Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 34
Corpo de água, coração de tinta


Notas iniciais do capítulo

Hey jujubas!! Ca estou eu mais uma vez com um cap fresquinhooo!!
Espero que amem ♥
Bonne journée



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*** P.O.V Nico

Sentindo braços e pernas? Ok! Respirando relativamente bem? Ok! Protegido e deitado em algum lugar onde um Minotauro não estava querendo me matar? Totalmente ok! No começo era tudo uma grande escuridão ate minha mente começar a voltar aos eixos e junto com ela as imagens. O crocodilo gigante destruindo o acampamento, nós derrotando o animal com um livro, Swan sendo confrontada por Quíron pelo seu segredo e por fim meu corpo despencando em direção á agua sem que eu pudesse controlar. Usar meus poderes pra distrai aquele réptil pré-histórico esgotou completamente minhas forças, mas já tinha uma certa experiência com isso. Sabia que logo logo voltaria ao normal, mas ainda assim era um saco fazer cosplay de Jason! Depois de perder a consciência tudo deveria ficar escuro até que eu acordasse com uma enxaqueca das grande e tudo voltasse ao normal, mas não foi bem assim. Ao desmaiar vi uma luz branca intensa que me fez cerrar os olhos. E depois disso uma cena se desenrolou. Atordoado, percebi dois garotos e uma garota conversando e andando em direção a uma quadra de basquete. Eles conversavam e a garota estava furiosa até o garoto de cabelos negros acalma-la com um beijo. E o tal garoto de cabelos negros era totalmente idêntico a mim! Minha boca foi ao chão enquanto os garotos do sonho começavam a treinar com espadas estranhas, curvadas na ponta. E de repente um barulho soou ao longe próximo a um rio que corria a alguns metros da quadra. Foi nesse momento que percebi estar no Brooklin pela grande ponte que se erguia sobre o rio. E a criatura era nada mais nada menos que um Minotauro. Ele correu em direção ao trio enquanto eles pareciam assustados, nunca haviam visto uma criatura daquela na vida. Mas como, eles eram semideuses não? Possuíam armas e tinha um treinamento na luta. Mas antes que me questionasse ainda mais vi várias pessoas surgirem de uma grande construção e correr em drireção a batalha enquanto o trio já lutava contra a criatura. Mas nada parecia machuca-la! Espadas, flechas, magias. Nada fazia a criatura recuar assim como aconteceu com o crocodilo gigante que invadiu o acampamento.

— Isso não pode ser coincidência.... - Sussurrei mesmo que ninguém ali parecesse ao menos saber da minha existência. Quando ergui a cabeça vi a garota loira com mechas laranjas atrás de um banco digitando freneticamente no telefone e depois correndo em direção a luta. Mas suas última palavras não saíram da minha mente mesmo quando a cena se dissolveu diante de meus olhos...

Por favor Annabeth, não me deixe na mão...”

E foi nesse momento que chegou a escuridão que eu esperava. Mas o que foi aquele sonho? Quem eram aquelas pessoas senão semideuses? E aquele minotauro que nós,semideuses, conseguimos derrotar tão rapidamente, porque as armas deles não faziam nem cócegas nele? Minha cabeça latejou, a esperada enxaqueca pós desmaio, e a luz ultrapassou minhas pálpebras fechadas. Aos poucos voltei a consciência e um gemido saiu por meus lábios quando senti meu corpo todo doer até um movimento sobre a cama me deixar completamente atento e me fazer esquecer qualquer dor. Quem teria a ousadia de entrar no meu quarto sem permissão? Já sentia a raiva invadir meu corpo pronto pra colocar a pessoa para fora aos pontapés até ouvir a voz sair em um sussurro curioso.

— Nico? Você acordou?

Não sei bem porque, mas meu coração acelerou e minha raiva sumiu dando lugar a ansiedade ao ouvir aquela voz. Sim,eu conhecia muito bem aquela voz melodiosa e suave e, mesmo negando a mim mesmo, era ela que esperava ouvir. Abri os olhos e a primeira coisa que vi foram olhos grandes e brilhantes a centímetros do meu rosto e cachos emoldurando um rosto moreno e sorridente.

E acabei sorrindo também, coisa que vinha fazendo com frequência desde que aqueles olhos verdes-mar de uma certa morena entraram em minha vida.

 

 

***P.O.V Duda

— Percy, eu prometo! Quando ele acorda saímos pra reunião. Nenhum minuto a mais!

Revirei os olhos. Já estávamos a quase vinte minutos naquela discussão. Depois de voltarmos ao acampamento Quíron avisou que quando Nico acordasse teríamos uma reunião imediatamente sobre assusntos de interesse geral, no caso, eu e meus fantástico e misteriosos poderes. Todos se dispersaram e Percy e eu seguimos para o chalé de Hades. Abri a porta e Percy colocou Nico sobre a cama cuidadosamente. O garoto continuava branco como papel e eu remexi as mãos impaciente. Será que demoraria muito para que acordasse? Já havia se passado quase uma hora desde que ele desmaiara. Percy percebeu minha impaciência e pôs a mão sobre meu ombro nos guiando em direção a porta novamente.

— Ele vai ficar bem! Não é a primeira nem a segunda vez que Nico desmaia por ter usado seus poderes ao extremo. Logo logo ele estará acordado e novinho em folha e você terá seu namorado de volta...

— Ele não é meu namorado, Percy! - Cruzei os braços, zangada e corada. Imaginar que um dia eu e Nico pudéssemos ser mais que amigos fazia neu corpo se arrepiar. Não, isso nunca aconteceria! Nico tinha sua brincadeira maliciosas, mas não passavam disso. Apenas brincadeiras, nada sério. Encarei Percy que segurava o riso.

— Ok, tudo bem! Mas agora é melhor irmos. Eu estou completamente exausto e você deve estar ainda pior. Vamos descansar e esperar até que ele acorde e... - Ele pegou minha mão já me levando pelas escada, mas estanquei no lugar. Percy me encarou confuso. - O que foi?

— Eu não vou com você. - Suspirei ao ver a confusão de Percy se tornar raiva. - Vou ficar aqui até Nico acordar.

— E porque você acha que eu deixaria você ficar aqui? - Ele me largou cruzando os braços. Seu rosto ganhou tons de vermelho e seus músculos pareciam tensos. - Aliás há regras no acampamento que proibem isso e, não sei se você sabe, mas Nico não gosta de pessoas entrando em seu chalé sem permissão. Então você vem comigo!

