Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 35
Academia de semideus.


Notas iniciais do capítulo

Hey jujubas, cá estou eu com mais um cap novinho!
E olha que este está enorme. Aproveitemm
Kisses



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— Eduarda pela quinta vez suas pernas devem ficar em um ângulo de cento e vinte graus e seus braços devem ficar firmes e posicionados próximo ao peito quando não estiver atacando ou então ela vai...

Pena que não pude ouvir o resto do tutorial já que o som de minhas costas batendo sobre o tatame pela quinta vez foi mais alto do que a voz de Piper. Ouvi o suspiro de minha professora e os risinhos de meus colegas de sala enquanto o ar escapava de meus pulmões novamente e eu encarava o teto cansada. Naquela altura do campeonato acho que Piper havia percebido que ficar repetindo sobre o tal ângulo de cento e vinte graus e a firmeza dos braços não havia me ajudado bastante já que minhas pobres costas sentiam o tatame duro pela quinta vez seguida. “Porque eu levantei da cama hoje?”. Era a única pergunta que rondava minha cabeça desde a primeira vez que encarei o teto da sala de treinos enquanto recuperava o ar perdido, derrotada sobre o tatame.

Naquela manhã Percy resolvera me acordar especialmente cedo afirmando que meus treinos começariam naquele dia e que não admitia irmã sua chegando atrasada. Quase virei de lado e ignorei seu sermão, o que deveria ter feito, mas ao ouvir sua ameaça de me acordar com um belo banho de água fria na cama não perdi tempo e corri para o banheiro. Rapidamente me arrumei e enquanto secava os cabelos Percy ergueu um papel em minha direção.

— Seus horários de aulas. - Percy parecia chateado ao me entregar o papel que mostrava uma grade de “matérias”, assim como em um colégio comum. A pequena diferença estava no fato de que Defesa e Ataque com armas de Pequeno e Médio porte e Hipismo Alado com certeza não estavam na grade dos colégios comuns. Encarei Percy e ele cruzou os braços. - Olha, concordo com as escolhas de Quíron até as aulas do fim da manhã, mas acho que na tarde poderíamos achar um professor melhor. Alan, filho de Ares, é um ótimo esgrimista e sabe manusear qualquer espada. E, melhor ainda, ele tem uma namorada ou seja você estaria em boas mãos!

— O que você quer dizer? - Confusa, encarei detalhadamente minhas aulas enquanto descíamos a escada da varanda em direção ao refeitório. Teria aula até as doze, com um intervalo de duas horas. Logo após seria o almoço e às duas horas teria mais duas aulas chegando ao fim dos treinos às cinco horas da noite, onde jantaria e correria para minha cama desmaiando de cansaço. Nada tão diferente da minha rotina antiga. Suspirei e olhei melhor o tal professor das aulas à tarde. Segurei o riso ao entender o desconforto de Percy já que o nome de Nico estava bem digitado sobre as últimas matérias do dia: Ataque e Defesa com Espadas e Outras Armas de Grande porte e Luta Corpo a Corpo e Estratégia. — Claro, entendi! Mas achei que já tivesse superado sua raiva de Nico em relação à nossa amizade.

— Se fosse só amizade... - Percy zombou.

— E é só amizade!

— Nico não pensa mais assim. - Arregalei os olhos e Percy jogou as mãos para o ar como se eu fosse a lerda da história. - Olha Duda, eu sou homem e percebo quando outro homem fica afim de uma garota porque eu, como homem, já agi da mesma forma quando fiquei afim da minha garota e é dessa forma que Nico está agindo!

— Me perdi na parte que um homem conhece um homem que tá afim de alguém porque é homem.... - Cocei a cabeça e Percy bateu na testa impaciente.

— Não acredito que pela primeira vez sou o esperto da situação!

— Hey! - Empurrei meu irmão de lado e ele apenas segurou meu braço e me puxou para perto. Sorri e segurei sua mão. - Percy, não importa o que Nico pensa ou deixa de pensar, porque eu não penso assim. Somos apenas amigos e você deve acreditar em mim quando digo isso. E, além do mais, Quíron deve ter colocado ele para que eu não me sentisse tão deslocada com alguém completamente desconhecido para mim. Já conheço Nico e sei como lidar com ele. - Pisquei para Percy que pareceu sorri de verdade. Estávamos chegando ao refeitório quando algo passou pela minha cabeça. - Mas até que não seria de todo ruim se ele resolvesse colocar algum filho de Apolo bonitão e solteiro para me ensinar e ….

— Ok, meu voto vai para o di Angelo! - Percy ergueu uma mão como se fosse o próprio presidente e quase não parei de rir.

Chegamos ao refeitório enquanto eu ainda morria de rir e alguns semideuses me olharam como se eu fosse louca. Respirei fundo, contendo meu assesso de riso, e sentei ao lado de Percy onde pedimos nosso café da manhã. Torradas e café para mim, waffles azuis e suco de amora para Percy. Sorri ao perceber que a mania de comer coisas azuis era real e que mesmo depois de tanto tempo Percy ainda a matinha de pé. Ele parecia uma criança ao devorar seus waffles enquanto eu saboreava minhas torradas calmamente. Terminando de beber o café revisei novamente meus horários. Estava ansiosa, primeiros dias de aula sempre me deixavam assim, meus olhos não paravam sobre o papel e eu ria internamente ainda me perguntando se tudo aquilo era real. Luta com espadas e voos em pegasus no lugar de matérias como matemática e geografia, quem não amaria? Porém meus olhos pousaram em um asterisco que destacava uma das matérias.

Iniciação à Linguagem Encantada. - Sorri e encarei Percy que terminava de engolir seu último pedaço de waffle. - Aposto que ninguém aqui tem essa matéria na grade além de mim.

— É, Quíron teve de fazer alguns ajustes para você. - Percy limpou a boca com o guardanapo e se levantou. Me pus a seu lado e caminhamos em direção à área “escolar” do acampamento com a arena, os estábulos e alguns locais que nem ao menos eram citados nos livros. Vários semideuses já se encaminhavam para lá e Percy passou a sussurrar para que apenas eu ouvisse. - Não apenas por seus poderes de leitura, mas pela tal missão que se aproxima ele resolveu substituir algumas de suas matérias para que tivesse um maior foco nas lutas e estratégias além do aperfeiçoamento de seus poderes.

— Agora faz sentido a matéria Poderes Especiais e Habilidades.— Guardei o papel no bolso do short e encarei Percy com a sobrancelha erguida. - E que o professor seja você.

— Bem, essa não é uma matéria especialmente sua. Todos que chegam aqui e que descobrem algum poder especial possuem essa matéria na grade escolar e é treinado por alguém que saiba bem sobre seus poderes. E como sou o único filho de Poseidon por aqui além de você, vai ter que me aguentar como professor! - Ele sorriu desafiador e eu apenas revirei os olhos. Percy riu e me abraçou de lado. - Mais alguma pergunta?

— Só mais uma. O que seria aquela aula extra destacada no fim da folha?

— Ah sim. Todos aqui tem sua grade escolhida por Quíron, porém ele deixa em aberto uma das matérias durante toda a semana para que o próprio semideus escolha. Como você foi meio especial nesse ponto e Quíron escolheu todas as suas matérias, ele resolveu que no fim da semana você poderia substituir uma de seus aulas por outra da sua escolha. O cronograma de todas as aulas fica exposto na entrada da arena e depois você pode ir lá dá uma olhda.

— Finalmente um pouco de liberdade! - Suspirei e Percy alisou meus cabelos e olhou em meus olhos.

— Você sabe que tudo isso é para o seu bem. - Ele tirou um cacho de meus olhos e sorriu. - Ainda me arrependo de não ter treinado mais para minha primeira missão.

— Mas você se saiu super bem!

— Então imagina como você vai se sair se treinar duro e seguir sua grade a risca! - Ele piscou para mim e eu olhei para frente pensativa. - Nós queremos apenas sua segurança e a melhor forma é você aprender a se defender sozinha o quanto antes já que não temos a mínima ideia de quando a missão iniciará.

— Eu entendo. Mas espero sentir minhas pernas e braços no fim do dia! - Percy riu abertamente enquanto eu, com um mínimo sorriso, prendia os cabelos em um coque para não correr o risco de perder metade dele durante a aula. - Bem, onde fica a Sala de Armas? Minha primeira aula será lá.

— Vem, eu te levo.

Em poucos minutos estávamos em frente a um grande galpão cinza com uma porta metálica aberta por onde algumas garotas e garotos entravam conversando e brincando. A primeira aula seria Defesa e Ataque com armas de Pequeno e Médio porte, o que teria me deixado bem nervosa se a professora não fosse Piper. Uma primeira aula calma e de muita teoria com uma professora que vai pegar bem leve com alunos novos!”, pensei. Nunca estive tão enganada na vida!

— Está entregue! - Percy me abraçou e beijou minha testa ternamente. Acho que ele viu a ansiedade em meu olhar e minhas mãos suadas porque riu e afagou minha bochecha. - Hey, você vai se dar super bem, vai tirar de letra essa aula. Não precisa se preocupar.

— Espero que você esteja certo.

— E quando é que não estou? - Olhei para ele com a sobrancelha erguida e meu irmão bufou. - Ok, muitas vezes. Mas dessa vez prometo estar certo. E se não estiver, nós temos ambrósia!

— Isso é realmente bem animador! - Arregalei os olhos e Percy riu e me beijou na bochecha. - Então nos vemos as onze.

— Esteja em frente ao lago de canoagem. Nossas aulas começarão lá.

Ele se despediu e seguiu em direção a arena enquanto eu entrava no salão. Era enorme lá dentro e o chão era coberto por uma espécie de colchão de espuma gigante o que achei bem parecido aos tatemos do judô. As paredes eram claras e repletas de armas de diferentes tamanhos, apenas uma era coberta por um grande espelho como em um estúdio de ballet. Vários semideuses já se espalhavam pela sala, uns quinze no total, alguns admirando as armas, provavelmente novatos como eu, e outros treinando golpes. Andei silenciosamente, encarando as armas ao meu redor, e sentei no chão. A aula começava às seis, porém as cinco e cinquenta Piper entrou na sala e se encaminhou para o centro, bem em frente a mim. Todos se calaram e tomaram seus lugares no chão ao meu redor. Um garoto de cabelos castanhos e olhos caloroso me lançou um 'olá' e eu acenei em resposta enquanto algumas pessoas continuavam a conversar baixo. Piper pigarreou e todos se calaram de vez.

— Bom dia a todos. Como muitos já devem saber, eu me chamo Piper McLean e serei sua professora de Defesa e Ataque com armas de Pequeno e Médio porte. - Ela encarou cada um com ar profissional, mas ao me ver sorriu. - Mas antes de começarmos a aula queria apresentar a mais nova aluna, deem as boas vinda a Eduarda Swan. Espero que ela seja bem acolhida por vocês.

