Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 37
Saudações e Adeus


Notas iniciais do capítulo

Hello jujubas. Estou aqui com mais um cap super especial e dedicado para a linda Miss Fray que deixou sua recomendação perfeita! Hey honey, eu amei e espero continuar atingido suas expectativas e a de todos que leem a fic! E, sim Fray, Ave atque vale!
Sem mais delongas, enjoy!



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— Eu estou bem, então parem de me olhar como se eu fosse desmaiar a qualquer momento! - Rachel respirou fundo e apoiou a cabeça no encosto da cadeira alternando o olhar entre mim e Quíron. Seus olhos verdes estavam cansados como se ela houvesse envelhecido anos em minutos. Subitamente ela cerrou os olhos e apoiou a cabeça entre as mãos. Dei um passo para frente, mas ela ergueu a mão ainda com a cabeça baixa. - Eu... eu só preciso parar de ver dois de vocês que logo estarei novinha em folha.

Ela ergueu a cabeça lentamente e forçou um sorriso que saiu mais como uma careta. Alcançou a xícara de chá sobre a mesa e deu um longo gole suspirando em seguida. Seus cabelos ruivos estavam banhados de suor que os deixavam ainda mais parecidos com fogo enquanto sua mão livre estava cerrada e jogada ao lado da cadeira, o único sinal que ela deixava transparecer de seu cansaço. Ela voltava ao normal aos poucos e tentava nos passar que estava bem, mesmo que eu visse que estava quebrada por dentro. Como ela conseguia suportar tanto e ainda estar de pé todos os dias? Ser tomada pelo espírito de Delfos não parecia ser nada saudável e aquela profecia....

Meu coração ainda batia acelerado pelas palavras que saíram quase como uma música de terror da boca de Rachel no estúdio de arte. Perplexa, eu escutei tudo e no fim o espírito partiu do corpo da ruiva levando consigo as forças dela. Ela desabou de joelhos, com os olhos cerrados e respirando com dificuldade, mas ainda acordada. Com as mãos tremendo, apoiei o braço da garota sobre meus ombros e a levei a passos lentos em direção à Casa Grande. Meus pensamentos pareciam um furacão enquanto eu atravessava o acampamento pela parte mais isolada com Rachel tropeçando entre as pedras e gemendo. Graças aos deuses nenhum semideus nos viu, o que foi um alívio e uma preocupação, onde todas haviam se metido? Rachel ainda balbuciava palavras desconexas quando subimos a varanda da Casa Grande e eu abri a porta sem cerimônia. Minha surpresa foi ver Quíron parecendo furioso em frente a dois garotos ruivos que pareciam envergonhados. Com certeza eu acabara de interromper mais um castigo dos Stolls. As três cabeças se voltaram assustadas para a porta quando pousei Rachel gentilmente sobre uma das cadeiras de madeira. Em poucos minutos eu contei a Quíron sobre a profecia e desabei sobre em outra cadeira ao redor da mesa de ping pong. Rachel havia parado de balbuciar e seus olhos estavam fechados. Quíron a encarou preocupado e mandou que os Stolls chamassem o resto do grupo, mas não antes que Travis me contasse, com um sorriso maroto no rosto, o que haviam feito para estarem mais um vez de castigo. Colocar pó de mico na maquiagem das filhas de Afrodite o que as fez correr as cegas pelo acampamento os rendeu um mês trabalhando nos estábulos. Agora estava explicado o sumiço de todos no acampamento! Forcei um sorriso que não saiu tão verdadeiro e os irmãos saíram porta a fora, Quíron entrou nos fundo da casa e logo voltou com uma xícara que exalava o aroma doce de chá. Rachel gemeu e abriu os olhos enquanto Quíron a entregava a xícara e ela agradeceu em um sussurro. Agora sua face não estava mais tão pálida, mas eu ainda a encarava ansiosa como se a qualquer momento o espírito pudesse voltar para aumentar minha coleção de más notícias. Senti uma mão firme apertar meu braço e logo vi os olhos castanhos e calorosos de Quíron sobre mim. Ele se mantivera calado até o momento, apenas observando a cor voltar ao rosto de Rachel e minha preocupação diminuir. Antes que pudesse manifestar qualquer uma de suas palavras tranquilizadoras vozes foram ouvidas da varanda junto com passos que faziam a madeira ranger.

— Só estou dizendo que passamos mais tempo em reunião do que treinando em si. - A voz de Nico, grave e tipicamente irritada, soou acima dos risos dos outros que o acompanhava. O som da maçaneta sendo girada pareceu um gemido fraco no meio de todo o silêncio que girava dentro da sala. - Espero que seja algo de extrema importância para me tirar do meio de uma aula e....

A porta se abriu lentamente e Nico se interrompeu ainda segurando a maçaneta. Seu olhar entediado foi substituido por supresa quando ele me encarou sentada sobre a cadeira. Eu com certeza deveria estar suada e descabelada, mas apenas firmei o olhar do filho de Hades.

— Swan? - Sua voz saiu com dúvida e preocupação. Ele deu um passo em minha direção, mas logo foi empurrado para o lado quando Percy correu em minha direção com os olhos arregalados, examinando meus braços e pernas.

— Duda? - Ele supirou ao constatar que meu corpo estava em perfeita ordem. Não podia falar o mesmo da parte de dentro, mas apenas abri um pequeno sorriso para meu irmão que me encarava com a sobrancelha erguida como se soubesse que eu não estava tão bem assim. - O que houve? Porque está aqui?

As palavras fugiram de minha boca e eu inclinei a cabeça em direção à ruiva que estava com a cabeça erguida e parecendo ter voltado completamente ao normal. Percy olhou para Rachel e para mim novamente e passou as mãos pelos cabelos negros sabendo perfeitamente o que tudo aquilo significava. Annabeth, que até o momento estava parada na porta ao lado de uma Piper e um Jason surpresos, se aproximou do namorado e segurou sua mão. Mesmo sem palavras todos entenderam o que estava acontecendo, mas Leo, que havia se aproximado de Rachel e bagunçado de leve seus cabelos, deu voz ao que todos sentiam.

— Então, quando partimos?

Todos encararam Leo que se encolheu atrás da cadeira de Rachel o que me fez sorrir de verdade e cair na real. Sim, a profecia que me levaria a minha missão suicída havia dado as caras, mas eu não podia deixar aquilo me quebrar. Eu treinara todo o mês para isso e com certeza não era a mesma garota de quando chegara ao acampamento. Sabia dominar meus poderes de filha de Poseidon e de Língua Encantada, com certeza minhas chances de sobreviver haviam aumentado. Ergui a cabeça espantando qualquer resquício de medo e preocupação e apertei meus cabelos no rabo de cavalo, tentando transmitir por fora toda a determinação que nascia aos poucos em meu peito. Annabeth soltou a mão de Percy e se recostou na mesa cruzando os braços. Seus cabelos estavam molhados e o cenho franzido mostravam que seus pensamentos estavam trabalhando freneticamente.

— Antes precisamos analisar a profecia e principalmente saber quem irá. - Na porta, Nico deu um passo a frente, prestes a discutir algo, mas Annie o ignorou, encarando Rachel fixamente e fez a pergunta de um milhão. - Qual foi a profecia?

Eu encarava a parede a minha frente com interesse além do comum e não consegui me conter quando as palavras começaram a sair de minha boca como uma enxurrada.

 

— “A Língua Encantada deverá se aliar

À sabedoria e a água que não se separam

À beleza e o trovão que completam um ao outro

Com a sombra que clareia e o fogo que conforta

Para que o mundo não caia em desespero e prantos

Pelas mãos daquele que é invisível a deuses e humanos.

 

Entre os três caminhos de Roma a Casa de Hades se aceitará

Na casa das virgens a Marca de Atena se lembrará

Onde a água grande deságua o Filho de Netuno mergulhará

E o Herói Perdido entre as cores da rocha se encontrará.

 

Na paz e conforto o Último Olimpiano terá seu alerta

Para que onde os homens se tornam deuses a Batalha do Labirinto seja desperta

E, da Maldição, Titã seja liberta.

Mas na cidade dos mil o Mar de Monstros terá seu derradeiro final

Quando as terras sobre o Grande Rio revelarem o Ladrão de Raios afinal.