— Não! - Cruzei os braços novamente imitando a postura autoritária de meu irmão. - Olha eu preciso fazer isso. Nico ficou exausto assim por minha culpa, eu pedi para que ele lançasse todo o seu poder sobre aquele bicho mesmo sabendo que isso poderia deixa-lo da forma que está! Bem, as regras do acampamento dizem claramente que não pode ficar por muito tempo e principalmente a noite, além do mais Quíron sabe o que estou fazendo no chalé de Hades, não é nada relacionado... aquilo. - Corei nesse momento o que fez a raiva de Percy aumentar. Pigarrei e continuei. - E em relação as regras de Nico, me resolvo depois com ele. Então, será que você entende? Por favor, Percy...

Ele suspirou e seu corpo suavizou. Ele me encarou profundamente e concordou. Sorri e lhe abracei forte, ele bagunçou meus cabelos já secos e me afastou deixando diversar ordens: “Nada de proximidade, nem abraços, apenas apertos de mão. Quando ele acordasse devem ir direto para a Casa Grande, sem desvios ou gracinhas, e se Nico for tomar banho em hipótese algum fique no chalé...”. Revirei os olhos fazendo minha promessa de mindinho de que não aconteceria nada. Percy pareceu satisfeito e se despediu

— Estou de olho, mocinha! - Ele piscou e eu sorri, batendo continência. Ele caminhou e se perdeu entre os chalés enquanto eu voltava para dentro me jogando sobre uma poltrona no canto do quarto. Já conhecia aquele chalé tão bem quanto o meu. A cama de casal confortável onde Nico estava deitado, o grande espelho ao lado da cama, a penteadeira cheia de produtos masculinos, o grande guarda roupa e ao seu lado a espada negra. Lembrar sobre Nico me ensinando a manusea-la para que pudesse usar contra ele a qualquer momento fez meu estômago embrulhar.

E lembrar disso me fez recordar do porque ele me ensinou aquilo. O espírito maligno e a ameaça de que voltasse. Mas de acordo com o que o “Jason do mal” me falara foi realmente eu quem expulsou aquele ser dos garotos e claramente ele não pensava em retornar, não para as mesmas pessoas. Estiquei as pernas sobre o braço da poltrona e suspirei.

— Então você estava certo Nico, foi realmente minha voz que lhe trouxe de volta. - Descansei o braço sobre os olhos ouvindo a respiração de Nico ao longe. Ele parecia calmo, sereno, e meu corpo se acalmou com aquilo. Passei a imaginar onde teria ido o tal espírito quando o expulsei de Jason e se ele teria algo a ver com o crocodilo que surgira essa manhã. Algo estalou em minha mente ao repassar os encontros macabros que tive com os dois seres. Bati na minha testa e gemi ao sentir a dor que se espalhou pela cabeça. - Mas é claro que eles tem algo em comum, os dois seguem a um mestre e não duvido nada que ele seja o mesmo para os dois. Mas o que ele tanto quer comigo? Primeiro tenta me matar depois me sequestrar e usa todo tipo de criatura pra fazer isso. Nunca me senti tão importante! Porque logo eu?

Ergui a cabeça e encarei o teto, imaginando como meus poderes de Língua Encantada poderiam ser úteis para esse tal mestre. O que ele queria, que eu lesse muito dinheiro e ele ficasse milionário? Não, acho que um vilão que comanda coisas como um espírito e um crocodilo gigante pode ter o dinheiro que quiser sem a minha ajuda. E o poder que quiser também. Mas então o que eu poderia fazer que ele já não conseguisse por si só? Bufei frustrada e mexi impaciente em meu anel. Meu anel que ficou com um brilho sinistro quando comecei a ler em voz alta para destruir aquele monstro, outra coisa que ficou martelando em minha cabeça. Encarei o anel curiosa, a íbis parecia reluzir contra a luz da tarde que entrava pela pequena janela no quarto.

— Se você estivesse aqui vovó saberia explicar sobre o brilho estranho... - Funguei já sentindo meus olhos cheios de lágrimas. - Saberia explicar bastante coisa....

Minha conversa comigo mesma foi interrompida por um gemido vindo da cama. Sentei ereta rapidamente e encarei Nico. Ele parecia cada vez menos pálido e percebi suas palpebras tremularem. Andei em direção a cama e sentei lentamente ao lado dele, seu corpo pareceu tenso com meu leve movimento. Mordi os lábios e falei cautelosa.

— Nico? - Aproximei o rosto do seu, sussurrando a frase seguinte. - Você acordou?

Ouvi seu supiro e vi seu corpo relaxar. Meus olhos continuavam grudados em seu rosto e quando ele abriu os olhos negros sorri involuntariamente. Naquele momento percebi meu prórpio corpo relaxar, nem sabia que estava tão tensa, e quando ele sorriu meu coração acelerou. Ele estava ali, acordado e bem! Não consegui me controlar e lancei meus braços ao redor do pescoço dele em um abraço apertado. Aliviada, não percebi que provavelmente estava matando Nico afixiado até ouvir seu gemido e sua voz fraca sussurrar em meu ouvido.

— Se quer me matar asfixiado tenho métodos mais eficientes....

Gargalhei e me afastei dele, deixando que finalmente respirasse. Nico sentou-se lentamente com a cabeça entre as mãos. Preocupada toquei seu braço e ele apenas tentou lançar seu sorriso sedutor que saiu mais como uma careta.

— Não é nada demais Swan, apenas um enxaqueca que sempre vem depois que acordo de um desmaio, meio que um alerta de não ser idiota de fazer isso de novo! - Ele alisou os cabelos para trás e apontou para o criado mudo, ou melhor, para um pequeno pote sobre o móvel. - Apenas me dê a ambrósia e em minutos estarei novinho em folha.

Rapidamente peguei o pote e ele abriu tirando de lá algumas ervas amarelas e as mastigando lentamente. Não pareciam nada atraentes, mas me lembrei de quando as comi no hospital e de como elas pareciam ter gosto de bolo de chocolate. Vi Nico engolir com um sorriso satisfeito e me segurei para não perguntar qual sabor ele sentira, mas antes que desviasse o olhar ele se espreguiçou sorrindo e pareceu ler minha mente.

— Dessa vez tinha gosto de batatas fritas. - Sorri e vi que ele parecia bem melhor. Não estava mais pálido e os olhos estavam atentos e despertos. Ele se levantou indo em direção ao guarda roupa e segui seus movimentos com o olhar. - E então, o que perdi?

— Nada, só eu gritando com Quíron para que ele parasse de me pressionar sobre sua tão importante reunião...

— O que? - Nico esticou o pescoço por trás da porta aberta do guarda roupa e me encarou incrédulo. Enrolei um cacho no dedo e estiquei as pernas.

— Pois é. Eu estava cansada dele falar sobre isso e acabei me estressando de vez e gritando para que ele desse um tempo e que eu só apareceria na reunião depois que você acordasse. - Me ergui em direção ao espelho. - Todos pareceram bem surpresos pela minha atitude. Acho que fiz uma burrada.

