Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 47
Os avisos da Deusa do Fogo


Notas iniciais do capítulo

Hey jujubas, olha eu aqui mais uma vez com cap fresquinho e, melhor de tudo, P.O.V do Leo ♥
Nosso Gostoso pra Dedéu tem muito pra falar!
Mas antes de mais nada: PJO VAI VIRAR SÉRIE DO DISNEY+ !! EU TO SURTANDO AINDA! DEPOIS DE ANOS CHORANDO NO TWITTER A GENTE CONSEGUIU! NEM CREIO QUE VOU TER NICO DI ANGELO EM LIVE ACTION! O CHORO É LIVRE! #PERCYSTENTES
Depois do desabafo, vamos para o cap de comemoração dessa notícia maravilinda ♥
Espero que estejam preparadas!
#enjoy



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P.O.V. Leo

— Será que dá pra vocês se controlarem... só um pouquinho!

Já fazia alguns minutos que eu, Piper e Jason caminhávamos pela ala leste do jardim e nada de anormal havia acontecido. Nada, além dos incessantes sussurros e risinhos dos dois às minhas costas além dos sons enjoativos de beijos molhados. Já era a décima vez que olhava para trás com as sobrancelhas franzidas em desgosto antes de explodir de vez. Jason me encarou com os olhos azuis arregalados em surpresa.

— Tudo bem, cara. – Ele ergueu as mãos em rendição se afastando de Piper alguns centímetros. A morena tentava segurar a risada para minha cara zangada. Jason ergueu uma sobrancelha. – O que deu em você? Não vai dizer que foi possuído mais uma vez!

— Claro que não. Eu só não aguento mais toda essa melação de vocês! – Bufei cruzando os braços enquanto desviava de uma garota chinesa que passou calmamente ao meu lado. Encarei o casal. – Eu sei que sou a vela do grupo, mas precisa deixar assim tão explícita a minha função?

Piper suspirou, as mãos na cintura. Cheia de autoridade.

— Jason acabou de voltar de uma missão que só os deuses sabem como poderia ter sido fatal e entrou numa luta com harpias logo em seguida. Estamos apenas mantando a saudade, comemorando por estarmos vivos. – Ela explicou calmamente entrelaçando os dedos ao do namorado com um sorriso apaixonado que me fez revirar os olhos. Ela desviou os olhos para mim com indagação – Nossa “melação” nunca te incomodou antes. Outra coisa tá rolando e é melhor dizer logo.

Ela estava certa como normalmente as mulheres estão. Apesar de eu reconhecer meu papel de alívio cômico das missões, aquele que não se abala e sempre tem uma piada para alegrar o dia, aquela missão era diferente. Eu me sentia diferente desde que saíra do acampamento. Apreensivo, preocupado de uma maneira que as poucas piadas que fiz eram forçadas mesmo que ninguém parecesse perceber. E apesar de que ser possuído pela segunda vez na vida tenha sido uma experiência tenebrosa e o tal mestre ser um verdadeiro pé no saco, algo diferente invadia meus pensamentos quando eu sentia essas emoções me inundarem.

Um rosto delicado e pálido. Olhos castanhos como chocolate e um cabelo negro que parecia brilhar. E aquele maldito sorriso.

Lucy. Era ela que invadia meus pensamentos.

Suspirei quando o rosto dela cintilou em minha mente junto com um aperto no peito. Um medo involuntário vinha surgindo quando pensava nela.

Depois do desastre de meu relacionamento com Calypso eu decidi não me apaixonar mais. A rejeição, a dor, foi tudo intenso demais e eu tentava com todas as minhas forças esconder tudo atrás de uma brincadeira, de um sorriso. Meus amigos me encaravam com olhares carinhosos mesclados com pena que me faziam sentir um completo inútil. E eu continuava a me esconder, a vida deles já era complicada demais sem meus problemas amorosos. Lucy foi a primeira e única a perceber o que se passava verdadeiramente em meu coração, a se importar com isso. Tínhamos isso em comum, a incompreensão de quem realmente éramos. Ela me entendia e me ajudava a superar sem ao menos perceber enquanto eu buscava adaptá-la à nova vida de semideusa. Nossa amizade cresceu com o tempo e nos tornamos confidentes. Ela me via além das piadas, percebia quando eu precisava conversar sério ou quando eu apenas precisava de um silencio amigo. E eu sentia algo a mais crescer em mim a cada risada dela, cada vez que ela lia para mim um dos clássicos que amava com sua voz serena ou mesmo nos nossos momentos de silêncio, quando ela apenas apoiava uma mão pequena em meus ombros e sussurrava que tudo ia ficar bem. Mas eu ainda era um covarde. Cada vez que eu pensava além da amizade sentia meu peito doer ao lembrar de Calypso e do fiasco de nosso relacionamento. Eu simplesmente não podia perder Lucy assim então apenas me calei, ignorei esse sentimento por tanto tempo que acabei forçando-o ao esquecimento e, sem perceber, me distanciei dela. Eu fui o culpado já que, apesar de tentar guardar o sentimento arrebatador que florescia em mim, não conseguia conter o coração acelerado ou o sorriso bobo quando a via. Nossa amizade, antes tão profunda, se transformou em algo simples, meros conhecidos que se saudavam quando se viam. E todas as vezes ela parecia tão triste.

Eu me afastei para proteger meu coração sem me importar em como ela se sentiria com isso.

Então Duda apareceu com seu jeito extrovertido e divertido. No início eu podia jurar que estava me apaixonando por ela, mas estava claro que o coração dela já pertencia a outro. E logo percebi que meu amor por ela era mais fraterno que qualquer outro, principalmente porque o sentimento que deixava minhas pernas bambas e o coração palpitando surgia quando Lucy estava diante de mim. Nada havia mudado. Então um dia Lucy desfez o que eu havia feito, ela se reaproximou de mim. E eu não tinha forças para afastá-la novamente. O que tínhamos continuava tão forte que nossa amizade voltou da forma como era antes. Em um dia ela confessou que Duda foi a responsável por incentivá-la a voltar a falar comigo.

Eu ainda estava devendo essa para a filha de Poseidon.

E o mês que se passou foi um dos melhores da minha vida. Eu me perguntava como havia sido tão idiota de deixar Lucy longe de mim por tanto tempo porque, naquele momento, parecia impossível que eu pudesse abrir mão dela. Pensar em ficar longe fazia algo estranho se apertar dentro de mim. E foi quando deixei um desses pensamentos me dominar que me inclinei para Lucy e tomei seus lábios nos meus. Era uma tarde calma e ensolarada, estávamos fazendo um piquenique sob uma das macieiras do acampamento e Lucy ria de algo que eu falara quando não consegui resistir. Apesar de achar que ela me empurraria e nunca mais olharia na minha cara, para minha surpresa, ela apenas me puxou mais perto. Segundos, minutos, anos se passaram antes que eu pudesse me afastar. Apenas nos encaramos, eu sorria feito um idiota e o sorriso dela parecia brilhar mais que o sol. Parecia que as palavras haviam sumido e os sentimentos que bombardeavam minha cabeça eram tantos que eu não conseguia organizar. Lucy estava da mesma forma, confusa e extasiada. Então ela apenas me puxou mais uma vez para um beijo profundo e assim passamos o resto da tarde. Não houveram explicações ou perguntas como se nenhum de nós quisesse que aquela atmosfera fantástica sumisse com a realidade. Algum tempo depois eu deixei Lucy no chalé dela com um abraço íntimo. Eu não queria soltá-la e quando ela entrou voltei para meu chalé com o coração tão acelerado que temi que ele saísse pela boca. Dormi ainda com um sorriso no rosto e na manhã seguinte percebi, como um tapa na cara, que tinha um nome para a avalanche de sentimentos que me invadia sempre que Lucy estava perto.

Amor.

Eu estava completamente e perdidamente apaixonado por ela. E, apesar de não saber se era recíproco, mal podia esperar para revelar isso, não podia prolongar mais. Mas esse foi o dia que Calypso apareceu e fez antigos sentimentos voltarem à tona. Não o amor, mas a vergonha e a decepção. A rejeição. E então tudo aconteceu de repente, antes mesmo que eu pudesse encontrar Lucy. Calypso me confrontado, Duda me ajudando ao fingir ser minha namorada. O beijo acidental que só serviu para que eu percebesse o quanto meu amor por Duda era totalmente fraterno. Acredito que ela chegou à mesma conclusão. Passei o restante do dia procurando por Lucy, mas nenhum dos irmãos dela sabia sobre seu paradeiro. No dia seguinte da mesma forma. Sentia meu sangue gelar ao pensar sobre o que poderia ter acontecido, mas não havia mais tempo para procurá-la. Ela não teria saído do acampamento, teria? Não, não poderia, seria perigoso demais. Mas a pontada de medo e preocupação continuava em meu peito mesmo após nos despedirmos de Quíron. Eu me forçava a pensar que ela era forte, saberia se cuidar e que eu estava me preocupando à toa. Tentei tirar os pensamentos daquilo até conversar com Duda e ela confessar que Nico tinha visto nosso beijo.

E se Lucy também tivesse visto? E se ela tivesse entendido tudo errado? E se ela não quisesse mais olhar na minha cara, se nunca mais me perdoasse?

Esse turbilhão de perguntas vinha e voltava de minha mente durante toda a missão e, naquele momento, vendo Jason e Piper tão felizes juntos, pareceu ser a gota d’água pra mim. Pela primeira vez eu senti inveja de meus amigos e eu só queria tirar aquilo de mim. Inveja, medo, preocupação. Eu só queria esquecer tudo.

Estava tão, tão cansado.