 

Então o inimigo dos deuses irá destruir

Se o sacrifício e dor não temer

Farás o antigo mal sucumbir

Ou toda a humanidade perecer.”

 

No passado, quando tudo que eu estava vivendo não passava de histórias em livros, eu me perguntava como Annie, Percy e os outros conseguiam lembrar das profecias com tanta clareza, aquilo parecia impossível para minha péssima memória. Mas ali, quando as últimas palavras saíram de minha boca como uma gravação, eu soube que jamais conseguiria esquecer aquela profecia. Era como se ela houvesse sido escrita em mim e esquecer parecia impossível. Meus olhos saíram da parede e se voltaram para Annie que me olhava com um misto de admiração e lamento. Rachel, ainda com a boca aberta por ter sido interrompida antes de citar a profecia, torcia as mãos sobre o colo como se pedisse desculpas por lançar algo tão pesado sobre minhas costas. Mas eu sabia, a culpa não era dela, não era de ninguém. Aquilo era apenas meu destino finalmente dando o ar de sua graça. Meus olhos correram pela sala rapidamente, sem realmente se fixar em ninguém. Respirei fundo e voltei a encarar os olhos cinzas de Annie, desta vez deixando meu lado racional se sobrepor ao emocional.

— O primeiro verso é meio óbvio. - Cruzei as pernas e apoiei a cabeça sobre as mãos. Annie puxou uma cadeira da mesa e os outros semideuses fizeram o mesmo e logo todos estavam ao redor da mesa com Quíron na ponta como um juiz. Supresa percebi que Nico havia se sentado ao meu lado com seu rosto impassível e todos pareciam pensar sobre a mais nova profecia. Aos poucos minha preocupação foi completamente substituida pela curiosidade, nunca ouvira uma profecia tão grande o que só provava como seria complicada. Apoiei as mãos na mesa e coloquei a cabeça para funcionar. - E o segundo verso também não é nenhum mistério. Sabedoria e água com certeza representam Annie e Percy.

— Hum... beleza – Annie coçou o queixo e apontou para Piper que acenou como se houvesse pensado o mesmo. - e trovão que completam um ao outro. - A loira apontou para Jason que estava ao lado da namorada e a abraçou de lado piscando para Annie. Sorri satisfeita, mais uma parte desvendada. Annie entrelaçou os dedos e me encarou. - Já temos quatro pessoas além de você. Com certeza a missão mais diferente que já tivemos.

— Mas e o próximo verso? - A voz doce e calma de Piper se elevou. - Acredito que o 'fogo que conforte' represente Leo....

— E meu papel de vela ataca novamente. - Leo murmurou baixo e segurei o riso. - Até você Delfos?

— Não acho que seja pela sua função de vela, Leo. - Falei encarando o filho de Hefesto que sorriu de lado e deu de ombros. - Mas por você ter sido um dos primeiros que me ajudou quando cheguei. Me deu certo conforto quando me senti perdida. Serei eternamente grata.

— Estou a seu dispor, Chica. - Ele piscou e eu sorri de lado até um pigarro forçado nos interromper que vinha de ninguém mais, ninguém menos do que Percy.

— Tudo bem, o fogo faz até sentido, mas e 'as sombras que clareiam'? - Ele me encarou confuso como se eu tivesse a resposta para essa charada. Mordi o lábio ao saber que eu realmente tinha. Mas como eu explicaria? - Como uma sombra pode clarear?

— Isso com certeza é apenas uma metáfora Cabeça de Algas. Clarear pode ser o mesmo que esclarecer, abrir os olhos para algo novo. - Annie segurou a mão de Percy e encarou um ponto qualquer na mesa, pensativa. Logo um sorriso misterioso surgiu em seus lábios e ela me encarou como se soubesse exatamente o que eu pensava. - Mostrar o que há de melhor em alguém.

— Esse trecho fala de Nico. - Minha voz saiu quase em um sussurro, mas o silêncio na sala deixou-a bastante audível o que fez Nico me encarar admirado. Dei de ombros, como se saber que Nico era a sombra que clareava não mexesse comigo de forma alguma, o que era uma grande mentira, mas quem saberia? - Bem.. é... meio óbvio também. Sombras, filho de Hades, quem mais vocês pensariam? E sobre ele clarear algum coisa, eu... eu não faço ideia. Provavelmente uma das partes inexplicáveis da profecia, quem sabe? Vamos para o próximo trecho?

Todos ainda me encaravam meio confusos com minha fala rápida e guaguejada, mas Nico deu um mínimo sorriso ao meu lado e se inclinou apenas o suficiente para sussurra.

— Não há nada que fique inexplicável nas profecias. No fim tudo se revela.

— Há uma primeira vez para tudo... - Rebati sem olhar para o garoto que suspirou uma risada fazendo minha nuca se arrepiar. Espantei pensamento indevidos de minha mente e me voltei para Annie que estava com um papel nas mãos encarando-o com interesse. Provavelmente escrevera a profecia quando eu a recitara o que provava como a profecia era grande, nem mesmo Annie a decorou por completo!

— Ok, então ao todo temos sete semideuses escalados para a missão e o próximo verso fala apenas o inevitável, mundo destruido se não derrotarmos a tal ameaça. - Ela encarou o papel mais atentamente e eu lembrei do último verso da primeira estrofe. - Mas como um mal pode ser invisível aos deuses. Na teoria, eles deveriam saber sobre tudo.

— Até agora eles não se manifestaram para ao menos nos alertar sobre o que pode estar por trás da sequência de ataques. - Jason cerrou os dentes e Piper acariciou seu ombro. - Sei que eles não nos amam tanto assim, mas acredito que dariam ao menos uma dica sabendo o grau de perigo que está se levantando.

— Também penso assim Jason. - Annie encarou o filho de Jupiter com os lábios em uma linha fina. Logo esse mal está além até mesmo dos deuses. Como isso é possível?

— Não faço ideia, mas essa missão está cada vez mais impossível. - Leo falou e se apoiou sobre a mesa. - Até agora todos os super vilões, até mesmo a bisa Terra, eram conhecidos pelos deuses e estavam em vários manuscritos o que tornava mais fácil entende-los. E agora aparece um que é invisível até aos deuses! Santo Hefesto, como esperam que ao menos tenhamos chance?

— Não sei, mas se fosse totalmente impossível nem ao menos haveria uma profecia. - Pela primeira vez Rachel se pronunciou e encarou cada rosto do lugar. Seus olhos verdes pareciam faiscar. - Posso dizer que dessa vez Delfos parecia mais agitado, essa missão com certeza será bem diferente de tudo que vocês já enfrentaram, mas há sim uma chance de vencer e Duda será a chave para isso.

— Agora conte uma novidade! - Ironizei e revirei os olhos. Eu com certeza tinha muito a ver com tudo aquilo. O vilão me queria para algo e a primeira linha da profecia foi dedicada a mim, eu estava envolvida até o pescoço e não tinha para onde correr. Suspirei e enrolei distraidamente um cacho entre os dedos, uma mania antiga para aliviar a ansiedade. - Muito bem, temos uma chance e não vamos desperdiça-la. E já sabemos aonda começar....

— Roma. - Nico falou encarando por cima de meu ombro o papel que Annie colocou sobre a mesa. Os trechos da profecia pareciam brilhar no papel branco. - E novamente para a Casa de Hades. Mas porque devíriamos voltar para as portas do Tártaro?

— Não, não acho que seja a Casa de Hades que vocês conhecem. - Encarei o papel mesmo sabendo de cor tudo o que a profecia falava. Todos me encaravam na expectativa enquanto eu estudava o padrão nos versos. - Percebi algo curioso nos versos. Vocês não entenderam pois não conhecem os livros, mas cada verso possui o nome de um dos livros. Casa de Hades, Marca de Atena, Filho de Netuno... Todos esses eram títulos dos livros sobre vocês. Acredito que dessa vez sirvam como metáfora para algo além, mas tenho a estranha impressão que só descobriremos na hora.

— Isso sempre acontece.... - Leo revirou os olhos apoiando o rosto entre as mãos.

— Além disso temos apenas um lugar citado. - Quíron se pronunciou com sua voz firme. - Mas não acredito que toda a missão se desenrolará apenas em Roma.

