And if escrita por Deschain


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

A partir de agora as postagens vão demorar cada vez mais, infelizmente a faculdade está consumindo grande parte do meu tempo e é muito difícil coincidir a inspiração com o período que eu tenho livre para escrever, mas quem continuar acompanhando a história pode ficar tranquilo: pode até demorar, mas vai ficar completa :3~



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Capítulo 11

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O forte odor foi o que a despertou. Mal conseguia movimentar o corpo devido a dor, o que a fez pensar que desde que se metera naquele poço tinha conseguido se machucar mais do que em todos os anos como delinquente.

Estava deitada em uma espécie de banco feito de pedra no que parecia ser uma cozinha. A sua frente o yokai mexia em um caldeirão de onde vinha o cheiro que a acordou. Levou a mão à cintura lentamente, procurando pela espada de madeira. Quando nada encontrou, sentou-se rapidamente analisando cada parte do recinto à procura de sua bokuto. O movimento brusco chamou a atenção do yokai.

– Acordou, hm? – o yokai apenas lançou um olhar em direção a garota antes de voltar sua atenção ao caldeirão.

– O que... Você... Onde está minha bokuto? – ela balbuciou ainda desorientada. Levantar-se bruscamente causou uma onda de dor que se concentrou especialmente em seu ombro. Finalmente percebia o estrago ao colidir com o tronco; o machucado no ombro, que pensara estar sob controle, voltara a abrir. – Tsc...

– Bokuto? Está falando desse pedaço de madeira? – o demônio apanhou a espada que estava jogada displicentemente sobre uma bancada ao lado dele. O fato de estar num local tão próximo a abertura do fogão a lenha fez Kagome estremecer minimamente, mas o demônio não demonstrou qualquer sinal de perceber seu desconforto. – Não vai mais precisar disso, vou cozinha-la. É o mínimo que pode fazer depois do que causou. Vou derrete-la e passa-la em minha cabeça, dizem que sangue e carne de mulher bonita faz bem para o cabelo.

Kagome demorou um minuto para entender o que o demônio lhe dizia. Ela observou a cabeça desproporcional, com um único fio de cabelo enquanto ele voltava a cozinhar. Jogara a bokuto de lado mais uma vez, não parecia preocupado com a possibilidade dela ataca-lo e Kagome entendia o porquê: o pequeno confronto só confirmara quão forte aquele yokai era comparado aos anteriores que havia enfrentado. Mesmo se estivesse em sua saúde perfeita, ela duvidava que conseguiria vencê-lo. Suspirou. Dessa vez teria que escapar dessa evitando de todas as formas um confronto direto.

Tentou levantar-se sem que o demônio percebesse, mas acabou esbarrando em algo e a cacofonia que resultou do efeito dominó seria cômico se o yokai não tivesse se voltado, pela primeira vez largando o caldeirão que observava com tanto cuidado, e a agarrasse pelo pescoço, pressionando-a contra a parede.

– Não faça barulho! Meu irmão Hiten irá devora-la se descobrir que você está aqui. – sussurrou quase em pânico.

E como para provar o que dizia, a porta da provável cozinha foi posta abaixo, revelando duas figuras altivas: um homem com um braço ainda erguido, o que demonstrava que fora ele quem destruíra a porta, enquanto o outro estava em volta do ombro de uma mulher seminua ao seu lado.

– Olá, Manten, você já estava em casa? – perguntou com um leve tom de deboche.

– ...Que irmãos mais diferentes um do outro. – a mulher pontuou, a voz veludada, enquanto observava indiferente o que acontecia.

Kagome viu claramente o pânico na expressão de Manten, antes dele se virar vagarosamente e soltá-la.

– Irmão Hiten... – começou.

– Que mulher é essa? – Hiten o cortou.

Quando Manten finalmente a soltou, Kagome deu alguns passos em falso, meio tonta por falta de ar. Cambaleara para o lado, saindo da proteção do corpo largo do yokai e entrando finalmente no campo de visão do irmão.

– Ela é minha, fui eu que cacei! – Manten se apressou em dizer, voltando a colocar o corpo entre Kagome e o irmão.