Piper estava certa.

— Eu só queria saber onde ela está. – Confessei em um sussurro, minhas mãos passando pelos cabelos e deixando-os ainda mais desarrumados. Piper e Jason me encararam confusos. Suspirei. – Lucy. Não consegui falar com ela antes de sair em missão. Só queria saber se ela viu...

— O beijo? – Jason completou e eu apenas assenti cabisbaixo.

Eu contara tudo para meu amigo durante a missão na Itália, sobre meus sentimentos em relação à Lucy e o beijo com Duda. Se eu não falasse para alguém acho que ia explodir e ele foi o único que me percebeu mais calado e sério durante a missão. Não me deixou em paz até que eu falasse tudo. Depois apenas pousou uma mão em meu ombro e permaneceu em silêncio. Surpreendentemente era exatamente o que eu precisava. E enquanto entrávamos em um dos poucos templos vazios do jardim chinês para procurar pistas, ele fez o mesmo, seus dedos longos apertando meu ombro com companheirismo.

— Cara, certeza que ela não viu. – Jason falou calmamente, convicto. – Foi tão rápido e ninguém do acampamento percebeu.

— Ninguém... a não ser o Nico! – Exclamei enquanto analisava uma das paredes do templo, tocando o papel antigo em busca de algum símbolo de Héstia.

— É, bem, foi muito azar o dele. – Jason coçou a nuca envergonhado enquanto caminhava em direção à parede do lado oposto. – Mas a Duda explicou tudo e eles estão super felizes juntos.

— Mas não tinha rolado nada entre eles antes, ela não tinha obrigação de se explicar. Podia beijar quem quisesse. – Bufei tateando as cortinas vermelhas e a janela. – Com a Lucy era diferente. Nos beijamos no dia anterior, algo ficou implícito ali. Eu fui idiota, deveria tê-la pedido em namoro no mesmo instante e nada disso teria acontecido.

— Desculpa interromper, mas o que, em nome de Afrodite, está acontecendo aqui? – Piper ergueu a voz revezando o olhar assustado entre mim e Jason. – Primeiro, você tem algo com a Lucy, minha irmã? E segundo, você beijou a Duda? Por quando tempo eu dormi? Como não tava sabendo de nada disso?

Jason riu da cara, agora zangada, de Piper e resumiu minha vida amorosamente desastrosa em poucos minutos. E, por incrível que pareça, ele fez um ótimo trabalho. Ao fim ele voltou os olhos para mim.

— De qualquer forma você tá supondo tudo isso, Leo. – Jason finalizou com um dar de ombros e um sorriso em minha direção. – Na certa ela nem viu nada. Podia estar lotada de trabalho e cansada com as aulas e vocês acabaram se desencontrando. Quando voltarmos ao acampamento vocês vão se resolver, vai ver! Vai dar tudo certo.

Assenti levemente tentando retribuir o sorriso, mas sem sucesso. Nada conseguia tirar da minha cabeça que tinha algo errado e eu lutava para saber o que era. Tentei empurrar a sensação para longe, eu precisava focar na missão e para isso precisava acreditar que Lucy estava bem, provavelmente com ódio de mim, mas sã e salva no acampamento. Respirei fundo colocando a cabeça em ordem e, de repente, senti meu pé afundar em algo. No mesmo instante uma parede de fogo de mais de três metros de altura surgiu a centímetros de mim indo de um lado ao outro do templo. Surpreso ergui o pé lentamente percebendo que o azulejo onde eu pisara tinha uma pequena fogueira brilhando em vermelho e amarelo.

O símbolo de Héstia.

— Galera, acho que eu encontrei o que a gente tava procurando.

Piper e Jason reviraram os olhos analisando ao redor e suspirando de alívio ao perceber que, por sorte, não havia nenhum mortal naquele templo.

— Uma coluna de fogo? – Piper ergueu uma sobrancelha encarando a parede de chamas que crepitavam sem queimar nenhuma parte do templo. – Achei que Héstia era a deusa do lar e da lareira. Deusa virgem, calma, serena, essas coisas.

— Acho que nenhum deus pode ser considerado totalmente ‘calmo e sereno’. – Jason rebateu com os lábios crispados, analisando a parede de fogo com cautela. – Mas acho que a parede de fogo é apenas mais uma provação como a que eu, Nico, Percy e Annie passamos.

— Certo, mas lá nós sabíamos quem tinha que enfrentar a prova porque aparecia o símbolo do pai ou mão olimpiano. – Questionei com a mão no queixo. Encolhi os ombros. – Então, a não ser que alguém aqui seja filho de Héstia em segredo, é bom ela decidir logo quem de nós tem que enfrentar essa coisa.

E essa pareceu ser a palavra chave. Mal o silêncio se instalou após minhas palavras e algo começou a surgir no meio do fogo. Rabiscos pretos que logo percebi serem letras. Em pouco tempo uma frase flutuava entre o vermelho e amarelo do fogo.

Aquele forjado do fogo

As chamas deve atravessar

Para a senhora das lareiras encontrar.

Franzi as sobrancelhas me perguntando onde a gente ia encontrar um Targaryen na China até perceber os olhares de Jason e Piper sobre mim. Arregalei os olhos.

— Oh, certo. – Murmurei com os braços cruzados. – Forjado do fogo, filho de Hefesto. Saquei.

Respirei fundo encarando a barreira infernal a minha frente. O calor era quase insuportável e, à medida que me aproximei mais, sentia que meu corpo poderia derreter a qualquer momento. Hesitei por segundos. Controlar o fogo era uma coisa, mas atravessar uma parede de chamas parecia um teste drástico até mesmo para alguém com meu poder. Mas eu tinha que seguir, tinha que completar essa parte da missão, minha parte da missão. Então dei mais um passo e estiquei a mão. Meus dedos atravessaram as chamas lentamente e logo os puxei de volta, nervoso. Mas onde deveria haver uma queimadura de terceiro grau surgiu apenas um leve formigamento, a pele intacta. Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo e dei mais um passo, minha perna ultrapassando as chamas facilmente. Um leve formigar e nada mais. Senti meu corpo se encontrar com o fogo e fechei os olhos institivamente, imaginando se chegaria do outro lado.

Ou melhor, se chegaria do outro ainda vestido.

Onde, deuses, eu havia me metido?

~*~*~*~***~*~*~

P.O.V. Duda

— Se você reclamar mais uma vez juro que vou te esganar!

Já era o quinto templo que eu e Nico inspecionávamos na ala oeste do jardim e ainda nenhuma pista de Héstia. E já era a quinta vez que eu ouvia os resmungos e suspiros de Nico sobre termos ficado com a pior ala e que se tivesse que entrar em mais algum templo iria colocar tudo a baixo. Minha declaração irritada apenas fez o filho de Hades me encarar emburrado e resmungar ainda mais.

— Você não acha um pouco estranho toda essa calmaria? – Nico questionou enquanto passávamos pela entrada do Templo da Felicidade, de acordo com a placa em chinês com a tradução para inglês logo abaixo. Ele me encarou de lado, baixando a voz. – Já estamos na China há algumas horas e nada de monstros ou portais ou monstros saindo de portais.

— Não sou de questionar os pequenos e raros momentos de paz que encontro. – Rebati com um sorriso e Nico ergueu as sobrancelhas, exasperado. Bufei. – Ok, você tá certo, também estou achando calmo até demais.

— Exato! O que me leva a crer que as outras alas podem não estar tão pacíficas assim.

Ergui os olhos que vasculhavam as paredes claras do templo, repletas de velas e imagens de deuses chineses, e encarei Nico com os olhos arregalados, preocupação escorrendo pelo meu corpo como um veneno gelado. Nico percebeu automaticamente e segurou minhas mãos com carinho.

— Não, foi idiota da minha parte dizer isso. – Ele murmurou envergonhado e apertou meus dedos, os olhos confiantes em meu rosto. – Se algo tivesse acontecido eles já teriam nos contatado por mensagem de Íris. Não precisa se preocupar.

— Sim, claro. – Assenti lentamente, ainda insegura. – Você tá certo. O que podemos fazer é continuar investigando nossa ala.

Ele deixou um beijo caloroso em minha testa e concordou de mau gosto passando a observar a parte esquerda do templo enquanto eu me dirigia à porta no momento que os últimos turistas deixaram o templo. Fechei a entrada e passei a analisar a parte direita do templo em busca de qualquer símbolo dos deuses. O que era como procurar agulha em um palheiro já que, diferente das outras partes das missões, tínhamos ideia de quem iria enfrentar a provação da vez. Nesse caso dependíamos da boa vontade de Héstia aparecer e nos avisar de algo. Suspirei lembrando que foi a própria Héstia uma das primeiras a me avisar sobre o Mestre e a missão que viria. Será que ela complicaria tudo agora ou nos ajudaria? Com os deuses tudo era imprevisível. Mas eu tinha que ter fé mesmo que apenas para continuar um pouco sã no meio de tudo aquilo. Podia ser ingenuidade, mas eu me permiti aquilo por um tempo. Estava quase finalizando a inspeção do meu lado quando ouvi mais um resmungo de Nico. Virei-me para ele pronta para pular em seu pescoço e esganá-lo de vez até perceber que ele terminara de inspecionar sua área e estava recostado na sacada do templo, os braços apoiados na grande detalhada e dourada, o vento fazendo seus cabelos negros ficarem ainda mais revoltos. Segui lentamente, analisando o corpo, a postura, os músculos, tudo de Nico. Eu não me cansava de admirá-lo. Suprimi um suspiro e me postei ao seu lado, meu ombro colado ao seu.

— O que eu disse sobre as reclamações?