— Nnguém nunca enfrenta Quíron dessa forma. Além de mim é claro. - Ele piscou e voltou a mexer no guarda roupa. - Essa é minha garota!

Nunca vi minhas bochechas tão vermelhas e tentei disfarçar enquanto Nico jogava uma blusa negra e lisa sobre a cama e ia em direção as gavetas da penteadeira. Mexi freneticamente em meu cabelo até a vermelhidão sumir e suspirei aliviada por Nico estar ocupado escolhendo uma calça. Voltei para a poltrona vendo Nico lançar uma calça jeans qualquer sobre a cama e procurar sua toalha.

— Bem, mas agora teremos que ir para a tal reunião já que você acordou e parece estar bem melhor. - Resmunguei e lancei as pernas sobre a poltrona. Encarei Nico que acabara de achar sua toalha... preta. - Será que você não podia ter ficado doente por mais um tempinho?

— Oh não, acho que estou com febre! - Ele pousou a mão na testa e fingiu tossir. - Preciso voltar para a cama por pelo menos uma semana.

— Por favor! - Gargalhei e Nico sorriu colocando a toalha ao redor do pescoço. Ele voltou a penteadeira e tirou algo da gaveta superior. Quando jogou sobre a cama junto com a pilha de roupa percebi ser uma cueca box cinza e escondi o rosto entre as mãos bufando. - Você se sente bastante a vontade jogando sua cueca de qualquer jeito enquanto tem uma moça no chalé.

— Só porque você se sente bastante a vontade largada em uma poltrona de um chalé que nem é seu. - Ele pisocu malicioso e observou meu corpo lentamente e eu revirei os olhos. Aquela foi a primeira vez que não me envergonhei pelos olhares de Nico, acho que estava me acostumando com aquilo. Espantei esse pensamento ao ve-lo tirar sua blusa ainda molhada rapidamente e joga-la em um cesto. Ok, aquilo era mesmo necessário? Ignorei seus músculos expostos quando ele se voltou para mim com uma sobrancelha erguida. - Aliás ninguém lhe falou que não gosto de pessoas invadindo meu chalé assim?

— Fui avisada, apenas ignorei o alerta. - Dei de ombros e ele sorriu de lado. - Até porque invadir seu chalé já é quase um hábito.

— Ah é? E posso saber porque disso?

— Bem, precisava saber quando você ia acordar para lhe avisar sobre a tal reunião...

— Só isso? - Concordei, mas acabei mordendo os lábios. Olhei em seus olhos e ele cruzou os braços. Sabia que eu estava mentindo. - Regra de amizade, lembra? Nada de morder os lábios. O que só te denuncia. Vamos, diga a verdade.

— Ok, eu estava preocupada, satisfeito? - prendi os cabelos em um coque frouxo e encarei Nico que parecia confuso. - Você ter desmaiado foi culpa minha. Eu pedi para que lançasse todo o seu poder no monstro o que acabou te deixando fraco. Queria saber se ia ficar bem mesmo.

— Não, não admito que se sinta culpada por algo que eu decidi fazer. Mesmo que não tivesse me pedido, acha que não teria usado tudo o que tinha para ajudar a destruir aquela coisa?

— É claro, você é teimoso! - Cruzei os braços e ele concordou pegando novamente a toalha e pegando suas roupas. Quando chegou a porta do banheiro ele se virou e piscou.

— Igualzinho a alguém que eu conheço e que gosta de quebra uma certa regra de amizade sobre não tentar se matar todo santo dia!

— Então estamos quites! - Gritei e ele abriu a porta rindo.

E qual não foi minha surpresa ao ver uma bolinha de pêlos preta sair do banheiro e correr em minha direção, pulando em meu colo e me lambendo alegremente.

— Totó! - Segurei as patinhas do cachorro e ele lambeu meu nariz o que me fez sorrir. - Como? Como veio parar aqui ? E o que você estava fazendo preso no banheiro do di Angelo?

— Caramba, esse cachorro é silencioso até demais! - Nico coçou a nuca envergonhado, ainda segurando o trinco da porta. - Bem, ontem a noite quando voltei para o chalé depois do jantar ouvi um barulho nos fundos e fui ver o que era. Minha surpresa foi ver uma bola de pelos negra grunhindo que quando me viu pulou em meus braços me lambusando inteiro. Trouxe ele para dentro e dei um banho, já que ele estava cheio de lama e grama. Viajei nas sombras e consegui ração e água. De manhã resolvi deixa-lo preso no banheiro para que não acabasse sujando o quarto inteiro e ele estava lá até agora, totalmente quieto. Tanto que nem me lembrei sobre ele e acabei não lhe contado. Desculpa...

— Nico, você cuidou dele. Deu banho e comida. - Olhei para o filho de Hades que tantava disfarçar a vegonha. Estava admirada com a atitude daquele garoto que via apenas como um badboy. A cada dia ele me mostrava como era diferente do que eu esperava. Um diferente para melhor. - Você foi fantástico! Obrigada.

Ele sorriu e deu de ombros seguindo para o banheiro. Enquanto ouvia a água cair minha imaginação fértil começou a plantar imagens em minha mente. Os cabelos negros molhados, os braços cheios de gotículas de água além do abdómen definido e...

— Totó por favor me distraia! - Acalmei a respiração e passei a brincar com Totó mandando aquelas imagens para um lugar bem escondido da mente.

O cachorro brincava alegremente e mordia minha orelha e nariz quando eu puxava seu rabo o que me fazia rir abertamente. Brincamos por longos minutos e eu realmente me distrai tanto que nem percebi quando o chuveiro foi fechado e Nico abriu a porta do banheiro. Eu estava me acabando de rir por Totó estar pulando para pegar minha pulseira que nem percebi Nico me observando atentamente encostado na porta. Quando olhei quase perdi o ar. Seus cabelos molhados estavam bagunçados da forma mais linda possível, seu abdomen exposto parecia ainda mais definido com algumas gotas d'água escorrendo e seu sorriso malicioso estava lá como sempre. Aquilo era tentação demais para uma garota só! Voltei o olhar para Totó tentando acalmar minha respiração, mas ele pulou de meu colo e correu para Nico que o segurou quando o cachorro pulou em seus braços. Encarei a cena com um sorriso.

— É, ele gosta muito de você!

— E de você....

— Gosta tanto que quase tentou destruir minhas armas – Balancei o pulso onde minha pulseira de tridente estava repousanda e sorri. Nico alisou as orelhas de Totó e me olhou confuso.

— Armas? Como assim?

— Minha espada e... - Bati a mão na testa e balancei a cabeça enquanto Nico colocava Totó sobre sua cama e vestia a blusa. - Me lembrei que você ainda não sabe. Bem, ninguém sabe... Mas eu descobri Nico! Minha pulseira é realmente uma arma como você disse. Bem, duas armas...

