Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 36
How I Met Your Father.


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse é um cap bonus que decidi escrever em homenagem a todos que favoritaram a fic! Muito obg jujubaaas! Vc arrasam!
Então, here we go!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/519619/chapter/36

— E foi assim, crianças, que eu conheci o pai de vocês!

O quarto estava completamente escuro a não ser pelos abajures acesos sobre o criado mudo que davam um tom azul e rosa ao lugar. Um vento frio correu da janela fazendo as cortinas se movimentarem. Me ergui e fechei-as enquanto uma voz fina e sonhadora soou de uma das camas.

— Ah, eu nunca vou me cansar de ouvir essa história! - Me virei pra a garotinha enrolada entre os lençóis rosas e sorri voltando a me sentar enquanto ela suspirava abraçando seu urso de pelúcia. - Quem sabe amanhã não será o meu dia de encontrar o verdadeiro amor?

— Você e esses seus sonhos de menininha, Al! - A voz veio da cama ao lado onde um menino de cabelos negros e olhos verdes encarava a garotinha com os braços cruzados e uma cara de tédio. - Você não consegue nem largar o Sr. Fofus imagine arranjar um namorado!

— Seu irmão tem razão, Alice. - A garota me olhou incrédula enquanto o garoto sorria vitorioso. Logo a raiva atingiu os olhos verdes dela que soprou um cacho negro para longe do rosto furiosamente. Me sentei em sua cama e peguei sua mão com carinho. - Você só tem doze anos, ainda é muito jovem. Se seu pai ouvisse você dizendo algo assim lhe deixava de castigo por dois meses!

— Aliás, a história da mamãe tem mais a ver com os monstros, as missões e o perigo. - O garoto falou e arregalou os olhos como se sonhasse acordado e empunhou sua espada de plástico. Com um sorriso no rosto movimentou a arma de brinquedo com precisão como se enfretasse monstros sobre a sua cama. - Imagina poder enfrentar um Minotauro de verdade! Ou uma Hidra! Isso sim seria um sonho se tornando realidade! - E ele caiu sobre a cama com os braços abertos com uma felicidade genuína.

— Nathe isso seria um pesadelo e não um sonho! - Ergui a sobrancelha com uma carranca e o garoto se deitou sobre os lençóis azuis me encarando com um sorriso brincalhão, idêntico ao pai. Peguei sua espada guardando no baú de brinquedos. - Você também é jovem demais para querer enfrentar monstros como se fosse um guerreiro treinado. Com doze anos você pode, no máximo, enfrentar os bonecos de treino do acampamento e ponto final!

— Mas mãe o tio Percy foi pra sua primeira missão com doze anos! - Nathe bufou e me encarou com os olhos pidões enquanto era a vez de sua irmã rir vitoriosa.

— Porque ele foi acusado pelos deuses por algo que não cometeu e tinha que provar o contrário. - Encarei me filho com um sorriso de lado, anos de prática com meu marido, e coloquei as mãos na cintura enquanto Alice segurava o riso. - Então a não ser que Zeus lhe acuse por roubar seu raio mestre, você vai continuar lutando com bonecos de madeira até que eu permita que saia em missão.

Nathe gemeu frustrado e jogou a cabeça sobre o travesseiro enquanto Alice ria abertamente. Pedi para que ela fizesse silêncio enquanto me sentava ao lado do garoto de cabelos negros. A menina tapou a boca com dificuldade enquanto dos olhos verdes ainda escorria lágrimas de tanto rir. Alisei os cabelos de Nathe que me olhou com um bico triste o que amoleceu meu coração.

— Nathaniel, você não é Percy. - Sorri carinhosa para ele enquanto o cobria com o lençol. - E logo chegará sua vez de sair em missão. Eu só fui sair com dezesseis anos. Cada um no seu tempo. - Olhei para Alice com seus olhos verdes brilhantes. - Para lutar e para namorar!

Os dois reviraram os olhos ao mesmo tempo o que me fez rir com vontade. Beijei a testa de Nathe que suspirou e fechou os olhos e fui até Alice lhe dando um beijo estalado na bochecha. Ela me abraçou, seus cachos negros fazendo cócegas em meu nariz, e sussurrou em meu ouvido um “Boa Noite” caindo no travesseiro e fechando os olhos logo em seguida enquanto o Sr. Fofus era apertado entre os braços. Caminhei silenciosamente e desliguei os abajures deixando um quarto na completa escuridão, apenas a luz do corredor me fez achar o caminho para porta e antes de fecha-la encarei meus filhos dormindo tranquilamente.

