Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 25
Você quer brincar com fogo?


Notas iniciais do capítulo

Jujubs estou de voltaa! Não morri! Fiquem felizes!!
Sei que demorei e vcs devem estar querendo me matar, mas espero que o cap compense!
Nos vemos lá embaixo...



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– Só faltava essa! - gemi, frustrada.

Continuei rodando pela floresta tentando achar alguma trilha. Qualquer trilha. E o vestido curto, que fazia os galhos arranharem minhas pernas, e as sapatilhas não eram de grande ajuda. Cada barulho era um susto e meu cabelo deveria estar tão bonito quanto um ninho de pássaros. E só para completar eu estava perdida! Pensei em gritar, mas a probabilidade de Nico me encontrar seria bem maior.

Nico...

O que tinha acontecido com ele? De uma hora pra outra ele se transformou no próprio Hulk. Ok, eu até tinha certa culpa nessa ira repentina, o assunto que entrei não era dos mais agradáveis, mas algo me dizia que não tinha sido o assunto que o deixara daquela forma. Aquela fina linha vermelha ao redor da íris dele não estava lá antes e nem depois que ele perdeu o controle. E eu tinha quase certeza absoluta que ela tinha algo a ver com isso. Mas o que?

Enquanto andava distraída e sem rumo certo senti meu pé afundar em algo quente. Areia. Olhei para frente e vi a imensa camada de água que quebrava em ondas na areia. Um sorriso aliviado tomou meus lábios ao sentir o aroma salgado novamente. Tirei os sapatos, que estavam mais marrons do que vermelhos depois da caminhada, e corri pela praia parecendo uma criança que via o mar pela primeira vez. Corri com os braços abertos e o riso solto, pulando as ondas e chutando a areia, me sentindo de alguma forma infinita naquele momento. Olhei para o horizonte e me sentei, há apenas alguns centímetros do mar, sentindo as ondas frias banharem minhas pernas e o vento desarrumar meus cabelos.

E pensei.

Pensei em tudo. Da minha infância até o momento com Nico. E ao lembrar daquilo minha mão automaticamente alisou meu pescoço. Eu nunca senti tanto medo de Nico quanto naquele momento. Nunca senti medo de ninguém como senti naquela situação. E medo era o último sentimento que queria ter por ele. E, além de tudo, aquele não era ele. Eu deveria ter percebido antes. E meu cérebro até percebeu, mas o desespero e o medo foram maiores que minha compreensão. “Que droga! Eu deveria ter ficado lá e apoiado ele depois que voltou ao normal e não ter fugido como se ele fosse um monstro!”E a cada pensamento, cada lembrança, eu me culpava mais e a raiva por mim mesma só aumentava. Mas no fundo eu ainda sentia medo, nem tanto por Nico, mas por aquilo que fez ele se transformar completamente. E se aquilo ainda estivesse....

Até que senti algo bloqueando minha visão. Depois do que passei, estava pronta pra gritar e sair batendo em quem estivesse me impedindo de ver, mas percebi que as mãos quentes e gentis que fecharam meus olhos eram familiares e a voz que sussurrou grossa em meu ouvido, me fazendo arrepiar involuntariamente, também era conhecida.

– Advinha quem é? - E eu sabia quem era. Reconheceria a voz rouca de Leo em qualquer lugar. Mas apenas sorri.

– Hum, deixe-me ver. Percy?

–Ehh... não.

– Quem sabe o Jason?

– Nope! - Pude ouvir ele bufar e sorri ainda mais.

– Ah, espera. Já sei! Só pode ser o... BlackJack!

– Mas o que? BlackJack?Que tipo de resposta foi essa? Como você pode me confundir com um cavalo? - Ele reclamou indignado e tirando as mãos dos meus olhos. Eu quase não conseguia conter a risada que tomava conta de mim enquanto ele sentava ao meu lado com uma cara zangada. Respirei, ainda com resquícios do ataque de riso e pousei a mão em seu ombro.