— Duas? - Ele parou o que estava fazendo e se voltou para mim atentamente. - Como assim?

— Ahn, é melhor eu mostrar!

Me levantei e tirei a pulseira. Olhei para Nico e ele ergueu uma sobrancelha impaciente. Sorri e tirei o tridente que automaticamente se transformou em espada. Nico arregalou os olhos enquanto eu repousava a espada na portrona e lançava a pulseira para o ar que voltou em forma de escudo para minhas mãos. Peguei as duas armas e me posicionei como uma gladiadora gargalhando da expressão atônita de Nico. Ele caminhou em minha direção analisando cada uma de minhas armas.

— Uou! - Foi a única coisa que disse enquanto segurava minha espada e ensaiva alguns movimentos. Seus braços se mexiam em sintonia com os pés e seus músculos se destacavam ainda mais com o esforço de segurar a arma pesada. Ele me encarou admirado. - São ótimas armas! Como descobriu que a pulseira se transformava nelas?

— Bem, acho que vou contar essa história apenas uma vez porque é bem longa! - Joguei o escudo para o ar que voltou a ser uma pulseira e aproximei a espada que voltou a ser um pequeno tridente. Nico me encarou na expectativa e eu neguei. - E essa vez será na reunião. Então é bom se apressar.

Ele bufou e calçou rapidamente tênis secos. Caminhei para a porta e senti a respiração quente de Nico em meus cabelos quando ele se postou ao meu lado abrindo a porta do chalé. Ele fez uma mesura para que eu saísse primeiro e não resisiti, baguncei seus cabelos negros como vinha querendo fazer ha muito tempo. Ele pareceu surpreso, mas sorriu e eu fiz o mesmo indo em direção a saída, mas antes chamei Totó que pulou da cama e seguiu Nico para fora do chalé.

— Certo, você tá todo limpinho e cheiroso. Agora é minha vez. - Olhei para Nico e apontei para meu chalé. Ele riu e concordou. Totó nos seguia alegremente e chamava a atenção dos semideuses ao redor. Acho que um cão nunca havia entrado no acampamento, pelo menos não um cachorro com apenas uma cabeça! Alguns paravam para brincar com ele, outros se afastavam alegando que tinham medo de cachorro. Ri comigo mesma, semideuses que enfrentam hidras e outras criaturas gigantes tem medo de um cachorinho! Olhei para Totó todo feliz rodeado de gente e Nico também observou e revirou os olhos.

— Esse cachorro tá se sentindo no céu com todo esse carinho! - Ele balançou a cabeça e me olhou divertido. - Já to ficando até com ciúme...

— Não fica assim! - Afaguei seu cabelo como se alisasse um cão e ele gargalhou afastando minha mão e segurando meus dedos entre os seus. - Quem sabe se você sentar e rolar não ganha alguns afagos.

— Se for de você eu aceito... - Ele piscou e eu baxei o olhar com um sorriso.

Finalmente chegamos ao chalé e abri a porta correndo para recolher as roupas que precisaria. Nico entrou calmamente com Totó ao seu lado que pulou na cama de Percy erguendo as patas. Nico se sentou e ficou brincando com ele enquanto eu corria para o banheiro. Não podia demorar, por sorte Percy não estava no chalé, provavelmente com a namorada ou já reunido com Quíron, mas não podia abusar da sorte. O que aconteceria se visse Nico deitado na cama e eu no banheiro? Balancei a cabeça e apressei o banho. Me enxuguei rapidamente, vestindo um short preto e um moletom azul junto com meus tênis. Prendi os cabelos em um coque alto e saí do banheiro. Nico ainda brincava com Totó distraído e só percebeu que eu estava pronta quando puxei seu braço em direção a saída.

Descemos a escada e olhei ao redor, esperando que Percy aparecesse do nada para gritar comigo, mas estava tudo calmo. Suspirei aliviada e segui para a Casa Grande com Nico rindo ao meu lado.

— Nossa, quanta pressa! Tudo isso é medo do irmãozinho descobrir que ficamos a sós no seu chalé?

— Na verdade, sim! - Encarei Nico que ainda sorria. - Algum problema?

— Nenhum. Mas Percy sabe que é bem difícil impedir esse tipo de coisa. - Ele se aproximou ainda mais, com o ombro encostando no meu. - Quando tem que acontecer ninguém pode impedir...

— Nico di Angelo, do que você está falando? - Ergui a sobrancelha e me afastei dele, mantendo minha regra de amizade. Ele piscou com seu sorriso galanteador nos lábios.

— Você sabe muito bem do que estou falando...

Abri a boca para gritar com Nico quando alguém surgiu na varanda da Casa Grande. Quíron nos encarou calmamente e indicou a entrada da mansão.

— Senhor di Angelo e senhorita Swan, poderiam me acompanhar? - Ele esperou que subíssemos as escadas com paciência. - Descobri por alguns campistas que Nico já estava acordado e mandei que chamasse os outros. Faltava apenas vocês para que começassemos a reunião.

Concordamos e seguimos para a porta, porém Totó começou a latir com Quíron. Provavelmente ele achou bem estranho um animal que era meio gente. Rapidamente peguei o cachorro no colo e alisei suas orelhas para que se acalmasse.

— Desculpe Quíron, Totó é meio novo nesse mundo de semideuses. - Baixei a cabeça e suspirei. Nico me esperou para entrar, mas olhei para ele e apontei para a casa. Ele concordou e entrou. Encarei Quíron. - E Quíron perdão por ter falado daquela forma com você. Eu estava de cabeça quente depois de tudo e agi por impulso, não vai se repetir.

— Eu entendo criança. Não deveria ter lhe pressionado daquela forma. - Senti sua mão pousar em meu ombro e olhei em seus olhos castanhos acolhedores. Seu sorriso era caloroso. - Você agiu como uma verdadeira guerreira.

— Obrigada.

— Mas, uma pergunta. - Eu assenti para que ele prosseguisse e ele apontou para Totó que ainda rosnava para o centauro. - De onde surgiu este animal?

— Bem essa história está incluida nas muitas histórias de Língua Encantada que contarei hoje.

— Então ele saiu de um livro? - Quíron arregalou os olhos e tentou tocar no cachorro para ver se era real, mas Totó avançou novamente.

— Sim, ele saiu.

— Esplêndido! - Quíron sorria maravilhado encarando o cachorro como se fosse o tesouro mais precioso que já vira. Depois passou a me encarar da mesma forma. - Bem, tudo será explicado na reunião.