— Algo a mais na “Lista de coisas que só descobrimos em cima da hora!” - Nico falou fazendo aspas com os dedos o que me fez sorrir. Ele se recostou na cadeira e me encarou profundamente me deixando desconcertada. - A última estrofe é o que preocupa. Para destrui-lo não devemos temer o sacrifício ou dor. Isso não pode ser bom.

— E não é. - Percy falou me olhando com preocupação. O silêncio pairou sobre o local e mesmo que nenhuma palavra fosse pronuncida eu quase podia ler os pensamentos deles.

Sacrifício e dor, eu não conseguia tirar da cabeça que estava relacionado diretamente a mim e acredito que todos achavam o mesmo. Abaixei a cabeça ignorando os olhares, entrar na vida de semideusa não era ter apenas felicidade e poderes, mas também as partes ruins, muitas partes ruins. Eu sabia disso, mas até aquele momento havia enfiado esses pensamentos mórbidos no lugar mais esquecido da minha mente, e agora eles voltaram a tona com toda força. O que poderia significar sacrifício e dor? Seria mais uma metáfora ou a ideia real de sangue e morte? Agradeci aos deuses quando a voz de Annie cortou o terrível silêncio junto com meus pensamentos.

— Por agora temos o que precisamos. - Ela falou prática pondo fim ao silêncio sepulcral que havia se instalado. Todos pareceram acordar de um transe enquanto Annie dobrava o papel e guardava-o no bolso da calça. - Sabemos quem deve ir e aonde devemos ir primeiro. O resto se explicará no caminho como sempre acontece. - Ele me encarou com carinho como uma irmã mais velha. - Não precisa se preocupar antecipadamente. Estaremos todos lá com você, não estará sozinha.

— Obrigada... - Sorri e abracei a loira. Ela retribuiu alisando meus cabelos. Naquele momento lembrei dos abraços de minha mãe, quentes e protetores, e segurei as lágrimas. Quando me soltou eu ergui os olhos respirando fundo. - Eu estou pronta. Foi apenas um mês, mas nunca aprendi tanto. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, que bom que ao menos aprendi a manejar uma adaga!

— Até porque você já é perfeita com espadas. - Nico murmurou e eu o encarei surpresa. Ele levantou os olhos percebendo que falara em voz alta e bufou, tentando esconder com a raiva as bochechas vermelhas de vergonha. - Ficou. Ficou perfeita em luta com espadas porque eu sou um ótimo professor e consegui ensinar tudo em apenas um mês.

Encarei-o com a sobrancelha erguida e ele sustentou o olhar, desafiador. Todos ao redor riram até Quíron se erguer e chamar nossa atenção.

— Então está tudo decidido. - Ele apoiou as grandes mãos sobre a mesa e sorriu. - Amanhã vocês partirão em missão.

 

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— Ta ok Percy, chega de mistério. Porque você tá me levando pra praia? Agora não é hora pra pegar um bronze ou o que quer que você queira fazer lá!

Encarei curiosa meu irmão que continuava a caminhar entre as árvores seguindo para o mar azul ao longe. Depois que Quíron nos liberou cada um seguiu para seu chalé para preparar o que fosse preciso para a missão. Aquela aurea pesada de ansiedade e preocupação ainda rondava a todos e segui silenciosamente ao lado de Percy envolta em meus próprios pensamentos. O medo ao ouvir a profecia já havia sido substituido pela apreenssão do desconhecido. Eu ainda tentava achar alguma conexão, algo que houvesse passado despercebido, para desvendar algo sobre essa nova ameaca que tinha seu interesse voltado a mim. Mas tudo levava a um beco sem saida o que me deixava cada vez mais frustrada. Estava tão envolta em planos falhos que não percebi quando Percy me guiou ate a floresta em direção à praia. E não importava quantas vezes perguntasse ele sempre repetia a mesma frase.

— Quando chegarmos você vai saber! Deixa de ser impaciente.

Bufei pela quinta vez e finalmente senti a areia afundar sob meus pés. Percy caminhou ainda mais até seus pés tocarem a água cristalina e eu fiz o mesmo, confusa. Ele me olhou com um sorriso e se posicionou como em nossas aulas, pronto para lutar.

— Tudo bem, preparada?

— Você é louco? Quer lutar? Agora? - Meus olhos estavam arregalados e eu soprei um cacho para longe do rosto enquanto me virava e começava a sair da água revirando os olhos. - Estamos na véspera de uma missão, precisamos organizar nossas coisas. Não é hora para....

Minha frase foi interrompida quando senti um jato d'água acertar minhas costas em cheio. Meu corpo foi de encontro ao chão e areia invadiu minha boca deixando o gosto salgado em minha língua. Percy ria abertamente enquanto eu me erguia entre as ondas com os olhos em chamas, ainda tentando tirar a areia de minha boca. Seus olhos verdes-mar me encaravam desafiadores enquanto ele mantinha as mãos erguidas.

— Agora você quer lutar? Vamos lá, extravase a sua ira em algo útil!

Com um rugido baixo me posicionei e antes que Percy pudesse fazer o mesmo manejei a água ao me redor mandando um jato na direção dele. Com destreza ele desviou e tomou o controle do jato para si mandando-o na direção contrária, direto para mim. Ergui uma barreira em minha frente fazendo água se chocar contra água e uma chuva se espalhar acima de nós. Respirei fundo, toda aquele esforço estava realmente me ajudando a extravasar tudo o que vinha sentindo até ali. No fim, toda a preocupação, ansiedade e impotência se transformaram em raiva, não de Percy, mas da situação em si e lutar com meu irmão acabou sendo a melhor forma de colocar tudo para fora. E com certeza ainda não tinha colocado exatamente tudo. Quando a chuva improvisada parou pude ver os lábios de Percy se erguendo em um sorriso orgulhoso.

— Nada mal para uma novata. - Ele instigou e eu cerrei os punhos com um sorriso feroz. - Só isso que sabe fazer?

Estalei a língua, aceitando o desafio. Me concentrei, sentindo a água ao meu redor como se ela fluisse dentro de mim, meus sentimentos a flor da pele pareciam deixar meus poderes palpáveis e suspirei ao sentir a água se mover ao meu redor enquanto eu erguia as mãos. Quando olhei para Percy ele parecia admirado olhando para minhas costas. Senti algo rodopiar ao meu redor e, em um piscar de olhos, um redemoinho de água estava indo em direção a Percy. Supresa percebi que eu o controlava e que ele aumentava cada vez que se aproximava de Percy. Meus olhos se arregalaram e eu estava prestes a abaixar as mãos para fazer aquilo desaparecer quando Percy facilmente abriu os braços, como se fosse abraçar o redemoinho, e começou a faze-lo girar na direção contrária. Meus braços penderam ao lado do meu corpo enquanto via Percy controlar o mini furacão fazendo ele desaparecer aos poucos até voltar a ser apenas águas turvas do mar. Respirei fundo apoiando as mãos no joelho, aquilo me cansara mais do que eu esperava. Meus cabelos grudavam na testa, parte pelo suor, parte pela água do mar, e vi Percy com um sorriso ainda maior.

— Como..? - Ele gaguejou olhando de mim para a água a sua frente como se ainda pudesse ver minha obra de arte. - Como você fez isso?

— Não sei, apenas me concentrei e pensei em algo que fosse além de uma simples jato d'água. - Dei de ombros passando as mãos no cabelo enxarcado. Percy cruzou os braços ainda surpreso. - Quando olhei esse mini tornado tinha se formado.

— Isso foi espetacular! - Ele mexeu a cabeça pensativo. - Só consegui fazer meu primeiro tornado depois de seis meses de treino árduo e ele ainda foi só metade do seu!

— Sempre dizem que meninas se desenvolvem primeiro... - Sorri orgulhosa e Percy juntou as sobrancelhas com os lábios cerrados.

— Então que tal pararmos com a brincadeira e passarmos para a luta séria?