— Bem eu terminei de olhar a quinta parede do quinto templo e, surpresa! Nenhuma pista! – Ele murmurou me encarando com os lábios crispados. – Tenho todo o direito de estar puto.

— Temos que ter fé que os outros grupos tiveram mais sorte que nós!

— Eu sei, eu só... – Ele parou por segundos, respirando fundo. Pousei minha mão sobre seu ombro o que pareceu despertá-lo de seus pensamentos. Seus olhos se voltaram para os meus, dor e medo misturados às írises negras e entendi que as reclamações dele iam além das frustrações de não achar nada nos templos. Ele logo confessou. – Quanto mais descobrimos, quanto mais provações cumprimos, mas perto ficamos do fim da missão. Do fim da profecia, dos malditos últimos versos.

Então o inimigo dos deuses irá destruir se o sacrifício e dor não temer. Farás o antigo mal sucumbir ou toda a humanidade perecer. — Recitei baixinho os últimos versos da profecia. Eles se repetiam em minha cabeça, sempre e sempre. E parecia que não apenas na minha.

— Quanto mais eu penso, mas sinto que os versos estão ligados a você de alguma forma. – Ele confessou por fim com tanto pesar e dor que parecia ser algo palpável no ar. – Que o sacrifício é algo fatal e que você é o alvo dele.

Seus olhos angustiados procuraram os meus esperando que eu negasse, que eu desse alguma esperança dele estar enlouquecendo. Eu apenas suspirei, abraçando Nico e escondendo a cabeça em seu peito.

— Eu também acredito que esteja relacionado a mim, que o sacrifício final tenha de ser meu. – Falei erguendo a cabeça para encarar Nico nos olhos. Apesar de ver medo ali eu percebi que não sentia o mesmo, não mais. – Pensei muito nisso e não tenho mais medo, Nico. Não sou a mesma garota assustada que você levou para o acampamento. Estou disposta a me sacrificar se esse for o preço para salvar meu irmão, meus amigos, o mundo todo. Principalmente, para salvar você.

— Swan, você não entende? – Ele vociferou, raiva borbulhando em sua voz um pouco embargada, suas mãos presas a minha cintura como se eu pudesse sumir a qualquer momento. – Se você se sacrificar, se você morrer, eu nunca estaria a salvo porque eu morreria junto. Uma parte minha, a melhor parte, a única que vale a pena, se perderia para sempre e eu não faria questão de encontrá-la novamente porque sem você nada mais faria sentido. Você é a melhor parte de mim e eu não suportaria voltar ao vazio que era minha vida antes de você aparecer. Não posso perder mais ninguém. Não posso perder você! Me recuso a imaginar a possibilidade de você... de você...

E ele me abraçou tão forte que senti meu ar escapar pela boca, suas mãos como aço ao meu redor, seu peito acelerado com espasmos e soluços incontidos. Senti uma de suas lágrimas salpicar em minha bochecha no momento que ergui os olhos para seu rosto. Seus olhos negros já começavam a se avermelhar com as lágrimas, seus lábios entreabertos com soluções baixos. Senti minhas lágrimas descendo pelas bochechas no momento que ergui minhas mãos para o rosto forte e anguloso de Nico, limpando seu rosto molhado com meus dedos delicadamente. As palavras dele ainda se assentavam em meu peito como um bálsamo tranquilizador, como um bote me salvando da inundação de pensamentos que ameaçava me afogar. Eu o amava tanto que doía pensar em deixá-lo.

— Você também é a melhor parte de mim, anjo, e os deuses sabem como eu só queria passar o resto da minha vida ao seu lado. – Confessei o que fez Nico me apertar ainda mais, sua cabeça se inclinando para meu pescoço, inspirando profundamente. Suspirei tentando colocar a cabeça no lugar. – Mas temos que pensar em todas as possibilidades, estar preparados para elas.

— Então... se esses momentos roubados forem todo o tempo que teremos... – Ele murmurou beijando meu pescoço com volúpia, suas mãos subindo e descendo pelo meu abdômen, explorando onde os dedos tocavam. Prendi os lábios entre os dentes contendo um gemido. Ele se afastou o suficiente para me olhar nos olhos. – Quero aproveitá-los para marcar você na minha memória. Marcar seu cheiro e seu gosto profundamente em mim. Marcar você como minha e eu como seu.

Na última frase meu controle já tinha ido para o Tártaro e, sem aviso, Nico reivindicou meus lábios com os seus. Seu gosto era viciante! Um gemido baixo escapou de mim e meus lábios se separaram milímetros o que foi o suficiente para Nico me invadir com sua língua. Era um beijo selvagem, predatório. Um beijo para me marcar completamente nele e ele, completamente em mim. Ouvi Nico rugir contra meus lábios e senti ele andando para trás, meu corpo sendo levado por suas mãos. Eu não tinha forças para me separar dele então apenas me deixei ser guiada, sentindo seus lábios sobre mim novamente quando adentramos um banheiro e ele me prensou contra uma das paredes geladas. Pude ouvir vagamente o trinco da portar sendo trancada, mas minha mente estava nublada de desejo enquanto os beijos de Nico desciam pelo meu pescoço e colo. Revirei os olhos quando senti os dentes dele na parte baixa de meu pescoço, a alça de minha blusa escorregou pelo braço e quase podia ouvir o sorriso feroz de Nico quando ele deixou os lábios macios explorarem meus ombros agora desnudos.

— Prometa que não vai se sacrificar, cisne. – Ele murmurava entre os beijos e as mordidas como um mantra. – Prometa que nunca vai me deixar por causa de uma missão idiota.

Forcei meu único neurônio ainda forte a funcionar. Ri entre os gemidos.

— Isso é golpe baixo, di Angelo. – Ergui a cabeça de dele para me encarar e mordi o lábio inferior o que fez as pupilas dele dilatarem de desejo. Ele se inclinou para me beijar de novo, mas segurei sua camisa com um sorriso malicioso. – Agora é a minha vez.

Nico arregalou os olhos quando troquei de lugar com ele, deixando-o prensado na parede enquanto eu descia beijos pelo seu pescoço. Mesmo tendo de ficar na ponta dos pés para chegar ao seu maxilar, não deixei de beijá-lo nenhum instante e podia ouvir, satisfeita, seus suspiros e gemidos. Desci os beijos da mesma forma que ele havia feito, sentindo meu ventre formigar a cada gemido ou palavra desconexa que Nico murmurava. Até chegar à gola da camisa preta e bufei irritada. O desejo ainda latejava em mim e aquela blusa idiota se colocou no caminho. Ouvi a risada nasalada de Nico ao perceber minha decepção e sem pensar mais ele ergueu a camisa, tirando-a rapidamente pelo pescoço e jogando-a de lado, amontoada em um canto qualquer do banheiro.

E aquela visão quase fez meu corpo derreter de vez.

Eu estava quente, quente como o inferno!

Meus lábios formigavam em antecipação quando os pousei sobre o peito de Nico calmamente, deixando beijos molhados e mordidas leves por toda a extensão musculosa e firme. O suspiro desejoso de Nico fez meu estômago revirar. Eu nunca chegara àquele ponto com nenhum garoto e me deixei ser guiada pelos meus instintos mais profundos, apenas dei o que meu corpo pedia. E ele pedia, ele clamava para devorar Nico completamente. Desci os beijos pelo seu abdômen enquanto sentia Nico prender os dedos em meu cabelo com cuidado. Deixei minhas mãos passearem pelas costas deles, minhas unhas arranhando a pele macia. Eu estava ensandecida de desejo e podia jurar que Nico não estava melhor. Quando meus lábios chegaram pouco antes do cós da calça dele, Nico prendeu as mãos em meus ombros me puxando para cima novamente. Sua respiração era pesada, descompassada e acelerada. Seus olhos me devoravam e ele sorriu quando fiz um bico irritado por ele ter interrompido meus beijos.

— Logo na melhor parte. – Reclamei.

— Você acha que ia te deixar com toda a diversão? – Ele rosnou em meu ouvido fazendo um arrepio descer pelo meu corpo direto para meu ventre.

Aquele garoto era meu fim!

Ele me puxou erguendo minhas pernas e as prendendo de repente em seu quadril. Gemi alto quando o senti apertado contra mim, seu tórax espremido contra minha barriga, meus seios sensíveis presos em seu peito, seus lábios perdidos nos meus como se travassem uma batalha. Eu me perguntava como ainda estava viva, como ainda não tinha sido consumida pelas chamas que queimavam meu próprio ser. Eu só queria viver aquele momento para sempre, queria sentir Nico daquela forma para sempre. Queria congelar aquele momento para que os últimos versos da missão nunca se concretizassem.

Eu te quero tanto.

Você é tudo pra mim.

Não consigo viver sem você.

Ele murmurava a cada beijo e eu repetia e repetia.

Sim.

Sim.

Sim!

— Eu te amo!

As três pequenas palavras saíram involuntárias entre meus gemidos. Eu não percebi que elas se lançaram de meus lábios até Nico parar os beijos e me encarar com os olhos arregalados, brilhantes de surpresa e algo mais. O silêncio era palpável, a atmosfera de desejo sendo substituída por algo diferente, algo mais profundo. Era a primeira vez que um de nós declarava aquilo, eu percebi. Será que era cedo demais? Eu o amava, já tinha certeza daquilo há muito tempo, mas e ele? Sabia que era apaixonado por mim, ele declarara aquilo, mas amor ia muito além de paixão. Mais profundo, mais íntimo, mais duradouro. Ele continuava em um silêncio perplexo e eu desviei os olhos com medo de descobrir o que havia nos olhos dele. Felicidade? Vergonha? Pena? Eu não suportaria perceber que não era correspondida naquela intensidade, que a paixão de Nico era rasa enquanto meu amor por ele era tão profundo. O silêncio era longo demais, doloroso demais.

