And if escrita por Deschain


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Estava com vontade de ler algo mamão com açúcar, mas não encontrei nada que realmente me interessasse. Por diversão eu comecei a reescrever Inuyasha (sim, sou uma desocupada) e acabei gostando bastante do resultado. Essa história ficou engavetada durante 3 anos antes que eu voltasse a escrever e achei que se não publicasse agora, não publicaria nunca. Então eu espero que vocês se divirtam tanto quanto eu me diverti escrevendo e continuo me divertindo. Comentários e sugestões são sempre bem vindos. Boa leitura.



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Aquilo que chamamos de "Prólogo"

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A vida não é justa, e isto se torna claro logo nos primeiros anos de vida. Nem todos os desejos podem ser realizados e nem todos os sonhos tornar-se-ão reais. Mas naquela época de inocência, em que o mundo é revestido por uma camada mágica e fantástica, a crença de uma criança é algo tão poderoso que pode mover o mundo. Ao menos o mundo dela.

Crianças estão longe de ser criaturas frágeis e facilmente enganáveis como todos os adultos acham. Adultos crescem e perdem a imaginação; suas cabeças ficam bitoladas com problemas, eles esquecem que uma vez foram crianças e por isso tratam os pequenos de acordo com o que aparentam: seres pequenos, frágeis e que não entendem o real significado das coisas. Então como eles conseguem lidar com aquelas crianças que fogem dos padrões? Ah, aí está o problema. Eles não conseguem.

O que acham ser fora do padrão de uma criança, nada mais é que o meio a forçando a agir daquela maneira. Somos todos seres humanos e não é novidade a nossa alta capacidade de adaptação. Crianças continuam sendo seres humanos e em alguns casos, talvez por não terem desenvolvido a prepotência e nem conhecido o fatalismo adulto, conseguem se adaptar muito melhor. Crianças forçadas a crescer rápido demais, fogem dos padrões e vocês, adultos, não sabem lidar com elas. Com nenhuma delas.

A garotinha de longos cabelos negros deduziu com facilidade tudo isso após entrescutar a conversa de seu avô com sua mãe. Ela não conseguia entender, no entanto.

Por que achar que a pequena Higurashi não aguentaria escutar que seu amado pai faleceu?

Por que conversar no escuro aos cochichos [em um horário que sabiam que os dois irmãos estariam dormindo] como se estivessem conspirando?

Crianças são fortes.

E mesmo que não fossem ela provaria o contrário. Seria forte. Por ela, pelo avô, pela mãe e, principalmente, por seu irmão.

Ali nasceu verdadeiramente Kagome Higurashi.

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A garota voltou-se para o caminho de onde veio. Andando silenciosamente remoía tudo o que ouvira, tentava se acostumar com a dor e principalmente com o ideal de vida que havia se imposto naquele momento. Só parou quando a mão pálida fechou-se sobre a maçaneta do quarto que dividia com o irmão. Ao abrir a porta avistou o irmão ressonando na cama ao lado da sua e sentiu algo se comprimir dolorosamente dentro do peito. Lágrimas escorreram por sua face, mas mordeu a mão, evitando que algum ruído saísse e acordasse o garoto ou pior, alertasse seu avô e sua mãe que tão concentrados conversavam na cozinha.

Caminhou lentamente para a cama, sentando-se a borda, sentindo o colchão macio afundar sob seu peso e a colcha quente que antes a cobria se moldar a sua volta. O que fariam dali para frente? O que diriam ao seu irmão? Ela amava o pai, mas sabia que a ligação que Souta e o pai possuíam era incompreensível para uma garota. Eles eram pai e filho.

Em sua mente de criança uma resolução surgiu tão rápida e claramente que a assustou.

Seu pai NÃO PODIA ter morrido. Souta precisava dele, assim como precisava do Bayaan, seu precioso guerreiro azul que ganhara há dois anos e que no momento descansava entre seus braços. Souta NÃO PODIA ficar sem o pai. Não ainda. Então ela tomaria o lugar dele. Por Souta. Ela precisava proteger seu irmão pequeno custasse o que custasse, porque sua mãe estava quebrada e seu avô já estava tentando concertá-la e se Souta também quebrasse um deles seria colocado de lado e talvez nunca mais funcionasse normalmente.