Envergonhada segui para dentro da mansão com Quíron logo atrás. Totó começou a se acalmar em meu braço quando entramos na casa dando de cara com seis pares de olhos me observando atentamente. Pareciam ver até minha alma! “Cara, nem se eu estivesse só de calcinha e sutiã me sentiria tão constrangida como agora!”,pensei e entrei rapidamente sentando na única cadeira vaga ao redor da mesa, entre Percy e Leo. Sinceramente, se Hades abrisse um buraco e me puxasse pro submundo naquela hora eu agradeceria! Os semideuses não pararam de me encarar um minuto sequer. Curiosidade, admiração e algumas coisas a mais pontilhavam a expressão deles e eu estava prestes a implorar para que Nico criasse a tal cratera quando Quíron entrou fechando a porta com um baque. Todos sentaram em seus lugares e eu quase chorei de alívio por não ser mais o centro das atenções. Quíron caminhou para a ponta da mesa e respirou fundo olhando para cada semideus presente, neste caso, Piper, Jason, Annabeth, Percy, Leo, Nico e eu.

— Acredito que agora podemos começar nossa reunião! - Todos acenaram em concordância. Ele cruzou as mãos e seus olhos focaram em mim. - E, como todos já sabem, a pauta de hoje é noss mais nova semideusa, senhorita Swan.

E lá estavam os olhares novamente em mim. Cocei a nuca envergonhada e Totó pôs as patas dianterias sobre a mesa encarando cada um.

— Não podia ser mais direto? - Ouvi Nico sussurrar sarcasticamente. Ou melhor, todo mundo ouviu e Quíron olhou com reprovação para ele que apenas deu de ombros e se lançou para trás na cadeira, despreocupado.

— Peço desculpas por ir direto ao ponto, mas acho que entende que depois dos acontecimento do dia precisamos de explicações. - Quíron falou como se explicasse física quântica para uma criancinha. Alisei Totó que continuava a encarar o centauro com desconfiança. - Ainda mais depois de descobrir sobre seus outros poderes.

—Eu sei, Quíron. - Suspirei. Não tinha mais para onde correr. Aquilo que escondi por tantos anos estava vindo a tona sem pedir licença. Não podia mais adiar. Surpresa, percebi que não me senti assim tão mal. No fim eu realmente queria me abrir com aqueles que agora eram a única família que tinha. Eles tinham o direito de saber com quem eles conviviam. Olhei no rosto de cada um, a vergonha virando determinação. Eles me encaravam não com medo, mas admiração e curiosidade. Afinal eu era sim um ser raro. Sorri e encarei Annabeth fixamente. - Ok, pode começar o questionário Annie!

— Finalmente! - Ela riu de alívio e tirou do bolso um pedaço de papel. Sim, ela realmente tinha um questionário. Engoli em seco e me preparei. - Primeiro, quem é você? Claro, não a Eduarda mortal ou semideusa, quero saber quem é a ...

—Eduarda Língua Encantada? - Perguntei e ela assentiu. Olhei para Nico com um sorriso zombeteiro e ele entendeu e riu. Aquela também tinha sido sua primeira pergunta quando soube que eu era Língua encantada. Todos nos olharam curiosos e pigarrei, continuando. - Bem, é uma história meio longa..

— Acredito que temos bastante tempo! - Jason falou interessado e pousou a cabeça sobre as mãos me encarando.

— Tudo bem. Eu descobri sobre meus poderes quando tinha oito anos. Minha avó me pediu para que lesse em voz alta uma parte do livro O Mágico de Oz. - Olhei para Totó que lambeu meu rosto e sorri. - A parte que descreve o cachorrinho da Doroty, Totó. Quando terminei de ler no canto do quintal surgiu um cachorrinho preto e peludo latindo alto. Naquele momento eu percebi que não era alguém normal.

— Sua primeira leitura para fora do livro foi um cachorro? - Annabeth parecia espantada e eu assenti. - Pelas minhas pesquisas trazer objetos para fora já é bem difícil sem que eles venham com algum defeito e você trouxe um ser vivo perfeito?

— Não foi bem assim. - Suspirei e lembrei do Totó 1.0. - Ele veio com partes do corpo trocadas e pouco tempo depois ele se desintegrou. Naquela época prometi ler seres vivos apenas quando tivesse mais treino para isso. Então, desde aquele dia eu e vovó treinávamos todas as tardes. Terminava o dia com a língua cansada de tanto ler, mas eu sentia meus poderes cada dia mais fortes.

— Mas o que aconteceu? - Percy me olhava com pesar. Percebi que nunca contara para ele que era Língua Encantada. Meu próprio irmão. Meu coração pesou, mas aquele não era o momento certo para a explicação que ele merecia. Tentei passar o quanto me arrependia pelo olhar e ele apenas continuou. - Porque você passou a esconder seu poder se estava ficando tão forte?

— Na verdade eu nunca revelei meus poderes. - Todos me olharam confusos e ajeitei alguns fios de cabelo para me distrair dos olhares. - Quando descobri sobre eles minha avó me disse que deveria mante-lo em segredo de todos, principalmente de minha mãe.

— Sua mãe? - Piper se pronunciou pela primeira vez. - Mas ela também não era Língua Encantada?

— A linhagem de poder deles é diferente. - Annabeth tomou meu lugar e explicou pegando um livro da cadeira e abrindo em uma página específica. - Não se passa de pai para filho, mas de avô ou avó para netos.

— Correto. - Sorri para Annie que retribuiu. - Então minha avó e o irmão dela tinham poderes que passou para mim, mas minha mãe nem ao menos sabia da existência deles e minha avó queria que continuasse assim para a própria segurança dela e da minha tia.

— Mas seu poder é ler coisas para fora do livro! - Jason ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços. Sem ofensa, mas você não lança raios ou comanda os mortos, então que tantos perigos assim pode trazer?

— Aquela erupção na praia fui eu que causei, lembra? - Encarei Jason atônita e ele coçou a nuca envergonhado por não ter pensado nisso antes. - Imagine uma professora me mandado ler na frente da sala para a prova e o livro sendo Moby Dick. Eu tive que fingir um desmaio para escapar. Pode parecer um poder simples na frente de comandar raios e mares, mas lembre que posso ler qualquer coisa para fora dos livros, qualquer coisa. Incluindo tsunamis, terremotos, raios, tudo. É um poder grande demais....

— Mas sua avó te ensinou a controlar. - Leo tentou soar otimista, mas sua voz foi morrendo ao ver meu olhar triste. - Ela.. te treinou...

— Ela não teve tanto tempo. - Baixei os olhos e suspirei. - Nós treinamos por cinco anos, todas as tardes. Porém em uma tarde que cheguei na casa dela e ela estava caída no chão, morta. Gritei e chamei minha mãe na nossa casa que ficava a alguns metros de lá. O médico disso que foi infarto e não tinha mais o que fazer. Então eu perdi minha avó e minha treinadora. Não tive mais ninguém que soubesse quem eu realmente era, então também decidi esquecer. E passei a viver como uma garoto normal.