Sem esperar nenhum segundo a mais Percy lançou diversar bolhas d'água em minha direção. Ainda me recuperando de minha última façanha, as primeiras acertaram meu peito em cheio, mas logo formei um escudo de água me protegendo dos golpes seguintes. Através do escudo de água olhei para Percy com os músculos flexionados enquanto atacava. Naquele momento ele não era meu irmão carinhoso e protetor, ele era o guerreiro feroz que eu conhecia nos livros e foi meio chocante ver pessoalmente. Mas não me deixei abalar, aproveitando o momento que ele parou segundos para descansar, dissipei o escudo e formei um jato d'água que rodpiou meu corpo antes de seguir com força total até Percy. Ele ergueu as mãos e meu jato se chocou contra a barreira formada por ele. Ele caminhou em minha direção o que me fez dar alguns passos para trás e a água, que antes batia em meus tornozelos, já alcançava minhas coxas. Percy sorria vitorioso, como se sua vitória fosse inevitável. Ele ergueu as mãos e senti a água se prender em meus braços e pernas como correntes. Forcei, mas continuei presa, meu cabelo se prendia em meus lábios enquanto o vento salgado parecia preparar o lugar para o golpe final de Percy. Cerrei os dentes, Percy ergueu as mãos lentamente e senti a água se agitar ao meu redor, e ergui minhas mãos até onde a corrente de água permitia. O que poderia me fazer para virar o jogo naquele momento?

— Pensa, Duda... - Sussurrei para mim mesma e senti a água as minhas costas puxar para o fundo, apenas as correntes me seguraram no lugar. - Se eu ao menos soubesse formar um onda gigante ou algo do tipo....

Abaixei a cabeça percebendo que era isso que Percy pretendia, uma onda gigante, e a água puxava cada vez mais dando forma à onda as minhas costas. Ergui os olhos, minha única chance era controlar a onda no lugar de Percy, o que era uma tentativa idiota, mas o que eu tinha a perder? Forcei os braços mais uma vez e fechei os olhos me concentrando, sentindo as palavras saírem de minha boca como um sussurro aflito.

— Vamos lá, eu posso dominar essa onda.....

Como um clique em minha mente senti meu poder fluir em mim cada vez mais forte. Aos poucos um peso se instalou em meus braços e pareceu me preencher, naquele momento eu soube: Eu dominava a onda que se formava as minhas costas. Ergui a cabeça e pela primeira vez vi Percy realmente apavorado. Um sorriso se instalou nos cantos dos meus lábios, eu nunca havia me sentido tão poderosa. As correntes em meu corpo se dissiparam quando Percy deu passos vacilantes para trás com as mãos erguidas para a onda, mas de nada adiantava, aquela onda pertencia a mim e nem ele conseguia retormar o poder dela. Ergui meus braços livres, sentindo a onda se aproximar cada vez mais, fazendo uma sombra gigantesca nos cobrir como se naquele pequeno espaço onde eu e Percy estávamos o dia houvesse se tornado noite e meu sorriso se alargou.

— Acho que essa é minha última carta na manga.

E estiquei os braços a frente do corpo como um general comandando um exército ao ataque. No mesmo instante a onda quebrou para frente com força total, atravessando meu corpo como uma carícia. Meu corpo não vacilou quando a torrente de água passou por mim, parecia mármore fincado na areia, mas a vi seguir em disparada na direção de Percy. Eu sabia o estrago que uma onda daquelas proporções poderia fazer não apenas a Percy, mas até mesmo ao acampamento então antes que ela chegasse a ele controlei-a, diminuindo a sua força, mas ainda assim Percy, que parecia desarmado ante a grandeza da onda, não percebeu que a água não estava mais tão forte e foi atingido em cheio, sendo levado até metade da praia pela água. A onda, antes monstruosa, voltou a ser apenas água do mar e voltou para o oceano lentamente como se nada houvesse acontecido, deixando um Percy enxarcado e atordoado jogado na areia da praia.

Caminhei em sua direção, torcendo o cabelo e respingando água pela areia, enquanto meu irmão se sentava cuspindo água e bagunçava os cabelos que caíam no rosto.

— Isso não foi uma carta na manga... - Ele me encarou exasperado e eu sorri estendo a mão para que ele se levantasse. - Foi um baralho inteiro!

— E a aluna supera o mestre. - Limpei um pouco de areia sobre sua camisa e cruzei os braços, vitoriosa. - Nunca mais me subestime.

— Você quem manda! - Ele ergueu uma mão, fazendo um X sobre o coração, como se jurasse e o empurrei de lado. - Mas como você fez isso? Eu estava controlando a onda e do nada senti algo puxar o controle de mim eu estava completamente indefeso.

— Sinceramente não faço ideia de como fiz aquilo. - Passei as mãos pelos cabelos apertando o rabo de cavalo e encarei Percy séria. - Apenas pensei em sair daquela situação e a única forma era tomar o controle de você então eu falei e....

Palmas me interromperam. Palmas que pareciam vir do meio do mar. Eu e Percy nos voltamos para as ondas instantaneamente, o sol atrapalhava minha visão, mas era impossível não perceber o corpo musculoso e ereto que caminhava pela água em direção à praia. Percy se pôs ao meu lado, seu rosto um misto de curiosidade e indignação, e logo a figura no mar pisou na areia e se postou a nossa frente. Era alto e parecia brilhar diante da luz do sol, tive que erguer a cabeça para poder ver seu rosto que sorria em minha direção. Mesmo conhecendo-o de diversos livros, da internet e até saber que ele era meu pai e ver sua letra entrelaçada em uma carta para mim, nada disso me preparou para ver Poseidon em carne e osso na minha frente com seu sorriso Colgate e seu olhos verdes que pareciam pérolas do fundo do mar. Dei um paso para trás e Percy segurou minha mão, transmitindo força. O sorriso do deus pareceu se alargar diante do ato de Percy e ele inclinou a cabeça para o filho com as mãos cruzadas nas costas.

— Filho. - Ele ergueu a mão em direção à meu irmão. Com a cabeça erguida, Percy apertou a mão do pai como se fechassem um negócio, não como um reencontro entre pai e filho. - Como está, Perseu?

— Bem. - A resposta monossilábica fez Poseidon encarar o filho com a sobrancelha erguida percebendo que não estava tudo bem. Ele voltou os olhos para mim, o verde pareceu brilhar de orgulho e ele abriu os braços como se esperasse um abraço.

— Filha. - Ele me olhava na expectativa e eu soltei a mão de Percy para cruzar os braços mostrando minha indignação ante a atitude despreocupada dele, como se um abraço pudesse passar por cima de todas as coisas que ele escondeu de mim. Ele fechou os braços lentamente e pigarreou parecendo desconcertado, se é que tinha sentimento suficiente para isso. - Você é ainda mais encantadora pessoalmente. Como cresceu!

— É a lei natural da vida. Nós nascemos e crescemos. Mesmo que não tenhamos ninguém ao nosso redor para nos ajudar. - Vociferei parecendo mais venenosa do que pretendia e Poseidon arregalou os olhos. Eu estava sendo desrespeitosa? Claro. Mas naquele momento eu não me importava. Eu não era uma serva diante de um deus, eu era uma filha abandonada diante de um pai ausente e eu só queria que ele escutasse. - Mas que tal pularmos o papo de reencontro e irmos direto para a parte sobre o que você veio fazer aqui?

— Eduarda tenha mais respeito! - Sua voz saiu afiada e firme, mas ele suspirou ao ver que eu não dava a mínima para seu respeito, o que ele fez para merece-lo? Seus braços caíram ao redor do corpo e ele passou as mãos pelos cabelos negros e ondulados, um gesto tão mortal que me fez respirar fundo e conter parte das palavras duras que queriam saltar por minha boca. Ele me olhou com carinho e colocou as mãos nos bolsos do short verde que usava. Para qualquer mortal pareceria um surfista com não mais do que quarenta anos de idade, mas para nós era possível sentir a áurea de poder antigo que rondava seu corpo e seus olhos ativos que pareciam ter visto tudo no mundo. - Eu entendo sua ira e este foi um dos motivos para eu vir aqui hoje. Mas o principal foi para abençoa-los nessa nova missão. - Ele sorriu e covinhas se formaram nas bochechas enquanto ele olhava o mar a suas costas e novamente para mim. - Vejo que já domina com perfeição seus poderes do mar.