Os semideuses mais próximos de mim apertaram minhas mãos ou acenaram e eu sorri envergonhada. Ser a aluna nova era sempre um saco, mas me senti bem por ser tratada com tanto carinho. Depois das rápidas boas vindas Piper começou a aula da forma que eu imaginei: bastante teoria! Ela falou sobre as armas de pequeno porte e como muitas vezes elas se tornavam mais letais do que espadas ou lanças por serem discretas e fáceis de manusear. Para exemplificar tirou sua Katoptris de seu tahalís e mostrou-a a todos. Ela era brilhante e mortal, com uma ponta triangular e o cabo dourado reluzente o que fez todos os alunos ficarem de boca aberta. Piper começou a citar os vários tipos de adagas: única, dupla, espelhada, triangular, ondulada, entre vários outros.

— Então acho que está na hora de um pouco de prática. - Ela falou animada e de uma das paredes pegou algumas adagas de madeira.

Acho que foi aí que as coisas começaram a piorar pra mim. Ela nos mandou levantar e deu uma adaga de madeira para cada um, em seguida mostrou alguns golpes e nos fez repetir incansalvelmente até que aquilo ficasse como um filme em nossa cabeça. E se tudo tivesse parado por aí teria sido maravilhoso, mas ela decidiu formar duplas para que “testássemos nossas novas habilidades em uma simulação real”.

— Para começar Eduarda e Kelly venham para o centro.

Me ergui nervosa e uma garota de no máximo quatorze anos também se levantou. Ela sorriu timidamente e apertou minha mão quando nos postamos frente a frente. Era um palmo mais baixa do que eu e temi que pudesse machucá-a de alguma forma. Mas antes que protestasse Piper falou.

— Vocês devem usar os movimentos que ensinei hoje na aula, não apenas de ataque, mas também de defesa. Aquela que derrubar a oponente ganha ponto. Quem chegar aos cinco pontos primeiro vence. - Ela explicou como se fosse a coisa mais simples do mundo. Kelly nem pareceu se abalar, mas meu coração por dentro parecia a mil por hora. Piper encarou cada uma de nós. - Prontas? Comecem!

E eu fui muito bem durante os primeiros dois minutos até a 'garotinha' vir em minha direção agilmente e num piscar de olhos me imobilizar. No segundo seguinte eu estava caída no chão com os olhos arregalados e a respiração rápida. E quase tive vontade de bater em Percy por dizer que eu me daria super bem quando a mesma cena de imobilização e queda se repetiu durante minhas cinco tentativas. Piper gritava seu tutorial/discurso motivacional enquanto os risinhos pela sala aumentavam cada vez mais e a garota a minha frente me olhava com certa pena, acho que para ela eu era como um daqueles bonecos de plástico que vai e vem com um simples empurrão. Pelo menos era como eu estava me sentindo. Minha vontade era ficar ali deitada enquanto todos iam embora e o dia passava e não ter que olhar para a cara de nenhum dos meus colegas nunca mais,porém escondi meus desejos mais profundos e aceitei a mão estendida de Kelly. Me postei ao seu lado e ela me olhou e sorriu dando de ombros como quem diz: “Me desculpe por acabar com toda a sua dignidade e reputação antes mesmo que você criasse uma. Foi mal mesmo!”, mas vi sinceridade em seu olhar e apenas sorri de lado. Piper se colocou ao meu lado e, com as mãos na cintura, perguntou à turma que ainda escondia os risos.

— Então, alguém pode me dizer onde a Eduarda errou?

— Em tudo?

O risos aumentaram novamente e percebi que a resposta tinha vindo de uma garota alta e corpulenta no fundo da turma e a reconheci na hora, era uma das amigas de Chris, filha de Ares, que me imobilizou quando a brutamontes ia me bater. Raiva fervilhou dentro de mim e cerrei os punhos, mas antes que eu pudesse xingar a garota ou que Piper pudesse repreende-la uma voz aguda, porém bem clara surgiu da multidão.

— Ela estava bastante nervosa o que fazia suas mãos tremerem e os braços não ficarem posicionados da forma correta além das pernas que não ficaram firmes o que as tornava um alvo fácil para ser derrubada. E ela não ouviu suas várias dicas durante a luta, provavelmente por não estar bem acostumada a ouvir e lutar ao mesmo tempo.

Consegui achar a garota no meio dos alunos. Seu cabelo negro e sua pele branca se destacavam e ela nos encarava por entre sua franja que caia sobre os olhos. Sorri ao perceber que era Lucy, a filha de Afrodite que conheci quando fui acertada pelo pó da beleza. Ela sorriu de volta timidamente enquanto Piper tornava a falar.

— Muito bem Lucinda, resumiu perfeitamente. - Piper sorriu e mandou que eu e Kelly nos sentássemos novamente. - E que tal que você e Mavis venham mostrar um pouco do que aprenderam?

Lucy se ergueu e caminhou para o centro sendo seguida por Mavis, a filha de Ares que não ia muito com a minha cara. Se posicionaram frente a frente e quando Piper deu a partida elas começaram. Mavis era como um touro, confiava que sua força e brutalidade lhe dariam a vitória certa enquanto Lucy agia com calma e parecia dançar no tatame. Conseguiu desviar de todos os golpes da filha de Ares com facilidade e precisão e em pouco tempo o baque alto do corpo de Mavis sobre o chão foi ouvido por todos. Ela se ergueu com os olhos enfurecidos e se posicionou votando a lutar rapidamente. A raiva pareceu piorar seus movimentos e Lucy usou todos os movimentos da aula para derrotar a brutamontes pela segunda vez. Quando Mavis se ergueu juro que vi fumaça sair de seu nariz e, quando ia partir para cima de Lucy novamente, Piper interrompeu a luta.

— Nosso tempo acabou por hoje. Obrigada garotas, foi uma ótima demonstração. - Piper sorriu com seu carisma de sempre e dispensou os alunos que sairam rapidamente em direção a suas próximas aulas. - Nos vemos amanhã nesse mesmo horário.

Ainda pensava sobre minha estúpida derrota para uma garota de quartoze anos quando percebi que todos já haviam saído da sala. Me ergui e caminhei para a porta, porem fui impedida por alguém que me segurou pelo braço. Me virei e vi Piper com um sorriso calmo.

— Sei que não foi como você esperava e admito que errei ao colocar Kelly como sua oponente. Ela está no acampamento à três anos e uma de suas principais armas é a adaga. Achei que poderia ser uma motivação para você

— É, realmente estou me sentindo bem motivada depois de perder por cinco a zero de uma garotinha.

— Acredito que ao menos aprendeu a não julgar as habilidades de alguém por sua idade. - Suspirei e acenei com a cabeça. Piper sorriu ainda mais e segurou minhas mãos o que me transmitiu uma sensação de alegria, provavelmente por ela estar fazendo isso acontecer. - De qualquer forma acho que seja interessante que você treinei os golpes da aula também durante o intervalo. Sei que deve ser bem melhor com espadas ou até com seus outros poderes, mas é importante saber manusear todos os tipos de armas, mesmo que apenas de uma forma razoável.

— Tudo bem, mas como vou treinar sozinha?

— Tenho certeza de que se você chamar Lucy ela aceitaria de bom grado. - Ela soltou minhas mãos e piscou. - É uma de minhas melhores alunas e poderia te ensinar vários golpes.

— Com certeza vou falar com ela. Obrigada Piper.

Ela se despediu e eu corri em direção à saída. Com certeza estava bem atrasada para a pŕoxima aula. Enquanto corria tirei o papel dos horários do bolso e estava prestes a ver qual seria a próxima aula quando esbarrei em alguém. Meu papel voou e ouvi um barulho de metal a minha frente, o tilintar de que várias coisas caíram ao chão.

— Me desculpe, eu... - Me abaixei e apanhei meu papel enquanto começava a ajudar o estranho a juntar suas espadas que se espalharam pelo chão. Ele xingou baixo enquanto juntava a espadas rapidamente, mas ao ouvir minha voz ele riu.

— Sério Swan você tem algum fetiche em derrubar minhas coisas no chão? - Ergui os olhos e vi Nico com seu típico sorriso cínico. Lembrei da primeira vez que nos encontramos quando trombei com ele na saída do banheiro do colégio. Aquilo parecia ter acontecido a séculos atrás.

— Não tenho culpa se você sempre está no lugar errado, na hora errada! - Cruzei os braços enquanto o filho de Hades ajeitava as espadas sobre os braços com cuidado. Ele me encarou com cara de ofendido e eu apenas bufei. Sem discussões, nós eramos amigos. - Perdão Nico por derrubar suas espadas, é porque hoje é meu primeiro dia e já estou atrasada pra segunda aula. Então se me permite....

— Tudo bem, só não se esqueça do nosso encontro à tarde.

— Nosso o que? - Travei no lugar e encarei as orbes negras com os olhos arregalados.

— Sou seu professor, lembra? Nossas aulas são à tarde e não aceito atrasos. - Ele riu e me lançou seu olhar cafajeste. - Mas se por acaso estiver interessada em outra espécie de encontro também podemos marcar e...

— As duas estarei lá Nico! Até mais. - Cortei sua cantanda e corri em direção aos estábulos ouvindo a risada harmoniosa dele ao longe.

A próxima aula seria de Hipismos Voador e Jason seria o professor da vez. Cheguei aos estábulos ofegante e quando abri a porta estava tudo vazio a não ser por um cavalo na última baia. Antes que desse o primeiro passo um garoto surgiu as minhas costas.

— Hey, Jason avisou que pegasse seu pégasus e seguisse para o campo ao lado da plantação de morangos.- Ele sorriu e apontou para trás de si. - Estamos esperando lá, então se apresse.

Assenti e agradeci. Quando o garoto se foi andei rapidamente em direção a última baia e lá encontrei meu pégasus. Na verdade 'minha' pégasus.

—Lua! - Acariciei a cabeça da égua que relinchou e empurrou o focinho em meu pescoço. Abri a baia e ela saiu majestosamente. Seu pelo branco e cinza parecia brilhar e seus olhos azuis me encaravam com alegria. Cocei seu pescoço e ela mexeu o rabo cinza alegremente. - Eu disse que nos veríamos em breve!

Será que você trouxe um torrão de açúcar ou uma cenorua fresquinha dessa vez?”

Ouvi novamente a voz em minha cabeça, a mesma voz que ouvi da última vez que havia ido aos estábulos com Leo. Olhei admirada para Lua que me encarava com expectativa cavando o chão impaciente.

— Então foi você que falou comigo naquele dia! - Sorri e acariciei as assas macias e brancas da égua que ainda esperava minha resposta. - Me desculpa Lua, não trouxe nenhuma sobremesa para você hoje. Mas prometo que amanhã vou arranjar alguns torrões de açúcar.

Hum é melhor mesmo!”

— Não fique chateada. - Peguei sua cabeça e a encarei com os olhos tristes o que fez ela bufar e encostar o focinho no meu rosto. - Melhor assim! Agora temos que ir. Já estou atrasada até demais.

Lua seguiu na frente e eu parei apenas para pegar os arreios e outros equipamento de montagem e andei logo atrás. Andamos lado a lado em direção ao campo e logo vimos vários pégasus relinchando e se movimentando impacientes. Eu e Lua nos apressamos e quando cheguei Jason já estava quase no fim da explicação.