– Fique tranquilo, eu não vou toma-la de você... Afinal a minha é bem mais bonita que a sua, não é mesmo? – sorrindo, voltou-se para a mulher ao seu lado, que ao ouvir o elogio fechou os olhos e levantou o rosto orgulhosamente, como para que pudessem ver e constatar a veracidade do que o yokai acabara de dizer.

Kagome mantinha-se quieta. Hiten poderia possuir a aparência de um humano comum, mas se Manten, com sua cabeça grotesca que a lembrava do yokai-sapo e o corpo três, talvez quatro vezes maior que o dela, agia com cautela, então boa coisa não poderia ser.

Hiten possuía os cabelos que o irmão tanto lutava para ter: fios longos e brilhosos do cabelo mais negro que Kagome já vira. Os trançava a partir da nuca, mas alguns fios menores ficavam soltos na testa.

Nesse ponto a garota apertou os olhos. Assim como o irmão de cabeça enorme, o demônio com aparência humana possuía fragmentos da Shikon no Tama na testa. Se um fragmento já era poderoso, ela só poderia imaginar o estrago que aqueles dois poderiam fazer com cinco fragmentos. Deixara de prestar atenção a conversa entre os irmãos yokais, se preocupando em encontrar um meio de sair viva daquela situação.

A cozinha só possuía uma saída, que estava bloqueada por Hiten com sua acompanhante. Não havia armas no local, a exceção de sua bokuto e ela não era inocente a ponto de achar que uma espada de madeira poderia protege-la se decidissem ataca-la. Tampouco poderia apelar para um combate mais próximo, Manten era ágil apesar do tamanho, então Hiten, que possuía o físico mais próximo do dela, seria ainda mais. Ah! Claro, como poderia esquecer? Ainda estava debilitada fisicamente.

– Merda... – sussurrou. Dessa vez teria que usar a lábia para enganar os dois. Mas como?

Seus pensamentos foram interrompidos por um clarão seguido de uma explosão. Quando finalmente conseguia distinguir as coisas, percebeu que no local onde antes a companheira seminua do Hiten se postava havia apenas um monte carbonizado. Kagome sentiu as pernas bambas e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu medo.

– Me perdoa, irmão! Me perdoa! Por favor, me perdoa! – Manten se adiantou, implorando desesperado.

– Você não tem juízo mesmo; se não fosse meu irmão, sete vidas não lhe seriam suficientes, Manten. – as mãos estavam fechadas em punhos ao lado do corpo, todos os músculos tensionados, e no entanto ele falava com calma, como se repreendesse uma criança por ter comido a sobremesa antes do almoço. Aquele contraste fez Kagome ter certeza de que Hiten era louco, e por um momento, teve pena de Manten, ainda encolhido e tremendo a sua frente. Hiten respirou profundamente antes de continuar. – Então o filhote de raposa tem fragmentos da joia... – virou-se pronto para sair da cozinha.

– Espere... Você vai atrás do garoto, irmão?

– Naturalmente, vamos logo Manten.

– Um momento... – e sem aviso prévio puxou um cutelo gigante do lado do fogão e o brandiu em direção a Kagome.

A garota desviou-se com dificuldade do ataque. Manten a atacara sem atenção, pensou que poderia acabar com ela sem muito esforço o que lhe rendera uma certa vantagem e mesmo assim ela teve dificuldade em sair do caminho... Isso só provava quão desesperadora era sua situação.