— Não por sua causa... - Percy falou deixando sua raiva fluir pela voz e Poseidon se assutou, provavelmente não esperava aquilo do garoto. - Perdão se estou sendo impetuoso pai, mas tínhamos um acordo. Vocês deuses mandaríam todos os semideuses na idade marcada para o acampamento para que fossem treinados e soubessem se defender quando chegassem à idade certa. Mas Duda chegou aqui à apenas um mês, muito além da idade que concordamos. Ela poderia ter morrido no mundo lá fora!

— Eu nunca deixaria isso acontecer! - Poseidon rugiu o que me deixou surpresa. Ele nunca agiu tanto como um pai protetor quanto naquele momento. Ele me encarou. - Sempre estive olhando por você, mas manda-la para o acampamento com seus dez anos de idade não seria o mais seguro. Não quando você é diferente de todos os outros semideuses. O melhor era mante-la no Brasil onde o índice de monstros é menor do que em qualquer outro país e sobre minha vigilância contínua.

— Mesmo depois que perdi minha mãe? - Olhei-o questionadora. A raiva já sumia aos poucos e apenas a ânsia por respostas enchia meu peito. - Nunca precisei tanto de uma família de verdade quanto naquele momento.

— Eu sei, e foi por isso que mandei anonimamente a mensagem para Quíron ir em sua busca. - Ele sorriu e se aproximou de mim. - Ainda asism temi revelar que era minha filha, por todos os perigos que viriam com essa revelação, mas depois de todos os ataques foi inevitável. Você precisava do seu irmão e ter conhecimento de quem realmente era.

— Mas você não me deu tudo. - Olhei sentindo os olhos arderem com as lágrimas que ameaçavam cair. - Eu ainda precisava de um pai ao meu lado.

— E eu sempre estive ao seu lado, mesmo que não pudesse me ver. - Ele ergueu uma mão e tocou meu rosto. Virei a cabeça sobre sua mão sentindo o carinho que tanto esperei mesmo que nunca tivesse percebido. - Eu a vi dar os primeiros passos no jardim de sua casa, ir para o seu primeiro dia de aula com aquela saia azul rodada e os cabelos presos em uma trança, vi o seu primeiro beijo e tive vontade de esganar aquele mortal indigno que não estava a sua altura. Meu coração se partia cada vez que a via saindo da casa de seus tios com os olhos tristes e marcas nos braços e me contive para não dar um fim a vida deles. Assisti quando chegou ao acampamento e sofri quando desmaiou com o veneno daquele monstro. Eu sempre estive presente, mas nunca pude me aproximar. Os três grandes terem filhos ainda não é visto com bons olhos pelos deuses, mas não pude evitar me apaixonar pela sua mãe quando a conheci nas praias brasileiras. Ela me compreendia e aqueles olhos pareciam ver dentro de mim. Há muito tempo não conhecia alguém como ela e quando percebi já estava completamente seduzido. Quando soube que ela estava grávida tive que me afastar. Ela sempre soube quem eu era e quando descobri que ela descendia de uma linhagem de Línguas Encantadas soube que o perigo que cairía sobre você seria dobrado. Mante-la perto de mim só aumentaria o risco e sua mãe concordou que nos afastássemos para o seu bem, mas prometi sempre estar por perto e muitas vezes até mesmo conversávamos sobre você quando não estava pro perto. - As lágrimas já saíam desenfreadas pelos meus olhos e Poseidon segurava meu rosto entre suas mãos com carinho. - E não ache que não sofri quando soube da morte dela.

— Foi tudo culpa minha, pai! - Minha voz saiu em um soluço esganiçado e eu desabei nos braços de Poseidon qu me segurou firmemente. Seus braços quentes me apertavam contra si e eu me senti segura sabendo que o abraço de meu pai era do jeito que sempre sonhei. Minhas lágrimas manchavam a camiseta azul que ele usava enquanto suas mãos acariciavam meu cabelo. - Eu fiz aquilo!

— Não querida, não foi culpa sua. - Ele se afastou o suficiente para encarar meus olhos. Os dele eram firmes a me convencer de que não era culpada mesmo que meu coração pensasse o oposto. - Aquilo foi um acidente, não carregue um fardo que não é seu.

— Eu... eu.... - Solucei e encarei meu pai. Não podia deixar os pensamentos do passado me quebrarem agora e resolvi acreditar nele, ele parecia tão certo de que a culpa não fora minha que resolvi ao menos uma vez esquecer a culpa que me corria por dentro. Sorri com os olhos brilhando pelas lágrimas. - Estou feliz que esteja aqui.

— Estou feliz em te ver pessoalmente. - Ele sorriu e piscou mostrando um lado mais ameno do deus dos mares. Ele se afastou alguns passos e cruzou os braços passando a encarar meu irmão que assitiu a cena calado e agora me abraçava de lado. - Mas também vim alertá-los. O Olimpo ficou sabendo da nova profecia e tudo se encaixou.

— Como assim “tudo se encaixou”? - Percy questionou e eu olhei para meu pai que estava com o cenho franzido.

— Há alguns dias algumas aglomerações de monstros começaram a se tornar perceptíveis em partes diferentes do mundo. - Ele fez uma bola de água flutuar até sua mão e começou a formar imagens com a água. Primeiro um depoimento de uma cara que gravou um matilha de lobos correndo pelo meio de um parque, algo que ele citou como “completamente louco, cara!”. Ao virar a câmera para os lobos pude ver a névoa se dissipar e no lugar de lobos surgiram monstros correndo e urrando até sumirem entre as árvores e a gravação acabou. Depois ele mostrou grupos de monstros em diversas partes e nos encarou preocupado. - Austrália, Grécia, Roma e até Brasil. Monstros que antes vagavam sozinhos passaram a formar grupos e a seguirem juntos em direção à algo, uma atitude que se tornou tão incomum que mexeu até com o mundo dos mortais que passaram a ver matilhas de lobos correndo por parques e praias e urros estranhos vindos de florestas.

— E vocês ligaram isso à profecia? - Perguntei vendo a bolha de água voltar para o mar e Poseidon cruzar os braços nas costas em sua postura inicial.

— Não podem ser apenas coincidências.

— Nunca é. - Percy estalou a língua e olhou para o pai. - Mas vocês tem algumas pista sobre a ameça da qual a profecia fala? Algo que possa nos ajudar?

— Foi exatamente isso que vim alertar. - Poseidon ficou sério e suas palavras seguintes pareceram formar um buraco em meu peito. - Não sabemos nada sobre esse novo inimigo. A profecia estava correta ao dizer que é invisível aos deuses.

— Você não tem ao menos pistas? - Percy deu um passo a frente, os olhos arregalados. Eu continuei plantada no lugar, perplexa ao ouvir as palavras de Poseidon. - Teorias?

— Não. - Poseidon falou como se quisesse encerarr a conversar, como se não saber algo para alguém que deveria saber tudo fosse constrangedor demais. O que realmente deveria ser. - E isto nos deixou ainda mais preocupados com a situação. Não temos como ajudar, nesta missão vocês realmente terão de descobrir tudo por si mesmo.

— Isto não é novidade. - Percy vociferou e respirou fundo, contendo sua raiva. Passou as mãos pelos cabelos negros e olhou para o pai com um sorriso. - Ao menos você veio se despedir, é algo inédito.

— Vocês voltarão. Tem o meu sangue, são meus filhos. Tenho fé em vocês. - Ele nos encarou orgulhoso e olhar para os olhos verdes de meu pai me fez lutar para estar a altura daquele orgulho. Ali ele não parecia apenas o deus dos mares, parecia um pai preocupado e ao mesmo tempo orgulhoso dos filhos. - E tem minha benção.

Ele se aproximou e pôs uma mão sobre minha cabeça e a outra sobre a de Percy. Fechou os olhos e respirou fundo. Senti o cheiro salgado do mar se intensificar quando uma luz azul passou a envolver meu corpo da mesma forma de quando fui reclamada, minhas forças pareceram renovadas e senti meu poder em cada veia. Olhei para Percy e este mantinha os olhos fechados, provavelmente sentindo o mesmo que eu. Fechei os olhos e respirei fundo, era uma sensação nova e excitante que parecia me deixar mais viva. Até que senti a mão de meu pai se afastar e abri olhos. Poseidon nos olhou com afeto e abriu os braços o que fez eu e Percy caminharmos até ele e sermos envolvidos pelo seu abraço reconfortante. Sentia a respiração dele em meus cabelos e Percy me olhava com um sorriso no rosto quando ele nos afastou e se aproximou do mar novamente.