— Boa noite, anjinhos.

Caminhei a passos calmos pelo chão gelado. Ali, no silêncio, a casa parecia maior do que realmente era sem Alice e Nathe para deixarem-na de cabeça para baixo. Respirei fundo com um sorriso e me assustei por estar me sentindo feliz. Não aliviada, não satisfeita, mas realmente e simplesmente feliz. Eu tinha uma família de verdade, algo que nunca nem havia sonhado ou imaginado, mas eles estavam ali. Poderia gargalhar com o coração aos pulos, mas não iria arriscar acordar as crianças então silenciosamente entrei em meu quarto ainda com o sorriso no rosto. A cama de casal estava dispota em uma das paredes e as grandes portas de vidro que levavam a varanda estavam abertas deixando o vento frio entrar e arrepiar minha pele. Troquei a calça e a blusa por uma fina camisola e me deitei, sentindo o cansaço do dia atingir meu corpo. Os edredom cobriam-me até a cintura enquanto eu encarava as portas abertas e as cortinas que se movimentavam de uma lado a outro começando a me embalar em um sono tranquilo. Mas antes que meus olhos fechassem percebi as sombras do quarto se mexerem. Foi um movimento silencioso e rápido que passaria despercebido por qualquer um, mas não por alguém que estava acostumada a isso quase todas as noites. Fechei os olhos e sorri com os ouvidos atentos a qualquer barulho as minhas costas. Depois de um tempo um suspiro cansado invadiu o quarto e eu apenas respirei fundo, aliviada por ele estar bem. Mesmo sem me virar pude imaginar os passos dele lentos e calmos, tentando não me acordar e ouvi o som de sua blusa ser jogada na cadeira de balanço.

— Chegou tarde hoje. - Falei com sarcasmo e abri os olhos ainda encarando as portas de vidro e sentindo a presença dele como sempre acontecia.

— E você ainda está acordada! - Sua pergunta saiu como uma surpresa e ouvi o barulho do seu cinto sendo retirado e o zíper da calça. Me espreguicei e senti o colchão as minhas costas afundar. O calor dele ficou ainda mais próximo o que causou arrepios na minha nuca e senti sua respiração em meus cabelos.

— Deixa eu advinhar: Mais uma missão para Quíron? - Me virei e dei de cara com o rosto dele a centímetros do meu e seu sorriso que parecia iluminar o quarto tanto quanto a lua que invadia pela janela. Os cabelos negros estavam bagunçados e passei os dedos pelos fios macios o que o fez fechar os olhos e suspirar.

— Anda me espionando sra. di Angelo? - Ele abriu os olhos e me encarou com intensidade. Sua respiração era cansada, mas agitada pela proximidade. Com certeza eu estava da mesma forma. Ele abaixou a cabeça e beijou meu pescoço o que me fez sorrir.

— Longe disso. - Acaricei os cabelos negros quando ele desceu os beijos para os ombros, o cansaço sendo substituido por outra coisa. - Quíron ligou avisando que você provavelmente chegaria tarde em casa já que você mesmo não fez isso.

— Não queria te deixar preocupada. - Ele subiu os beijos para minha bochecha e me olhou carinhosamente. - Foi apenas uma missão de resgate, nada demais. Coisa rápida.

— Rápida? - Encare-o incrédula apontando para o outro lado do quarto onde um relógio marcava onze horas da noite. Ele riu e se encostou na cabeceira da cama. Sem blusa e com um short folgado, Nico parecia a imagem da perfeição deitado a cama com os cabelos agitados pelo vento. Pisquei algumas vezes para voltar ao normal, acho que nunca me acostumaria com aquela visão!

— Bem, tivemos um atraso já que a harpia não quis morrer tão fácil assim.. - Ele me olhou desconcertado e coçou a cabeça. Cruzei os braços já esperando pela declaração. - … e acabou rasgando mais uma de minhas blusas.

— Espera, mas você foi trabalhar com a que comprei em Paris... - Ele abaixou a cabeça como um cachorro que havia feito algo de errado. Bufei. - Não acredito, Nicolas!

— Ah não, me chamou de Nicolas... - Ele murmurou e eu me sentei ao seu lado na cama encostada na cabeceira com os braços sobre os olhos. Eu já estava cansada de tanto comprar camisas novas para Nico depois de suas missões, mas logo a de Paris! Como substituir? Senti meus braços serem retirados delicadamente de meus olhos e vi as orbes negras me encarando de frente. Ele ergueu meu rosto com a palma fria e sorriu de lado sabendo o efeito que isto causava em mim. - Mas veja pelo lado bom, salvamos o garoto e eu testei a durabilidade do perfume da Channel. Mesmo depois de tanta luta e suor continuo com aroma adocicado de canela e hortelã!