— Então fiquem firmes em seus pégasus e não se afastem muito do grupo, principalmente os novatos. - Jason andava de um lado a outro como se treinasse um exército. - Antes deem os torrões de açúcar a eles para que se sintam mais familiarizados com vocês. E para um melhor desempenho aconselho que em todas as aulas sempre fiquem com os mesmos pégasus.

Me postei ao lado do último garoto na fila horizontal de semideuses, o mesmo garoto que me chamara nos estábulos, e Lua se colocou ao meu lado. Tentei passar despercebida, mas acho que aparecer com um cavalo brilhante não é tão discreto assim e logo Jason voltou sua atenção para mim. Ao seu lado BlackJack estava deitado e parecia entediado até ver Lua e vir saltitando em direção a ela. Jason o seguiu e colocou um torrão de açúcar em minhas mãos.

— Como foi sua primeira aula?

— Péssima. - Supirei e mexi os torrões em minhas mãos enquanto BlackJack e Lua pareciam estar conversando. Me virei e sorri sarcástica para Jason. - Acho que bati o recorder de derrota mais rápida do acampamento. E cinco vezes seguidas!

— O primeiro dia é sempre difícil, mas sei que vai ser sair bem nessa aula. - Jason apontou com a cabeça para a égua que bufava para o cavalo negro enquanto este relinchava baixo. - A começar pela égua que te escolheu.

— Como você sabia que eu poderia monta-la?

— Bem, ela foi a última que restou já que não deixou ningueḿ chegar perto, então como você foi a última a chegar teria que dar um jeito de montar nela. - Abri a boca, pasma, e Jason riu abertamente de minha expressão. - Brincadeira. Leo me contou sobre sua afinidade com ela e como ela só deixava você toca-la. Então ela é toda sua!

— Acho que Lua é apenas dela mesma, não é garota? - Acariciei a crina da égua que relinchou. Ela deixou BlackJack de lado e empurrou o focinho em minha mão. Sorri e entreguei os tão amados torrões de açúcar que ela comeu de bom grado. Jason parecia maravilhado e eu limpei as mãos no short com um sorriso. - E então professor, quando vamos praticar?

— Agora mesmo! - Ele piscou e voltou para o centro do campo chamando BlackJack que caminhou ao lado do garoto com a cabeça baixa e bufando frustrado. Encarei o cavalo negro confusa e depois olhei para Lua que parecia entediada. Logo Jason chamou a atenção da turma novamente. - Então alunos, coloquem as selas e os arreios nos seus pégasus e montem. Passarei para ver se está tudo correto antes de começarmos a voar.

Peguei as rédeas e a sela que trouxera do estábulo e comecei a desenrolar. Aquilo parecia tão complicado quanto achar a ponta do meu fone de ouvido perdido dentro da bolsa.

— Arg, vou acabar colocando o lado da boca nas orelhas! - Bufei e continuei a tentar achar o fim da rédea quando uma voz irritada soou em minha mente.

Você não vai colocar nada em canto nenhum porque eu não vou usar nada disso!

— O que? Lua você ouviu o que Jason disse. - Falei ainda tentando encontrar o lado certo do arreio. Quando finalmente encontrei Lua empurrou-o de minha mão e deu um passo para o lado bufando. - Ah por favor! É só para que eu me sinta mais segura. Nunca voei na vida!

Você pode ler meus pensamentos e eu te digo o que deve fazer. Existe maior segurança que esta?

— Bem, não, mas...

Mas nada. Deixe esses instrumentos de terror de lado e suba logo!

— Tudo bem, sabichona, mas como vou subir se não tenho sela para me apoiar? - Coloquei as mãos na cintura e encarei Lua com as sobrancelhas erguidas e posso jurar que ela revirou os olhos.

Apoie as mãos nas minhas costas e dê um impulso. O resto é comigo.

Tá legal. - Apoiei as mãos nas costas da égua enquanto ela me observava atentamente. - Mas se você me derrubar....

Anda logo! Jason está quase chegando...

— Ok, calma.

Apoiei firmemente as mãos nas costas da égua e pulei, mas meus pés não voltaram a toca o chão pois Lua impulsionou minhas costas para cima e em um piscar de olhos eu estava sentada em suas costas. Não tinha reparado o quanto Lua era alta até ver que meus pés estavam a quase um metro e meio do chão. Engoli em seco, será que conseguiria voar? Lua pareceu sentir minha ansiedade e esfregou o focinho em minha perna me passando segurança. Acariciei sua crina e sorri. Quando levantei a cabeça vi Jason nos encarando com espanto misturado a raiva e os braços cruzados. Ele se aproximou batendo os pés.

— Você ficou maluca? Montar em uma égua selvagem sem arreios ou sela? - Ele estendeu a mão esperando que eu fosse descer, mas apenas segurei firme no pelo de Lua. - Vamos, desça agora.

— Jason, Lua não gosta de nada que a prenda e sei que vou ficar segura mesmo sem todo o equipamento.

— E como tem toda essa certeza?

— Porque eu posso falar com ela. - Revirei os olhos, aquilo não era óbvio? Mas Jason pareceu espantado e depois sorriu.

— Claro, como isso nem passou por minha cabeça? - Ele bateu na testa e bufou. - Você pode falar com os cavalos assim como Percy!

— Mas é claro. - Sorri e abracei o pescoço da égua. - Acho que foi um dos motivos para que ela me deixasse monta-la. Percy não a entendia como eu entendo, não é garota?

A égua relinchou e balançou a cabeça o que me fez segurar firme e arregalar os olhos. Quando percebeu meu resseio, Lua parou instantaneamente.

— Mas ainda assim é perigoso. É sua primeira aula de voo, não podemos arriscar que você caia ou se machuque de alguma forma. - E acho que ouvi em um sussurro “Nico me mataria se isso acontecesse...”, mas Jason logo ergueu a cabeça e negou com a cabeça. - Não posso permitir isso.

— Bem então temos que arranjar outro cavalo já que Lua se recusa a usar isto. - Apontei para os arreios e sela no chão. A égua chutou-os para longe para enfatizar minha fala. Olhei para Jason suplicante. - Ah, por favor. Eu sei que ela vai me proteger e, se fizer você se sentir melhor, eu passo a aula toda ao seu lado então se algo acontecer você me pega rapidinho, que tal?

— Hum, não sei.. - Ele me olhou questionador e fiz a minha melhor cara de cãozinho perdido. Jason riu e pegou os equipamentos jogados ao chão. - Tudo bem, mas você vai passar a aula inteira ao meu lado, entendido?

— Sim senhor, capitão – Bati continência e sorri. Jason guardou meus equipamento próximos a uma grande árvore e rapidamente montou em BlackJack. O grande alazão negro também não estava com nenhum equipamento preso a ela, mas com destreza o filho de Júpiter subiu nas costas dele e se voltou para a turma.

— Então, todos subam com calma. Não se distancie tanto. Hoje será mais um voo experimental para que vocês se acostumem com seus pégasus então nada de testar habilidades perigosas. Estarei de olho. Se preparem... e vamos!

Todos os pegasus começaram a bater as potentes asas ao mesmo tempo o que fez algumas partes da grama se desprenderem e voarem ao redor do grupo enquanto subíamos lentamente em direção as nuvens. Quando Lua saiu do chão me agarrei ainda mais firme a sua crina o que a fez protestar.

Hey, minha crina também é sensível então não puxe tanto assim.

Desculpe, mas isso aqui é mil vezes pior do que a decolagem de um avião. E olha que eu quase morria toda vez que eles iam decolar. - Abracei o pescoço dela impedindo que folhas e poeria entrassem nos meus olhos. Olhei para baixo e percebi que as pessoas começaram a se tornar pontinhos no chão o que me deixou enjoada.

Ok, mas não vomite em mim!

— Não prometo nada! - Respirei fundo e ergui a cabeça. E a cena a minha frente quase me fez esquecer da altura em que estávamos. As nuvens passavam acariciando minha pele e, mesmo que meus olhos lacrimejassem, pode ver os raios solares tão de perto parecia mágica. Suspirei e comecei a relaxar. Minhas mãos suadas escorregaram pelo pescoço da égua o que me fez apertar as pernas em torno do tronco dela. - Aqui é tão... espetacular.

Sim, sentia falta do vento batendo em minha crina e de sentir o sol tão perto e fascinanate. É como se aqui eu estivesse verdadeiramente...

— Livre! - Falei e ela pareceu acenar com a cabeça. Alisei seu pescoço e continuei a encara o horizonte. - Também me sinto assim.

Temos mais em comum do que pensei.

Sorri e antes que pudesse prosseguir a conversa senti um vento forte ao meu lado e vi um manto negro flutuando a centímetros de mim. BlackJack. Acima dele Jason me olhava calmamente, analisando todos os meus movimentos como se aquilo fosse um teste e ele gostasse do que visse.

— Tem uma boa postura para um iniciante. - Ele sorriu ergueu uma sobrancelha. - Tem certeza que nunca voou?

— Absoluta! - Olhei para o chão e respirei fundo. - Acho que lembraria se tivesse voado em um “avião” de quatro patas e sem paredes!

Jason gargalhou abertamente, seu cabelo loiro voando para trás com a brisa frsca da manhã.

— Bem, saiba que está se saindo muito bem.

— Obrigada. - Sorri. Um silêncio confortável se instalou entre nós enquanto observávamos os alunos voando a frente. Um garoto voava com perfeição, com certeza não era um novato. Já uma menina de cabelos loiros segurava as redeas como se fossem sua salvação e olhava constantemente para baixo. Ouvi Jason rabiscando em uma prancheta e a aguardando logo em seguidan em uma bolsa nas costas de BlackJack, provavelmente uma primeira avaliação sobre os alunos. Estava tudo calmo, mas meus pensamentos agitados e preocupados se aproveitaram daquele momento e encheram minha cabeça. Tanta coisa havia acontecido em tão pouco tempo e apenas ali pude realmente pensar sobre elas. Encarei Jason que parecia sereno e feliz mesmo com toda aquela vida maluca de semideus. Será que algum dia eu chegaria aquela paz?

— Jason, como foi sua primeira missão no acampamento? - Ele me encarou confuso e suspirei. - Claro que eu li sobre ela e sei cada pedacinho, mas o que você realmente sentiu? Isso nunca vai ser tão bem descrito em um livro como dito pela pessoa que viveu.

— Bem, não foi a primeira missão que tive na vida, então...

— É, eu sei. - Dei de ombros e apertei a crina de Lua quando desviamos de uma árvore alta no caminho. - Mas você tinha perdido a memória, então é como se fosse sua primeira missão. - Suspirei e encarei Jason fixamente. - Eu apenas não consigo parar de pensar sobre a tal missão, o vilão que parece ser o cara mais poderoso do universo e o que ele pode estar querendo comigo. Minha cabeça está prestes a explodir!

— Hey, calminha. - Ele estendeu a mão e tocou meu braço. - Olha não é errado se sentir nervosa ou até com medo. Eu me senti da mesma forma quando saí com Leo e Piper em missão. Isso pode ter ficado bem mascarado no livro porque sempre damos nosso melhor apesar dos medos e incertezas. E isso foi suficiente até agora e acredito ser isso que importa. A coragem não é ausência do medo, mas é saber que ele está lá e você está pronta para enfrenta-lo por motivos maiores.