— Cuidem-se, vocês são parte um do outro. - Acenei e vi que Percy fez o mesmo enquanto ele entrava na água com um sorriso caloroso. - Nos vemos em breve, meus filhos. Chairetismoí kai antío.

— Chairetismoí kai antío. - Eu e Percy respondemos em unissom e ele acenou em despedida andando pelas águas até sumir no meio do mar.

Passamos um tempo em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro com o mar banhando nossos pés. Aquele encontro foi além do que eu esperava e havia me dado forças, não apenas a benção de meu pai mas suas palavras também. Percy me tirou do torpor ao segurar minhas mãos e inclinar a cabeça em direção à floresta com um sorriso tímido.

— Vamos voltar. - Ele entrelaçou nossos dedos e caminhamos em direção à floresta ouvindo o som do mar cada vez mais distante. - Você já teve seu limite de surpresas por hoje!

Ele não sabia o quanto estava enganado.....

 

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A primeira pista de que algo estava diferente no acampamento era a aglomeração de pessoas próxima a entrada do acampamento. Os semideuses já voltavam a suas atividades normais depois da brincadeira com o pó de mico, mas quando Percy e eu seguimos para o chalé percebemos um grupo próximo as pilastras que margeavam o acampamento. Puxei Percy naquela direção, o grupo parecia irradiar uma luz prata e chegando mais perto percebi que era composto apenas por garotas. Estanquei no lugar a poucos metros do grupo e Percy parou ao meu lado quando uma garota voltou seu rosto para nós e um sorriso se abriu em seu rosto. Eu ainda diferia a ideia de conhecer as caçadoras de Ártemis pessoalmente quando a garota correu em nossa direção com os olhos brilhando. Seus cabelos negros chegavam à cintura e estavam presos em uma trança com fios prateados se entrelaçando e uma tiara da mesma cor que enfeitava a testa. Ela era branca e os olhos azuis pareciam faiscar a medida que se aproximava. Com uma aljava presas as costas e as roupas próprias das caçadoras ela era idêntica a sua descrição nos livros e não parecia ter mais do que dezesseis anos como eu previra. Perplexa vi a garota se jogar nos braçso do meu irmão que retribuiu o abraço com carinho.

— Cabeça de Algas! - Ela se afastou e segurou os ombros dele que sorria para ela e segurava sua cintura. - Estava com tantas saudades!

— Eu também, Cara de Pinheiro! - Ele bagunçou a franja da garota que bufou e bateu na mão dele. - Você sumiu e não deu mais notícias!

— Ártemis nos deu várias missões seguidas e não tive tempo para mandar sequer uma mensagem de íris! - Ela se explicou e ele ergueu uma sobrancelha cruzando os braços. Ele sorriu para ele e virou a cabeça, surpresa invadiu seus olhos ao me ver plantada ao lado de Percy. - E quem é você?

— Essa é minha irmã. - Percy apresentou o que fez os olhos de Thalia se arregalarem e ela encarou Percy incrédula com a boca um tanto aberta. - Pois é, Poseiodon mais um vez quebrou o acordo.

— Acho que já tá na hora deles fazerem um novo acordo! - Ela desdenhou e me olhou com um sorriso brilhante e os olhos azuis afetuosos. - É uma prazer conhece-la...?

— Eduarda. - Percy me interrompeu mais uma vez e eu o encarei com o cenho franzido. Ele levantou as mãos em rendição e apontou para Thalia. - Duda, está é...

— Thalia Grace! - Falei com um sorriso para a garota o que fez Thalia me encarar curiosa e depois olhar para Percy debochada.

— Vejo que falou de mim, Percy....

— Na verdade não. - Percy riu de lado e inclinou a cabeça em minha direção. - Duda sabia o nome de todos nós antes mesmo de chegar ao acampamento. Não sei porque ainda tento apresentar alguém....

— Espera, como? - Thalia ergueu uma sobrancelha e me encarou ainda mais curiosa e eu suspirei.

— Longa história. - Estendi a mão que ela apertou receosa. - Mas posso afirmar que não sou monstro ou um segundo oráculo!

— Confesso que isto não passou pela minha cabeça. - Ela sorriu e apontou para as caçadoras na entrada. - Mas aposto que é uma história bastante interessante. Gostaríamos de ouvi-la, Eduarda.

Acenei e seguimos Thalia até o grupo de caçadoras. Quíron já estava entre elas que pareciam felizes em rever o centauro. Cada uma se destinguia da outra de alguma forma, pelo penteado ou roupas, mas todas portavam o arco e a aljava de flechas, símbolos da deusa da lua e da caça. Thalia se postou ao meu lado, segurando nas mãos seu arco prateado e me apresentou para o grupo. Todas me saudaram com sorriso e eu procurei um rosto em especial no meio das garotas, mas ela não estava no círculo. Eu sei que nunca vira Calypso pessoalmente, mas como todas as minhas previsões sobre cada um havia sido certa até o momento, imaginei que com Calypso aconteceria o mesmo. Mas onde ela havia se metido? Antes que pudesse olhar ao redor, ouvi Thalia me cutucar no braço, me instigando a contar minha história para todos na roda. Respirei fundo e narrei tudo o que acontecera desde que eu chegara no acampamento. No momento que cheguei a parte de revelar sobre meus poderes de Lingua Encantada, olhei para Quíron que acenou como se me mandasse prosseguir e eu falei sobre meu segredo para elas que reagiram surpresas, provavelmente já haviam escutado lendas sobre meu povo e nunca pensaram sobre eles serem reais. Terminei falando sobre a missão e a profecia.

— Amanhã saímos em missão para Roma, mas muitas coisas ainda estão inexplicáveis na profecia. - Suspirei e Thalia me olhou com empatia.

— Isso é normal.

— Mas porque vocês vieram aqui? - Percy perguntou. - Estou muito feliz em reve-la Thalia, mas pelo seu rosto sei que não vieram aqui só para uma visita. O que houve?

— Ártemis nos mandou aqui depois de nossa última missão. - Ela apertou o arco entre as mão e encarou Quíron. - Estávamos nas planícies chinesas quando ela me encontrou e aviso que deveríamos voltar ao acampamento pois uma ameça tão grande quanto Gaia estava surgindo e que seríamos necessárias para a luta. Imediatamente seguimos para cá e Quíron com certeza há algo de estranho acontecendo. Viemos por terra e em cada país que passávamos encontrávamos uma horda de monstros reunidas. Era algo completamente incomum, todos formavam grupos como uma matilha e estavam seguindo para algum lugar. Pegamos alguns deles, mas eles preferiam morrer a revelar para onde estavam indo. Nunca vi algo assim.

— Nosso pai nos avisou sobre isso. - Percy cerrou os dentes quando Quíron o encarou interrogativo. - Depois da reunião eu e Duda fomos à praia para treinar quando nosso pai apareceu e nos mostrou algumas imagens desses grupos de monstros em várias partes do mundo. Além de revelar que nenhum dos deuses sabia quem ou o que era essa nova ameaça.

— Isso é ruim, muito ruim. - Quíron murmurou e olhou para Thalia com os cascos cavando o chão. Ele parecia realmente preocupado. - Está tomando proporções que não imaginei.

— Bem, Quíron,pode contar conosco. - Thalia ergueu a cabeça para o centauro que acenou satisfeito. - Estamos aqui em nome da deusa para ajudar no que pudermos.

— E eu aprecio sua disposição, Thalia Grace – Ele sorriu e juntou as mãos na frente do tronco fazendo com que seus pelos marrons de cavalo se misturasse aos dedos humanos. - Se puderem me seguir para a Casa Grande poderemos analisar tudo o que já sabemos e traçar um plano de ataque.

Thalia assentiu e seguiu o centauro. As outras caçadoras fizeram o mesmo e no momento que dei alguns passos atrás de Percy olhei para o lado da arena e vi algo que me chamou atenção. Em frente aos portões da arena vi os cabelos castanhos de Leo bagunçados e sua mão que coçava a nucna freneticamente, com certeza um ato de nervosismo. A sua frente vi uma garota de cabelos castanhos e trançados com fitas prateadas e que levava uma aljava nas costas, sem dúvidas aquela era Calypso. Ela gesticulava freneticamente para Leo enquanto este remexia os dedos impaciente e naquele momento lembrei de meu juramento no meu primeiro dia de acampamento. E não se quebrava uma juramento de mindinho!