Ele não me ama.

Era isso que o silêncio cruel sussurrava em meu ouvido mesmo que eu ainda sentisse Nico me prendendo contra a parede, suas mãos sustentando minhas pernas para me manter elevada ao nível de seu rosto. Antes que eu pudesse me perder nas lágrimas senti o ar do banheiro mudar e uma imagem meio distorcida surgiu sobre a pia. Eu e Nico tentamos nos separar a tempo, mas o rosto de Percy surgiu no meio da mensagem de Íris de repente.

— Duda E Nico nós encontram... – Então ele focou a visão e eu quase pude ver seus pensamentos pipocando enquanto seu rosto ia de calmo a completamente enfurecido em questão de segundos. – Mas o que, em nome de todos os deuses, vocês estavam fazendo? Porque ele tá sem camisa? Nico de Ângelo se você deflorou minha irmã num banheiro da China eu espero que você desça pro submundo por conta própria agora mesmo porque quando eu terminar com você nem seu pai vai reconhecer sua alma!

Podia jurar que fumaça saía das orelhas de Percy enquanto ele bufava. Nico revirou os olhos e catou a blusa, vestindo-a com facilidade enquanto eu tentava arrumar o cabelo e minha blusa amarrotada. Encarei Percy com um sorriso amarelo, as bochechas rubras por diversos motivos.

— Não aconteceu nada demais. Ele não me... deflorou. – Repeti sua palavra inusitada com uma sobrancelha erguida e os braços cruzados. – Na verdade, quem diabos ainda usa essa palavra?

— Ah mocinha, você não vai mudar de assunto comigo! – Ele rosnou com os olhos arregalados. – O que vocês estavam fazendo. Quero respostas, agora!

— Estávamos caçando o símbolo de Héstia. – Nico respondeu com um dar de ombros. Ergui as sobrancelhas discretamente para ele e desviei os olhos rapidamente ao lembrar de nosso último momento. Quase podia sentir a vontade de Nico de se aproximar de mim, seu suspiro foi audível. Ele apenas voltou a falar com Percy. – É o quinto templo que procuramos e nenhum deles deu pista alguma. Achamos que o banheiro podia ter algo.

— E pra isso você tinha que ficar sem camisa? – Percy questionou com zombaria. – Estava quente a esse ponto?

— Você nem imagina... – Nico murmurou malicioso, os olhos voltados para mim.

Apenas ignorei, minha mente ainda digerindo o significado do seu silêncio diante de minha declaração. Eu não tava com cabeça para seus jogos sedutores depois daquilo.

— Apenas nos beijamos um pouco. – Confessei por fim e apontei para Percy. – Sem lição de moral, maninho. Vai dizer que você e Annie nunca deram suas escapadas nas missões?

— Sim, mas é diferente. – Ele gaguejou um pouco, mas logo cruzou os braços, a postura imponente e o queixo erguido. – Você só tem dezesseis anos, uma criança ainda! Eu sabia que não devia ter deixado você ir com o di Ângelo. Próxima vez iremos refazer as duplas, você e ele a dez metros de distância no...

— Jackson, chega dessa superproteção. – Nico cortou, irritado. Tanto pelo sermão de Percy quanto por eu não o encarar nos olhos de forma alguma. Quase podia ouvir seu suspiro de frustração, mas ele se controlou. – Acredito que você não tenha mandado a mensagem apenas para passar um sermão idiota. Vá direto ao assunto, o que você e Annie encontraram?

Percy encarou Nico com os olhos cerrados, analisando se voltava ao sermão ou fazia o que o filho de Hades dissera. Por fim suspirou e assentiu.

— Certo. Eu e Annie, ou melhor, Totó encontrou mais um daqueles portais dourados.

— Totó? – Eu e Nico questionamos em unissom, nossos olhos se encontrando involuntariamente em confusão.

— É, não sei se vocês estavam ocupados demais e nem perceberam, mas ele seguiu a mim e Annie quando nos separamos na entrada do Jardim. – Percy explicou ainda nos encarando desconfiado. Revirei os olhos. – Ele seguiu a nossa frente como se soubesse exatamente o caminho a seguir.

— Foi fantástico, Duda! – Annie apareceu de repente na chamada sorrindo com Totó no colo, o cão balançava o rabo alegremente enquanto Annie acariciava suas orelhas. – Acho que os seres vivos que você traz para nosso mundo acabam recebendo parte de seu poder. Você não sentiu o portal, provavelmente porque não tem os sentidos tão aguçados quanto os de um cão e só consegue senti-lo estando a uma distância menor da magia dele, mas Totó seguiu direto para um templo inacabado no final da ala norte. De acordo com minha pesquisa era pra ser o maior templo do jardim, mas o orçamento não deu e deixaram a obra inacabada, escondida por plantas artificiais. Provavelmente se eu e Percy estivéssemos sozinhos não teríamos encontrado tão cedo, mas Totó chegou lá facilmente.

— Caramba, Totó. – Sorri encarando o cãozinho que ergueu as orelhas ao ouvir minha voz. – Ainda bem que você veio de penetra na minha mochila!

—  Graças aos deuses não havia nenhum monstro saindo ou entrando do portal. – Percy esclareceu com o polegar indicando uma luz dourada que percebi irradiar às suas costas. – O que é bem estranho já que acredito que ele está claramente ativado.

— Algum símbolo de Héstia? – Nico perguntou, os braços cruzados e o corpo tenso.

— Não, apenas o portal. – Annie declarou. – Mas mandamos uma mensagem para Jason. Eles encontraram o símbolo de Héstia. Ele parecia um pouco preocupado, parece que Leo foi o escolhido dessa vez e teve que atravessar uma parede de chamas e Jason e Piper ficaram para trás. Ele ainda não tinha voltado quando mandamos a mensagem.

— Meus deuses, Leo! – Suspirei exasperada, meu coração apertado ao pensar em meu amigo enfrentando deuses sabem o que.

— Swan ele vai ficar bem. – Nico murmurou carinhosamente para mim, a mão estendida como se quisesse me tocar, mas congelou no meio do caminho. Seu rosto sofrido ao perceber minha indiferença em relação à suas palavras.

— Nico está certo, Duda. – Percy me encarou com um sorriso confiante. – Leo já enfrentou coisas bem piores e cons...

Então a mensagem de Íris foi cortada e minha última visão foi uma pata peluda cheia de garras descendo em direção à Percy. Depois apenas o silêncio. Senti meu coração acelerar e meu corpo gelar enquanto minhas pernas corriam para fora do banheiro em questão de segundos. Podia sentir Nico correndo a meu lado para fora do templo e pelo corredor, olhos curiosos encarando nossa pressa, mas nada mais importava.

Meu irmão... Percy!

Sentia meu estômago revirar com a torrente de pensamentos que me invadiu. Bloqueei todos e apenas acelerei, corri até minhas pernas queimarem, minha respiração saindo em golfadas pesadas, meus olhos marejados. Minha cabeça focando em apenas uma coisa.

Eu não iria perdê-lo!

~*~*~*~*~*~*~

P.O.V. Leo

Foram segundos, mas quando abri os olhos novamente estava do outro lado da barreira. Suspirei e arregalei os olhos para meu corpo. Suspirei pela segunda vez, mais profundamente, ao ver minhas roupas intactas. Podia ver levemente a silhueta de Jason e Piper do outro lado e gritei que estava bem, mas eles não conseguiam mais me ouvir. Crispei os lábios e voltei os olhos para a minha frente surpreso ao perceber que o templo e o jardim a frente haviam sumido dando lugar a uma sacada no topo de uma montanha. Era possível ver o cume enevoado a poucos metros e o vento frio fazia a pequena toalha de mesa estendida no chão da sacada sacudir loucamente e a mulher sentada sobre ela apenas encarava a paisagem, inabalável. Era pequena e os cabelos castanhos avermelhados desciam pelas costas em ondas pesadas. Ela não parecia se importar com o frio já que o vestido que usava era leve e estava descalça. Bebericou um pouco do líquido da xícara delicada que segurava e virou os olhos para mim lentamente, um sorriso caloroso nos lábios finos.

— Senhor Valdez. É um prazer vê-lo pessoalmente. – Sua voz era doce e macia, poderia ficar ouvindo-a para sempre.

— Igualmente. – Respondi envergonhado por meus pensamentos e sentei no local que ela indicava, a sua frente. Voltei meus olhos para a paisagem deslumbrante, completamente hipnotizado. – Porque escolher montanhas congeladas. Achei que a senhora gostasse de lugares mais quentes.

— São nos lugares mais frios que precisamos acender uma lareira. – Ela falou com uma voz cantada, um sorriso eterno nos lábios, um ar de sabedoria. Ela bebericou o chá dando uma leve mordida em um biscoito e riu. – Na verdade, gosto da paz, da tranquilidade desses lugares em relação à loucura do Olimpo. E, assim como você, o frio não me incomoda. Além da paisagem inigualável.

Assenti e aceitei a xícara que ela me ofereceu. Ela serviu o chá, a porcelana esquentando entre meus dedos enquanto eu desviava os olhos da paisagem deslumbrante. Héstia me observava, seus olhos castanhos dourados como fogo sobre mim. Mas ela esperou paciente enquanto eu devorava alguns biscoitos e pãezinhos. Aquilo era dos deuses! Eu gemi de prazer ao provar uma sobremesa de morango e ouvi a risada de Héstia, um som tão melodioso que me fez erguer os olhos em surpresa, ainda com a boca cheia.