— Nossa, você já pensou em ser poeta? - brinquei e Jason riu e afagou meus cabelos.

— Apenas saiba que todos passamos por isso, mas sempre temos algo para nos dar força. Na maioria das vezes, alguém. - Ele piscou e eu enrubeci involuntariamente. - No meu caso foi Piper que me fazia querer enfretar meus medos. No de Percy com certeza Annabeth. Sempre foi assim e dessa vez não vai ser diferente. Não importa o vilão que apareça, sempre daremos nosso melhor para proteger aquilo que amamos pois eles são nossas âncoras e sem eles ficamos sem rumo algum.

— É, salvar o mundo é um ótimo motivo para mim. - Sorri e apoiei os braços no pescoço de Lua. - Já que não tenho esse tipo de “âncora” como vocês.

— Sei que Nico não poderia dizer o mesmo sobre você. - Ele tentou sussurrar, mas estava tão próximo que ouvi claramente cada palavra.

— Como assim? - Olhei confusa para o loiro. Com certeza Nico não via nada de 'pessoal' em mim, eramos amigos e este é o mais pessoal que podíamos ser. Mas porque todos resolveram insinuar algo a mais naquele bendito dia?

— Não me diga que não percebeu? - Ele me olhou estupefato e eu neguei com a cabeça. Do que diabos ele estava falando? Jason revirou os olhos e riu. - Acho que ser lento é um genes de Poseidon com certeza!

— Hey, não vou admitir ser chamada de lerda duas vezes no mesmo dia!

— Duda, você é a âncora de Nico. Isto ficou bem claro para todos nós na reunião de ontem. - Ele encarou os alunos a frente. Eu apenas me calei, pensando naquela simples frase e no porque dela ter feito meu coração dar um salto. Quando viu que tudo estava certo, ele voltou a falar. - A forma preocupada e protetora que ele agiu foi apenas mais um sinal. De uns tempos para cá ele anda feliz e sorridente, o que é bem estranho já que seus antigos sorrisos significavam que algum plano bem macabro estava rondando aquela cabeça. Claro, ele ainda não é como um filho de Hermes, todo solto e extrovertido, mas posso garantir que ele está diferente, uma nova pessoa. E que coincidência isso ter acontecido na mesma época que você chegou ao acampamento!

— Com certeza uma estranha coincidência. - Minha mãos começaram a suar e me senti ansiosa novamente, só que dessa vez não era pela altura ou pelo voo. O que estava contecendo comigo? Respirei fundo e tentei pensar racionalmente. - Como eu poderia mudar alguém como ele? Cabeça dura, egocêntrico, sarcástico. Com certeza ele mudou por causa de alguma garota que está bastante interessado, mais do que das comuns que ele sempre fica.

— Concordo com você – Ele sorriu de lado e piscou. - A nossa diferença é que sei claramente quem é essa garota. - E me olhou fixamente como se apontasse a resposta. Corei instantaneamente

— O-o-o que? - Porque essa droga de gaguejo sempre aparecia nas horas mais inoportunas? Suspirei e baçancei a cabeça freneticamente. - Não, isso não tem nada a ver. Somo apenas amigos. Claro, do tipo que briga bastante e quase se mata constantemente, mas amigos. Somente.

— E não é isso que todos nós dizemos no começo? - Ele me olhou carinhosamente e aquilo pareceu um tapa na minha cara.

Pisquei ainda digerindo a conversa e Jason se afastou para ajudar um garoto que ficara com o pé preso na sela. Meus pensamentos pareciam um tsunami enquanto eu era a garotinha que ficava gritando na beira da praia, totalmente indefesa. Não, Percy e Jason estavam enganados, Nico tinha mais garotas na sua lista de ficantes do que eu tinha calças compridas no guarda roupa. E eu nunca aceitaria ser mais uma na lista. Amizade era o máximo que eu e Nico podíamos ter, mas porque todos pareciam entender que havia algo a mais? Minha confusão mental foi interrompida por uma voz que soou alta e sarcástica em minha cabeça.

Hum, então você tem um “anjo” da guarda?

Sabia que é falta de educação ouvir a conversa alheia. Lua? - Cruzei os braços, sem lembrar que estava a mais de trinta metros de altura, e encarei minha égua com os olhos cerrados.

O que fazer se minha audição é extremamente aguçada? Acabei captando partes sobre seu namorado...

— Ele não é meu namorado! - Gemi frustrada e apoiei a cabeça no pescoço de Lua enquanto ela dava a volta. Percebi que Jason mandara que todos voltássemos para o ponto de partida enquanto ele tomava a dianteria do grupo. Deixei que Lua guiasse enquanto conversávamos. - Porque ninguém parece entender isso?

Deve ser porque, pelo que entendi, ele com certeza não te considera apenas como uma “amiga”.

— Pois estão todos errados! - Deixei que meus dedos passeassem pelos pelos brancos de Lua enquanto pensava. - Você não entende, não o conhece. Ele não é o tipo de cara que se apaixona, que se prende. Ele ama a liberdade e não quer perder isso para uma garota só. Já eu procuro alguém certo, não quero ser mais uma na vida de ninguém. Por isso somos tão contrários..

Mas é aquela história sobre os opostos....

— Digo o mesmo sobre você e BlackJack. - Mudei o foco da conversa o que fez o bom humor de Lua mudar drasticamente. - Feno agridoce com torrões de açúcar para um encontro romântico! Ele sabe agradar...

O que aconteceu com a história de ser feio ouvir a conversa alheia?

— Tenho pensamentos aguçados, fazer o que? - Sorri de lado e Lua franziu a testa me olhando de lado. - Mas porque não dar um chance a ele? Ele parece realmente gostar de você.

E de todas as outras pegasus do estábulo! Aquele cavalo é completamente egocêntrico, cheio de si desde que ajudou a salvar o Olimpo. Com suas piadinhas sarcásticas e seu jeito galanteador...

Nossa, quase um Nico que tem asas e relincha! - Gargalhei e ouvi Lua relinchar e bater os cascos contra o vento. Suspirei e me segurei no pescoço da égua quando começamos a descida para o terreno próximo ao compo de morangos. - Realmente Lua, temos mais em comum do que imaginávamos.

Os cascos de Lua tocaram o solo assim como os dos outros pegasus que voltaram a formar uma fileira em frente a Jason. Lua se abaixou e pulei para o chão, ainda com as pernas dormentes por ficarem tanto tempo paradas. Os outros alunos desceram e esperaram as instruções de Jason. Este sorriu e juntou as mãos atrás das costas.

— Estou bastante satisfeito com o resultado de hoje. A não ser por pequenas falhas, acredito que este grupo será um dos melhores que já possuí. - Ele encarava cada um com admiração e quando pousou seus olhos em mim deu uma piscadela. - Por hoje estão dispensados. Levem seus pegasus para as determinadas baias e guardem seus equipamentos. Nos vemos amanhã.

Todos seguiram para os estábulos conversando e rindo, alguns contando sobre o medo de altura, outros se gabando por terem sido elogiados pelo professor. Apenas peguei meus equipamentos perto da árvore onde Jason os havia jogado e caminhei lado a lado com Lua. Respirava o ar limpo do acampamento enquanto ouvia os cascos de Lua no chão até chegarmos ao estábulo. A maioria dos pegasus já estavam em sua baias, segui com Lua para onde a havia encontrado e guardei as rédeas e a sela. Ela entrou e se virou para mim com seus olhos azuis como um céu ao amanhecer. Fechei a portinhola e acaricei seu focinho.

— Até amanhã, Lua. - Beijei a testa da égua que relinchou e lambeu minha mão. - Não caia nas cantadas do senhor Jack!

Digo o mesmo sombre seu Anjo...Se cuida, garota.”

Acenei me despedindo e segui para fora do estábulo. Era intervalo e várias pessoas já enchiam o Refeitório e a Fogueira. Caminhei a passos lentos, meus braços doloridos pelas derrotas nas aulas de Piper e as pernas bambas por tanto tempo na ar formavam o pacote do cansaço e eu queria apenas me deitar e dormir até o dia seguinte. Mas o intervalo era de apenas uma hora. Meus ombros caíram e caminhei vagarosamente em direção a um grande carvalho até ver alguém descansando ali. Os cabelos negros esvoaçantes e os olhos claros observavam tudo ao redor como se procurasse por algo. Lucy parecia calma e relaxada. Me lembrei do conselho de Piper, apesar do cansaço era preciso melhorar minhas habilidades quase zero com adagas e bem ali estava quem poderia me salvar. Corri o máximo que minhas pernas deixaram e cheguei ao carvalho um pouco ofegante.

— Hey, Lucy! Que bom que te achei. - Respirei fundo com as mãos sobre os joelhos e encarei a garota a minha frente. Ela parecia confusa, mas um sorriso caloroso estava preso em seus lábios o que me deu coragem para prosseguir. - É... hum... bem... Acredito que tenha visto minhas humilhantes cinco derrotas na aula de adagas de hoje. Sou péssima nisso e Piper achou que fosse melhor eu praticar durante os intervalos já que saber manejar uma adaga pode ser bastante importante para minha miss.... vida! Então ela pediu para que falasse com você, saber se poderia me dar algumas dicas e me treinar em algumas partes... Mas se não puder eu entenderei, você deve ser bem ocupada e fazer muitas coisas importantes como sentar aqui e fazer o que quer que você estivesse fazendo então acho que....

— Opa, calminha! - Ela ergueu as mãos e eu me calei de imediato. Mais uma vez falara demais, como sempre quando estava nervosa. Lucy ainda sorria o que me pareceu um sinal de que não estava irritada com meu falatório. - É Eduarda, não é?

— Duda... pode me chamar de Duda. - Estendi a mão e ela apertou amistosamente. - Nos conhecemos naquele dia em que fui atingida pela maquiagem voadora.

— Oh sim. Mais uma vez, mil desculpas. Meus irmãos ainda não se cansam de tentar me tornar uma Barbie. - Ela revirou os olhos e eu sorri. - Bem, eu realmente tenho tempo livre no intervalo então se quiser podemos começar os treinos hoje.

— Sério? - Arregalei os olhos e ela acenou se erguendo com um livro em mãos. Virei o pescoço e vi a capa. Orgulho e Preconceito. - Você não sabe o quanto sou grata! E quem sabe nós até não podemos conversar sobre Jane Austen e seu livros fantásticos?

— Ela também é sua autora favorita? - Acenei com um sorriso e Lucy me puxou pelo braço começando a falar de todos os livros que amava da autora como se já fóssemos velhas amigas.

Me senti leve como se conversar sobre livros favoritos fosse a parte normal e intocada da minha vida onde a loucura de monstros e deuses não podia destruir. Segui Lucy até chegarmos na parte de trás dos chalés. Ela colocou delicadamente o livro sobre a grama seca e pegou um galho do chão.

— Escolha sua arma. - Ela apontou para os diversos galhos espalhados pela grama. Ergui a sobrancelha e ela suspirou. - Vamos, não temos o dia todo!