– Eu sabia que era você desde o começo! - Pousei os dedos em seus lábios e os abri em um sorriso - Não precisa fazer essa carinha zangada.

– Então você sabia? E o que me denunciou? Minha voz sexy e irresistível? - E ele mexeu as sobrancelhas juntas, insinuando algo.

– Mais provável que tenha sido suas mãos super quentes e cheias de calos. - Debochei e ele me olhou indignado. Mas deu um sorriso e tentou escondê- lo – Espera...não me diga que elas estavam sujas também!

– Bem digamos que agora você já pode combater o crime como um super herói. A máscara já tem! - Ele mal conseguia controlar o riso. - Mas veja pelo lado bom, você pode fazer cosplay de panda.

– Ha há. Muito hilário, seu engraçadinho. - Bufei, o que fez ele rir mais, e tentei limpar o máximo possível do meu rosto. Depois de um tempo, tempo esse que espero ter tirado toda a sujeira de mim, percebi Leo encarando minha roupa com um ar sério (e sim, ele parou mais tempo nas pernas. Esses garotos não tem medo do perigo!). Encarou os sapatinhos jogados na areia e voltou a encarar meu rosto com ar de dúvida. “Ai merda!”, pensei, “Com certeza se eu disser que estava em uma festa a fantasia ele não vai acreditar. Até porque quem acreditaria numa idiotice dessas?”. Minha mente processava a mil por hora algumas respostas que poderiam ser convincentes para explicar aquelas roupas, mas nenhuma foi tão boa assim. Abri a boca, pronta pra dizer qualquer coisa que aparecesse na mente, mas Leo, vendo minha confusão, respirou fundo e disse:

– Acho que é melhor não perguntar nada sobre a roupa...

– Tem razão. Melhor não.

– Ou sobre os sapatos...

– Também não.

– Ou porque você perdeu o café da manhã para ficar sentada na praia olhando pro nada...

– Ah droga, perdi o café? - suspirei, frustrada – E eu estava com tanta fome... - “...Mas ser enforcada por Nico deve ter me feito perder o apetite.”, completei mentalmente e ouvi minha barriga roncar. Leo sorriu e me estendeu algo que segurava nas mãos. Um cachorro quente embrulhado em papel alumínio. Bem amassado, mas deliciosamente fresquinho.

– Ainda bem que guardei um desses. - Ele me ofereceu e riu da forma quase desesperada que eu desembrulhei. - Ele está bem amassado porque acabei colocando no bolso quando fui fazer a surpresinha, mas tá bem quente porque, bem, essa é uma de minhas várias habilidades.

– Muito obrigada. - E quando abri a boca para a primeira mordida Leo me encarou esperando uma certa resposta. Revirei os olhos. - E a resposta pra sua última pergunta também é não, Não posso dizer porque sumi no café da manhã.

– Ah qual é? Então que pergunta eu posso fazer? Quer dizer, que pergunta eu posso fazer e você me dará uma resposta decente?

– Hum... - pensei com a boca cheia de pão – Vejamos...

– Você tinha namorado? - Ok, eu estava totalmente despreparada pra esse tipo de pergunta. Logo é comum imaginar que fiquei com uma cara de idiota surpresa com a boca cheia. - Quer dizer, antes de você vir pra cá?

– Ãhn.. sim... - A careta de decepção de Leo foi arrebatadora. Revirei os olhos ao lembrar que esse namoro foi a tanto tempo e tão curto que eu mal me recordava dele.

– Já terminaram a muito tempo?

– Sim. - E o alívio em seu rosto foi tanto que me fez rir. Estava tão distraída com sua cara aliviada e rindo tanto que nem prestei atenção na pergunta que veio a seguir.

– EusouGostosoPraDedéu?

– Sim... - Respondi no modo automático, engolindo o último pedaço do cachorro quente, até perceber qual havia sido a pergunta. O sorriso de Leo foi gigante. - Ãhn.. espera! O que? Não... a resposta é não!

– Você hesitou!

– Não, não hesitei! Você falou rápido de mais... E você não é gostoso pra dedéu!