— Espero que esteja satisfeito. – Ela sorriu limpando a boca delicadamente com um guardanapo. – Temos assuntos a discutir.

—  Claro! – Engoli o resto de sobremesa com um sorriso amarelo, limpando a boca rapidamente com o guardanapo que ela me ofereceu. Pigarreei, uma expressão séria tomando meu rosto. – A profecia, o tal aviso.

— Exato. Como sempre o oráculo sabe a hora exata de cada momento. – Ela suspirou cruzando as pernas curtas sob o vestido delicado. O dourado de seus olhos pareceu se destacar quando ela desviou o olhar para os picos gelados das montanhas. – Não teria essa informação até pouco tempo.

— Que informação? – Questionei, ansioso. Meu estômago revirava em expectativa e me amaldiçoei por ter comido tanto.

Héstia uniu as mãos à frente do corpo e me encarou intensamente.

— Depois que vocês saíram em missão, o número de ataques de monstros aumentou absurdamente. Aparições em todos os lugares e, o pior, muitos deles modificados, nenhuma das armas conseguia mata-los, nem mesmo feri-los. 

— Como o crocodilo no acampamento e o escorpião que encontramos na floresta. – Murmurei, os olhos arregalados e Héstia assentiu pesarosa.

— Sim. As caçadoras e os semideuses dos dois acampamentos se juntaram para combatê-los e eles estão conseguindo manter posição contra os ataques, mas houveram baixas e, aqueles que permanecem, estão completamente esgotados.

“Alguns deuses, seja por não aguentar ver seus filhos sofrendo novamente ou medo do problema explodir em suas caras quando os semideuses não conseguirem mais aguentar, se uniram para procurar alguma informação sobre o tal Mestre, qualquer pista que pudesse nos tirar do escuro. Foi Apolo que, há poucos dias, conseguiu descobrir algo em pergaminhos tão antigos que ficaram esquecidos em nossos antigos templos.”

— O que? – Cerrei os punhos, meu corpo inclinado para frente. Eu estava cansado de tanto mistério. – O que ele descobriu?

— Não é a primeira vez que o Mestre vem ao mundo. Ele já esteve aqui antes, mais de uma vez até. – Héstia confessou, as costas eretas. Seus olhos como lâminas sobre mim. – Mas é a primeira vez que ele vem ao nosso mundo.

— Qual a diferença de ele ter vindo ao mundo ou ao nosso mundo?

— Nenhum deus, grego ou romano, sabia ou lembrava dele porque ele não é do mundo grego ou romano. – Ela explicou da melhor forma possível enquanto eu esforçava meu cérebro a acompanhar tudo aquilo. – Ele vem de outro lugar, outro mundo. O próprio pergaminho estava escrito em outra língua assim como o nome verdadeiro do Mestre. Apenas uma frase se repetia em diversas línguas diferentes, incluindo grego e latim. Ypérocho fídi.

— Grande serpente. – Traduzi automaticamente, meus pensamentos focando na ideia de outro mundo. Meus olhos se iluminaram quando encarei Héstia com os lábios crispados. - O povo de Arthur.

— O viajante que vocês encontraram na floresta? – Ela questionou com uma sobrancelha ruiva erguida em confusão. Nunca pensei que veria qualquer deus com aquela expressão!

— Sim. Ele confessou ser parte de um outro povo diferente do nosso. Ele sabia tudo sobre nós e sobre o Mestre. – Expliquei enquanto mais peças se encaixavam na minha cabeça. – Mas não revelou tanto assim. De acordo com ele isso poderia interferir de forma negativa em nossa missão.

Pausei por segundos digerindo as informações. Minha cabeça rodava e eu ainda me perguntava porque tinha sido o escolhido para receber tudo aquilo. Annie era muito mais capacitada para essa função!

— Sábio. – Héstia inclinou a cabeça com um sorriso.

— O mundo de onde o Mestre veio só pode ser o mundo de Arthur. – Concluí, meus olhos encarando Héstia que apenas acenava em concordância. – Não acredito em coincidências tão grandes assim.

— É um palpite formidável.

— Só tem um problema. – Falei, meus lábios retorcidos em desagrado. – Como muitas outras coisas, ele não revelou nada sobre seu mundo. Não temos nem como entrar em contato com ele novamente.

Passei as mãos freneticamente por meus cabelos, meus olhos pousando em Héstia que permanecia serena, inabalável.

— Mas agora temos uma lista menor de inimigos para Annie pesquisar, pode facilitar para que ela encontre algo sobre ele. – Suspirei com um dar de ombros, um pouco de otimismo entre minhas palavras. – Sua informação confirmou o que já suspeitávamos.

— Mas esse não é o único aviso, senhor Valdez. – Héstia declarou, a expressão sendo tomada por uma apreensão inusitada, os lábios antes sorridentes se tornando uma linha fina. Ela parecia não querer dizer a frase seguinte, as palavras saindo tão lentamente que absorvi de imediato. – O Mestre tem um dos semideuses do Acampamento Meio-Sangue sobre seu controle.

O som pareceu ser banido do universo deixando apenas um silêncio sufocante no lugar. Senti meu coração despencar, um pressentimento ruim penetrando meu corpo, paralisando meus membros. Achei minha voz com esforço.

— Como? – A voz arranhada, assustada. A voz de alguém desesperado – Quem?

Héstia se calou por instantes, hesitando. Cerrei os olhos em sua direção, ou punhos fechados, minhas unhas arranhando a palma da mão.

— Vocês sabem quem é e decidiram não contar? – Ri em exasperação, um suspiro enfurecido. – Deixe-me adivinhar, saber o nome do semideus pode atrapalhar a missão?

— Exatamente, senhor Valdez. – Ela confirmou e eu bufei, os olhos arregalados. – Estou tão feliz em manter essa informação escondida quanto você, mas não podemos arriscar que um erro mínimo possa colocar o sucesso de vocês em risco. O nome não é importante no momento.

— Claro que é importante! – Vociferei, fora de mim. Minha cabeça girando com imagens de meus irmãos, os amigos que deixei no acampamento. Lucy. Meus olhos poderiam queimar a deusa a minha frente – Mas a indiferença é típica de vocês. Não deveria nem estar surpreso!

— Controle-se, senhor Valdez. – Ela falou seriamente, a voz doce soando firme como aço. – Preciso que foque no que é relevante. Não sabemos a quanto tempo esse monstro está controlando o semideus, sua magia estranha conseguiu mascara-lo de nossos olhos todo esse tempo. Provavelmente foi essa pessoa que facilitou o acesso dele no acampamento, na sua possessão, do senhor Grace e di Angelo. Não sabemos muitos mais e descobrimos essa informação por puro acaso. Além disso suspeitamos que tenha sido ele a roubar a caneta encantada, mas não descobrimos ainda o motivo.

Eu digeria a informação com cautela, uma única pergunta rondando minha mente. Não consegui contê-la.

— Porque eu? – Questionei de repente. Ergui os olhos. – Porque logo eu fui escolhido para receber essas informações?

— Porque você é fundamental para quebrar o controle que o Mestre tem sobre o semideus. – Ela confessou com um suspiro, como se quisesse dizer mais, mas não pudesse. – E, no final, isso pode ser a peça decisiva entre a vitória ou derrota de vocês.

— E ainda diz que o nome não é importante? – Gritei com os punhos cerrados. Héstia me encarou com o cenho franzido, indignada pelo meu tom. Eu quase ri em deleite de sua expressão e contive uma resposta mal educada. Cerrei os dentes. – Como vou fazer isso, ajudar essa pessoa sem nem ao menos sei quem é? Sou tão forte a ponto de superar o poder do Mestre?

— Sim, você é. – Héstia respondeu com um sorriso sincero como se falasse com uma criança. – O nome virá no momento certo. Até lá se prepare e não esqueça que seu companheirismo e amizade é um dos pilares do seu grupo, mas assim como você os sustenta, eles também sustentam você. Aprenda a confiar e a mostrar o que está mais profundo em você. Eles merecem isso e você também.

Héstia se aproximou a passos lentos, erguendo uma mão calmamente em minha direção e tocando meus cabelos. Pude sentir um calor aconchegante tomar meu corpo como uma brisa quente de verão e logo uma áurea laranja contornou meu corpo.

— Você tem minha benção, Leo Valdez. – Ela se afastou lentamente, os olhos fixos em mim enquanto a luz laranja desvanecia ao meu redor. – Use seus dons com sabedoria e não se esqueça dos conselhos. A união de seu grupo é fundamental para o sucesso da missão.

Ela ergueu a mão e logo um livro se materializou entre seus dedos. A capa era verde e retratava um garoto montando em um pégasus. Em letras douradas e caprichadas lia-se: O Último Olimpiano.

Acredito que isso seja para você. – Héstia cortou meus pensamentos e peguei o livro de sua mão. Ela ergueu os olhos para os meus uma última vez e sorriu esperançosa. – Boa sorte, senhor Valdez. Que bons ventos os tragam de volta sãos e salvos.

Então ela estalou os dedos e, num piscar de olhos, a varanda sumiu assim como os picos gelados além. Olhei em volta espantado. Estava novamente no templo. Quando encarei o espaço a minha frente vi apenas uma fumaça amarela no ar, o cheiro de madeira preenchendo meu nariz e nenhum sinal da deusa. Percebi que a parede de chamas havia sumido quando senti braços magros enroscando meu pescoço e um cabelo castanho fazendo cócegas em minha bochecha.

— Meus deuses, Leo! Você tá bem? – Piper perguntou enquanto me abraçava forte. – Você conseguiu?