Dei de ombros e escolhi um galho forte e mediano, parecido com o dela. Na hora que empunhei o galho Lucy veio contra mim com movimentos rápidos que fizeram minha “arma” recém adquirida ser jogada ao chão. Olhei supresa para a garota a minha frente.

— Isso foi totalmente injusto. Eu não estava preparada!

— E você acha que os monstros vão pensar se está preparada ou não? - Ela soprou um fio negro para longe dos olhos e voltou a sua posição anterior. - Você deve sempre estar alerta. Aliás levante os braços e pare de tremer as pernas. Firme os dedos contra sua adaga como se ela fosse parte do seu barço.

— Mas é um galho!

— Não na nossa aula. - Ela sorriu sombriamente e se posicionou pronta para o ataque. - Aqui ele é uma arma mortal. Então em posição..

Tentei me firmar o melhor posível quando Lucy voltou a investir contra mim. E assim passamos quase trinta minutos. Claro que na maioria das vezes eu estava caída sobre a grama e Lucy com sua adaga de madeira pressionando meu pescoço, mas admito que aprendi bastante sobre posições, vulnerabilidade e agilidade. Lucy era uma ótima professora, tanto que em um momento consegui me defender de sua investida o que a fez sorrir orgulhosa.

— Muito bem! - Até que uma voz ao longe tirou nossa atenção. Ergui a cabeça e vi os cachos acobreados de Leo enquanto ele acenava em nossa direção e seguia o seu caminho em direção as Forjas. Acenei de volta e rapidamente voltei minha atenção para Lucy, pronta para mais um ataque, mas ela continuava sorrindo bobamente e seguindo Leo com o olhar. Sua mente estava longe e aproveitei a oportunidade para dar uma rasteira na garota que aciu assustada na grama. Encostei meu galho no pescoço dela e sorri vitoriosa.

— Touche! - Ela me encarava perplexa , mas logo sorriu e estendeu a mão que segurei e a puxei para cima.

— Não teria vencido se não estivesse distraida. - Ela ajeitou os cabelos rapidamente e, de relance, encarou novamente o camino que Leo seguira.

— É, quem sabe se um certo Valdez não tivesse roubado seus pensamentos... - Caminhei ao redor da morena com os braços cruzados e sorri zombeteira. - E o seu coração!

— O..o que? - Ela ficou escarlate e mexeu nos cabelos nervosamente. - Não foi nada disso. Claro que ele me distraiu, mas qualquer um que tivesse aparecido e gritado do nada teria me distraido , não foi especificamente um garoto bonito e forte que me distraiu.... - Ela se enrolou com as palavras o que me fez sorrir ainda mais. - Qualquer pessoa teria me distraido, fim!

— Por favor Lucy, tá na cara! - Abracei a garota de lado e segui com ela de volta para o coração do acampamento onde a movimentação estava intensa com o fimdo intervalo. - Não é de hoje que percebo como fica quando olha para Leo. Porque não fala logo com ele?

— Duda ele nem mesmo me vê dessa forma! - Ela abaixou a cabeça o que fez os cabelos negros cobrirem o rosto completamente. - Acho que sou apenas a colega do acampamento que el acha engraçada e simpática, apenas isso.

— Você nem sabe se isso é verdade! - Falei exasperada e tirei o cabelo do rosto da garota. Lucy era linda, com os cabelos como um mar negro ao redor da brancura da face. Os olhos brilhantes e amigáveis. Sorri e apertei sua mão. - E nunca vai saber se não tentar. Leo ainda está se curando de uma decepção amorosa e acho que um ombro amigo como o seu pode ajudar.

— Bem, acho que ele vê mais você como um ombro amigo do que eu!

— Eu? Ah,bem, sim nos tornamos bons amigos e confio nele cegamente... - Ele me encarou com a sobrancelha erguida e entendi sobre o que falava. - Mas não dessa forma! Não penso em Leo como nada mais que um amigo e ele com certeza pensa da mesma forma sobre mim. Já falamos sobre isso, além do mais já tenho problemas demais com amigos que parecem ser mais que amigos. - Bufei e Nico logo invadiu meus pensamentos.Balancei a cabeça e encarei Lucy. - Leo não é um desses. Então pode correr pro abraço!

— Você acha? - Aceinei frenticamente o que fez Lucy sorrir. Suas bochechas ainda rubras a deixavam ainda mais delicada. - Mas como vou fazer isso?

— Bem comece conversando mais com ele, Leo adora conversar. Ria de suas piadas, mesmo que muitas vezes elas não sejam tãos boas assim, e se interesse pelas criaçoes dele. Acho que esse é um bom começo

— Mas tudo isso eu já faço! - Ela falou baixinho e só ouvi por estar bem perto. Ela ergeuu a cabeça com um sorriso tímido. - Sempre amei suas piadas e suas criações são magníficas. Mas sempre fiz tudo isso de longe.

— Então está na hora de chegar perto, garota! - Pisquei e sorri e Lucy retribuiu. - Não perca mais tempo! Ele é um cara super legal e pode ter certza que shippo muito esse casal.

Shippo?

— É uma expressão. - Sorri com confusão de Lucy. - Quer dizer que torço por você dois.

Ela enrubesceu mais uma vez e eu a abracei.

— Foi ótimo treinar com você, obrigada por tudo. - Ela apenas acenou envergonhada. - Nos vemos amanhã?

— Mas é claro. Nos mesmo lugar. - Ela cruzou os braços e não parecia mais a garota tímida de antes. Estava decidida e sorria com deboche. - E não ache que amanhã vencerá de mim tão fácil!

— Esperando ansiosa por isso!

Me despedi de Lucy e tirei mais uma vez o horário do bolso. O papel pardo dizia que minha próxima aula seria de Iniciação à Linguagem Encantada. Como não dizia uma lugar exato resolvi seguir para o chalé de Atena, já que minha professora era a líder de lá. Em pouco tempo me vi diante da porta do chalé e antes que batesse alguém abriu a porta. A loira de olhos cinzentos me recebeu com um sorriso e me abraçou carinhosamente.

— Bem na hora! - Ela carregava um livro nas mãos e fechou a porta do chalé rapidamente. - Vamos?

Segui Annabeth pela floresta até chegarmos a praia. Mas diferente daquela que eu conhecia, e que ainda me dava calafrios por conta do crocodilo gigante, aquela parte da praia parecia deserta como se a tempos ninguém fosse por lá. Ele se sentou em uma grande rocha e bateu ao seu lado para que eu fizesse o mesmo.

— Sendo essa nossa primeira aula de uma matérias nunca antes vista, resolvi que devemos começar com um resumo do que já sabemos. - Ela falou em seu tom prático enquanto eu sentava ao seu lado. - Seu dom é tornar o real tudo o que você lê em voz alta nos livros oficiais, o que não funciona com manuscritos amadores.

—Sim, a não ser que seja usada a tal Caneta Encantada. - Resaltei e Annie afirmou. - Nunca testei, mas pelo que Quíron falou ela torna qualquer escritura oficial.

— É. - Annie parou por um instante provavelmente pensando em todo o problema que o sumiço da caneta poderia causar, mas logo se recompos e me encarou. - Bem, sabemos que você já consegue ler seres vivos para fora dos livros e traze-los com perfeição. E por falar nisso, cadê Totó?

— Verdade. - Confusa, olhei ao redor lembrando que não via Totó desde a noite anterior quando ele correu para o quarto e se enfiou sob minha cama para dormir. - Ele sumiu hoje pela manhã.

— Provavelmente já se tornou o mascote do acampamento. - Annie sorriu e parou por um segundo mordendo uma caneta que trouxera. Percebi que além do livro ela trouxe consigo um pequeno bloco de notas. Seus olhos se iluminaram e ela tocou meu braço. - Duda, pense em Totó, vizualize-o com os maiores detalhes que conseguir e depois pense onde estamos como se quisesses informar a ele onde nos encontrar.

Encarei Annie confusa, mas fiz o que ela pediu. Fechei os olhos e imaginei Tot[o detalhadamente logo em seguida pensei na praia e na rocha onde estávamos. As ondas quebrando e o vento salgado bagunçandos meus cabelos não conseguiram me distrair. Quando terminei abri os olhos, mas tudo continuava igual.

— Pensei, mas o que era pra...?

Logo um latido foi ouvido e do meio das árvores uma bolinha de pelos preta saiu saltitando e pulou na rocha onde estávamos, entre eu e Annie. Assustadas, segurei o cãozinho que se sentou e lambeu minha perna logo em seguida encarando Annie que sorria radiante, como se tivesse acabado de descobrir um achado histórico a muito procurado.

— Eu estava certa!

— Mas como você...? - Olhei de Totó para Annie confusa e ela anotou algo no caderno ainda com o sorriso no rosto.

— Foi apenas um palpite. Se foi você que o trouxe para a vida real, provavelmente teria algum tipo de ligação com ele. Como criador e criação. - Ela piscou para mim e sorri quando entendi seu experimento. - E eu estava certa! Mais uma parte de seu poder descoberta. Então, mãos a obra.

Annie me entregou o livro que trazia e me animei ao ler o título. O Pequeno príncipe. Como queríamos começar com o básico Annie pediu para que eu lesse a parte sobre a amada rosa do pequeno príncipe e assim o fiz. Ao finalizar a leitura uma bela rosa surgiu entre os musgos da rocha em que estávamos. Era linda e idêntica a rosa citada no livro. Annie bateu palmas e anotou em seu bloco cada detalhe falando sobre a textura da rosa, a cor e em como ela não era nada diferente das rosas comum, pelo contrário, parecia ainda mais mágica do que as outras, mais viva. E assim passamos a nossa hora de aula. Annie me dando algumas dicas como melhor minha dicção em algumas palavras ou aumentar o timbre em outras e eu acatando a todso os seus pedidos e treinando mais e mais meu poder. No fim, o bloco de notas já estava completamente cheio e Totó dormia entre minhas pernas. Annie sorriu satisfeita e guardou a caneta no bolso.

— Foi uma aula bastante proveitosa. - Ela se levantou e fiquei em pé ao seu lado. Totó acordou e pulou para a areia balançando o rabo. - Apenas uma última pergunta. Você se sentiu diferente após a leitura, cansaço ou algo parecido?

— Não. - Pensei em como minha avó disse que era comum que nos sentíssimos exaustas depois de trazer algo para fora dos livro e quanto maior esse algo, mais energia nós gastávamos e mais cansadas ficávamos. Encarei Annie curiosa. - O que é bem estranho. Ler coisas sem vida ou até mesmo pequenos seres vivos, como flores e insetos, não gasta tanta energia. Mas é comum aos Língia Encantadas ficarem exaustos ao lerem eventos gigantescos ou catástrofes naturais, mas não me senti assim quando matei aquele crocodilo com a erupção.

— Bem, não sei dizer o porque, o que é algo bem raro para mim. Quem sabe sua parte deus consegue suprir parte de sua energia. - Annie caminhava pensativa em direção a acampamento e eu apenas a segui calada.

Pensando bem eu era um caso raro até mesmo entre os Língua Encantadas. Não sabia na história de nosso povo algum que também fosse parte deus como eu. Mas o que isso significava?