— Meus pésames, senhorita Swan. - Quíron me lançou um olhar triste e eu apenas alisei o pelo brilhante de Totó. Falar de minha avó ainda era duro e sempre me trazia lágrimas aos olhos mesmo depois de tanto tempo. - Lamento por não ter encontrado alguém que lhe guiasse. Grandes poderes sem orientação podem causar uma catástrofe.

—É, eu sei... - O que piorou tudo por me fazer lembrar de minha mãe. Respirei tão fundo que senti a barriga doer. - Por isso eu acabei escondendo. Tinha medo de não ter minha avó por perto e acabar não controlando meus poderes. Quem poderia me deter?

— Duda você não está mais sozinha. - Percy me puxou de lado e quase chorei de alívio. Seus olhos verdes me transmitindo a paz e o amor de sempre. - Não precisava ter escondido de todos nós seus poderes por medo. Somos uma família. Vamos dar um jeito

— Eu sei disso agora. - Sorri para Percy que me aprtou ainda mais. - Obrigada por entenderem. Depois do... acidente de carro que perdi minha mãe, fui morar com meus tios que eram a pior parte da minha família e isso acabou por ajudar a afundar ainda mais meus poderes em mim mesma. Eles realmente nunca poderiam saber quem eu era.

— O que me leva a segunda pergunta: existem mais Línguas encantadas? - Annie olhou para sua lista e depois me encarou com a sobrancelha erguida. - Os poderes passaram de sua avó para você, mas sua tia também deve ter filhos, não?

— Sim. - Me arrepiei de raiva ao lembrar de Bárbara e Bryan. - Ela tem filhos. Mas eles não tem poderes ou nunca revelaram assim como eu. No tempo que passei lá eles pareciam apenas mortais idiotas e mesquinhos para mim.

— Mas seu tio-avô? - Ouvi Piper perguntar. - Você disse que sua avó tinha um irmão. Ele também dever ser Língua Encantada...

— Ah sim, minha avó me contou que Anthony também era Língua Encantada. - Cocei o queixo lembrando disso. Será que foi isso que Hera quis esconder de mim no sonho quando hesitou ao dizer que não havia mais Línguas Encantadas? - Mas ela só falava com ele por cartas e as respostas dele nunca vinham com remetente. E fazia um bom tempo que ele não respondia, então minha avó acreditou que ele estivesse morto. Eles não eram tão ligados assim. Algo que já vinha de longa data.

— Como assim? - Nico perguntou confuso, provavelmente se segunrado para perguntar porque eu não contará isso para ele quando contei todo o resto.

— Bem, minha avó gostava da origem dos Língua Encantadas mesmo que não citasse Apolo em suas histórias. - Olhei para Annie que parecia uma criancinha ganhando o melhor presente de natal do século. Acho que ouvir a história de uma civilização secreta e poderosa era quase isso para ela. - Ela dizia que nosso primeiro antepassado, nosso criador, se chamava Edward Swan. Ele era obcecado por livros, como Quíron contou, até que em uma de suas viagens para o Cairo ele encontrou um estranho bibliotecário que lhe fez diversas perguntas sobre livros de todas as partes do mundo. Ele respondeu todas sem pestanejar e o bibliotecário sorriu e pôs a mão sobre o coração do rapaz. Ali surgiu uma marca de um pássaro. - Levantei a mão mostrando o anel de íbis que minha avó me dera. - Um íbis. O rapaz encarou assustado a marca e quando ergueu a cabeça novamente o bibliotecário tinha sumido. No mesmo dia quando chegou em casa e leu um de seus livros em voz alta as palavras ganharam vida e ele se tornou o primeiro Língua Encantada. Desde essa época seus netos receberam o mesmo dom e assim de avôs para netos até chegar em mim. Outro ponto importante é que sempre foram dois filhos. Edward teve dois meninos, e seus filhos tiveram dois filhos assim como minha avó tinha seu irmão, minha mãe sua irmã e meus primos que são gêmeos.

— Mas e você? - Leo perguntou confuso e vi Percy apontar para si mesmo. Ri e Leo revirou os olhos. - Sem ser o Percy é claro já que ele não entra na linhagem de leitores poderosos.

— Perguntei o mesmo para minha avó e ela contou que essa era a primeira vez que nascia uma filha única entre os Língua Encantadas. Quem sabe ainda não vou descobrir o porque? - Dei de ombros e vi Totó subir na mesa e correr para Nico. - Bem, minha avó contou que a uns cem anos atrás, na mesma época em que Quíron nos contou sobre a perseguição dos filhos de Apolo, dois irmão se desentenderam. Ela não sabia bem o motivo da briga, mas eles acabaram se afastando como se virassem dois desconhecidos e isso repercutiu para seus filhos e netos. Por isso minha avó e meu tio avô não se davam tão bem. Minha vó dizia que Anthony acreditava nos princípios de um dos irmãos e ela acreditava nos princípios do outro. Nunca me explicou muito bem que princípios eram esses e agora nunca saberei.

— Sinistro. - Ouvi Jason sussurrar. - Deve haver mais coisas por trás disso.

— Provavelmente. - Annie soou prática e apertou o rabo de cavalo. - Algo a mais para investigar. Mas precisamos de mais pistas. Duda e seu poderes? O que sabe sobre eles?

— Apenas que qualquer coisa que leio em voz alta vira realidade. Bem, livros impressos. - Pensei e olhei para Annie desanimada. - Não conhecço mais nenhum poder que tenha além desse.

— Certo. Quarta pergunta: O que sua avó sabia sobre a Caneta Encantada?

— Acredito que nada. - Cruzei os braços e neguei. - Ela nunca me falou nada sobre Caneta Encantada. Para mim a única forma de usar os poderes era lendo livros de verdade. Descobri que existiam canetas que podiam melhorar nossos poderes aqui.

— Interessante, como sua avó podia não saber da existência de canetas mágicas que encontramos no poder de Línguas Encantadas? - Annie dobrou o papel e guardou no bolso. - A não ser que esse desentendimento entre irmãos não apenas os tornassem desconhecidos, mas também os separassem em clãs diferentes. Temos que investigar isso melhor.

— E nós faremos isso Annabeth. Senhorita Swan sua história foi de grande importância para nós. - Ele me lançou um sorriso grato e eu retribui. - Conhecer melhor sobre um povo que era um completo mistério nos ajudará bastante e Annabeth já se disponibilizou para lhe ajudar a entender melhor seus poderes além do que saciará a ansia dela por conhecer melhor um Língua Encatada.

—Sério Annie? - Olhei animada para a filha de Atena que parecia tão animada quanto eu. - Muito obrigada, eu realmente não sei o que dizer. Eu fui idiota por esconder isso de vocês. Devia ter contado antes.

— Duda, entendemos porque não contou. - percy ainda me abraçava e eu enlacei sua cintura com um braço. - Mas nada de guardar segredos, principalmente de mim mocinha.