– Mais é claro que sou. Com esses músculos magníficos e meu super e raro poder de fogo, ninguém resiste. 'Gostoso pra Dedéu' é meu nome do meio! - Ele disse, flexionando os braços e mostrando os músculos que se espalhavam por eles. Pra completar, fazia uma cara de galanteador que mais parecia uma careta.

– Você não tem tanto músculo assim para estar se gabando e seu poder de fogo não faz mal nem a uma mosca! - Arqueei a sobrancelha como desafio e sorri de lado. Leo me olhou indignado antes de dar um mínimo sorriso zombeteiro.

– Não fazem mal nem a uma mosca? Então o que será que eles fazem com uma semideusa espertinha e desafiadora?

Antes que eu pudesse protestar, Leo criou fogo em cada mão e este se espalhou pelos braços até os ombros. Era incrível! Fogo vivo em cada pedacinho de seu braço, mas nada era realmente queimado. Eu poderia ficar ali, observando e indagando como aquele poder funcionava, se Leo não se levantasse abruptamente, com os braços em chamas abertos, e viesse em minha direção com um sorriso desafiador no rosto.

– Você quer brincar com fogo?

– Oh não! Não, não, não! - Mas ele nem pareceu ouvir e continuou se aproximando. - Leo!

Soltei os sapatos na areia e corri pela praia com Leo em meu encalço gritando aos quatro vento: “ Eu sou Olaf e gosto de abraço quentinho, bem quentinhos!”. Gargalhei enquanto escapava por pouco das mãos 'calorosas' dele. Corri em círculos e linha reta até chegar ao mar. A areia molhada contornando meus dedos enquanto o mar chegava aos meu joelhos e as ondas quebravam em minhas pernas salpicando o vestido. Parei ofegante, e meio irritada já que vi o mar levar meus pobres sapatinhos e não pude fazer nada pra impedir, e me virei para Leo que estava parado a poucos metros de mim com os pés na areia seca e os braços ainda em fogo. Eu, cansada, com as mãos pousadas nos joelhos, sentindo a água salgar meus dedos, pedi tempo para reencontrar o ar em meus pulmões.

– Então? Desiste? - ele perguntou com um sorriso vitorioso.

– Ok, desisto. Seu poder faz muito, muito mal a uma mosca!

– Melhor, mas ainda preciso de um último abraço quentinho... - Pena que nós não conseguimos prever a gravidade daquele “abraço quentinho”.

Eu continuei parada com um sorriso enquanto Leo se aproximava com os braços esticados em minha direção. As chamas em seus braços diminuíam gradativamente, passando pelos cotovelos, braços e chegando a palma da mão. Mas antes que elas sumissem totalmente algo mudou, algo quase imperceptível. Foi tão rápido, mas percebi o corpo de Leo ficar tenso e seus olhos fecharem com força como se algo tivesse o machucando por dentro.

E, de repente, aconteceu.

Só me lembro de ver Leo pálido e assustado, com um brilho vermelho nos olhos, o mesmo brilho que vi nos olhos de Nico na floresta,até que uma bola de fogo saiu de sua mão e veio em minha direção rapidamente. Aquele foi o momento em que todos os filmes e livros falam, o momento em que minha vida passou diante dos meus olhos e a única coisa que consegui pensar foi “puxa vida, como tô ferrada!”. E, enquanto a bola de fogo se aproximava, só consegui pensar na água ao meu redor e em como, naquele exato momento, eu daria tudo para ter os poderes de Percy. Coloquei os braços a frente do rosto como uma forma estúpida de proteção, mas antes que fechasse os olhos vi algo... surpreendente.

