Fragmentos de Lembranças escrita por Yume Celestia


Capítulo 25
Encontrando um Estranho


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura à todos (:



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O bilhete foi uma perfeita bomba de conflitos em minha cabeça. Eu não sabia se deveria ou não ir a esse encontro, principalmente depois de ter prometido ficar longe daquele homem. Infelizmente eu tinha um defeito do qual eu não conseguia controlar, a curiosidade. Enquanto eu não soubesse o que aquele homem tinha a dizer, eu não sossegaria.

Passei a noite em claro imaginando como seria o rosto do homem por traz do bilhete, em quem ele seria, como ele conhecia Anabell, qual a ligação que ele tinha com ela, e o que ambos estavam escondendo.

Minha ansiedade em encontra-lo era tanta, que o dia parecia passar tão devagar. Aquele pedaço de papel conseguiu me distrair por completo. Tentei o máximo que pude não transparecer meu nervosismo, e no final, acho que funcionou. Anabell, como sempre costumava fazer, saiu do colégio e foi para suas aulas de balé. Aquele era o momento perfeito para o encontro com um estranho.

Como pedia o último bilhete que recebi, com muita cautela para não ser visto, fui até a praça perto do colégio. Estava deserta, como sempre foi. Ninguém além de mim e o vento.

Um homem alto, de cabelos castanhos com alguns fios grisalhos, barba mal-feita, e desta vez sem óculos escuro, se aproximou. Seus olhos correspondiam a cor de seus cabelos, e neles haviam algumas rugas entregando sua idade já avançada. Ele sorriu de orelha à orelha e estendeu sua mão para que pudesse me cumprimentar.

– É um prazer vê-lo tão de perto, Eric. - Ele falou. Sua voz era grave como aparentava ser, e seu sotaque era britânico. - Me chamo Richard Alouise. - Completou logo em seguida. Estendi a mão e o cumprimentei. - O que tanto encara em meu rosto? - Ele perguntou.

– Nada, é que te imaginei um pouco diferente, mais jovem para falar a verdade.. - Respondi ainda o encarando.

– Tenho quarenta e seis anos, rapaz. - Ele falou puxando sua mão e a colocando no bolso. - Mas não foi para isso que nos encontramos, não é mesmo?

– Sim, certo. Pra falar a verdade, eu não pretendo ficar muito tempo. Só quero saber o motivo dos bilhetes. - Fui direto.

– Jura? Mas eu queria tanto te conhecer, Eric. - Ele falou sorrindo estranho. - Tem certeza de que aqui é um lugar seguro? E Anabell, por onde anda?

– Seguro não é, afinal de contas é uma praça pública, porém mal frequentada, se busca privacidade esse é o lugar perfeito. Segurança não posso lhe oferecer. E quanto à Anabell, depois do colégio ela vai à aula de balé.

– Perfeito. - Ele falou alegre.

– Tem como ir direto ao ponto? - Falei grosso. Eu não conhecia aquele homem, não sabia quem ele era, o que ele fazia, ou os problemas que ele tinha com Anabell, e entre ele e ela, era evidente que eu preferia confiar nela.

– Calma, rapaz. Está com medo de algo? Não se preocupe, eu não represento ameaça alguma, ao contrário de sua namoradinha..

– Tá legal. Eu quero fazer algumas perguntas. - Ele calou-se. - Primeiro, de onde conhece Anabell?

– Não é obvio? Anabell era a única herdeira de um império de riquezas intermináveis. Seus pais eram famosos na alta classe de Londres, e ela, como consequência, era conhecida também. Mas isso não vem ao caso, eu sou médico e quando a família Moore tinha algum problema com a saúde eles recorriam a mim.

– Primeira pergunta respondida. E porque diz que ela é perigosa, para tomar cuidado com quem anda ao meu lado e esse tipo de coisas em bilhetes? E principalmente, porque Anabell não poderia saber sobre esse encontro?

– Eric, me diga uma coisa, você sabe que os pais de Anabell estão mortos, não sabe? - Ele perguntou ignorando a minha pergunta.

– Sim, sei. Ela comentou certa vez.

– E sabe o que os matou?

– Não, ela não contou a história, só disse que eles morreram de forma trágica.

– Pois bem. Eles morreram sim de forma trágica, foi em um acidente de carro. Mas o que ninguém sabe além de mim sobre o acidente, é que... - Antes que ele pudesse terminar a frase que me deixou ansioso, nervoso, e principalmente curioso, aquela voz doce e angelical se fez presente naquela praça quase que vazia. Minha espinha congelou, e senti meu coração disparar. Era a voz dela.

– Pensei ter dito pra ficar longe de mim, da minha casa, e até mesmo dele. - Ela disse em um tom alterado.

– Anabell, eu posso explicar.. - Falei nervoso. Quebrei a promessa.

– Não precisa, ele deve ter te manipulado para encontra-lo, não te culpo. Só estou decepcionada por ter prometido não chegar perto dele, e te-la quebrado, Eric. - Ela falou. Seus olhos remetiam a decepção. E eu ainda mais. Me sentia mal por ter quebrado a promessa.