— Me sinto ofendido por você ainda ter que perguntar! – Exclamei com falsa tristeza e ergui o objeto em minhas mãos com ar vitorioso. – Mais um livro para nossa coleção!

— Então, qual foi a sua provação. – Jason apareceu a minha frente com um sorriso aliviado no rosto, os braços cruzados tentando mostrar despreocupação.

— Tudo bem, cara, eu sei que você também ficou morrendo de saudades de mim! Cabe mais um nesse abraço... – Abri os braços enquanto Piper me soltava com uma risada e Jason me encarava com uma sobrancelha erguida. Ri abertamente. – Tudo bem, fique aí com sua masculinidade frágil.

Então Jason riu e eu tentei acompanha-lo, até os trechos da conversa com Héstia voltarem a minha mente. Suspirei, os dedos passando por meu cabelo ansiosamente. Jason percebeu minha mudança de humor, sua risada morrendo aos poucos.

— Certo, o que houve? A sua prova foi tão ruim assim?

— Na verdade, nem teve provação. – Confessei e vi Jason arregalar os olhos. – Héstia realmente só queria me dar um aviso. Ou, melhor, dois.

“Pensando bem, era melhor alguma prova mortal e mirabolante. Minha cabeça não estaria doendo tanto e nem meu coração se despedaçando com as possibilidades...”, pensei com meus botões até ouvir a voz de Piper, seus olhos castanhos presos em mim com expectativa.

— O que ela disse?

Respirei fundo e abria a boca, prestes a despejar toda a conversa que tivera com a deusa do lar, até o ar mudar ao nosso redor. Percebi Jason retirando a moeda do bolso institivamente e Piper pousando a mão discretamente sobre a adaga em sua cintura enquanto o ar tomava forma. Então algo se materializou entre nós. Primeiro embaçado, apenas uma confusão de cores, até um rosto tomar forma. Um rosto completamente apavorado.

— Duda? – Falei alto, meus olhos arregalados, um sorriso feliz em meus lábios. Até perceber sua expressão. Fechei a cara. – O que houve?

— Vocês precisam seguir para a ala norte, agora! – Ela gritou, a respiração entrecortada e pude ver um relance de cabelos negros ao seu lado mesmo que apenas ela estivesse focada na mensagem de Íris. Meu coração apertou ao perceber que ela estava prestes a chorar. – Algo aconteceu com Percy e Annie. Eles estão em perigo no templo inacabado, no final da ala!

— Estamos a caminho. – Jason declarou firme, a moeda presa nos punhos fechados, e corremos para a saída do templo antes mesmo que a mensagem de Íris se dissolvesse por completo.

~*~*~*~*~*~*~*~

P.O.V. Duda

Eu estava a flor da pele.

Os turistas no meu caminho me enfureciam.

Os meus passos, não rápidos o suficiente, me enfurecia.

Meu coração palpitando em meus ouvidos me enfurecia.

O garoto correndo ao meu lado em silêncio me enfurecia mais.

Mas eu não conseguia nem o encarar naquele momento. Eu não estava pronta para nada daquilo. Depois que a mensagem de Íris que enviei para Leo, Jason e Piper se dissipou acelerei o máximo que consegui, minhas pernas queimando quando cheguei ao final da ala norte e avistei por entre as plantas um pedaço de coluna dourada. Só podia ser ali! Suspirei e dei mais um passo sendo impedida pela mão de Nico em meu ombro. Poderia tê-lo queimado inteiro com o olhar irado que lancei em sua direção.

— Me larga, agora!

— Swan, eu sei o que você tá pensando e só pode estar louca por achar que eu deixaria você entrar lá desse jeito. – Ele rosnou, os dentes brancos cerrados e os olhos furioso em minha direção. Sua mão não saiu de meu ombro. – Não pode ser impulsiva desse jeito! Não vai ajudar em nada.

Bufei, os braços cruzados, apesar de saber que ele tinha razão. Me afastei de suas mãos, mas permaneci a sua frente, os lábios crispados.

— Então o que você sugere? Tem algum plano?

Ele sorriu com superioridade. Eu quase podia ler seus pensamentos: “Eu sempre tenho um plano, cisne.”. Ele se inclinou um pouco, sussurrando em meu ouvido sua ideia. Era simples, todos os templos que passamos tinham duas entradas, na frente e nos fundos. Cada um de nós ficaria responsável por uma delas. Nico iria pela frente chamando a atenção de qualquer monstro enquanto Jason, Piper e Leo chegavam para ajudar. Eu focaria em destruir o portal e ajudar Percy e Annie da melhor forma possível. Acenei em confirmação e percebi Nico hesitar um pouco antes de se afastar de mim, seus olhos me encarando profundamente. Eu sabia que ele queria dizer algo, seus lábios abrindo e fechando descoordenadamente. Eu estava dividida entre o medo de suas palavras e a ansiedade em ouvi-lo. Mas sabíamos que aquele não era o momento para aquela conversa. Então Nico crispou os lábios e suspirou, seus olhos me encarando como uma promessa silenciosa.

— Apenas se cuide, ok?

— É. – Murmurei friamente, meus olhos se desviando dos dele. – Você também.

E segui para os fundos do templo, lutando com todas as minhas forças para não voltar os olhos uma última vez para o filho de Hades, meu coração palpitando de preocupação não apenas com Percy, mas, agora, com Nico também.

E se ele se machucasse?

E se eu nunca mais pudesse vê-lo? Tocá-lo?

E se...?

Meus pensamentos estavam me matando. Bloqueei todos enquanto caminhava mata a dentro. Nico sabia se cuidar e eu tinha que focar em salvar Percy e Annie. Depois eu pensaria em tudo que aconteceu entre nós, depois pensaria nos meus sentimentos, depois ouviria o que Nico tinha a dizer mesmo que fosse para terminar tudo.

Depois.

Eu tinha que ter fé de que haveria um depois.

Retirei o tridente da pulseira e logo Tríaina estava em minhas mãos. Senti o anel de íbis em meu dedo esquentar, um brilho dourado irradiando dele. Firmei a espada nas mãos, eu estava perto. Saltei a pequena sacada e abri a porta dos fundos com força. Meus olhos voaram pelo templo inacabado em busca de meu irmão. Havia em torno de vinte monstros no local, nenhum de alguma espécie que eu conhecesse. Pareciam híbridos de manticore e harpias, mas Nico, já lutando na entrada do templo, conseguia dar conta deles por enquanto. Vi os olhos dele se desviarem em minha direção e sua cabeça se inclinou levemente para o canto esquerdo do templo. Ali, imóvel no chão, estava Percy. Annie permanecia ao seu lado, de joelhos sobre o corpo de meu irmão. Ela parecia exausta, provavelmente por ter lidado sozinha com todos os monstros depois que meu irmão foi atingido. Sua perna sangrava um pouco e um corte feio se destacava em seu braço, mas ela não parecia se importar pois continuava a dar toda a ambrosia que tinha para meu irmão.

Percy continuava imóvel.

Caminhei a passos rápidos em direção ao casal até perceber o portal dourado no outro canto do templo. Ou melhor, o monstro que ameaçava sair do portal a qualquer segundo. Estanquei em frente a ele, meu coração ansiando para correr em direção à Percy e esquecer todo o resto. Mas se eu deixasse o portal ali mais monstros poderiam aparecer. Nenhum de nossos outros amigos havia aparecido ainda, Nico estava sozinho e já podia perceber sinais de cansaço em seus movimentos. Cerrei os punhos, meus olhos fixos no portal. Eu já sabia a palavra mágica de cor, mas abracei de bom grado o poder familiar que me dominou quando foquei os olhos no pequeno anel. Surpreendentemente não senti algo tomar o controle de meu corpo como sempre acontecia. Dessa vez foi como seu eu me fundisse a ele, eu sabia exatamente onde ele terminava e eu começava, como peças de um quebra-cabeça. E eu me senti mais forte do que nunca.

— TADMIR!

Minha voz soou amplificada e em segundos o portal explodiu em pedaços dourados junto com os pedaços dos monstros que tentavam sair dele. Meu corpo voou antes que eu pudesse evitar e cai no chão a poucos metros de Percy e Annie.

— A forma mais rápida de chegar aqui, com certeza. – Gemi de dor e me arrastei em direção à Percy. Meus olhos desviaram para Annie que parecia tremer enquanto tirava os cabelos de meu irmão da testa. – O que houve, Annie?

— Foi tudo tão de repente! Eu... eu podia jurar que o portal estava desativado ou algo parecido. Normalmente sentimos a presença de monstros, nossos sentidos sempre foram mais aguçados. – Ela explicava rapidamente sem tirar os olhos de Percy que permanecia desacordado, a respiração superficial. Annie respirou fundo, lágrimas descendo por sua bochecha. – Mas eles surgiram do portal quando estávamos falando com você e pegaram Percy de surpresa. Nós não conseguimos perceber nada até ser tarde demais! Isso... isso nunca aconteceu. Essas criaturas não são de nenhuma espécie que eu conheça, parecem híbridos, isso deve ter modificado nossa percepção deles. Eu não sei, eu só... nada está funcionando, ele não acorda. O monstro lançou Percy contra a parede com tanta força que quebrou quatro costelas, mas o pior é sua cabeça... é como se ele estivesse em coma. Nem mesmo a ambrosia funciona. Eu não posso... não posso...

Annie prendeu a mão nos lábios tentando conter um soluço, suas lágrimas eram incessantes. Senti meu peito afundar, minhas mãos tremiam. Cerrei os punhos, os olhos fechados, a imagem de minha mãe no meio da estrada, um pano branco sobre ela. Abri os olhos. Não, não meu irmão.