— Bem, então acho que tenho mais uma coisa para dizer. - Todos me encararam ansioso menos Nico que alisava Totó e me olhava determinado, já sabendo sobre o que falaria. Fechei os olhos e suspirei. - Me encontrei com Héstia a duas noites atrás e ele me contou sobre um novo perigo que estava surgindo...

Então passei a relatar toda a história. Minha conversa com Héstia, o sonho com Apolo onde eu descobria de onde vinham os livros, depois me encontro em sonho com Hera que me falou ainda mais sobre uma nova missão e como três semideuses não seriam suficientes para derrotar o novo mal que estava surgindo. Recuperei o fôlego e gesticulei ainda mais com as mãos ao falar sobre as possessões de Nico, Leo e Jason. Esse último fez Nico arregalar os olhos e me encarar perplexo. Saber que o crocodilo gigante já me conhecia e quase me matara no fundo do mar fez Percy cerrar os punhos e me apertar ainda mais contra si. Fechei o relato com um suspiro cansado.

— Fim. - Olhei para cada um dos rostos. Todos, sem excessões, me encaravam com surpresa. O silêncio se prolongou por tempo demais o que me fez resmungar. - Tudo bem, já podem falar algo!

— Ok, você bateu o recorde de semideus com mais quase-mortes do ano. - Leo assobiou surpreso e aquilo pareceu diminuir a tensão do lugar. - Percy tinha esse título, mas garota você merece muito mais!

— Obrigada Leo. - Revirei os olhos e sorri sarcasticamente. - Me sinto lisonjeada.

— Espera aí, vocês - Percy apontou para Nico, Leo e depois Jason com raiva no olhar. - tentaram matar minha irmã?

— Não foi nossa culpa! - Os garotos gritaram em unissono.

— Pelo que entendi foi um espírito que tomou conta dos corpos deles. - Piper tentou melhorar a situação e abraçou o namorado que parecia triste. - Não foi culpa deles, Percy.

— Sim e de qualquer foma o espírito se foi. - Tentei acalmar meu irmão. - Ele não será idiota de me enfrentar novamente. Já derrotei ele três vezes e sozinha! E agora tenho mais genter ao meu lado.

— Com certeza, maninha! - Ele sorriu e eu beijei sua bochecha.

— Isso não é o mais importante agora! Duda teve a visita de duas deusas que praticamente disseram a mesma coisa para ela. - Annie parecia ansiosa e mexia nos cabelos freneticamente. - Logo logo teremos uma missão com um inimigo tão perigoso como a Dona Terra e que já está mostrando suas garras. Tudo começa a se encaixar Quíron! O sumiço não foi por acaso.

— Como assim? - Nico encarou o centauro enquanto Totó sentava na mesa com a cabeça torta. - Sumiço de que?

— Com tudo o que houve não consegui dizer a mais nova notícia. - Quíron coçou o queixo e e apoiou as mãos sobre a mesa. - A Caneta Encantada desapareceu.

— O que? - Eu gritei. - Mas como?

— Não sabemos ainda. - Annie baixou os ombros cansada. - Depois de derrotar aquele crocodilo eu e Quíron voltamos para cá para conversamos sobre os possíveis motivos daquele ser ter entrado no acampamento além de voltarmos ao assunto dos Língua Encantadas. Foi quando Quíron resolveu pegar a caneta para analisarmos melhor, quem sabe ver algo que deixamos escapar durante todo esse tempo. Nossa surpresa foi ver o local totalmente vazio. Alguém pegou a caneta...

— E provavelmente usou a invasão da criatura para fazer isso. - Quíron falou e cerrou os punhos. - O que não sabemos ainda é porque alguém iria querer essa caneta se serve apenas para Línguas Encantadas.

— Duda, tem certeza de que é a última Língua Encantada? Sua avó nunca citou nada sobre mais ninguém? - Piper perguntou aflita. Todos eles agora sabiam as proporções do meu poder e o que aquela caneta causaria nas mãos de alguém com meus poderes sendo usados para o mal.

— A não ser meu tio Antonhy que está perdido ou morto, não existe mais ninguém com meus poderes que eu conheça. - parei e pensei por alguns instantes. - Mas espera.... tanto o espírito quando o crocodilo tinham um mestre...

— Sim, que temos quase novento e nove por cento de certeza de ser o mesmo cara. - Nico falou e me olhou com a sobrancelha erguida. - E?

— E quando ele tomou o seu corpo e do Leo, ele tentou me matar. - Apontei para Jason que me encarou assustado. - Mas quando ele possuiu o Jason queria me sequestrar para me levar ao seu mestre. Disse que tinha algo a ver com meus poderes de Língua Encantada. Ele sabia de meus poderes.

— E agora a caneta sumiu na mesma hora que o tal crocodilo apareceu por aqui. - Annie começava a entender meu pensamento e seu olhos brilharam.

— Ele precisa da caneta e de mim! - Ergui os braços e bati na testa. - Mas é claro! Ele precisa que eu leia algo para ele. Algo que não está escrito em livro nenhum. Agora tenho certeza!

— O vilão quer você e aquelas deusas disseram que a próxima missão para pegar o tão vilão tem que ter você incluída porque nenhum de nós pode derrotar o idiota? - Nico falou atônito e se inclinou para frente com os olhos irados. - Alguém mais percebe o quanto isso é errado? Ela vai direto para onde o tal mestre quer que ela vá!

— Nico você sabe que se a missão manda que ela vá, ela deve ir! - Quíron soou complacente e Nico bufou com os braços cruzados. - Se ela é a única que pode derrota-lo, como faria isso ficando aqui?

— Não sei, mas deixar que ela vá só vai facilitar que ela morra! - Nico quase gritou e olhou para mim com os olhos angustiados. - Mais uma vez... Percy, fale alguma coisa!

— Nico, se a missão é dela, não há nada que possamos fazer. - Percy encarou Nico que pareceu surpreso e ainda mais irritado. Meu irmão bagunçou o cabelo e suspirou. - Eu a amo, mas sei melhor do que ninguém que quando temos um trabalho a cumprir devemos seguir nosso destino. Quantas vezes também não quis livrar Annie de missões por saber que poderíamos morrer, mas se tivesse feito isso o mundo não estaria mais girando!

— Mas ela não tem treinamento! - Nico ainda defendia seu ponto com unhas e dentes. Encarando cada um, esperando que alguém concordasse com ele. - Não sabe lutar.

— Ela me derretou quando estava possuido. - Jason deu de ombros e sorriu. - Eu, um filho de Júpiter, derrotado por uma novata. E sei qua não foi golpe de sorte, Nico. Ela já enfrentou bastante coisa para alguém que está aqui a pouco mais de uma semana e as enfrentou com a coragem de uma guerreira. A missão só começa quando o Oráculo disser sua profecia. Rachel ainda não se pronunciou então temos tempo.