— Hã, Percy? - Meu irmão se voltou em minha direção enquanto o grupo se afastava na direção da grande mansão branca. Pensei em alguma desculpa plausível para não ir à reunião, até porque dizer o que ia fazer para Percy com certeza o deixaria possesso. - Eu estou bastante cansada depois de tudo, principalmente do nosso treino. Acho que vou para o chalé descansar já que amanhã teremos que acordar bem cedo.

— Tudo bem, pode ir! - Ele segurou minhas mãos e beijou minha testacom um sorriso. - Amanhã te conto o que ficou resolvido na reunião.

— Obrigada!

Ele acenou em despedida e correu para o lado de Thalia. Esperei que o grupo se distanciasse ainda mais e segui cautelosa para o casal na frente da arena. Eles estavam tão envoltos na conversa que nem perceberam quando me aproximei e pude ouvir calypso falar com sua voz mansa e doce.

— Eu só queria me explicar melhor. Da primeira vez que nos vimos aqui posso ter sido rude. - Ela respirou fundo como se tentasse explicar para um criança que o brinquedo que ela queria nunca seria dela. Me aproximei ainda mais quando ela continuou. - Nós não fomos feitos para ficar juntos. Eu segui em frente e você....

Aquela foi a gota d'água. Com pisadas fortes me aproximei de Leo passando meus braços por sua cintura. Surpreso, ele me olhou de lado e sem ter como reagir passou seu braço por meus ombros. Daria tudo para ver as emoções que passarm pelo rosto de Calypso, mas continuei na personagem imaginando como uma namorada apaixonada agiria. Leo olhou em meus olhos com a boca aberta e eu pisquei para ele torcendo para que ele seguisse meu teatro. Luz, câmera e ação.

— Amor, onde você estava? - Fiz um biquinho lembrando das patricinhas que vira em meu colégio dando em cima dos garotos. Nunca pensei que pagaria um papel desse, mas nunca diga nunca! Apertei ainda mais forte Leo contra mim e ele acariciou meu ombro começando a entender o que eu fazia. - Te procurei em todo lugar!

— Eu...estava..ahn.. - Ele gaguejou ainda sem palavras e revirei os olhos dando mais tempo para que ele se recuperasse enquanto encarava a garota na frente de Leo com a sobrancelha erguida como uma namora enciumada.

— E quem é essa, Leo? - Perguntei como se não soubesse exatamente quem era Calypso e a inspecionei de cima a baixo enquanto ela me encarava com um misto de supresa e raiva. Sorri por dentro, estava causando exatamente o que queria.

— Essa é a Calypso, minha.... uma das Caçadoras de Ártemis. - Leo aprensentou e olhei em seus olhos que agora estavam brilhantes e brincalhões, os olhos do Leo que eu conhecia. Sorri para ele que piscou entrando no personagem. - Calypso, está é Eduarda Swan.

— A namorada dele. - Falei e me soltei de Leo, caminhando em direção à caçadora e estendendo a mão. Dei graças aos céus por todos estarem no refeitório e não ouvirem minha declaração. O que Luce pensaria se visse isso? Espantei o pensamento da cabeça, eu estava ajudando Leo, nada mais do que isso. Calypso esticou a mão e apertou a minha ainda sem ação. Sorri para ela que apenas cerrou os lábios. - É um prazer.

— O prazer é meu. - Ela retrucou e soltou minha mão rapidamente. Voltei para o lado de Leo que me abraçou de lado enquanto eu enroscava seu pescoço. Calypso apertou o arco nas mãos e ergueu o queixo, tantando voltar à postura indiferente, mas falhando completamente. - Então Leo, eu...

— Você seguiu em frente, e como pode ver, eu também. - Ele sorriu de lado e piscou para a garota que pareceu ainda mais furiosa com o gesto. - Espero que tenha encontrado seu lugar entre as caçadoras.

— Eu encontrei. - Ela vociferou e me olhou com um sorriso maldoso. - Espero que tenha encontrado seu lugar em Leo.

— Eu encontrei. - Respondi com o queixo erguido e para provar levei os lábios para a bochecha de Leo.

Pena que na mesma hora Leo pensou em fazer o mesmo e nossos lábios acabaram se encontrando no meio do caminho. Meus olhos se arregalaram na mesma hora em que Leo fechou os seus e me puxou para perto. Eu não podia me afastar dele tão bruscamente, Calypso continuava a nos encarar agora com a boca completamente aberta, então cedi e enrosquei ainda mais meus braços no pescoço do garoto sentindo a textura dos fios castanhos entre os dedos. Leo acariciou minha costas enquanto explorava minha boca cuidadosamente. Dei passagem, provando ainda mais do filho de Hefesto. Foi um beijo calmo, os lábios de Leo eram cautelosos e ele me tomava em seus braços como uma porcelana. Esperava sentir o calor e a paixão que viriam com o beijo, mas no fim não senti nada disso. Foi apenas um beijo, muito bom, mas nada mais do que lábios se provando. Se eu precisava de provas para saber que com Leo era apenas amizade, aquilo foi prova suficiente. Me afastei do beijo depois de algum tempo, as mãos apoiadas no peito do garoto, e abri os olhos lentamente. Leo me encarava com um sorriso constrangido e eu sorri de volta colocando um cabelo atrás da orelha. Virei a cabeça para onde estava Calypso que já seguia a passos duros para longe com as mãos cerradas ao lado do corpo e o arco pendendo desajeitado nas costas. Quase fiz a dancinha da vitória até sentir a mão de Leo em meu ombro.

— Aposto dez dracmas que você sempre soube quem ela era. - Ele sorriu indagador e eu dei de ombros.

— Se dissesse o nome dela antes das aprensentações iria sair da personagem! - Apontei o dedo em riste para ele. - Nunca se deve sair da personagem.

— E que personagem foi essa? - Ele bateu em minha mão e apontou para mim e depois para onde Calypso estava.

— A de namorada apaixonada. - Juntei as mãos e pisquei os olhos freneticamente no perfeito estilo 'garota apaixonada' retratada em filmes de romance. Leo riu abertamente. - Nunca pensei que fosse capaz de um biquinho daqueles! Tive que improvisar bem aquelas expressões faciais de ciúmes e de amor incondicional.

— Você é ótima de improviso então.... - Ele me olhou sugestivo e eu entendi sobre o que falava. Ergui as mãos e guaguejei algumas vezes antes de formar uma frase completa.

— Nã... Não é isso Leo. Não que você não seja um amor e que alguém não possa te amar incondicionalmente, qualquer garota teria a honra imensurável de se apaixonar por você porque você é fantástico e carinhoso e que tem um beijo muito bom, mas eu...

— Obrigado pelos belos adjetivos. - Ele tapou minha boca com dois dedos e sorriu afetuoso. - Mas eu entendo o que quer dizer. Foi um ótimo beijo, mas acho que somos melhor como amigos.

— Não poderia concordar mais! - Suspirei aliviada por ele pensar como eu. Leo me puxou de lado, passando o braço por meus ombros, e seguimos em direção ao refeitório. Era isso o que mais gostava em nossa amizade: O fato dela ser inabalável!

— Uma última pergunta... - Ele me olhou e eu acenei para que ele continuasse e ele puxou meu cabelo lentamente, fazendo a água sair dele e regar a grama aos nossos pés. - Porque você está toda molhada?

Olhei para minha roupa e percebi que boa parte da água do mar já havia evaporado, mas minha blusa continuava colocada ao corpo e meu cabelo grudava na nuca constantemente. Agradeci aos céus por escolher um top preto naquele dia. Encarei Leo com um sorriso cansado e encostei a cabeça em seu ombro, me preparando para mais uma longa história.

— Você nem vai acreditar....

