seguida.

Kagome observou a pedra pendurada em sua bokuto e sorriu. Prendeu a espada na cintura, livrando as mãos para o trabalho pesado. Se quisesse aquietar seu estômago deveria começar aquele trabalho o quanto antes.

Levar as caixas não foi trabalhoso de modo algum, seu corpo já estava habituado com exercício físico, soubesse seu avô ou não. O trabalho não lhe tomou tanto tempo como o esperado e quando finalmente descarregou a última remeça ao lado do velho poço não pôde evitar suspirar em satisfação. Finalmente havia terminado, seus braços doíam um pouco, mas agora poderia jantar decentemente e deitar-se enfim.

Alongou as costas até ouvi-las estalar. Foi quando percebeu algo estranho em sua bokuto.

Ela vibrava.

Segurou a empunhadura da espada apenas para ter certeza da fonte de vibração que sentia espalhar-se pelo corpo. Observou bem o objeto apenas para reparar na pedrinha, que o avô lhe dera, brilhando. Segurou-a entre os dedos sentindo o calor que emanava dela e foi nesse momento que uma rajada de vento sacudiu seus longos cabelos.

Voltou o rosto assustado para o poço, algumas mechas agitadas com o vento obstruindo, vez ou outra, sua visão. O poço sempre estivera lacrado, com grandes tábuas de madeira e alguns papéis antigos. Vê-lo aberto daquele modo só podia ser algum truque de sua mente.

Uma mão estava encravada na borda do poço, projetada de dentro dele. Quem quer que fosse o dono tentava sair.

A mente dela parou. Aquilo não poderia ser real. Aquilo NÃO era real. Era impossível! Em vez de se afastar, caminhou para perto com a intenção de analisar e comprovar que era apenas uma ilusão de ótica ou que imaginava coisas devido ao cansaço. Mas assim que se aproximou se arrependeu prontamente.

A escuridão do poço envolvia tudo deixando à mostra apenas uma face mortalmente pálida que parecia flutuar no ar. Um rosto de mulher. Kagome deu dois passos para trás, mas o rosto a seguiu, flutuando alguns centímetros acima do poço, apoiada em um corpo deformado. A cintura estava envolta em uma espécie de casca e o tronco passaria por o de um humano se não fossem os seis braços acoplados a ele. Kagome segurou fortemente a bokuto e a sentiu se aquecer ao toque. Reparou nos olhos da mulher pela primeira vez: eram buracos totalmente negros.

– O que é você? – Gritou, agarrando-se a sua bokuto.

– Sinto... Meus poderes... Voltando...– A criatura murmurou, ignorando a pergunta da garota. – Sim... Sim... SIM! – O grito ecoou na mente de Kagome como uma sentença de morte e não foi com surpresa que viu a criatura se lançar em direção a ela. Estava entorpecida. No último instante, com os olhos daquela coisa em frente aos seus, algo se rompeu dentro de si e só pôde pensar em sair daquele lugar apertado e procurar algum lugar onde pudesse se movimentar. Virou-se, pronta para correr, quando sentiu o aperto forte de mãos estranhas em seus braços e foi içada em direção ao poço. Puxada para a escuridão.

Debateu-se, tentando livrar ao menos um dos braços para que pudesse alcançar sua Bokuto.

– Dê-me! Dê-me a Shikon no Tama! – A criatura colocou a enorme língua para fora para lambê-la.

Enojada com a ação, Kagome forçou um dos pés onde deveria ser o baixo ventre da mulher, mas percebeu com horror que o corpo dela seguia infinitamente em uma comprida calda, que descobriu ser não uma calda e sim o corpo de uma centopeia.

– Me larga! – Apoiou o pé no corpo do monstro, deu impulso e sentiu se afastar dele. Libertando-se com o movimento, aproveitou para soltar a bokuto do enlaço em sua cintura e acertou com destreza um golpe em um dos braços que tentavam agarrar-lhe novamente. O braço soltou-se do corpo como ocorreria com uma boneca. A criatura perdeu-se na escuridão e ela sentiu seu corpo chocar contra o chão.

Respirava pesadamente. Poderia estar preparada pra tudo, mas aquilo era demais para ela. O corpo tremia a obrigando a se apoiar em uma das paredes para se levantar. Olhou para cima e, com alivio, viu a claridade que entrava pelo buraco.

Analisou bem as paredes e o conjunto de deformidades que se estendiam sobre elas. Usando-as como caminho para içar-se de volta a superfície, logo já estava apoiada na borda de madeira do velho poço.

Mas qual não foi seu susto ao constatar que não estava mais em sua casa?

Assim que levantou as vistas foi ofuscada pela incrível quantidade de verde. Nunca na vida vira algo parecido. Era como se estivesse no meio de uma floresta, mas não havia floresta alguma numa faixa de quilômetros de sua casa. O que aconteceu por ali?

Observou atentamente entorno, com a sensação de que já estivera por ali antes. Arriscou caminhar para tentar reconhecer o local e então avistou o tronco enorme da árvore sagrada. Correu até lá aliviada, sabia que estava próximo de casa. Afastou alguns galhos para entrar na clareira onde estava a árvore...

E o viu.

O garoto mais estranho que já tinha colocado os olhos. A brisa movia os longos cabelos prateados do rapaz de modo hipnótico, o corpo estava preso à árvore através de uma flecha que perfurava pouco abaixo do ombro esquerdo. Não havia manchas de sangue, seu rosto estava calmo como se estivesse tirando um cochilo e, por incrível que pareça, conseguia ver o peito movendo-se lentamente. Ele respirava.

Correu até ele, sentindo a grama roçar em suas canelas cobertas pelas finas meias escolares. Estavam mais altas do que se lembrava. Diminuiu a velocidade gradativamente, conforme o alcançava. Analisou clinicamente tentando adivinhar-lhe a idade, mas ele bem podia ser mais novo que ela quanto mais velho, não dava pra saber apenas por suas feições.

Só tinha certeza de uma coisa: ele não era humano.

Segurou entre os dedos uma das mechas que esvoaçavam, sentindo a textura, observando atentamente a cor. Ele não podia ser real, certo? Levantou os olhos, correndo-os por toda a face daquele ser estranho até que se fixaram em duas pequenas orelhas de cachorro no topo da cabeça.

– Ahhh... Você só pode estar de brincadeira... – Lentamente aproximou-se dele, apenas para que alcançasse com maior facilidade, mas assim que estava prestes a tocar uma das orelhinhas felpudas sentiu o deslocamento abrupto de ar e o ruído de perfuração. Uma flecha quase acertara seu braço.

Virou-se rapidamente para dar de cara com homens apontando-lhe lanças e outros com flechas já preparadas em seus arcos. Moveu a mão para sua bokuto, mas fora inocente ao achar que seria tão fácil; um dos homens acertou certeiramente uma flecha em seu braço, impossibilitando-o. Ela sentiu o grito subir pela garganta, mas obrigou-se a engoli-lo.

– Quem é você e o que pensa que está fazendo aqui? – Um dos homens, o que parecia ser o líder, indagou, adiantando-se alguns passos em sua direção.

Ela não poderia respondê-los, mesmo se quisesse, por isso manteve-se calada, provocando a impaciência dos homens. O que se aproximara segurou-lhe o braço ferido fazendo com que ela se curvasse.

– Você nos acompanhará até a vila.

E mesmo querendo protestar, Kagome seguiu o grupo calmamente, pensando em algum modo de fugir deles, voltar ao poço e tentar de algum modo sair daquele lugar estranho.

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[Como se fosse tão simples...]


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