— Onde foi dessa vez? - Suspirei derrotada, realmente ele sabia como me amansar. E eu adorava saber sobre os lugares que visitava em suas missões mesmo que já conhecessemos juntos vários deles.

— Nova Zelândia. Com certeza tem que entrar no nosso mapa de viagens. - Um vento mais frio correu pelo quarto o que fez minha camisola esvoaçar e me abracei instantanemante. Nico se ergueu e caminhou até as portas, fechando-as em seguida. Me hipnotizei com suas costas rígidas e musculosa por alguns segundos até ouvir sua voz enquanto fechava as cortinas. - Sem minha viagem nas sombras não teríamos chegado são e salvos.

— Viagem nas sombras.. - Me arrepiei não pelo frio, mas pelas lembranças nada felizes das vezes que viajei pelas sombras. Nico riu e voltou a se deitar ao meu lado me puxando para perto. Me aconcheguei em seus braços quentes e ele suspirou em meu cabelo. Naquele momento parecíamos nos encaixar perfeitamente. - Odeio viagem nas sombras!

— Não é bem assim que eu me lembro da última vez. Você com aquele barrigão enquanto gritava comigo: “Vamos Nicolas, eles não vão esperar o dia todo!”. - Ele me imitou com a voz fina e irritante o que me fez bater em seu tórax com o rosto envergonhado. Seus braços se apertaram ao meu redor e encarei seus olhos profundamente. - Nunca vi você tão feliz por ver as sombras se juntando e por nós entramos nelas.

— Aquilo foi uma completa exceção já que eu estava prestes a dar a luz! - Emburrada, cerrei os olhos para Nico que apenas sorria. Mesmo com os anos ele ainda parecia o mesmo, o mesmo sorriso, os mesmos olhos, mas no fundo era possível ver um Nico mais maduro e principalmente mais feliz. Segurei seu rosto e sussurrei irônica enquanto prendia as mãos em sua nuca. - Se qualquer dia sentir cólica vai entender ao menos um por cento do que eu passei.

— Que Hades mande suas palavras para a vala mais profunda do Tártaro! - Ele falou imperativo e eu segurei a risada. Nico me abraçou ainda mais e alisou minhas costas com movimentos circulares o que me fez relaxar. - Aliás como estão os dois pestinhas? Não os vejo desde a manhã.

— Ansiosos. - Falei lembrando da agitação deles durante o dia enquanto arrumavam as mochilas colocando tudo o que precisariam para a viagem. Alice com roupas, maquiagens, secadores, sapatos e muitos livros. Já Nathe com seus gibis, bonés, mapas e sua coleção de adagas dada pelo pai como presente de doze anos. Todos os anos eram iguais, um pico de animação e alegria na casa com os garotos preparando tudo e o dia seguinte calmo e tranquilo com eles fora. Encostei a cabeça no ombro de Nico com a respiração calma. - Amanhã é o grande dia e eles não param de falar sobre batalhas e namorados e...

— Batalhas? - Senti o corpo de Nico se retesar sobre mim e sorri em sua nuca. Imaginei seus olhos arregalados antes de pronunciar com os dentes cerrados seu maior medo. - Namorados? Que história é essa?

— Pode se acalmar senhor Super Protetor. Já tirei essas ideias da cabeça deles. - Acariciei a face de Nico que ainda parecia raivoso até eu fazer cafuné em sua cabeça o que fez ele voltar a relaxar. Sorri com o efeito que isto sempre causava. - Eles entenderam que são jovens demais para isso agora.

— Batalhas e namorados só depois dos trinta! - Ele falava sério e eu revirei os olhos. Boa sorte para domar os irmãos até ao trinta! Até parece que ele não sabe qual o sobrenome dos nosso filhos!, pensei, mas apenas sorri como se ele estivesse totalmente certo. Ele me olhou de lado e um sorriso começou a surgir de sua carranca séria. - E você contou a história de sempre?

— Eles só gostam dela! - Sorri e Nico voltou a alisar meu cabelo. Suas mãos eram calmas e carinhosas o que me fez fechar os olhos. Pensei na história que contava todas as noites para meus pequenos desde os três anos. Eles sempre a amaram e raramente pediam outra que não fosse a história de minha vida. Nunca pensei que um dia teria uma história de ninar tão aclamada. Bem, para famílias comuns com certeza seria uma história de terror, mas não éramos uma família tão comum assim. - Não entendo o que veem de tão interessante na minha história.