— Pode ser. - Suspirei e chutei uma pedrinha no caminho a qual Totó fez questão de buscar e voltar para mim com o rabo abanando. Sorri e joguei novamente.

— Mais uma coisa para descobrirmos nas próximas aulas. - Ela me olhou de lado e sorriu quando chegamos novamente ao Refeitório. - Nos vemos amanhã. Boa aula.

— Obrigada.

Annie sumiu entre os chalés e eu caminehi a passos largos em direção ao lado de canoagem. A próxima aula seria com Percy e com certeza ele já deveria estar me esperando. Como previsto, mal cheguei ao lago e Percy me surpreendeu com uma abraço apertado e um beijo estalado e molhado na bochecha.

— Ah Percy, deixe baba apenas no seu travesseiro! - Limpei o rosto do beijo melado proposital e Percy riu bagunçando meus cabelos.

— E então? Como foram suas aulas?

— Até agora? - Ele parecia animado e eu apenas sentei na grama respirando fundo. - Sobrevivendo. Acho que chego ao fim do dia com pelo menos trinta por cento do meu corpo ainda sensível ao toque. O resto vai estar quebrado.

— Deixa de ser exagerada! - Seus olhos verdes pareciam esmeraldas quando o sol refletia e seu sorriso era gigante. - Agora pode ir se levantando. Já perdemos quinze minutos de aula.

Gemendo me levantei e caminhei com Percy para a beira do lago. Ele mandou que eu tirasse o tênis e assim o fiz. Entramos no lago, a água gelada chegando a metade de minhas coxas,e Percy se posicionou a minha frente.

— Hoje começaremos com movimentos básicos. - Ele formou uma pequena bola de água e me atingiu em cheio no rosto o que me deixou perplexa. - Ataque.

Peguei a água com as mãos, como uma criança birrente, e joguei nele que apenas ergueu uma coluna de água e se protegeu do meu “ataque” idiota com um sorriso vitorioso nos lábios.

— Defesa. - Quando tentei repetir o ato a água se prendeu em minhas mãos como correntes e fiquei imóvel encarando Percy com uma mistura de raiva e confusão. - E antecipação ao ataque. Pronta?

A água me soltou e começamos a aula, mas não antes de eu empurra-lo para o fundo do lago com todas a minhas forças. Percy me ensinou a fazer a bola de água e como sustenta-la para o ataque, como criar a coluna de água e a tornar tão resistente quanto um escudo de aço e também as formas de antecipar o ataque do oponente, prendendo braços, pernas ou até mesmo puxando para o fundo do mar. Aprendi rapidamente tudo o que me ensinava, o que deixou Percy fascinado. O tempo passou tão rápido que quando a aula acabou eu quase me senti frustrada. No fundo aquilo era um sonho se tornando realidade, se a algum tempo atrás alguém dissesse que eu era semideusa, filha de Poseidon e que eu estaria treinando com Percy Jackson meus poderes, com certeza enternaria esse alguém na hora, mas ali estava eu, aprendendo a dominar a água como um verdadeiro Avatar. Sorri com o pensamento emquanto saía do lago.

— O que foi? - Percy me questionou e eu dei de ombros torcendo o cabelo.

— Nade demais. Só algo que me lembrei. - Olhei para mim, completamente encharcada, e ergui os braços. - Próximo passo, ficar seca.

— Ainda lembra como? - Percy falou desafiador e apenas respinguei meus cabelos molhados nele e fechei os olhos, me concentrando como da última vez.

Senti as gotas de água saindo aos poucos de meu corpo e logo uma bolha de água havia se formado a minha frente. Apenas guiei-a ao lago e soltei sobre ele. Percy piscou, sorriu para mim e fez o mesmo. Logo estávamos secos, calcei os tênis e fomos almoçar. Todas as aulas já haviam terminado quando chegamos ao centro do acampamento. Os semideuses enchiam o lugar com conversas e risadas e muitos já serviam o almoço. Percy e eu seguimos para nossa mesa e pedimos um verdadeiro banquete onde apresentei Percy ao churrasco brasileiro que ele devorou sem demora.

— Com certeza... - Ele falou ainda com a boca cheia de carne e batata frita. - o Brasil entrará na lista de países obrigatórios para se visitar.

— Se a comida te fascinou imagine as festas. - Sorri com os olhos brilhantes de Percy e a boca suja de molho. - E as praias te deixariam de queixo caído.

— Acho que fico com as festas. - Uma voz grave e calma entrou na conversa. Quando ergui os olhos vi Nico encostado em nossa mesa com Totó em seus braços parecendo bem confortável. Ele me olhou lentamente com um sorriso no rosto. - O Carnaval principalmente. Daria tudo para ver você desfilando Swan...

— Não acha que está andando muito com os Stolls, não? - Perguntei com um sorriso irritado e Nico apenas piscou me deixando com ainda mais raiva, ele era bom nisso. Percy nos observava confuso e apenas encarei meu cachorro nos braços do filho de Hades. - E o que você está fazendo com o meu cachorro?

— Acho que ele está mais para nosso cachorro já que passa tanto tempo no meu chalé quanto no seu. - Ele acariciou a barriga de Totó que latiu feliz. Percy me encarou com um olhar desconfiado como se dissesse “Apenas amigos? Sei...” que eu ignorei já que minha bochechas começavam a ficar rubras. - E foi lá que o encontrei.

— É, tenho que ensina-lo a não andar em certos lugares....

Nico me olhou exasperado e sorri vitoriosa por conseguir irrita-lo. Mas ele logo voltou ao normal e aproximou seu rosto do meu por sobre a mesa. Parei, com o garfo preso na carne em direção a minha boca, teantado disfarçar o nervosismo que senti apenas por aqueles olhos negros me encararem fixamente.

— Sou seu professor nas próximas duas aulas. - Ele se afastou com seu sorriso cínico que fazia meu estômago embrulhar. - Então é melhor ser boazinha!

Percy, que parecia surpreso com a atitude tão direta de Nico, logo se recompos e soltou o garfo sobre o prato com sua carranca protetora.

— Você está ameaçando minha irmã, di Angelo?

— Acho que já passamos dessa fase, não é Jackson? - Nico piscou e rapidamente roubou a carne de meu garfo e pôs na boca. Soltei o garfo sobre o prato e cruzei os braços e Nico apenas acenou já se distanciando com Totó nos braços, mas não sem antes soltar uma de suas provocações. - Até logo Swan, não esqueça de nosso encontro as duas. Estarei ansioso...

Revirei os olhos vendo o cabelo do filho de Hades ser bagunçado pelo vento enquanto ele seguia em direça à arena. Nico me tirava do sério de uma forma supreendente, tanto que me dava vontade de arrancar cada fio daquele cabelo negro e ao mesmo tempo de passar os dedos pelas mechas macias e puxa-lo para perto e .... Meus pensamentos bipolares foram interrompidos por um suspiro alto de Percy.

— Ah cara, Nico roubou minha irmã!

— Não Percy, essa conversa de novo não! - Me levantei em um salto com o prato de comida pela metade. Percy riu e também se levantou com seu prato. - Acho que se mais alguém insinuar algo sobre eu e o di Angelo não vou me conter!

Caminhamos lado a lado em direção à fogueira para oferecermos nossa comida. Era minha primeira vez então cheguei perto e despejei o alimento do prato fazendo uma silenciosa oração. “Pai, se estiver escutando, apenas... apenas me ajude nessa missão. Não sei o que fazer e quero apenas a segurança de meus amigos. Não quero mais ninguém se machucando por minha culpa, não aguento se algo assim acontecer de novo!”. Abri os olhos e vi as chamas da Fogueira se tornarem azuis antes de voltarem ao normal, ele me ouvira. Deixei meu prato sobre a mesa e observei meu irmão fazer sua oferta. Percy se aproximou avisando que iria se encontrar com Annie, assenti e segui para o chalé. Meu corpo inteiro doía e apenas um bom banho na banheira gigante podería me deixar novinha em folha. Cheguei ao chalé e logo tirei a roupa, caindo na banheira e sentindo a água cobrir meu corpo e me acalmar. Respirei fundo quando terminei o banho e vesti roupas limpas e confortáveis. As próximas aulas seriam de espadas e luta corporal, ou seja hematomas por toda parte! Encarei o relógio na parede e sorri satisfeita ao ver o ponteiro indicar doze e meia.

— Acho que um cochilo não faria mal a ninguém....

Deitei na cama e me abracei aos travesseiros sentindo minha mente viajar ao mundo dos sonhos. Por sorte nenhum pesadelo, mas fui acordada cedo demais por uma voz suave que repetia a mesma frase.

— Acorda Swan! - A voz se tornou mais grave enquanto mãos me chacoalhavam freneticamente. Acordei assutada.

— Adeus Alice! - Falei ainda sonolenta e vi um par de olhos negros me encarando com curiosidade. Me senti na cama rapidamente. - Nico! O que faz aqui?

— Quem é Alice? - Ele me olhou confuso sentado ao meu lado na cama. Encarei o filho de Hades de cima a baixo, sua roupa completamente preta era colada e delineava seu corpo perfeitamente, uma roupa feita para batalhas, o que me fez lembrar de livros que lera a pouco tempo sobre caçadores de demônios com beleza de anjos, mas tão mortais quanto os monstros que caçavam. Acho que Nico se encaixava perfeitamente na descrição. Ele continuava a me encarar esperando uma resposta.

— Alice? Não sei... acho que foi de algum sonho... não lembro agora. - Forcei a mente, mas nada apareceu. Suspirei e me levantei. As roupas amarrotadas e os cabelos desgrenhados, parecia que eu acabara de sair de uma lavadora de roupa! Encarei Nico tentando conter meus cachos rebeldes. - Mas repetindo o que faz aqui?

— Vim lhe lembrar sobre a aula. - Ele olhou para o relógio na parede e depois me encarou. - Da qual você está atrasada.

Encarei o relógio que indicava duas e dez. Olhei para Nico com a sobrancelha erguida.

— Dez minutos? Foi isso que fez você sair da sua aula pra vir me acordar?

— Seriam bem mais se eu não tivesse saído para te acordar! - Ele se levantou e me puxou até a porta. - Vejo que já está vestida. Então vamos?

Me soltei das mãos de Nico não apenas por ser completamente desnecessário que fosse levada como uma criança como também por sentir coisas estranhas no estômago quando ele me tocava. Apenas caminhei ao lado do garoto que seguiu em direção à arena. As portas de ferro estavam abertas revelando uma porção de semideuses que se alongavam ou treinavam com espadas de madeira. Nico se afastou descendo as escadas rapidamente e se postando na frente do grupo enquanto eu ainda descia os degraus lentamente. Naquele momento ele não era mais Nico di Angelo, o garoto sarcástico e provocador que me tirava do sério, mas sim o professor di Angelo, sério e concentrado que fazia as alunas suspirarem, um cargo que ele desempenhava muito bem.

— Peço perdão pelo atraso, tive assuntos importantes a resolver. - Ele me olhou sorrateiramente e eu apenas revirei os olhos me colocando no fim do grupo enquanto ouvia seu discurso. - Mas isso não será um problema. Hoje começaremos com as espadas falsas e alguns golpes simples. Então formem duplas e se coloquem em posição.