 

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P.O.V Nico

 

Senti meu coração parar com a cena em frente a arena. Há algum tempo eu já desistira de entender o que acontecia com minha cabeça e meus sentimentos quando via a filha de Poseidon, mas naquele momento eu soube exatamente o que sentia. Ódio, puro e palpável, que começava a corroer meu peito e fazia meu sangue ferver. O motivo daquele ódio? A culpa poderia ser das mãos que apertavam a cintura da morena de cabelos cacheados e olhos verdes-mar, ou do tronco que se chocava com o corpo da garota, ou até mesmo os lábios que provavam avidamente da boca da filha de Poseidon. Resumindo, Leo Valdez era o culpado de eu estar vendo vermelho naquela hora. Meus punhos cerrados ao lado do corpo já estavam brancos e eu senti as unhas entrarem em minha palma com violência. Cerrei os olhos, mas a cena continuava passando como um filme em minha mente. Um riso fraco saiu por meus lábios, algo como um suspiro ruidoso. Como pude ser tão idiota? Ela sempre deixara bastante claro que entre nós haveria apenas amizade, com aquelas regras estúpidas, e agora eu entendia perfeitamente o porque. O que eu pensava que aquele momento após a aula de espadas havia sido? Eu não conseguia parar de pensar na voz sussurante dela ao meu ouvido, mas agora sabia que para ela não passara de um erro. Eu deveria ter previsto tudo aquilo, com os anos fiquei bom em guardar o que sentia e nem ao menos transparecer minha raiva ou dor, mas aquela garota havia me bagunçado completamente e agora eu não sabia como me arrumar de novo. Porque meu coração ainda teimava em doer por ela? Se ao menos eu não houvesse a buscado com os olhos pela multidão! Ouvi-la admitir que eu era a “sombra que clareava” me deu uma estúpida esperança e não consegui tirar da cabeça que precisava falar com ela. Quando vi Percy passar pelo refeitório junto com as caçadoras procurei por ela entre o grupo, mas ela não estava ali. Pensei em caminhar até Percy e perguntar aonde ela estava, mas resolvi não dar motivos para o filho de Poseidon fazer suas perguntas indiscretas e resolvi procurá-la por mim mesmo. Outro erro grave, porque eu passava meu tempo livre tentando achá-la quando ela não estava por perto? Porque saber onde ela estava parecia tão importante para minha sanidade? Eu não tinha a resposta e minha cabeça embralhava só de tentar entender, então apenas deixei meus pés me guirem para fora do refeitório e segui para a área dos chalés. Bati a porta do chalé de Poseidon e nenhuma resposta, tudo escuro por dentro. Um resquício de preocupação começou a se instalar em mim, depois do dia louco com certeza ela já estaria no chalé. Caminhei a passos rápidos, pronto para ir a Casa Grande fazer a fatídica pergunta a Percy sem me importar com seu questionário de irmão superprotetor, até que passei próximo à arena e jurei a mim mesmo que aquilo que via não poderia ser verdade. O sol estava quase se pondo dando lugar à escuridão da noite, mas eu reconheceria em qualquer lugar os cabelos cacheados e as curvas sinuosas da filha de Poseidon. Mesmo que seu corpo estivesse parcialmente escondido pelas grandes mãos de Leo que passeavam preguiçosas pelas costas da garota enquanto seus rostos estavam extremamente próximos, em um beijo apaixonado. Travei no lugar sentindo o ar sair de meus pulmões que se houvesse levado um soco. Mesmo perplexo senti um movimento a minhas costas e olhei de relance para trás vendo uma garota de grande cabelos negros correr em direção aos chalés com as mãos sobre os olhos e soluçando freneticamente. Naquele momento eu acreditava estar tão quebrado quanto aquela garota. Como ímãs, meus olhos voltaram novamentre para a cena. Meu único instinto era correr e puxa-la dos braços de Leo, mas que direito eu tinha? Ela não era minha propriedade, ela não era mais que uma amiga.

— Apenas amiga... - A palavra era amarga em meus lábios e, escondido pelas sombras de uma árvore, vi os dois se separarem e Leo passar um braço pelos ombros dela, levando-a para o refeitório.

Naquele momento senti o ar voltar ao meu corpo, nem havia percebido que o prendia. Minhas mãos arranharam a árvore a minha frente e eu soquei-a até sentir os dedos dormentes. Meus cabelos grudavam à testa e eu podia sentir a dor em peito como algo físico. No fim a culpa era totalamente minha ou, no caso, do meu estúpido coração. Fechei os olhos e vi os olhos verdes-mar dela, completamente inalcansáveis para mim, mas uma voz as minhas costas me fez abrir os olhos rapidamente e todos os músculos do meu corpo se retesarem.

— Amor não correspondido. Não há nada mais doloroso. - A voz era doce e nasalada e a dona se aproximou da luz me fazendo reconhecer os cabelos castanhos e os olhos sedutores de Drew. - Eu entendo Nico, sinto o mesmo por você.

— Drew, já pedi que saísse do meu pé. - Bufei e caminhei a passo largos até meu chalé. Evitei restritamente olhar para o refeitório e passei quase correndo por ele enquanto ouvia os passo de Drew atrás de mim. - Nós terminamos, não entende isso?

— Não, não entendo! - Ela gritou quando chegamos em frente ao meu chalé. Por sorte a maioria dos semideuses ainda estavam na Fogueira e não presenciaram o espetáculo que a filha de Afrodite protagonizava. Ela se aproximou de mim e segurou minha blusa fortemente, me encarando com olhos manhosos. - Você prefere sofrer por alguém que não te ama e que, com certeza, já é de outro enquanto eu estou aqui me entregando inteiramente a você? Eu te amo Niquinho e aquela filha de Poseidon é idiota por não ver o homem perfeito que você é. É idiota e não merece seu coração...

— Drew, cala a boca! - Vociferei segurando os pulsos da garota que continuavam em minha blusa. Fechei os olhos, vendo pela última vez a cena do casal em frente a arena. Swan fez sua escolha e eu tinha que aceita-la mesmo que aquilo parecesse arrancar um pedaço de mim. Eu tinha de esquece-la e, olhando para a morena em minha frente com a boca brilhante e o corpo a centímetros do meu, sabia como esquece-la por uma noite ao menos. Com certeza minha pior ideia em séculos, mas naquele momento eu só queria que a dor em meu peito parasse mesmo que por apenas algumas horas. E Drew seria perfeita para me distrair daquela dor. Encarei a filha de Afrodite com um sorriso feroz e a puxei para perto deixando que meus instintos me guiassem. - Apenas cale a boca.

Em segundo minha boca estava na dela. Nosso beijo era feroz e puramente carnal. Nada de calor reconfortante ou paixão. Era apenas a satisfação do desejo e aquilo teria de ser o bastante para mim. Destranquei o chalé enquanto a garota arranhava minhas costas. Suspirei e fechei os olhos, mas a droga dos olhos da filha de Poseidon junto com o sorriso facil nos lábios dela voltaram a minha mente e eu vociferei e puxei Drew novamente para meus braços começando um segundo beijo, ainda mais necessitado e feroz. A garota sorriu quando entrou no chalé e jogou sua bolsa sobre a poltrona e eu olhei de um lado outro sussurrando como uma suplica.

— Eu preciso esquece-la. Ao menos por uma noite...

Entrei no chalé sendo puxado por Drew que colou o corpo ao meu e beijou meu pescoço com habilidade. Encostei a porta do chalé com o pé enquanto Drew puxava minha camisa e a jogava em um canto qualquer do quarto. Naquela noite resolvi esquecer os olhos verdes-mar de Swan da pior maneira possível


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Notas finais do capítulo

Jujubas, espero que ainda estejam vivas depois de tanto forninho derrubado. Se estiverem deixem seu coment aqui. Amaram? odiaram Querem me matar?
Calma que tudo vai se resolver. Mas um leve spoiler do cap q vem? Advinhem quem vai ser a primeira a entrar no chalé de Hades pela manhã? Sim... eu sei quem vocês sabeeemmm!! hehehe
P.S. "Chairetismoí kai antío" significa "Saudações e Adeus" que é o nome do cap e, aqueles fãs de Instrumentos mortais como eu, sabem que é um dos lemas dos Caçadores de Sombras quando estão no leito de morte!
Com esse lindo spoiler espero que sobreviam até o cap que vem.... que com certeza promeeeeeeete!!!
Kisses e até logo!



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