— Nossa história... - Ele me corrigiu e por um tempo encarou o teto com ar pensativo. - Na verdade eu vejo muito bem o interesse deles. Ação, romance, terror, comédia. Com certeza nossa história daria um livro fantástico.

— Nem tanto. Mas a sua história com certeza daria! - Olhei para ele com os olhos brilhando lembrando de cada detalhe de sua história que conheci nos livros. De vez em quando ainda me pegava pensando se tudo aquilo era mesmo real. Eu casada com um dos personagens do meu livro. Olhava para Nico como algo surreal e ao mesmo tempo tão concreto por estar sempre ao meu lado com seu amor. Naquele momento, com ele me encarando com os cabelos despenteados e a respiração calma, foi assim que me senti. - Você viveu mais de setenta anos em um cassino, foi resgatado, lutou em duas guerras e muito mais. Sua história é bem maior, mais fantástica e eles amam quando você a conta.

— Para mim, minha história começou naquele dia cinza quando uma certa morena esbarrou em mim no colégio e seus olhos verdes prenderam os meus eternamente. - Ele sorria galanteador o que fez meu coração saltar. Mesmo depois de tanto tempo ele ainda me fazia sentir assim. Seus olhos negros eram tão profundos e intensos que eu me perdia neles e não seria tão ruim ficar ali para sempre.- Sua história se tornou minha. Nada antes daquilo importou mais.

Algumas lágrimas teimosas inrromperam por meus olhos quando Nico se virou totalmente pra mim e se aproximou lentamente. Seu calor parecia me consumir e eu senti minha respiração acelerar quando ele chegou mais perto e finalmente seus lábios encontraram o mesmo. Um beijo calmo que transmitia todo o amor e carinho que ele sentia. Tentei corresponder a altura e me aproximei ainda mais cruzando os braços na nuca dele enquanto ele sustentava todo o meu corpo com suas mãos em minha costas. Com movimentos lentos ele acaricou minha nuca e meus cabelos fazendo um suspirou satisfeito sair por meus lábios. Seus lábios eram macios como da primeira vez, todos os beijos pareciam ser os primeiros mesmo que já fossem mais de cem, pois Nico sempre agia como a primeira vez o que me deixava nas nuvens. Ele me apertou mais contra si e se deitou me fazendo ficar sobre ele sem nunca interromper o beijo. Nossos lábios se separaram buscando por ar, e Nico aproveitou meu pescoço exposto para beija-lo. Com os pulmões cheios ele voltou ao beijo como uma segunda etapa, mais voraz e necessitado. Apenas me deixei levar sentindo ele descer as carícias por minhas costas enquanto segurava seus cabelos com mais força. Ele sorria entre os beijos o que me deixava meu coração ainda mais acelerado. Seus beijos e mordidas desceram por meu pescoço sem nunca deixar de me tocar e quando chegaram a alça da camisola percebi um movimento sobre a cama. Empurrei a cabeça de Nico de volta para o travesseiro e olhei para o lado. Nico me olhou surpreso e decepcionado até ver que minha atenção estava voltada para uma bola de pêlos que nos encarava feliz sobre a cama. O rabo peludo balançava de um lado a outro e a cabeça inclinada para o lado parecia uma pergunta.

— Totó! - Nico rugiu com a voz rouca e baixa pelos momentos que passamos segundos atrás e eu apenas saí de sobre ele e me deitei aos seu lado com um sorriso enquanto Totó pulava sobre Nico e lambia seu rosto. - Você não entende mesmo o que acabou de atrapalhar, não é?

— Ele estava apenas tentando defender sua dona do vilão que estava a apertando e mordendo sem dó! - Acariciei a cabeça do cãozinho que fechou os olhos e esticou o pescoço feliz. - Meu herói.

— Totó, ela tem uma queda pelo vilão, não precisa se preocupar. - Ele falou com o cachorro, mas me olhou de lado sugestivo e eu apenas ergui uma sobrancelha.

Rapidamente ele se ergueu da cama e colocou o cachorro para fora onde sua cama estava bem disposta ao lado de comida e água. Fechou a porta e voltou para a cama como um gato buscando por sua presa. Ele engatinhou pela cama até parar com a boca a centímetros do meu rosto.

— Então, onde paramos? - Ele pareceu pensar e eu sorri me enrolando no edredom. - Sim, o mais novo herdeiro di Angelo estava prestes a ….