– O fragmento da joia que vocês querem... – Disse rapidamente atraindo a atenção de Manten, que já estava pronto para desferir outro golpe, e Hiten, que esperava o irmão a porta. – ...é apenas um de milhares. Sou escrava de um yokai que vem juntando todos os fragmentos. – Nesse ponto Hiten se aproximou, interessado no que ela dizia. – O fragmento do filhote de raposa seria o próximo, mas você o encontrou primeiro. – Falava diretamente com Manten, que já colocara o cutelo de lado e concordava com o que ela dizia, o que mostrava que a história parecia encaixar com o que acontecera antes de ser capturada. Hiten, no entanto, mantinha-se quieto, apenas ouvindo com crescente interesse o que ela dizia. Kagome não tinha como saber que tipo de interesse era aquele: o interesse de quem acredita em você ou de quem sabe que está mentindo e quer ver até onde você vai com sua história. – Eu posso leva-los até ele, provavelmente nesse meio tempo ele já capturou o filhote, o que pouparia o trabalho de vocês. – Ela percebeu o olhar desconfiado de Hiten. – Vocês são poderosos... – Murmurou, fingindo falar consigo mesma, mas observando com cuidado a reação dos dois. Esperava ganhar os yokais com elogios e não ficou decepcionada, o grande defeito de Hiten era o orgulho e ela se aproveitaria disso como pudesse. - ...e seriam ainda mais se conseguissem os fragmentos em posse do meu senhor.

– E é o que faremos. – Hiten interrompeu.

Kagome acenou em concordância, no que esperava ser a pose mais humilde que conseguia fingir.

– Mas não ajudaria saber a localização dos fragmentos e quais são os pontos fracos do meu senhor? – perguntou docemente.

Manten comprara sua história e dizia ao irmão que seria uma boa ideia, mas Hiten não parecia satisfeito. Aproximou-se dela e a agarrou pelo pescoço.

– Você irá nos levar até esse yokai, mas... – Sorriu sadicamente, olhando para o monte de cinzas na porta. - ...se isso for mentira eu prometo que essa cara bonitinha vai ficar toda torrada. – Passou a mão livre pela bochecha da garota.

Ela concordou como pode enquanto Hiten pressionava mais forte seu pescoço. Por um momento achou que ele tinha reconsiderado e que não precisava dela, mas ele aliviou a pressão e sem força ela desabou tossindo.

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Ela guiava os yokais de volta ao lago, ou fingia guiar. Não tinha ideia do caminho já que Manten a transportou desacordada e não podia usar seu estranho poder de sentir fragmentos para localizar o que estava com Inuyasha, porque não tinha tanto controle para separar a “ressonância” dos fragmentos dos yokais da “ressonância” dos fragmentos dele. Isso se pudesse sentir qualquer coisa dessa distância, para começo de conversa.

Por pura sorte não precisou se preocupar com isso por muito tempo, pois a figura com vestes vermelhas logo entrou em seu campo visual. Hiten percebeu e não esperou para atacar. Kagome viu estupefata quando o yokai saiu voando em direção ao hanyou. Percebeu depois que o demônio conseguia voar graças a um par de rodas metálicas e flamejantes posicionadas ao lado de seus pés.

– Não é como se eu devesse me surpreender com isso... – Murmurou para si mesma. – ...levando em conta que eu estou sentada numa nuvem...

Manten mantinha-se ao lado dela, controlando a nuvem escura para que nunca ficasse muito longe do irmão mais velho, mas afastou-se quando Hiten lançou um ataque de raio sobre Inuyasha. Kagome observou preocupada Inuyasha esquivar por pouco do ataque, segurando Shippo. Ela mal teve tempo de suspirar aliviada e Hiten já lançava o segundo ataque, mas dessa vez o meio-Yokai desviou com facilidade.

– Hm... Conseguiu desviar... – Hiten mantinha um claro tom de aprovação na voz. – Para quem ficou falando bobagens no meu portão, até que você tem um bom reflexo. – Arqueou as sobrancelhas. – Meio-yokai? – Lançou um olhar divertido em direção a Kagome.

– Inuyasha, esse é Hiten, o irmão mais velho dos Yokais relâmpagos. – Kagome não conseguia enxergar, mas ouvia com clareza o que Myoga dizia.

– Ei! O que fizeram com a Kagome!?! – Shippo gritou, agarrado ao ombro de Inuyasha.

– Fique tranquilo, nós não comemos um dedinho dela sequer. – Hiten não disfarçava o divertimento. Fez um leve movimento com a cabeça em direção a Manten, que adiantou a nuvem, revelando-se finalmente para os outros. O irmão mais novo segurou Kagome pelos braços e a inclinou.