Ela deitou-se em sua cama e olhou para o teto. Fosse para o bem ou para o mal, a garota assumiria um papel sem contestar.

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Sendo assim desde aquele dia ela tornou-se o mais próximo possível do que o pai era para Souta.

Ela segurou a mão dele quando a mãe contou aos choros, no café da manhã, que seu pai havia feito uma longa viagem. Ela afagou seus cabelos dizendo que ele precisava ser forte, mesmo que sua vontade fosse de se agarrar a ele e chorar. Ela passara a vigiá-lo na escola, com medo de algum garoto implicar com ele por não ter um pai [assim como já haviam implicado com ela], e quando finalmente aconteceu ela se jogou em cima do garoto machucando-o tão seriamente que foi suspensa durante uma semana.

Tornou-se o porto seguro do irmão. Sempre que ele precisava de concelhos ela os dava. Sempre que precisava de proteção ela o protegia. Deixou de ser a irmã amorosa que ele tanto adorava para ser o exemplo que ele precisava.

Aprendeu na prática como ser a melhor lutadora, perdera dois dentes de leite quando menina por isso. Ganhara de todos os garotos da escola para mantê-lo a salvo de chacotas. Estudou exaustivamente para auxiliá-lo com os deveres de casa. Fazia tudo e mais um pouco por seu amado irmão.

Quando passou para o segundo nível do ensino fundamental, no entanto, não podia mais ficar ao seu lado. Decidiu então fazer fama para que todos soubessem que Souta Higurashi era irmão de um demônio que os mataria se fizessem algum mal a ele. Por isso juntou-se ao grupo de delinquentes.

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Passou no exame de entrada daquela escola, pois sabia que era onde estudava grande parte dos integrantes do grupo mais encrenqueiro da região. Quando as aulas começaram, descobriu, sem muito esforço, que os garotos sempre se reuniam no fundo da escola após as aulas. Também procurou informações acerca dos integrantes, mas nada de valioso surgiu.

Assim que o último sinal tocou, arrumou suas coisas calmamente e seguiu o fluxo de alunos apenas até o portão, dali dirigiu-se para a quadra ao lado do pavilhão principal nos fundos da instituição, um lugar gasto pelo tempo e por isso mesmo abandonado. A escola ainda tinha esperanças de recuperar com o tempo, mas os semestres passavam e o mato que cobria apenas uma parte da quadra, já tomava mais da metade do lugar. Ali encontrou sete garotos sentados displicentemente na arquibancada de concreto, amontoados, conscientes ou não, ao redor de um belo rapaz.

– Quero me tornar uma de vocês.

Eles a olharam como se fosse louca, com exceção do garoto do centro. Ele sorria sarcasticamente enquanto a examinava de cima a baixo. Se não houvesse controlado seus sentimentos desde pequena, ela com certeza ficaria envergonhada.

– E por que uma garota gostaria de se juntar a um grupo de delinquentes?

– Não interessa. O fato de ter mais um membro disposto a fazer o que fazem já deve ser o bastante.– Percebeu que a sobrancelha dele ergueu-se um pouco.

– E o que nós fazemos? – Sorriu novamente, o ar de divertimento passando para os outros e a irritando.

– Ao que parece só ficam sentados com cara de idiotas, fumando e olhando para o nada. Esqueça. Procurarei algo melhor. – Virou-se disposta a sair dali o quanto antes. Péssima ideia se juntar a um grupinho qualquer, não estava tão desesperada assim.

Sentiu que esbarrava em alguém e ao levantar os olhos deu de cara com um garoto de face selvagem. Os olhos negros a fitaram profundamente e o sorriso de lado era quase um esgar, como se estivesse com raiva e não realmente sorrindo. Ele segurava seus braços impedindo-a de ir.

– O que está acontecendo aqui, Shino? – Olhou por cima dela, provavelmente fitando o garoto meio afeminado sentado nos bancos sem nunca diminuir a pressão em seus braços.

– Ah, nada demais, só estávamos sentados fumando e olhando para o nada, segundo as palavras dessa bela garota em suas mãos. – O tom cômico a irritou de tal modo que empurrou o garoto que a segurava, virando-se para o rapaz na arquibancada.

– O idiota aí. – Apontou para ele. – Se não quiser perder essa cara nojenta de menina, cale a boca!