— Querido estou caindo de sono. - Me espreguicei e deitei de lado dando as costas para um Nico exasperado e decepcionado. - Que tal continuarmos outro dia?

— Ah sra di Angelo, você pode ter vencido a batalha. - Ele falou como um desafio e se aproximou de meu ouvido sussurando as palavras. Minha nuca se arrepiou enquanto ele se deitava as minhas costas e passava um braço por minha cintura. - Mas não venceu a guerra. Pagará por deixar seu cavaleiro desamparado e necessitado.

— Você sobreviverá para cobrar sua dívida, sr di Angelo. - Falei com um bocejo o que fez Nico me apertar contra si e cruzar seus dedos aos meus. Respirei fundo já sentindo minha mente se tornar fluida e viajar para longe. - Boa noite, Anjo.

— Boa noite, Cisne.

E nos dormimos aconchegados e como sempre, desde que Nico passou a dormir ao meu lado, sem pesadelos ou sonhos que me atormentassem. A noite correu veloz e a escuridão aconchegante logo foi substituida pela luz do sol que invadiu o quarto de repente. Ignorei e me virei para Nico escondendo o rosto em seu peito, até sentir um movimento na cama seguido de um grito estridente.

—Mãe!

—Pai!

Me sentei em um pulo e ainda sonolenta já buscando a adaga que escondia atrás do criado mudo e apontando para todos os lados enquanto Nico acordou assustado pegando sua espada e quase tirando da capa, pronto para o ataque. Meus cabelos estavam desgrenhados e caíam em meus rosto quando percebi dois olhos verdes nos encarando da ponta da cama. Alice e Nathe estavam sentados segurando o riso enquanto eu voltava a respirar novamente. Nico supirou e guardou a espada atrás da cômoda.

— Meus deuses! - Nico se encostou na cama e passou as mãos nos cabelos que estavam tão bagunçados quanto os meus. Guardei a adaga novamente enquanto Nathe e Alice se sentavam entre nós com os olhos arrependidos e os sorrisos ainda nos lábios. - Nunca mais nos acordem assim!

— Desculpe pai. - Alice falou manhosa e Nico sorriu alisando os cabelos negros da garota. Ela era a princesa dos olhos dele e quase sempre conseguia o que queria do pai já que ele nunca se irritava com ela por mais de cinco minutos. Nathe tentou fazer o mesmo comigo, mas apenas sorri e o apertei em meus braços. Estava vacinada contra olhares pidões e manhosos, já Nico estava completamente entregue a nossa Al. - Mas não queremos nos atrasar para o primeiro dia de acampamento.

— Temos que chegar cedo! - Nathe falou já segurando meu braço e me puxando para fora da cama enquanto Alice fazia o mesmo com Nico. - Prometi treinar com Alex logo que chegasse, ele vai me ensinar um golpe novo que aprendeu com tio Percy.

— Acho que seu primo pode esperar alguns minutos. - Bocejei e peguei algumas roupas no guarda roupa jogando na cama. Nathe e Alice pareciam guardas em frente a porta com os braços cruzados e os pés batendo freneticamente. Totó entrou correndo e pulou na cama lambendo o rosto de Nico que estava sentando ainda se espreguiçando.

— Mas nós não podemos! - Os gêmeos falaram juntos e eu revirei os olhos encarando Nico com uma blusa em cada mão. Ele pôs a mãos sobre o queixo pensativo.

— A verde. - Ele falou apontando para a blusa em minha mão esquerda. Ele sorriu e me lançou um beijo. - Combina com seus olhos.

— Obrigada, amor. - Me aproximei de Nico e selei nosso labios em um beijo rápido o que fez Alice suspirar feliz e Nathe por a língua para fora em uma careta.

— Eu odeio interromper beijos, mas também marquei com Caitlin. - Alice falou e eu e Nico nos separamos. Nico pegou sua toalha e colocou sobre os ombros enquanto Al parecia sonhadora. - Ela vai me emprestar o último livro da saga Os Lobos de Mercy Falls. Mal posso esperar!

— Você está lendo sobre lobos? - Nico arregalou os olhos para a garota. - Você já sabe, nada..

— De ler em voz alta ou perto de outras pessoas! - Ela falou como um mantra que sempre repetia. - Eu sei pai, não vou descuidar.

— Acho bom mesmo. Então que tal vocês irem tomar banho primeiro. Ainda estão de pijamas. - Apontei para os dois que suspiraram derrotados. Puxei minha toalha do guarda roupa enquanto Nico escolhia suas roupas. - Vamos apenas nos arrumar e já descemos.