— Temos que chegar a um riacho ou mar. Temos que ir para a água. – Falei firme apesar de estar desabando por dentro. – Isso pode salvá-lo.

Annie assentiu, limpando as lágrimas que manchava seu rosto, enquanto ela depositava a cabeça de Percy sobre suas pernas. Os arranhões e machucados superficiais já estavam sumindo devido a ambrosia, provavelmente suas costelas já estavam inteiras de novo. Mas ele parecia estar em um sono profundo. Passei a mão por seu rosto, aliviada por ele estar respirando mesmo que lentamente. Minha cabeça calculava diversas possibilidades enquanto eu tentava manter as lágrimas longe dos olhos.

— Tem um riacho que corre por trás desse templo e segue até a entrada do Jardim. – Annie lembrou de repente, esperança iluminando seus olhos marejados. Ela me encarou forçando um sorriso nos lábios. – Pode ser o suficiente.

— Temos que tentar!

Dividimos o peso de Percy em nossos braços, forçando nossos passos até a entrada dos fundos do templo. Percebi Jason, Piper e Leo entrando na batalha ao lado de Nico no momento em que eu e Annie sumimos em direção ao fundo do templo. Jurei a mim mesma que eles ficariam bem e me concentrei em caminhar, equilibrando as pernas pesadas de Percy enquanto Annie sustentava seu tronco e cabeça, os olhos cinza revezando entre o caminho a sua frente e o rosto desfalecido de meu irmão. Eu só podia imaginar o que ela estava sentindo naquele momento. O medo, a dor, o pavor. Sentia tudo aquilo afogar meu coração quando encarava Percy, mas para Annie aquilo com certeza era cem vezes pior. Eles já haviam enfrentado tanto! Sentia que ela podia desabar a qualquer momento e suspirei de alívio quando chegamos ao pequeno riacho. A água era límpida e pude ver algumas carpas prateadas nadando quando pousamos o corpo de Percy na margem. Encarei Annie com um aceno e entrei no riacho rolando o corpo de Percy até que ele estivesse mergulhado, amparado por meus braços. Fechei os olhos respirando fundo e lembrando das lições de Percy. Imaginei a água como uma extensão de mim, como parte de meu corpo, algo que eu pudesse controlar como precisasse. Senti a correnteza ao redor diminuir até que a água abaixo de mim parasse completamente. Observei enquanto a água fazia sua mágica no corpo de meu irmão, curando as poucas escoriações restantes.

Mas ele ainda não acordava.

Um pavor gelado inundou meu corpo. Senti a lágrimas iniciarem seu caminho por minhas bochechas e logo minha visão estava tão embaçada que Annie e o jardim ao meu redor não passavam de um borrão. Pude ver de relance Nico, Jason, Piper e Leo surgindo por entre a grama alta, mas minha atenção estava completamente voltada para o garoto em meus braços. Soluços sofridos já escapavam de meus lábios enquanto eu percebia que a água não fazia efeito algum em relação a cabeça de Percy.

Meu irmão não vai acordar.

Ele vai ficar assim pra sempre.

Os pensamentos eram como veneno, minha cabeça rodava e eu só queria chorar e gritar o mais alto possível. Aquilo não era justo, não com Percy! Eu deveria sofrer as consequências. O sacrifício deveria ser meu para que todos eles fossem poupados! Imagens de Percy começaram a inundar minha cabeça. Seu sorriso maroto, seus abraços calorosos, sua superproteção, até seus sermões. Eu amava todas as partes de meu irmão e não aceitava que aquele fosse o fim. Meu corpo tremia e percebi que era de algo além do pavor. Eu estava irada, completamente tomada pelo ódio. Puxei o corpo ainda imóvel de Percy para perto, meus dedos cravados em seus braços. Eu não podia, não iria aceitar aquilo!

— Vamos, Percy, você é mais forte que isso! Já enfrentou deuses e titãs! Não pode nos deixar, não pode me deixar! – Gritei com a voz esganiçada e rouca pelo choro. Pude sentir a água ao meu redor se agitar, mas meus olhos focavam apenas no rosto sereno de meu irmão. – Você tem que acordar! Agora mesmo!

A última frase saiu tão alta que vi pássaros voando agitados para longe do jardim. O riacho, antes calmo, quebrava ondas fortes contra mim como se refletisse meu estado de espírito. Um silêncio sepulcral tomou o lugar, percebi de relance todos me encarando espantados, mas meus olhos se voltaram para Percy quando, depois de alguns segundos, percebi uma respiração mais profunda dele. Logo seu corpo tremeu em meus braços e ele abriu os olhos, o verde-mar brilhando no sol que refletia neles. Suas pupilas dilataram enquanto ele virava a cabeça lentamente, absorvendo tudo ao redor. Eu ria em meio ao choro enquanto Percy gemia, as mãos se erguendo lentamente para bagunçar os cabelos negros. Seus olhos se voltaram pra mim e seu sorriso largo aqueceu meu peito, finalmente me tirando do pesadelo de minutos atrás.

— Então, o que eu perdi?

Gargalhei principalmente para esconder os soluços e lancei meus braços no pescoço de Percy. Ele me abraçou de volta, rindo abertamente. Sabia que provavelmente ele ainda estava fraco, mas eu não conseguia soltá-lo como se eu deixasse ele ir ele sumiria ou voltaria ao coma. Afundei no abraço, o aroma salgado de seus cabelos me acalmando aos poucos.

— Hey, pequena, eu tô aqui. – Ele sussurrou ao perceber meu corpo tremer. Apesar de tudo ele não me soltou e firmou seus pés no leito do riacho para nos sustentar contra a correnteza. – Não vou a lugar nenhum.

— Nunca mais faça isso comigo! – Murmurei me afastando para olhar em seus olhos, um reflexo dos meus. Tirei o cabelo de seus olhos e ele riu. – Eu quase morri de medo!

— Mas você me salvou! – Ele respondeu sorrindo largo, segurando meus ombros apertados. – Me trouxe para a água a tempo!

— Só que ela demorou até demais para fazer efeito dessa vez. – Respondi com um muxoxo, meus olhos voltando para os dele. – Achei... achei que não fosse funcionar. Fiquei tão apavorada.

— Quanto mais profundo o ferimento, mas demorada a recuperação. – Ele explicou calmamente e bagunçou meus cabelos com divertimento. – Aquele monstro me pegou de jeito.

— É, acho que faz sentido já que o ferimento foi fundo na sua cabeça de algas! Pensando bem então a recuperação foi rápida até demais. – Brinquei e Percy fez uma pequena onda quebrar sobre minha cabeça.

Antes que eu pudesse repreendê-lo vi a água ao nosso redor se espalhar quando Annie surgiu pulando no pescoço de Percy enquanto ria e chorava, brigava e o abraçava. Eles começaram a conversar, Annie tocando em Percy o máximo que conseguia enquanto meu irmão acariciava os cabelos louros com devoção. Percebendo que estava sobrando ali, saí do riacho e me sequei rapidamente na margem. Meu coração se acalmava aos poucos e quando me ergui vi meu grupo de amigos me encarando com espanto.

— O que foi? – Arregalei os olhos passando as mãos nos cabelos e no rosto. – Tem alguma coisa em mim? É um bicho? Por favor digam que não é um bicho!

— Você não percebeu mesmo? – Piper questionou com a sobrancelha perfeita erguida em descrença.

— Percebi o que?

— Que você deu uma de rainhas das águas há poucos minutos? – Leo respondeu com as mãos erguidas. – A ondas chegaram a quase três metros. Eu sei que você é filha de Poseidon e tudo mais, mas nunca tinha visto algo assim. Foi impressionante.

— Era como se você fosse o próprio riacho. – A voz de Nico soou baixa, mas firme. Seus olhos negros me analisavam minuciosamente, preocupado, e um arrepio me percorreu. – Ele refletia a sua ira e desespero. Foi... apavorante.

— É, parecia que a água ia invadir o jardim inteiro a qualquer momento. – Jason completou com os olhos revezando entre mim e o riacho.

— Eu... eu não sei o que aconteceu. – Confessei, minhas bochechas rubras e minha mão coçando a nuca nervosamente. – Só queria salvar Percy a qualquer custo e eu estava mesmo desesperada e irritada. Acho que não controlei bem as emoções e a água apenas virou um reflexo delas.

— Graças aos deuses que Percy acordou logo! – Leo comentou me dando um abraço apertado e depositando um braço sobre meus ombros. – Ou a essa hora estaríamos todos no fundo do rio.

Engoli em seco apesar de lançar um sorriso forçado. Se eu usara tanto poder assim sem nem perceber porque não estava exausta? E se Leo estivesse certo e eu tivesse ido longe demais? Se eu perdesse o controle novamente? A palavras de Héstia de nosso encontro meses atrás voltaram a minha mente. Ela falou sobre eu ter controle sobre meus poderes e eu podia jurar que depois das aulas que tive eu conseguia controla-los muito bem. Mas aquilo? O que poderia ter acontecido se Percy não tivesse acordado, se a raiva me dominasse de vez? Os pensamentos ameaçavam me consumir quando ouvi Percy se movimentando ao meu lado ajudando Annie a sair da água.

— Então vocês já sabem o que encontramos na nossa ala. – Ele comentou com um dar de ombros despreocupado, como se não tivesse acabado de ressuscitar. Annie encarou-o tão abismada quanto eu enquanto meu irmão apenas se secava e logo deixava Annie seca também. Seus olhos verdes pousaram em Leo ao meu lado. – Quais as novidades de vocês na ala leste?