– Kagome! – Inuyasha gritou preocupado, provavelmente sentindo o cheiro de sangue que vinha dela.

– Me pergunto o motivo de se preocupar tanto com ela... – Hiten dizia enquanto olhava com cuidado para a lança que segurava desde o início. – Sua escrava não pareceu nem um pouco preocupada quando se ofereceu para nos levar até você ou contar seus pontos fracos.

– Es... Escrava? – Inuyasha repetiu incerto, olhando para Kagome.

A garota sorriu desconcertada.

– Era isso ou dizer que você me amava. – Deu de ombros.

Manten voltou-se para ela rindo sarcástico e lhe aplicou um cascudo.

– Você, hein? É mentirosa mesmo.

Kagome apenas riu. O que mais poderia fazer?

– Seja como for... – Hiten começou. – Parece que é verdade que você possui os fragmentos de joia. Eu vou mata-lo e depois procuro nos seus bolsos! – Lançou-se em direção a Inuyasha. – Raigekijin! – gritou e a lança que segurava se cobriu em energia ao atingir a Tessaiga que Inuyasha desembainhara para aparar o golpe. – Até quando suportará meu golpe? – Gritou.

A energia que cobria a lança projetava raios em volta dos dois, destruindo tudo e forçando o hanyou para trás. Com esforço Inuyasha conseguiu empurrar o demônio colocando uma distância considerável entre os dois.

– Bom, pelo menos força parece que ele tem. Então agora vou me divertir de verdade. – Relâmpagos surgiram em volta do yokai.

Inuyasha segurava a Tessaiga em frente ao corpo, pronto para atacar ou defender se precisasse. Observava com irritação o yokai que flutuava a sua frente.

– Pois saiba que quem falou comigo assim não conseguiu se divertir por muito tempo. – O hanyou rebateu.

– Eles vão ficar nessa briga de egos até quando? – Kagome sussurrou para si mesma.

– Então experimente a minha Raigekijin! – Lançou-se mais uma vez em direção ao hanyou.

Inuyasha desviou do ataque que provocou uma onda explosiva ao seu redor, mas teve que aparar o segundo golpe, que veio em sequência. Hiten era rápido, quase rápido o suficiente para ultrapassar em velocidade o meio-yokai. Ele apenas defendia os golpes de Hiten, sem tempo para ataca-lo ou colocar uma distância maior entre eles, e ainda tinha que se preocupar com os raios em volta da lança do yokai, que o atingiriam facilmente se não fosse cuidadoso.

A garota prestava atenção a luta, preocupada com o parceiro. Inuyasha brandia a espada com a delicadeza de um açougueiro, resultando em desperdício de força e lentidão. Já Hiten mantinha sua lança sempre em movimento, em arcos curtos e contínuos, mudando para estocadas e tornando seus movimentos difíceis de se prever. Mesmo que o meio-yokai fosse veloz, aquela luta não acabaria bem se ele não interrompesse o avanço do demônio relâmpago.

– Isso, mano Hiten! – Gritava Manten aplaudindo. – Vou ajuda-lo! – Abriu a enorme boca carregando o mesmo ataque que desacordara a garota mais cedo.

Kagome se jogou em cima do yokai derrubando-o da nuvem no meio do ataque. Manten caiu em meio a explosão do próprio ataque e Kagome só percebera seu erro quando viu o demônio desacordado e sentiu a nuvem se desfazer.

– Kagome! – Gritaram Shippo e Inuyasha ao mesmo tempo ao verem a garota despencar.

Inuyasha tentou saltar para apanha-la, mas Hiten postou-se a sua frente, bloqueando o caminho.

Kagome caiu em cima do corpo estirado de Manten. O impacto causou-lhe mais dor do que jamais sentiu na vida: sua ferida no ombro sangrava como nunca e sentia que alguma coisa dentro do seu corpo tinha quebrado, provavelmente uma costela, pois quando tentou respirar a dor foi instantânea.

– Mulher... – Manten murmurou furioso enquanto levantava, de algum modo consciente.