— Quinze minutos e nada mais! - Nathe falou autoritário e Nico o encarou com a sobrancelha erguida o que fez o garoto se encolher e puxar a irmã porta a fora. - Brincadeira. Vamos Al.

Sorri com a pressa dos dois e me encaminhei para o banheiro até Nico atravessar meu caminho parado em frente a porta. Com um movimento rápido me puxou para seus braços e soprou um cacho meu para longe de meus olhos.

— Não vai me esperar?

— Não, nada de banhos juntos hoje Nico! - Empurrei seu peito, mas ele apertou ainda mais os braços ao meu redor. Encarei-o irritada. - Você não viu a pressa daqueles dois? Vamos nos atrasar.

— Não vai demorar! - Ele tentou me convencer com um bico nos lábios e eu revirei os olhos.

— Não, ou você quer que eu volte com nossa regrinha de amizade sobre um braço de distância? - Erguei a sobrancelha questionadora e ele me encarou desafiador. - Por um mês....

— Tudo bem! - Ele me soltou bufando e eu entrei no banheiro rindo abertamente.

Incrivelmente, em quinze minutos já estávamos prontos e os gêmeos já nos esperavam ansiosos em frente ao quarto. Desceram as escadas em dois degraus de cada vez enquanto eu segurava o braço de Nico descendo calmamente. Na cozinha Nico sentou na ponta relaxado e com seu livro em mãos. Os garotos sentaram lado a lado na mesa enquanto eu pensava sobre o que fazer para o café.

— Hey mãe, saca só o que aprendi! - Nathe falou animado e me virei no momento em que a água de um copo começou a flutuar. Nathe se concentrava e erguia as mãos enquanto a água obedecia seus movimentos. Ela subiu e pairou sobre a minha cabeça seguindo para a de Nico e chegando a cabeça de Alice. Nesse momento Nathe perdeu a concentração por uma mosca que zumbiu em seu ouvido e a água despencou sobre a cabeça de sua irmã.

Alice ficou perplexa e seus olhos furiosos fuzilaram Nathe que se encolheu com um sorriso amarelo. Ela ergueu uma mão e o chão abaixo de Nathe começou a tremer violentamente o que fez o garoto cair da cadeira. Alice riu encharcada enquanto Nathe se erguia ainda zonzo e voltava a sentar na cadeira encarando a irmã com ódio.

— Minha garota... - Ouvi Nico susurrar por trás do livro e o encarei furiosa.

— Você está escolhendo lados entre seus filhos? - Ele engoliu em seco e negou ativamente. Olhei para os gêmeos com as mãos nos quadris. Eles abaixaram a cabeça e me aproximei de Alice encostando a mão sobre sua cabeça o que a fez secar instantaneamente - E o que eu já falei sobre usar poderes a mesa?

— É rude... - Alice falou baixo enquanto prendia seus cabelos já secos em um rabo de cavalo.

— … e uma completa falta de educação. - Nathe completou me encarando arrependido. - Desculpe mãe.

— Tudo bem. - Meus resquícios de raiva já tinha se esvaido com os olhares tristes deles e encarei Nathe com um sorriso de lado bagunçando seus cabelos. - Mas foi um ótimo truque Nathe, meu garoto!

— Quem está escolhendo lados? - Nico me encarou com a sobrancelha erguida e eu dei língua para ele o que fez todos rirem.

— Certo, mas o que vamos comer? - Alice indagou com o rosto sobre as mãos entedidada.

— Vocês escolhem. - Encarei os garotos que se olharam animados.

— Que tal panquecas com corbetura de canela e mel... - Alice falou lambendo os lábios.

— E milk shake de morango com pedaços de chocolate? - Nathe me olhava esperançoso.

— Para o café da manhã? - Encarei os dois incrédula e eles acenaram felizes. Olhei para Nico que sorriu para mim e apontou para um de meus livros de receita sobre a estante da cozinha.

— Especificamente daquele livro.

— Mas não temos tempo. - Olhei para o relógio que marcava sete e vinte. - Temos quarenta minutos para chegar a tempo da abertura das atividades!

— E quem falou sobre cozinhar? - Nico ergueu uma sobrancelha e eu revirei os olhos já sabendo sua ideia.

Peguei o livro que ele escolhera e abri na página sobre panquecas. Encarei os garotos que estavam na expectativa.

— Ok, hoje é uma exceção já que estamos atrasados. - Apontei para os dois que ergueram as mãos como um juramento. - Quem quer fazer as honras?