— O de sempre: atravessar uma parede de chamas, receber uns avisos proféticos de uma deusa junto com um livro de história. – Leo comentou sarcasticamente enquanto erguia o livro em suas mãos. Ele me encarou com uma sobrancelha erguida logo desviando os olhos para Nico. – E vocês na ala oeste descobriram algo importante?

As cenas picantes voltaram a minha mente como um soco e mal contive o rubor em minhas bochechas. Assim como a dor irritante em meu peito ao lembrar de minha declaração idiota no final e o silêncio de Nico. Podia jurar que Nico pensava o mesmo pois seus olhos me queimaram antes de ele encarar Leo com indiferença.

— Não descobrimos nada, uma completa perda de tempo. – Ele deu de ombros, as mãos ocupadas com uma bola de pelos negra que se mexia alegre em seus braços. Franzi o cenho. Totó, sempre o traidor. Pude ver um sorriso despontar dos lábios de Nico pela minha irritação, mas ele não desviou o foco de Leo. – Estávamos inspecionando o quinto templo quando Percy nos mandou a mensagem de Íris e tudo aconteceu.

— É, e vocês dois ainda tem muito o que explicar... – Percy murmurou com os olhos faiscantes sobre mim. – Ainda não engoli aquela história de vocês.

— Que história? – Piper perguntou animada, um sorriso divertido nos lábios enquanto encarava a mim e Nico.

— Nada demais. – Cortei com os braços cruzados, enforcando Percy em pensamento, e voltei os olhos para Leo, ignorando os olhares e sorrisos cúmplices entre meus amigos. – Então o que Héstia revelou?

Ainda me encarando com um sorriso malicioso Leo passou a narrar seu encontro com Héstia. Falou sobre os avisos da deusa e o conselho de sustentarmos uns aos outros. Senti meu sangue gelar quando Leo falou, a voz embargada, sobre o semideus que estava sob o controle do Mestre.

— Que o Mestre vinha de outro mundo nós já suspeitávamos depois do encontro com aquele... garoto. – Nico cuspiu a ultima palavra com desprezo e revirei os olhos discretamente. – Mas ter um semideus com ele? Quem pode ser?

— Essa é a pergunta de um milhão de dracmas! – Leo respondeu exasperado, balançando a cabeça em desamparo. – Héstia disse que revelar o nome poderia influenciar no sucesso da missão. Ela não queria arriscar. Apenas disse que eu seria uma peça fundamental para ajudar esse tal semideus. Eu só... tô com um pressentimento ruim.

Abracei Leo de lado e ele forçou um sorriso nos lábios que não chegou aos seus olhos. Eu podia ver a preocupação e ansiedade em seus movimentos e percebi, surpresa, que ele vinha estando daquela forma desse o início da missão. Poucas piadas e sorrisos, apenas o suficiente para esconder todos os outros sentimentos. Como pude notar só naquele momento? Me estapeei mentalmente, que ótima amiga eu era! Prolonguei o abraço enquanto Leo repousava a cabeça em meu ombro.

— Se ele está mantendo o semideus sobre seu controle até agora é porque precisa dele, temos que focar nisso. Vamos salvá-lo a tempo, Héstia confirmou isso de certa forma. Vamos encontra-lo no final e você vai conseguir salvá-lo! – Declarei inclinando minha boca contra seu ouvido para que apenas Leo me escutasse. – E eu quero saber exatamente o que tá acontecendo com você.

Leo se afastou lentamente, os olhos arregalados em minha direção. Ele assentiu levemente, um sorriso sincero nos lábios. Retribui o sorriso e, de relance, percebi que Nico nos encarava com uma carranca, as sobrancelhas negras franzidas. Ciúmes de Leo? Suspirei ignorando o olhar firme dele e voltei os olhos para o livro nas mãos do filho de Hefesto.

— O Último Olimpiano! – Sorri enquanto Leo me entregava o livro. Acariciei a capa com devoção, o cheiro de livro novo enchendo meu corpo. – Esse livro é incrível!

— Não tanto quando você viveu o que deve estar escrito nele. – Percy rebateu com os braços cruzados, seu corpo tremendo em um arrepio involuntário.

Sorri envergonhada ao lembrar de todas as mortes e a guerra que Percy, Annie e até Nico tiveram de enfrentar e que foi descrita naquele livro. Ler aquilo foi incrível, mas viver aquilo tudo... Meu peito se apertou ao imaginar o quanto foi tenebroso e traumatizante para todos eles, o quanto eles sofreram pela perda dos amigos.

— Você tá certo... desculpe... eu...

Percy me puxou de lado bagunçando meu cabelo, um sorriso calmo nos lábios.

— Eu sei, maninha. Eu sei.

Assenti encolhida em seus braços enquanto folheava o livro, parando na última página. Ergui mais um pequeno pedaço de pergaminho, encarando Annie que já capturava o pequeno pedaço e analisava com cautela.

— Mais uma peça. – Annie suspirou. Eu quase podia sentir sua frustração pela lentidão daquele quebra cabeça, como cada peça parecia tão pequena que não revelava quase nada do todo. Eu me sentia da mesma forma. – Temos que analisar que pista as peças que já temos pode nos dar.

Assenti lembrando das marcas negras desconexas nos pedaços que conseguimos. Sentia que aquele pergaminho era parte do mesmo mundo do mestre, do mesmo mundo de Arthur. Mesmo que tivéssemos o pergaminho completo, como iríamos entender o que ele dizia? Se for a mesma língua do pergaminho que Apolo encontrou, como conseguiríamos lê-lo se nem os deuses conseguiram? Minha cabeça borbulhava com tantas dúvidas que tentei espantar os pensamentos para que pudesse focar nas palavras escritas com uma letra caprichada na capa final do livro. Ergui os olhos para meus amigos que assentiram antes que eu pudesse perguntar.

Todos já sabiam o que viria a seguir.

Pigarreei levemente e pronunciei as palavras com cautela, saboreando as letras e despejando-as no ar junto com a magia que me inundava. Eu podia sentir o poder como uma presença familiar em meu corpo. Sorri, lembrando de Rachel. Era mesmo como dois seres vivendo em um mesmo corpo, dois seres que se completavam, se fundiam perfeitamente como um só. Apertei o livro nos dedos enquanto meus amigos se aproximavam de mim instintivamente, olhando ao redor a espera do nosso ‘meio de transporte’.

Então os sete semideuses foram enviados para a terra onde os homens se tornam deuses.

Como todas as vezes um silêncio abrasador tomou o lugar logo que minha voz sumiu. Então um corvo saiu das árvores do jardim em nossa direção. Logo uma dúzia deles voou em nossa direção e, de repente, eram tantos que eu não conseguia mais contar. Eles circundaram o grupo voando numa velocidade impressionante. Logo eles eram apenas uma mancha negra ao nosso redor, tão densa como piche. Em um piscar de olhos o jardim ao nosso redor sumiu assim como o chão aos nossos pés. Logo eu estava caindo no vazio mais uma vez. Aquela viagem era como uma dobra no tempo e no espaço, um vórtice no universo e eu sentia meu corpo girar no meio daquilo, quase esperando ver um coelho branco com um relógio a qualquer momento. Mas tudo foi rápido demais e em instantes sinti meu corpo se chocar com um solo pedregoso e arenoso, meus braços e pernas se arranhando no processo. Respirei fundo. Um erro, pois, a areia invadiu meu nariz e eu tossi incessantemente.

— Deuses! – Engasguei entre as palavras, a tosse seca fazendo minha garganta arder enquanto o sol da tarde fazia meus arranhões recém adquiridos arderem como o inferno.

— A viagem tá até ficando mais aceitável. – Leo se ergueu rápido, nenhum dos sintomas de tontura como nas últimas viagens, arqueando as costas e os braços, os olhos cerrados devido o sol. – Mas tem que melhorar na aterrisagem.

— Quando eu aprender a controlar isso te aviso! – Rebati bufando. Meus olhos se ergueram para finalmente olhar o local enquanto meus amigos se erguiam, gemendo e se alongando.

Estávamos em uma espécie de pátio ao ar livre. Um solo de areia escura tomava o lugar sendo interrompido em alguns pontos por uma grama verde e brilhosa, mas o mais impressionante do lugar eram as construções de pedra que se estendiam a nossa frente. Eram uma espécie de pirâmides, mas com degraus de pedra cinza e o topo plano, tudo tão geometricamente perfeito que me deixou sem ar. Eu já tinha visto aquelas estruturas na internet, mas o nome me escapava naquele momento. Não precisei pensar muito quando ouvi o suspiro impressionado de Leo ao meu lado. Seu braço pousou sobre meus ombros desleixadamente enquanto ele abriu o outro braço como se fosse dono do lugar. Seu sorriso era tão satisfeito, tão brilhante, que quase podia ter esquecido de toda a preocupação que vira em seu olhar minutos atrás. Sua voz soou com divertimento no ar ensolarado, o sotaque cheio nas palavras em espanhol.

Chica, ¡bienvenido a México!

E, apesar de não ser versada na língua, as palavras eram compreensíveis o suficiente. Sorri abertamente admirando a paisagem por segundos, o palco de nossa próxima missão.

Garota, bem vinda ao México!


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Notas finais do capítulo

Teve Leo sofrendo de amor, teve cena quente de Nuda, teve descoberta, teve tudo nesse caaap!! Agora quero saber se vai ter coment! Quanto mais, melhor! Prometo responder todo mundo!
Pergunta: Qual P.O.V vocês querem? Pode ser repetido!! O mais escolhido será incluso no próximo cap heim! #HoraDeVotar
Kisses e até o próximo cap! #Aurevoir



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