– Merda... – Kagome tentou se afastar, mas a dor a impediu de ir muito longe.

– Desgraçada!! – O yokai gritou, correndo em direção a ela.

Shippo gritou alguma coisa e de repente um yo-yo gigante rodava em cima da cabeça de Manten. O filhote de raposa correu em direção a garota e tentou ajudá-la a sair da cratera formada pela explosão do ataque de Manten.

– Rápido, senhorita! Magia de raposa é apenas ilusão, aquilo não irá detê-lo por muito tempo! – O senhor Myoga dizia em tom urgente no ombro da garota.

Quando finalmente conseguiram sair da cratera olharam para trás apenas para ver que Manten finalmente percebera a ilusão e que entrava em desespero, porque o único fio de cabelo que ainda tinha caiu após o ataque de Shippo. A garota gritou para que Shippo corresse e tentou sair do caminho quando o demônio entrou em estado de fúria e começou a lançar seus ataques em todas as direções.

Ela se jogou atrás de um monte de terra revirada durante a luta de Inuyasha com Hiten, esgotada demais para fugir. Shippo surgiu ao seu lado preocupado. Manten murmurava palavras desconexas enquanto os procurava e mesmo que sentisse que estava se aproximando do local onde estavam, Kagome nada podia fazer. A dor no tórax era insuportável e uma vozinha em sua cabeça dizia que se não morresse nas mãos do yokai com certeza morreria por uma perfuração do pulmão.

Observou Shippo tremendo a seu lado e se obrigou a apanhar o garoto e colocá-lo em seu colo.

– Shippo, escute... – Falava com dificuldade. – Inuyasha trouxe algum arco quando veio atrás de mim? – O menino balançou a cabeça concordando. – Pode apanha-lo pra mim? – Ela viu o medo nos olhos do garoto. – Não precisa ter medo, faça uma ilusão na direção contrária a que ele está e quando ele não tiver prestando atenção corra até o arco. Pode fazer isso? – O garoto concordou meio incerto.

Shippo puxou alguma coisa de dentro da roupa que usava e soprou. Kagome ouviu uma explosão e logo depois o filhote de raposa saiu correndo do seu esconderijo. Durante minutos em que tentava controlar a respiração para não aumentar a dor, ouviu os resmungos e explosões dos ataques de Manten. Ouviu um grito ao longe e obrigou-se a se erguer, horrorizada com a ideia de que Shippo tinha sido apanhado, mas quando estava para sair da proteção do monte de terra sentiu um forte puxão na manga da camisa. Shippo estava ofegante ao seu lado, segurando o arco e duas flechas.

– Foram as únicas que eu consegui encontrar. – Murmurou abaixando a cabeça, como se se desculpasse.

– Você fez um ótimo trabalho. – Se obrigou a sorrir e passar a mão na cabeça do menino. – Agora é minha vez.

Kagome levantou-se com dificuldade, colocou uma das flechas no arco e mirou. Manten estava distraído com a última ilusão que Shippo criara, o grito que ela pensara que fora do garoto, e mantinha as costas voltadas para ela. Mesmo que tivesse uma flecha de reserva, ela sabia que se errasse não teria tempo para uma nova tentativa, então inspirou profundamente, causando uma dor aguda no lado do peito e se concentrou no alvo.

Por um momento ela deixou de sentir a dor no corpo e uma calma profunda a dominou. Expirou o ar dos pulmões ao mesmo tempo que soltava a corda, com a certeza de que acertaria o alvo, antes mesmo que a flecha, envolta numa estranha luz rosada, encontrasse o corpo de Manten e o perfurasse de um lado a outro.

O grito de Manten chamou a atenção de Hiten, que ainda lutava com Inuyasha num ponto mais distante do terreno. Inuyasha tinha um corte profundo no ombro esquerdo e aparava um dos golpes do demônio, quando este pulou em direção a Manten e esqueceu-se completamente do hanyou.