Alice ergueu a mão e eu entreguei o livro a ela. Logo ela analisou o texto e começou a ler o passo a passo da receita. Sentei a mesa e encarei a garota atenta lendo sobre a corbetura da panqueca. Descobrir que meus filhos eram Língua Encantadas não foi nada surpreso, com certeza eles herdariam esse poder, mas perceber que aos doze anos eles já tinham um vasto domínio sobre ele me deixava bem aliviada. Quando Al terminou a útima palavra um prato de panquecas se ergueu no centro da mesa e Nico sorriu pegando uma e saboreando com prazer.

— Tudo bem agora eu leio o milk shake! - Nathe pegou o livro das mãos da irmã e abriu na página desejada. Após ler o passo a passo uma jarra de milk shake de morango surgiu ao lado das panquecas e todos se serviram.

Em pouco tempo as malas já estavam no carro e Nico dirigia pela estrada em direção ao acampamento. Nossa casa ficava a vinte minutos do lugar e o trânsito era calmo o que fez Nico não ter tanto tempo para dar suas ordens e ficou apenas no “Nada de missões e nada de garotos” fazendo os gêmeos suspirarem e acenarem forçadamente a cabeça. Logo estávamos subindo a colina e chegando a àrvore de Thalia. As colunas gregas que demarcavam a entrada estavam lá com destaque sobre todo o verde que rodeava o lugar. Os irmãos correram em direção as pilastras enquanto eu e Nico subíamos calmamente, aproveitando a brisa daquele lugar que era como uma segunda casa. Quando chegamos ao topo puder ver todo o acampamento e me lembrei da primeira vez que estive no acampamento, um momento feliz da minha vida tão bagunçada e caótica. Olhei para Nico que parecia envolto em seus próprios pensamentos observando o lugar e me encarou com um sorriso provavelmente sabendo muito bem o que eu pensava. Encarar aqueles olhos negros sempre me fazia lembrar que, mesmo minha vida estando um caos, ele sempre estaria ali ao meu lado me ajudando a suportar qualquer coisa que viesse pela frente. O abracei forte e ele retribuiu enquanto Nathe olhou para onde viemos com um sorriso alegre.

— Alex! - Ele cumprimento com um toque um garoto de cabelos loiros e olhos cinzas que surgiu ao nosso lado.

— Nathe! - O garoto loiro sorriu e me deu uma abraço apertado no qual retribui. - Oi tia!

— Alex, como você cresceu! - Soltei o garoto que falou com Nico e este bagunçou seus cabelos. - Logo estará maior que Percy!

— Com certeza! - Uma voz sorridente surgiu as minhas costas. Me virei vendo meu irmão terminar de subir a colina com Annabeth ao seu lado. Percy me abraçou e eu o apertei em meus braços. - Como vai maninha?

— Com muitas saudades! - Sorri encarando os olhos verdes brilhantes do meu irmão. Percy não mudara quase nada. Além de alguns fios brancos que já começavam a aparecer em seus cabelos, ele era o mesmo cabeça de algas de sempre. Bati em seu braço e ele gemeu e me encarou confuso. - Nunca mais passe tanto tempo longe. Quando voltou de viagem?

— Ontem a noite. Alex não falava de outra coisa além de vir ao acampamento e ensinar seu novo golpe para Nathe. - Annabeth falou e se aproximou do marido, me abraçando carinhosamente. Acenou para Nico que sorriu em resposta.

— Bem, os dois também não falavam de outra coisa. - Nico apontou para os gêmeos que correram e pularam no pescoço de Percy. Ele beijou a testa de Alice e bagunçou os cabelos de Nathe.

— Hey campeão. Como é que vai com os treinos?

— Muito bom. Você não vai acreditar no que aprendi a fazer tio! - Nathe estava animado e Alice se afastou receosa lembrando da cena do café da manhã.

— Mal posso esperar para ver! - Ele sorriu e encarou Alice. - E você princesa, tremendo todas as estruturas?

— Com certeza! - Ela sorriu e bateu na mão aberta do tio até ouvir seu nome ser chamado por uma voz fina que surgiu a metros do grupo.

— Alice!

—Caitlin! - Al correu em direção a menina morena de olhos azuis e a abraçou forte. Elas passaram a conversar animadamente enquanto os pais da morena subiam a colina e seguiam em direção ao grupo entre as pilastras.

Jason e Piper cumprimentaram a todos e observaram a filha conversar com Al sobre livros e maquiagens enquanto Nathe e Alex pareciam bem concentrados em alguns golpes. Piper riu e nos encarou sonhadora.