Os semideuses começaram a se movimentar pela arena procurando duplas e, a medida que formavam, se posicionavem frente a frente com as espadas de madeira em mãos. Gemi baixo quando vi Drew se posicionar frente a frente com uma garota tão bonita quanto ela, provavelmente uma de suas irmãs. Ela lançava olhares furtivos para Nico, ora soltando beijos discretos, ora fazendo poses ridículas para chamar a atenção dele. Com uma careta de nojo me levantei, pronta para ir ao banco de reserva já que a sala estava em número ímpar e eu claramente havia sobrado ali. Mas antes que chegasse ao banco uma mão fria pouso em meu braço e Nico me encarou com a sobrancelha erguida.

— Aonde pensa que vai?

— Me sentar é claro. - Me soltei delicadamente de sua mão. - Não tenho par.

— Não seja por isso.

Ele me conduziu ao centro da turma e se posicionou a minha frente, me oferecendo uma espada de madeira em seguida. A maioria dos alunos não percebeu, mas Drew automaticamente virou os olhos para nós e me encarou mortalmente. Apenas olhei para Nico assustada.

— Eu não vou ser seu par! - Sussurrei com a espada caída nas mãos.

— Vai sim se não quiser ser reprovada no primeiro dia de aula. - Ele me olhou profissionalmente, mas pude ver o brilho sarcástico em seu olhar. - Não tem par e eu estou livre, fim da história.

Bufei e me posicionei o melhor possível. Nico chamou a atenção da turma.

— Sempre se mantenha firmes. A espada deve ser uma extensão de seu braço, parte de vocês. - Ele mostrou com desenvoltoura como manusear a espada de madeira. Os alunos repetiram seus movimentos e eu tentei fazer o mesmo. - Sempre reta e direcionada ao seu oponente. “O ataque é a melhor defesa”, essa frase se aplica perfeitamente a espadas. Não são como adagas que podem ser escondidas facilmente, então manter sua espada em posição é a melhor defesa.

Nico ergueu sua espada em minha direção e repeti o movimento o que fez o encontro da madeira lançar o som oco no ar junto com as outras espadas. Nico ensinava os movimento com paciência e muitas vezes parava para ajudar algum aluno. Logo todos tínhamos aprendido os golpes básicos da luta com espadas e já o fazíamos com facilidade. Nico respirou fundo e baixou a espada com um mínimo sorriso.

— Vejo que já aprenderam bastante. Agora tem cinco minutos para lutarem com suas duplas. Depois eu farei novas duplas para ver se realmente aprenderam algo da aula de hoje.

As duplas se distanciaram ainda mais uma das outras e começaram as lutas. Nico ergueu sua espada pronto para o ataque e consegui me defender por pouco. Sabia que ele estava pegando leve, mas mesmo assim percebi como me sentia familiarizada com a espada e como os movimentos fluíam livremente.

— Nunca pensei que fosse melhor com espadas do que com adagas.... - Pensei alto e Nico me olhou curioso preparando um golpe em minhas costelas no qual me livrei pulando para trás.

— Problemas na aula de Piper?

— Se ser derrotada cinco vezes por uma garotinha for considerado um problema...

— Alguém gravou isso? - Pela primeira vez Nico riu de verdade durante a aula, mas sem nunca deixar de me atacar. Ele girou e quase acertou minha cabeça se não tivesse rolado para trás no último minuto.

— Engraçadinho. - Ataquei pela primeira vez e Nico bloqueou facilmente logo voltando a ser o predador. De relance pude ver o olhar em chamas de Drew que quase foi golpeada pela sua dupla por prestar mais atenção em Nico do que na luta. Suspirei no momento que minha espada se chocou com a de Nico. - Acho que sua namorada não gostou muito da sua escolha de parceira!

— Drew não é minha namorada! - Ele rosnou e eu aproveitei um brecha para tentar acertá-lo no tronco o que não deu muito certo. Ele se defendeu e voltou a luta séria - Mas já percebi os olhares fulminantes dela em sua direção.

— Não esqueça os sorrisinhos. - Olhei novamente para ela. Dito e feito, o sorriso diabólico da morena estava lá novamente. Cerrei os dentes e bloquei mais um ataque de Nico, quase perdendo a espada no processo. - Daria tudo pra tirar aquele sorrisinho da cara dela!

— Tudo? - Ele me olhou pensativo e sorriu. - Bem, lhe darei essa oportunidade.

— Não.. - Com os olhos arregalados encarei Nico. Meus braços já estavam cansados e Nico se aproveitou disso para conseguir me prender entre seus braços com um movimento rápido que ele nem ao menos havia ensinado na aula. Minhas costas bateram de encontro ao peito dele e senti sua respiração em meus cabelos. Minha mão presas as costas tremia enquanto a outra estava presa a espada de Nico. Minha voz saiu em um sussurro. - Você não faria isso...

— Não me subestime, Swan -Ele falou suavemente ao meu ouvido o que fez um arrepio subir em minha espinha. Seu hálito era de menta e antes que me soltasse deu uma leve mordia em minha nuca sem que ninguém visse. O local ficou quente como fogo, provavelmente com uma marca.

Perplexa e com a mão ainda sobre o pescoço, me pus ao lado de Nico quando este me soltou e voltou a falar com a turma como se nada tivesse acontecido. Minha respiração se acalmou depois de um tempo e só consegui ouvir a parte final do que Nico falara.

— John e David e, por último, Eduarda e Drew. - Ele me olhou de relance e parecia feliz ao ver me estado perplexo tanto com a sua escolha de dupla quanto pelo ato inesperado e marcado em minha nuca. - Temos tempo apenas para duas duplas ainda hoje, as outras ficarão para a próxima aula. Então, Chris e Karen podem se dirigir ao centro.

Percebi que a tal Chris era a mesma brutamontes que me atacara por causa do suco de uva. Provavelmente ela ainda não me notara ou, se o fizera, resolveu deixar os olhares de ódio para outro momento. Ela se levantou e caminhou decidida ao centro da arena e ao seu lado seguiu uma garota magra e alta que se posicionou a frente da brutamontes com a espada em mãos. A diferença corporal entre elas era gritante e quase tive pena da pobre Karen, graças aos deuses aquela era aula de espadas e não de luta corpo a corpo.

— Preparadas? - Nico perguntou e um silêncio se perpetuou pelo local. Apenas o vento podia ser ouvido enquanto todos tinham sua atenção na dupla a frente. - Comecem.

Rapidamente Chris empunhou sua espada e atacou, mas Karen surpreendentemente se esquivou com facilidade. Elas pareciam dançar uma dança perigosa. Demorou bastante tempo até que Chris conseguisse derrubar Karen no chão e colocar a espada em seu pescoço. Nunca pensei que uma garota tão grande e com tantos músculos pudesse se movimentar com tanta precisão, mas Chris o fez. Caminhou de volta a seu lugar com um sorriso no rosto, vitoriosa, enquanto Nico ajudava Karen a se levantar e se sentar novamente em seu lugar.

— Muito bem, vocês usaram perfeitamente os movimentos que aprederam hoje e permaneceram na luta mais tempo do que esperei. - Mesmo sem sorrir percebi em seu olhar que estava orgulhoso. Observou todos os alunos ao redor até pousar o olhar em mim. - Bem, a última dupla de hoje. Drew e Eduarda podem vir ao centro.

No fundo sabia que Nico faria isso. Suspirei pesadamente e me levantei com a espada em punho. Todos me encararam enquanto caminhava para o centro, com certeza agora Chris sabia de minha presença ali. Antes que chegasse ao lado de Nico, Drew me interceptou, me empurrando de lado e me olhando como se fosse um acidente. Apenas revirei os olhos e me posicionei. A morena fez o mesmo e nos encaramos por um tempo. Seus olhos pareciam em chamas e quase pude ouvir sua voz em minha mente gritando para ficar longe de seu “Niquinho”. Mal pude ouvir a voz de Nico anunciando o início, pois sem perder tempo Drew pulou em minha direção e me afastei por pouco. Ela parecia furiosa e lutava como tal, abismada percebi o quanto ela era boa com a espada. Tinha precisão e desenvoltura, mas logo percebi que eu também possuía e usei isso da melhor forma possível. Defendi todos os ataques e ela fez o mesmo. Lutávamos como uma dança e ela parecia ficar mais furiosa a cada defesa o esquivo meu. Em um breve momento de distração, basicamente Nico me olhando com o sorriso que tirava meu ar, Drew conseguiu me desequilibrar e eu caí com ela se posicionando logo acima. Sua voz venenosa e aguda soou em meu ouvido com autoridade.

— É melhor eu não ver você perto do meu Nico de novo, sua piranha. - Ela estava prestes a colocar a espada sobre meu pescoço o que marcaria o fim da luta. - Ou será muito pior do que uma espadinha de madeira na garganta...

— E quem falou que isso vai acontecer?

Em um movimento rápido chutei o tronco de Drew que acabou sendo lançada a metros de distância. Confusa com o golpe ela se ergueu cambaleando e em um pulo me aproximei e prendi os braços dela lançando sua espada longe e logo a derrubando e encostando minha espada em seu pescoço. Com um sorriso sarcástico aproximei o rosto do ouvido da morena o que a deixou ainda mais vermelha de raiva.

— O que você estava dizendo mesmo?

— Você vai pagar, filhinha de Poseidon. - Ela vociferou tentando soltar os braços,mas falhando. - Vai se arrepender de ter cruzado meu caminho.

— Bem, entre na fila do ódio contra a Duda! - Sorri e soltei a filha de Afrodite quando Nico tocou meu ombro.

Ela se ergueu com o nariz empinado e desfilando foi se sentar ao lado de suas irmãs que passaram a me olhar com ódio. Encarei o chão respirando fundo ainda tentando recuperar o fôlego depois de tanto esforço. Arrumei os cabelos e caminhei ao meu lugar, mas logo fui interrompida por Nico que me puxou discretamente para o seu lado me prendendo ali. Sem forças ou coragem para retrucar, esperei. Ele olhou para a turma e finalizou a aula.

— Foi uma tarde bem produtiva e espero ve-los aqui amanhã. - Os alunos começaram a se levantar e sair pelos portões. Drew ainda me lançou um último olhar de desdem e saiu rebolando enquanto Chris me encarou com um sorriso vingativo. Ótimo, minhas arque-inimigas nas mesma aula que eu, realmente uma baita sorte! Mas ao menos Nico era o professor. Olhei para ele que esperou todos saírem e me levou para um dos cantos da arena. Um armário e uma mesa solitária estavam dispostos ali e o encarei confusa.

— Porque me mandou ficar?

— Não sei se percebeu, mas tem um arranhão gigantesco em sua têmpora. - Ele apontou para minha cabeça e toquei o lugar que ardeu. Com certeza um presentinho de Drew. Ele abriu o armário que parecia conter uma enfermaria completa e me encarou. - Então pode sentar na mesa que vou colocar alguma coisa nisso até você poder voltar para a água e se curar.