– Anabell, não fale assim. Ele veio por conta própria, queria saber um pouco mais sobre o acidente que matou seus pais e eu estava disposto a contar, já que você não se habilita.. - Richard falou. A raiva presente no olhar dela era evidente.

– Isso é verdade, Eric? - Ela perguntou tentando se controlar com a presença de Richard.

– Sim.. bem, na verdade nem foi isso, é que ele começou a falar sobre isso.. eu só queria saber como ele te conhece. - Respondi. Ela ficou séria e seu olhar vazio.

– Se queria saber, era só me perguntar. Você viu o quanto eu não queria tê-lo por perto, imagina ver vocês se encontrando. - Ela disse.

– Não queria interromper o momento dramático do casal, mas queria sugerir um almoço entre nós três, podemos esclarecer toda essa confusão, talvez algo mais.. o que acham? - Richard sugeriu.

– Só vou se Anabell aceitar também. - Falei.

– Eu também aceito. Mas que fique claro que espero que seja o última vez que o vejo, Richard. E espero que faça o mesmo, Eric.. - Ela declarou ainda decepcionada.

–-x--

Caminhamos até uma lanchonete próxima a praça onde estávamos. Richard escolheu um lugar distante de praticamente todos. Ninguém falava uma palavra sequer. Encarávamos uns aos outros em silêncio, até que Richard resolveu quebra-lo.

– Como eu dizia antes, Anabell veio de uma das famílias mais nobres e prestigiadas de Londres. Filha de Andrew e Elizabeth Moore, que Deus os tenha. - Richard disse fazendo com sua mão direita o sinal da cruz. Senti no tom da sua voz a ironia de seu desejo. Ele dizia aquilo encarando Anabell, de alguma forma à provocando.

Anabell não dizia uma palavra sequer, encarava Richard como ele também fazia. Observava cada letra que saia da boca dele, como também seus movimentos.

– Eu também tinha um papel muito importante. Os Moore sempre recorriam à meus cuidados quando doentes, e portanto meu trabalho como médico não só ficou famoso, como também bastante procurado. Me recordo das vezes que diferentes babás levaram Anabell até meu consultório, as vezes por conta de uma gripe qualquer, as vezes algo que exigia mais atenção, mas nunca por algo grave. Ela estava sempre triste por algum motivo, recusava os doces que eu á oferecia no final da consulta.. - Ele contava. - Não é verdade, Anabell?

– Eu preciso mesmo responder? - Ela perguntou incomodada.

– Ora, Anabell não seja grosseira, seu namorado quer saber um pouco mais sobre sua família.

– Só ouço você se gabando por seu trabalho como médico.

– Mas que de alguma forma tem relação com você e sua família, meu doce. - Ele gargalhou suave. - Certo dia, um policial me ligou dizendo que Andrew e Elizabeth sofreram um terrível acidente de carro, perderam muito sangue e as chances de sobreviverem eram pouquíssimas devido aos ferimentos graves e a hemorragia. Apesar da pouca esperança, eles contavam comigo para tentar salva-los. Lembra-se disso, Anabell?

– Já chega, não sou obrigada a aguentar você, Richard. - Anabell gritou furiosa levantando-se da cadeira.

– Pra onde vai? - Perguntei preocupado.

– Pra qualquer lugar longe dele, Eric. - Ela respondeu caminhando em passos acelerados até a saída da lanchonete. Levantei da cadeira assim como ela fez, procurando alcança-la antes que fosse tarde.

– Não quer saber o fim dessa trágica história, Eric? - Richard perguntou antes que eu pudesse sair. O ignorei completamente. Anabell era mais importante que qualquer verdade.

Apertei os passos atrás dela. Ela tomava a frente ainda furiosa, e talvez parte dessa fúria fosse minha culpa. Estava silenciosa, encarava o vazio enquanto caminhava, parecia estar desorientada. Eu a seguia preocupado, também em silêncio.

Acabou que ele chegou até sua casa naquele mesmo estado. O seu silêncio foi quebrado com a pergunta de Sebastian.

– Você está bem, senhorita? - Ele perguntou também preocupado.

– Estou sim. Só preciso ter uma conversa com Eric. - Ela respondeu finalmente. Virou seu corpo em minha direção e me convidou para ir até seu telhado.

Tomou a frente e subiu as escadas como um zumbi. No imenso corredor, ela me guiava até o final, onde uma parte do teto se encontrava uma abertura que nos levaria até o telhado. Ela puxou a escada, e subiu na frente. Eu fiz o mesmo.

A noite estava estrelada, como de costume. Ou eu estava tão feliz por tê-la que comecei a enxergar estrelas a mais, ou estrelas novas começaram a nascer. Ela sentou-se na borda do batente, de forma que suas pernas ficassem para fora. Me sentei ao seu lado, e juntos admirávamos as estrelas em silêncio.

– Eu matei meus pais. - Ela revelou quebrando aquele silêncio.


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Notas finais do capítulo

E aí está o mais novo personagem, Richard Alouise. Acabou de chegar e já está causando discórdia. Bom, espero que tenham gostado e também vê-los por aqui no próximo capítulo.
Até mais!
xoxo, YC



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