— Como eles crescem rápido.

— Com certeza. - Aceinei sorrindo e Nico me abraçou por trás.

— O mais novo grupo do acampamento. - Jason falou e observou cada um de nós com a sobrancelha erguida. - E todos nós reunidos aqui. Agora só falta a missão!

— Vira essa boca pra lá, Grace! - Nico desdenhou enquanto todos negavam com a cabeça e Jason ria abertamente. - Nada de missão. Nem para nós muito menos para eles!

— Isso, missão só depois dos trinta! - Percy decretou com o queixo erguido.

— Digo o mesmo sobre namorados. - Jason concordou e Nico os encarou com os olhos brilhando compartilhando do mesmo pensamento. Segurei o riso e encarei as garotas que pareciam ter o mesmo pensamento que eu.

— De qualquer forma é melhor entramos. - Falei atravessando as pilastras com Nico ao meu lado. - Não tenho lembranças tão boas sobre ficar na fronteira do acampamento.

— Eu que o diga. - Nico estremeceu lembrando da minha conturbada chegada no acampamento e eu o abracei de lado.

Todos seguimos lado a lado enquanto as crianças corriam em disparada para a Fogueira onde Quíron já se postava sobre um mini palco. Os gêmeos voltaram correndo abraçando Nico e a mim.

— Adeus Nathe. - Beijei o garoto que me abraçou apertado e logo segui para sua irmã que me beijou na bochecha. - Adeus Alice. Nos vemos daqui um mês!

— Tchau mãe! - Eles gritaram em unissono e se juntaram a Alex e Caitlin ao redor do mini palco ouvindo Quíron fazer as apresentações.

Olhar aquele momento meu deu uma tremenda nostagia e sem perceber lágrimas começaram a rolar de meus olhos. Nico percebeu e me olhou preocupado.

— O que foi amor? - Ele enxugou meus rosto me olhando profundamente. - Aconteceu alguma coisa?

— Nada, eu estou apenas feliz. - Sorri verdadeiramente e abracei Nico sentindo seu cheiro amadeirado me transmitir a paz de sempre. - Feliz como nunca achei que fosse possível!

— Eu também. - Ele sorriu e beijou meus lábios lentamente, cheio de ternura. Marquei aquele beijo na memória como vários outros e anseei por mais quando ele se separou e me encarou com carinho. - Mas agora está na hora de acordar.

— Acordar? - Confusa vi o acampamento ao meu redor tremeluzir e sumir aos poucos enquanto o rosto de Nico continuava a me encarar como se tudo estivesse normal. - Como assim? O que está acontecendo Nico? Onde estão Nathe e Alice?

— Acorda Swan... - Ele falou suavemente enquanto tudo se tornava branco. Seu corpo começou a sumir e minha mente a embaçar. No fim apenas seus olhos continuavam a me encarar e sua voz soou grave e alta aos meus ouvidos. - Acorda Swan!

— Adeus Alice... - Sussurrei a última coisa que me lembrava.

E tudo desapareceu. Abri os olhos sobresaltada dando de cara com um Nico me encarando curioso. Respirei fundo, estava no chalé de Poseidon deitada na minha cama com um Totó dormindo profundamente ao meu lado.

— Quem é Alice? - Ele perguntou e eu o encarei confusa.

— Alice? - Escavei minha mente, mas tudo o que lembrava era de deitar alguns minutos para descansar meu corpo quebrado depois dos treinos e nada mais. - Não sei... acho que foi de algum sonho... não lembro agora.

Forcei a mente e nada. Com o que eu sonhara? Fechei os olhos por minutos e em um flash vi olhos verdes amorosos me encarando e uma felicidade genuína me invadiu de repente. Abri os olhos atordoada e balancei a cabeça.

Qualquer que tenha sido esse sonho com certeza foi uma realidade bem diferente da que vivo agora..uma bem melhor”, pensei e encarei Nico sentindo algo diferente quando as orbes negras me examinaram com curiosidade.

Ainda hoje não sei explicar o que houve, mas quando meus olhos desviaram de Nico pude ouvir claramente a voz dele em minha mente, como uma lembrança sussurrada pelo vento.

Sua história se tornou minha. Nada antes daquilo importou mais....

Ergui os olhos, mas Nico continuava calado. Balancei a cabeça freneticamente. Acho que bati a cabeça na aula de Piper mais forte do que imaginei...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Kisses jujubas
Nos vemos em breve!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Realidade Imaginária" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.