A água do mar seguiu meus movimentos, serpenteando pelas minhas laterais e se unindo em minha frente para formar uma parede d'água de uns dois metros de altura. “Ou os deuses ouviram meu pedido, o que é bem difícil, ou eu...”. Não consegui completar o pensamento. A parede de água suportou bem a bola de fogo e eu não virei uma semideusa tostada, mas não me livrei dos hematomas pois, o impacto do fogo com a água me lançou muitos metros dentro do alto mar. Senti meu corpo queimar e o ar faltar quando minhas costas foram de encontro a superfície do mar e eu afundei gradativamente. De olhos abertos e ainda perplexa, não tinha mais forças para nada a não ser deixar a água me levar para o fundo do mar. Tão fundo... e tranquilo...Mas me lembrei de Leo. Ele deveria estar desesperado achando que eu não saberia nadar ou algo do tipo. Ou, quem sabe, se sentindo totalmente culpado... bem, ele era culpado, mas algo não estava certo. Ergui-me, flutuando na água, e tentei subir pegando impulso no chão.

Mas... que chão?

Olhei para baixo. Metros e metros ainda me separavam do fundo do mar. Eu realmente estava bem longe da praia!Vi leves movimentos e comecei a me perguntar o que poderia se esconder por aquelas águas além de peixes fofinhos e algas inofensivas. Olhei ao redor por segurança, mas não havia nada de perigoso por ali. Tirei a ideia da cabeça quando meus pulmões queimaram pela falta de ar e subi o mais rápido possível. A luz do sol aumentava a medida que a superfície se aproximava e respirei fundo quando emergi. Enquanto a água saia e o ar entrava no meu corpo encarei a praia. Leo parecia apenas um ponto marrom na vastidão de areia, mas consegui ver sua preocupação na forma rápida e atrapalhada que ele se movia de um lado para o outro, sem parar, quase formando um buraco no chão. Ergui a mão tentando mostrar que estava tudo bem, porém ele não viu, nem percebeu. Suspirei frustrada, meus olhos vagando pela praia até pararem um pouco a esquerda de onde Leo estava. Um vulto adentrou a floresta desesperadamente e sumiu. O que seria aquilo? Dei algumas braçadas em direção a praia até perceber uma movimentação ao meu redor. Revirei os olhos culpando minha imaginação fértil, mas resolvi nadar mais rápido. Ao olhar pra trás vi uma sombra submersa me perseguindo.

Aquilo com certeza não era imaginação!

Tentei ir mais rápido, meus braços e pernas já cansados, até que a sombra sumiu de repente, mas meu suspiro de alívio ficou preso na garganta pois algo pegajoso se enroscou em meu pé. Gritei por ajuda e puxei meu pé, tentando me livrar. O que só piorou a situação! Minha perna foi puxada com mais violência e eu fui levada para o fundo sem nem ao menos conseguir pegar mais ar na superfície. A criatura que me puxava desceu até chegar na areia fina e branca do funco e parou bruscamente, me fazendo arranhar uma parte do braço em uma rocha. Mas nada disso me importou, eu precisava voltar a superfície e a ardência que começou em meus pulmões apenas confirmou isso. Levei as mãos ao tornozelo e tentei, com todas as forças, afrouxar o aperto em minha perna, mas a criatura ficou furiosa e adentrou ao mar com velocidade, se distanciando cada vez mais da praia. Eu me debatia e puxava a perna, sentindo a esperança se esvair e o medo me dominar, mas o monstro parecia ficar cada vez mais irritado e me puxar com mais violência. Mas eu não desisti. Até que minhas costas bateram violentamente em uma rocha e o pouco de ar que ainda restava em meu corpo se foi. Eu senti a água entrando pelo meu nariz e boca, o desespero me dominando, e eu me perguntei se esse seria o fim. Andei fazendo muito essa pergunta naquele mês! A parte esperançosa de mim ainda esperava que algum milagre acontecesse, mas como? Eu estava cada vez mais no fundo do mar, longe de qualquer pessoa e, agora, sem ar.

Eu realmente acabaria assim.

E com uma última e falha tentativa de me libertar eu senti minhas forças sumirem e meus olhos fecharem lentamente.

As lágrimas se misturando ao mar. Eu iria apenas dormi... o sono eterno...

E, olhando uma última vez para a escassa luz do sol, desmaiei na imensidão azul.


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Notas finais do capítulo

Então o que me dizem?
Perdoada?



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