Obedeci e sentei na mesa enquanto Nico trazia um remédio e um curativo. Sem exitar ele se postou entre minhas pernas e olhou para minha testa. Logo colocou o rémdio em um algodão e passou delicadamente pelo lugar. Me encolhi quando senti a têmpora arder, mas logo um curativo aliviou o lugar e Nico me olhou com um sorriso.

— Prontinho.

— Obrigada. - Sorri de lado e Nico continuou a me encarar sem sair do lugar. Minhas bochechas começaram a esquentar pela proximidade. Quando ele colocou as mãos ao lados de minhas pernas resolvi falar algo, qualquer coisa para acabar com aquele clima sufocante. - E então que horas começa nossa aula de luta corpo a corpo?

— Os alunos já devem estar chegando. - Ele não paravam me olhar nem por um minuto. Seus olhos desceram lentamente por meu corpo o que me deixou ainda mais quente e logo voltaram para meu rosto com um sorriso galanteador. - Que bom que já tenho uma delas presa bem aqui.

— Nico.. eu.. - Mas as palavras ficaram presas em minha garganta quando ele se aproximou ainda mais e beijou meu ombro. Um arrepio subiu até o pescoço e Nico pareceu fazer o mesmo caminho. Meu estômago parecia ter se enchido de borboletas e mesmo que aquilo fosse errado eu não queria parar.

— Swan.. - Ele sussurrou meu nome que parecia música em seus lábios. Seus beijos subiram pelo pescoço e chegaram a minha bochecha, mas antes que continuasse risadas altas e conversas foram ouvidas próximas a arena e logo alguns alunos atravessaram o portão.

Em um movimento brusco afastei Nico e pulei da mesa ainda com o rosto em chamas e o coração acelerado. Nico se recompos rapidamente e guardou o remédio no armário. Me lançou um último olhar como se dissesse que aquilo ainda não havia terminado e eu apenas respirei fundo pensado onde meu fôlego havia ido parar. Ele caminhou decidido até a nova turma e se apresentou. Minhas pernas ainda bambas quase me impediram de chegar aos alunos, mas consegui e me sentei o mais longe de Nico possível. Não consegui prestar tanta atenção no que dizia ao lembrar que aqueles lábios minutos atrás estavam queimando minha pele como fogo. Balancei a cabela expulsando os pensamentos e me levantei quando Nico mandou que a turma de espalhasse pela arena e passasse a repetir os movimentos que ele iria fazer. Eu parecia estar no automático, repeti com facilidade os movimentos mesmo sem estar tão focada na aula quanto deveria. Graças aos deuses ele não resolveu formar duplas o que fez a aula ser calma, algo que precisava para acalmar meus nervos a flor da pele. Aos poucos voltei a realidade percebendo que alguns dos golpes eu conhecia pelos diversos filmes que havia assistido sobre luta grega e de outros estilos. Treinamos equilíbrio e concentração e no fim da aula eu estava exausta. Aproveitei que Nico estava rodeado por alunas que tiravam dúvidas ou apenas se exibiam para ele e escapei quando este se despediu dos alunos. Não queria arriscar ficar sozinha com ele novamente. Corri pelos portões e segui para o Refeitório. Quase ninguém estava por lá e aproveitei para perdir sanduiche e suco e seguir para meu chalé. Deixei o lanche sobre o criado mudo e corri para a banheira. Meus corpo parecia anestesiado ao entrar em contato com a água quente da banheira e suspirei de alívio. Dali em diante os dias sempre terminaríam assim e eu precisava estar preparada.

— Banheira, só você para me consolar nesse momento de dor. - Ergui os braços e senti uma pontada aguda o que me fez gemer. - E que dor!

Afundei na água e passei um bom tempo assim, uma boa vantagem dos filhos de Poseidon. Quando saí da banheira me olhei no espelho. Meu rosto estava intacto, a água retirara qualquer arranhão. Encarei minha nuca no reflexo aliviada por não haver marcas de dentes por ela. Sorri e vesti um short leve e uma camiseta. No quarto o relógio marcava seis horas, mas meu corpo cansado parecia implorar pela cama. Não tive como negar e pulei entre os lençóis e travesseiros e me digiri ao criado mudo, pronta para pegar meu lanche.

— Mas o que? - Encostado no criado mudo estava Totó com a patas dianteiras empurrando o prato do meu sanduíche e o rabo balançando como se seu plano fosse realmente dar certo. Sorri e peguei o prato o que fez o cãozinho me olhar triste com os olhos grandes e pidões. - Tudo bem, mas só um pedaço!

Ele subiu na cama e comeu um pedaço do sanduiche. Devorei minha parte e o suco rapidamente e me encostei na cabeceira da cama com Totó correndo para minhas pernas e se aconchegando lá.

— Então agora você me quer não é seu traidor? - Apontei para o cãozinho acusando-o e ele apenas me encarou com a cabeça de lado, confuso. - Preferio passar a tarde inteira com um certo filho de Hades, tô magoada!

Ele latiu e correu para meus braços. Me deitei na cama e Totó se deitou ao meu lado de barriga para cima. Alisei sua barriga com um sorriso.

— Admito que escapar dos encantos do di Angelo é quase impossível...

Meus olhos pesaram e acabei dormindo com Totó ao meu lado.

Os dias que se seguiram se tornaram uma rotina. Aulas de adaga, voo, leitura, água, espada e luta. Todos os dias. Com o tempo melhorei visivelmente em minha luta com adagas. Não me tornei expert como Lucy, mas com os treinos no intervalo passei a lutar bem melhor e a entender os golpes e movimentos com facilidade. Perdi muitas vezes até conseguir ao menos uma vez encostar em Lucy com meu graveto-adaga o que a deixou bem orgulhosa. Nas aulas de Jason me senti mais segura com Lua sempre me ajudando a manter a postura ou a seguir seus movimentos para aumentar a velocidade. Com certeza se tornou uma de minhas aulas favoritas já que voar se mostrou tão mágico quanto sempre imaginei. Nas aulas de leitura Annie parecia mais fascinada do que eu mesma quando me via ler algo. Mas aprendi muito sobre meus poderes além de me sentir mais forte a cada objeto trazido para fora. Aquilo fazia parte de mim e, mesmo ainda carregando a culpa, não podia ter me distanciado dessa parte por tanto tempo. No fim ela era importante e poderia significar a única vantagem para nós contra o tal mestre ou a desvantagem já que ele parecia ansiar por meus poderes. Uma das muitas preocupações que ainda rondavam minha mente, mas decidi focar em meus poderes e nas formas que poderia usa-lo contra o vilão, o que me deixou ainda mais determinada para descobrir tudo sobre o que era ser Línga Encantada e com Annie como tutora não poderia ser diferente. Nas aulas de Percy senti meus poderes evoluírem bastante. Sempre manuseei a água com facilidade e a cada aula aprendia truques novos que me deixavam ainda mais confiante. Em pouco tempo consegui equilibrar os dois lados de minha moeda, me sentindo segura tanto no lado semideusa como no lado Língua Encantada. O único lado que ainda parecia instável na minha vida era o lado em que Nico se encaixava. As aulas dele pareciam ser as mais tensas, não pela dificuldade já que me tornei uma das melhores alunas nas aulas de espadas e era razoavelmente boa em luta corpo a corpo. Não, a culpa era do professor. Nico nunca repetira os atos da primeira aula, mas mesmo assim me lançava olhares furtivos e seus sorrisos de tirar o fôlego o que me fazia pensar sobre as insinuações de Percy e Jason. Será que Nico me via além da amizade ou aquele era apenas seu jeito normal e irritante de ser? Essas perguntas rondavam minha cabeça toda vez que as orbes negras encaravam a mim me deixando desconcertada. Esse com certeza foi o motivo que, ao fim de cada semana, me fez escolher substituir a aula final de Nico por alguma aula a minha escolha. Como Quíron prometera no fim de cada semana eu poderia escolher substituir uma de minhas aulas regulares por alguma de meu interesse e as aulas de Nico eram sempre as escolhidas. Passei por aulas de arco e flecha com os filhos de Apolo que me ensinaram bastante mesmo nas poucas aulas além de aulas de história grega que me fizeram amar ainda mais a matéria por ser um verdadeiro sátiro que a ensinava. No fim do meu primeiro mês de treino resolvi escolher Artes e ao fim da aula de espadas corri para o estúdio onde ocorreria a aula. Para falar a verdade minha escolha se deu por saber que Rachel seria a professora. Ela era uma das personagens dos meus livros que ainda não havia conhecido pessoalmente e estava ansiosa para ver o alter-ego do Oráculo de Delfos.

Cheguei cedo ao estúdio que se assemelhava muito a uma sala de aula a não pelas carteiras que haviam sido substituidas por telas e bancos com aquarelas repousadas sobre cada um. Escolhi um deles e sentei encarando a tela branca e as cores vivas sobre a aquarela, com certeza pintura não era um de meus dons.

— Vejo que está ansiosa para começar a criar vida na tela. - Uma voz melodiosa e risonha irrompeu pelo estúdio e ergui os olhos para a porta.

Com os braços cruzados e um sorriso no rosto uma garota ruiva entrava com delicadeza pela porta. Seus cabelos vermelho vivos pareciam desgrenhados mesmo presos a um rabo de cavalo frouxo. Seus olhos verdes eram brilhantes e contrastavam perfeitamente com as sardas nas bochechas. A pele era branca e o corpo esguio da mesma forma que imaginei. Com um sorriso me ergui do banco e caminhei em direção a garota que já colocava um avental sobre o vestido florido.

— Se ao menos soubesse o que fazer com esses pincéis e tintas,quem sabe. - Sorri tímida e Rachel prendeu uma das mechas ruivas atrás da orelha e parou em minha frente com um sorriso.

— Bem, é para isso que estamos aqui. Aprender,não é mesmo? - Ela ergueu a mão em minha direção e se apresentou mesmo eu já sabendo perfeitamente seu nome. - É um prazer conhece-la, sou Rachel Dare.

— Eduarda Swan – Ergui a mão para aperta a dela me sentindo como uma fã conhecendo seu ídolo. - O prazer é todo...

No momento em que nossas mãos se tocaram algo mudou na expressão da garota. Ela apertou meus dedos e arregalou os olhos verdes. Sua pele ficou ainda mais pálida e senti o pulso dela disparar. Assustada soltei minha mão com certa dificuldade e me afastei alguns passos enquanto Rachel caía de joelhos no chão com a cabeça baixa. Ela parou por um tempo o que me fez achar que estive desmaiada.

— Rachel, você está bem? - Com certo temor segurei o ombro dela que na mesma hora segurou meu pulso firmemente. Tentei me soltar novamente, mas dessa vez era como se correntes estivessem em meus braços. Perplexa, apenas encarei a garota começar a tremer e uma aura verde invadir o corpo dela de dentro para fora. Quando ergueu a cabeça e abriu olhos não era mais Rachel, e sim o Oráculo de Delfos. Seus olhos completamente verdes e assustadores me encararam e sua boca abriu lançando fumaça verde por toda parte.

E mesmo assim o que mais me apavorou foi saber perfeitamente o que viria a seguir.


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Notas finais do capítulo

Deixem seus coments ♥ Prometo ler cada um heheh
Mil bjs jujubas
Au revoir



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