— Isso! - Leo encarou o filho de Hades com seu sorriso otimista. - Amanhã começaremos o treinamento dela e ela não vai descansar um minuto sequer! Quando a missão vier estará tão pronta quanto todos nós!

— Vocês tão conversando, mas ninguém perguntou o que eu quero! - Me pronunciei e todos me encaram envergonhados. Nico fixou seu olhar de irritação em mim. Ou será que era preocupação. Firmei meu olhar nele. - Nico nós já conversamos sobre isso. Sim eu também tenho medo e me preocupo, até porque é minha vida que está em jogo. Mas todos aqui passaram por isso, inclusive você e todos superaram. E lembra? Vão ter mais de três semideuses. Não estarei nada sozinha!Quem sabe você não pega carona na missão?

— Se você acha que vai sair na sua primeira missão sem mim, deve estar louca! - Ele sorriu e vi toda sua tensão e preocupação se dissiparem. Totó pulou novamente em seu braço e ele sorriu ainda mais.

— Perfeito. Nico domado, tudo resolvido. - Piper falou sorrindo charmosa e Nico rangeu os dentes. - Resumindo, o que sabemos é que uma missão se aproxima e que um dos piores vilões que já apareceram está tomando espaço e que a nossa Língua Encantada é a única pessoa que pode derrota-lo, mas que também é uma das peças para o plano maléfico do tal mestre. Esqueci algo?

— Resumiu diretinho, amor. - Jason abraçou a namorada que sorriu satisfeita. - Nossa função agora é tentar saber mais sobre esse vilão e como ele fez para o crocodilo e o tal espírito entrarem no acampamento.

— Principalmente temos de treinar duro essa garotinha aqui. - Percy me abraçou e bagunçou meu cabelo. Encarei seus olhos verdes brincalhões. - Ou seja, acordar cedo e sem intervalos. Quando essa misão surgir você será a pessoa mais preparada!

— Me sentindo o Batman... - Revirei os olhos. Todos me encaram confusos e Nico riu abertamente, o único entendedor da referência!

— Então acredito que finalizamos a reunião. - Quíron sorriu e todos nos levantamos. - E senhorita Swan já entreguei seus horários de aula ao senhor Jackson. Amanhã cedo suas aulas e treinos começam. Espero que os professores sejam de seu agrado.

— Com certeza serão bem melhores que a senhora Bandeira de Aritmética. - Me arrepiei ao lembrar da dona gorda e carrancuda do meu antigo colégio. - Aquela mulher era quase uma Harpia!

— Espera, tenho uma última pergunta. - Piper levantou a mão como se fosse uma aluna na sala de aula. Ela apontou para Totó que ergueu as orelhas e encarou a filha de Afrodite. - De onde surgiu esse cachorro?

— Ah bem. Esse é o Totó 2.0. - Dei de ombros e sorri encarando o cãozinho que abanava o rabo alegremente. - Na manhã passada resolvi treinar meus poderes para ver se não estava tão ennferrujada assim e li o mesmo trecho de O Mágico de Oz que minha avó me fizera ler e Totó acabou aparecendo. Totalmente perfeito.

— Então você já aprendeu a ler seres vivos?- Annie sorriu e piscou para mim. - Algo que podemos explorar em nossas aulas, Duda!

— Quíron se não for contra as regras gostaria de ficar com Totó. - Encarei o centauro e ajeitei os fios de cabelos soltos. - Até porque ele é minha responsabilidade.

— Um cachorro seria muito bom para o acampamento. - Quíron sorriu e concordou. - E seria bom analisar como ele se comporta. Ter saído de um livro pode ter efeitos colaterais no futuro, mesmo que ele esteja em perfeito estado agora. Em sua aulas com Annie podem abordar isso.

— Com certeza! - Sorri e chamei Totó que saiu dos braços de Nico e pulou em mim. - Obrigada!

Todos se encaminharam para a porta. Jason e Piper se despediram e seguiram para a área dos chalés. Leo beijou minha bochecha e seguiu para a Forja. Annie e Percy seguiram para a sacada e eu me despedi de Quíron com um aceno e saiu da Casa Grande com Nico logo atrás. Percy nos encarou sair e perguntou com a sobrancelha erguida.

— Então quer dizer que o di Angelo sabia que você era Língua Encantada e eu, seu irmão, não sabia?

— Ah Percy! - Gemi e bufei. - Eu não contei, ele descobriu por ser um completo invasor de privacidade!

— O que posso fazer se morenas bonitas indo para a floresta ler em plena cinco horas da manhã atiçam minha curiosidade? - Ele lançou seu sorriso galanteador e ouvi Percy bufar. - A conversa tá muito boa, mas que tal a gente ir almoçar. Preciso recuperar as forças e um bom X-burguer fará isso maravilhosamente bem.

— Isso não é almoço... - Cantarolei e desci as escadas.

— Eu não ligo.... - Nico me imitou e me empurrou de lado.

Fomos conversando no caminho enquanto Percy e Annie seguiam logo atrás. Totó seguia entre nós pulando e latindo. Eu nunca me sentira tão feliz até uma dor de cabeça me atingir em cheio e me fazer parar e gemer no meio do caminho. Senti braços segurando minha cintura, mas minha mente não parecia saber o que acontecia. Palavras desconexas soaram em minha cabeça e um segundo depois tudo sumiu e minha mente clareou.

— Swan, o que houve? - Vi olhos negros me encarando precocupados. - Você tá bem?

— Tô, tô sim. - Gemi e toquei a cabeça. Ainda latejava, mas aos poucos sentia o mundo voltar aos eixos. - Foi só uma tremenda dorde cabeça.

— Acho melhor irmos para a enfermaria. - Ouvi Percy falar enquanto segurava meu braço esquerdo e me ajudava a levantar. - Uma ambrosia poderia ajudar.

— Não, não precisa. - Respirei fundo e tentei esquecer a dorzinha chata que aos poucos sumia em minha cabeça. Não ia passar mais tempo na enfermaria, uma semana foi suficiente. - Com certeza foi fome. Acho que vou aderir ao X-burger!

— Ninguém resiste ao um X-Burguer. - Nico sorriu e voltou a caminhar, mas com uma mão em meu braço até que eu me equilibrasse novamente.

E em um passe de mágica tudo voltou a ser como era.

Mas uma frase ficou presa em minha mente saída do embolado de palavras desconexas e por muito tempo ela continuou assim.

O Língua Encantada está vivo...

 


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Notas finais do capítulo

Deixem seus coments e sugestões! Prometo responder a todos hehehe
Bem, próximo cap sairá apenas em outubro pq estou no último mẽs de aula e como devem saber, me afogando em provas e trabalhos! Então nos vemos em breve!
Kisses



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