Os garotos a olharam chocados enquanto o rapaz afeminado levantava-se batendo nas calças levemente para limpá-las.

– Darsh, eu sei que você odeia quem bate em mulheres, mas essa aí está pedindo por isso. – Os cabelos cobriam suas feições, mas não a impediu de ver o sorriso estampado em seu rosto.

– Então ao que parece seu amiguinho mal me conheceu e já vai me odiar. – Ela estalou os dedos enquanto sorria maldosamente para o rapaz.

– Darsh, Darsh, Darsh... Por favor, não interrompa, ok?

Ela não se voltou para o garoto as suas costas. Por mais estranho que parecesse ela sabia que ele não lhe faria nada, mesmo que estivesse ameaçando seu amigo. Apenas fitou o rapaz com as feições tão femininas enquanto este descia os degraus da arquibancada e caminhava até ela.

Eles se encararam e ela não precisou esperar por muito tempo pelo movimento dele. Ela deu um salto para o lado esquerdo, desviando-se de um chute e abaixou-se, chutando a perna que ele usava para apoiar o peso enquanto a outra ainda terminava o movimento do golpe. O garoto perdeu o equilíbrio, caindo para frente. Antes que o corpo dele alcançasse o chão, ela segurou a cabeça do garoto pronta para acertá-la com uma joelhada, mas então sentiu uma mão em sua cintura que a fez estremecer.

– Já chega. – Sussurrou próximo ao ouvido dela, causando-lhe outro estremecimento.

Ela soltou o garoto e com um pulo desajeitado colocou a maior distância que pôde entre ela e o tal de Darsh.

Ele sorria ao abaixar-se para o amigo.

– Eeeh, Shino, perdendo para uma garota? Quem diria, heim?

– Larga de palhaçada! – Ele empurrou a mão que o garoto oferecia e levantou-se bruscamente.

– Então, o que fazia por aqui? – Darsh perguntou voltando-se para a garota.

– Ela disse que quer fazer parte do grupo. – Um dos garotos que ainda estavam na arquibancada gritou. Os outros ainda estavam chocados pela luta de poucos segundos.

Ela viu os olhos dele brilharem de curiosidade e algo mais que ela não reconheceu. Um sorriso realmente grande surgiu em seu rosto desfazendo a expressão medonha anterior para uma simples feição infantil.

– Uma garota?

– Sim... – Ela murmurou.

– Perfeito! Está dentro! – O olhou espantada e ele viu a confusão cair sobre os olhos dela. – Ou será que você desistiu da ideia?

Ela sorriu para ele e até mesmo os garotos da arquibancada abriram a boca com a mudança.

– Por favor, tomem conta de mim! – Fez uma reverência diante deles ainda sorrindo.

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Durante os dois anos que se seguiram Kagome passou maravilhosos momentos com os novos amigos. Darsh se tornou tão presente em seu cotidiano quanto à própria família, sempre dando um jeito de estar com ela independente de onde fosse. Dera-lhe sua bokuto e a ensinara a usá-la. Por algum motivo sempre dava um jeito de tocá-la, desde um leve cutucão na costela até envolver seus ombros enquanto andavam juntos.

Shino agia como uma criança perto dela, sempre querendo sua atenção dizendo que lhe devia isso por tê-lo atacado no dia em que se conheceram, mesmo que ele também tivesse a atacado. Acabara se tornando mais carinhosa com o irmão por causa de Shino; adequara-se à ideia de dar carinho a quem gostava.

E isso se estendeu à Darsh.

Passara a ser calorosa com ele, demonstrando que ele tinha um lugar especial no coração dela. Durante seis meses namoraram. Mas um dia ele estava lá e no outro, não mais. Darsh terminara a escola e viajara, mantinha contato, mas nada mais era o mesmo. Antes de partir ele decidira que ela lideraria em seu lugar.

E foi assim que se focou mais ferrenhamente em seu objetivo. Proteger Souta.

Os estudos para ajudar Souta lhe deram o primeiro lugar no ranking da escola. Os professores e alunos a respeitavam. E isso para ela era o suficiente.

Estava cumprindo o que prometera. Dera tempo para sua mãe juntar os cacos, protegera Souta. Estava tudo indo muito bem.

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[E é assim que tudo começa a dar errado.]


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