Shippo enquanto isso corria até o corpo enorme do demônio. Ao ver que o menino ia de encontro a Hiten, a garota gritou seu nome enquanto corria até ele. Ainda sentia a mesma calma de antes, mas aos poucos a dor voltava. Conseguiu agarrar o menino a tempo de protege-lo de um dos raios de Hiten, sendo impulsionada e jogada de encontro ao chão. Seu corpo recobrou a consciência da dor e dessa vez, por mais que tentasse, Kagome não conseguiu se levantar. Ficou ali, estirada no chão, com o corpo imóvel de Shippo ao seu lado fortemente agarrado a pele de seu pai.

– Pelo menos conseguiu seu pai de volta... – Murmurou.

Viu Hiten segurar o irmão entre os braços, que murmurava alguma coisa. Inuyasha correu em direção a ela.

– Kagome!

– Inuyasha... – Ela gemeu.

– Por que você sempre tem que se arriscar tanto assim pelos outros?! Você sabe que não aguenta, então por que faz isso? – Ele gritava com ela, mas ela via a preocupação que ele tentava esconder.

Riu, o que não foi uma boa ideia, porque trouxe uma nova onda de dor.

– Já disse uma vez... Se você não fosse tão lento, eu não precisaria fazer nada. Já derrotei um irmão e você? – Piscou marota.

Inuyasha não riu com a brincadeira. Ergueu a garota no colo e a levou para um canto afastado, apoiando-a em uma pedra. Voltou, pegou o garoto junto com a pele de raposa e jogou no colo dela.

– Você não vai sair daqui. Eu não preciso da sua ajuda. Vou derrotar aquele yokai irritante sozinho. Você apenas observe.

Kagome sorriu e concordou. Abriu a boca para dizer algo para ele, mas foi interrompida por um grito.

Hiten gritava e chorava em cima do corpo morto de seu irmão mais novo. Relâmpagos riscavam o céu enegrecido, um atrás do outro. A garota e o hanyou observaram quietos enquanto o yokai mais velho devorava o corpo do outro. Kagome fechou os olhos decidida a não ver aquilo, não pelo horror da cena, mas por finalmente perceber o que tinha feito. Matara o irmão mais novo de alguém. Por mais que suas ações fossem justificáveis, ela se imaginou no lugar de Hiten e a dor que sentiu foi pior que qualquer dor física que tivesse sofrido até então.

– Não se preocupe, senhorita Kagome. Ele não está comendo o irmão. – Myoga surgiu, pulando sobre o ombro da garota e interpretando as ações dela como nojo. – Hiten está transferindo os fragmentos da joia que estavam com Manten. – A pulga voltou-se sério para Inuyasha. – Amo Inuyasha, tome cuidado. Com isso ele possui o poder de cinco fragmentos.

Inuyasha acompanhou com o olhar a pulga que pulou do ombro de Kagome para o dele.

– Velho Myoga, onde você esteve até agora? – A paciência fingida na voz era assustadora.

O pequeno ancião se complicou enquanto tentava responde-lo.

– Estava escondido em algum lugar seguro, não é mesmo? E só aparece quando lhe convém dando ares de conselheiro! – Gritava enquanto apertava o senhor entre os dedos.

Mas calou-se sem aviso e ergueu a garota no colo mais uma vez, esta ainda segurava o pequeno Shippo desacordado e a pele de raposa. Saltou para longe do lugar em que estavam pouco antes de uma bola enorme de energia tomar o lugar e destruir tudo.

– Maldita... – Hiten murmurou, a voz carregada de ódio. – Matou meu querido irmão. Jamais a perdoarei por isso!

O hanyou a colocou no chão com cuidado, voltando-se para o yokai logo em seguida. Pôs-se entre ele e a garota com a espada em mãos, pronto para defender qualquer ataque. Menos o que Hiten decidiu lançar sobre eles.

Hiten gritou e outra bola de energia, parecida com a que Inuyasha desviara-se instantes antes, surgiu da ponta de sua lança. Ele a atirou em direção ao grupo que não tinha tempo suficiente para esquivar. Myoga, ainda no ombro de Inuyasha gritou alguma coisa para ele, mas Kagome nada ouviu graças ao barulho que acompanhava a bola e a destruição que ela causava em seu caminho. Pouco antes de atingir o meio-demônio, uma forte luz cegou a garota e quando ela finalmente conseguia enxergar normalmente não havia sinal da bola de energia enquanto o hanyou segurava com força a bainha da espada em frente ao corpo.

A colegial observou surpresa as profundas marcas que se formaram no chão em volta deles. Era como se o ataque tivesse destruído tudo, menos as áreas em que o meio-yokai estava e encontravam-se às suas costas.

Inuyasha observava a bainha admirado.

– Eu acertei! – Exclamou a pulga, ainda no ombro de seu amo. – Com a bainha que guarda a espada encantada, Tessaiga, seria impossível que não bloqueasse o golpe de um simples yokai relâmpago. – Suspirou pesadamente. – Ainda bem que deu certo...

– Você está me dizendo que era apenas um palpite?! – Inuyasha gritou irritado.

Enquanto isso Kagome carregava Shippo para um local mais afastado. Colocou o garoto deitado sobre as peles do pai e observou quando Inuyasha saltou para mais uma bola de energia, usando a bainha da espada para protege-lo do ataque. Hiten, no entanto, foi mais rápido e atingiu-o pelas costas, derrubando o hanyou. Ela estava pronta para gritar o nome dele, quando ouviu o gemido de Shippo a seu lado. O menino acordava e com carinho alisava os pelos da face do pai.

– Shippo, você está bem? – Perguntou, sentando-se ao lado do menino.

– Kagome... – O garoto a olhou desorientado. – Onde estão os irmãos relâmpago? – Perguntou assustado.

– Manten está morto e Inuyasha ainda está lutando contra Hiten. Mas ele está com dificuldade... - Kagome voltou a acompanhar a luta. Inuyasha desviava como podia dos ataques aéreos de Hiten.

– Ele só tem vantagem porque voa, o maldito. – Murmurou Shippo.

A garota observou a seu redor, procurando com cuidado. Quando encontrou o que procurava, levantou-se lentamente e cambaleante seguiu até onde o arco e a única flecha que sobrara estavam jogados. Inuyasha estava caído mais uma vez, com outro ferimento, dessa vez no peito. Hiten estava parado, provavelmente analisando o estrago que tinha feito antes de voltar a ataca-lo. Kagome aproveitou-se disso para tomar seu tempo, para tentar atingir aquele mesmo estado de calma profunda e abstrair a dor e o cansaço do corpo. Fechou os olhos e inspirou fundo. Abriu e expirou ao mesmo tempo que Shippo gritava seu nome com urgência.

A flecha fez seu caminho até uma das rodas metálicas que sustentavam o corpo de Hiten no ar e a atingiu, partindo-a ao meio. Inuyasha se aproveitou do desequilíbrio e falta de atenção do yokai para acerta-lo com um murro no rosto que o lançou em direção a montes de terra revirados. Quando o yokai levantou-se estava furioso e uma aura azul o envolvia; mesmo à distância, Kagome e Shippo puderam sentir o calor que irradiava do corpo dele.

Hiten correu em direção a Inuyasha com a lança descarregando energia e o meio-yokai nada pode fazer senão aparar o golpe com a bainha e disputar força com o demônio, mas nem a bainha poderia aguentar aquele ataque por muito tempo e com horror o grupo viu quando a bainha começou a trincar. Inuyasha abusara demais do poder de proteção.

– Sozinho ele não vai conseguir derrotar aquele monstro! – Shippo gritou, correndo em direção aos dois procurando algo dentro das roupas.

– Não, Shippo! – Kagome gritou, correndo atrás do garoto, para impedi-lo de cometer uma loucura, agarrando a pele que o garoto esquecera ao disparar em direção à luta.

– Fujam!

Kagome ouviu o alerta, mas era tarde demais. Quando voltou a cabeça em direção a Inuyasha, para descobrir o motivo do alerta, apenas viu o ataque, próximo o suficiente para que não conseguisse desviar, mesmo que tivesse a velocidade do hanyou.

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[Desse jeito não vou durar muito tempo.]


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