Tears of sea escrita por inoz2


Capítulo 4
Capítulo 4 - Hoje fugi


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem (:



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Estou a correr rápido, muito rápido. Energeticamente e sem parar, porque dói. Estou descalça e sinto o vento esgueirar-se por entre os meus finos dedos dos pés. É massacrante a sequência da minha corrida. Enquanto um dos meus pés está no ar, o outro aterra nas pedras daquele caminho, e é assim, pé por pé, repetidamente. Penso em coisas más pelo caminho, penso na vida e o quanto ela me corre mal. Penso nos amigos que não tenho e na família que já tive. Penso em tudo aquilo que detesto, e nalgumas das excessivas coisas que não suporto. Sou uma pessoa horrível. Penso no quanto isso é verdade e penso também no quanto gostaria de mudar algumas coisas na minha vida. Lembro-me que já o tentei fazer há uns tempos, mas que fracassei mais uma vez. Assim como hoje. Hoje também fracassei. Hoje eu fugi daquilo que julgava querer. E agora corro sem rumo, esperando por um buraco que me faça cair para sempre e ter aquela sensação de adrenalina como tenho em alguns sonhos. Esperando que esse buraco não seja negro e que não tenha fim, que nunca tenha chão, nem a manhã seguinte. Que nunca possa ter qualquer espaço para o sol nascer. E depois de pensar abro os olhos e olho para o céu. Está negro, escuro e sombrio, mortífero, mau, incansável de pairar acima de mim, de me perseguir, acho que este céu me quer matar hoje. Com tudo isto, acho que vai chover em breve. Nunca parei de correr, arrastando o longo vestido branco pela terra, sentindo os cabelos, presos com suor frio à minha cabeça, presos pelo peso da minha consciência, presos por que hoje eu fugi. Porque fugi também de mim própria, porque quero correr para deixar-me para trás. Mas como é que é possível correr para fugir de mim mesma, se sou eu que estou aqui, se sou eu que eu não quero, se é comigo que me desiludi e chateei? Se é de mim que hoje me cansei? Mas continuo a correr e continuo cansada na mesma. Olho para o chão e vejo os meus pés, o resto que sobra deles. Vejo sangue e sofrimento por culpa das pedras que pisei hoje. Muito sangue, na verdade. Estão roxos, inchados e frios. Já nem os consigo sentir. Começa a chover, a chover muito. Sinto-me mais fresca. O que é que eu fui fazer hoje à minha vida? Porque é que eu e o meu vestido branco fugimos daquilo que ansiávamos? Paro de correr, deixando que cada gota daquele céu que hoje me quer matar me escorra pela cara e que me mostre que tenho de parar de correr. Que me ajude a parar de magoar os pés com aquelas pedras pontiagudas, que me ajude a parar, pensar e no fim voltar para trás. Deito-me naquilo que agora é lama e estendo as pernas cansadas, os braços cansados, a cabeça cansada. Eu estou cansada de correr, quero parar e sentir a chuva a entranhar-se em mim e no meu vestido que agora já não é branco. Fecho os olhos. Penso em tudo. Levanto-me quase sem forças e continuo a correr, mas agora pelo sentido oposto. Corro agora para o caminho por onde hoje fugi. Acho que este é o caminho certo, acho que a história agora chegou ao fim. São as últimas palavras que vos dou, o que vem a seguir eu já não sei… A última coisa que sei é que parou finalmente de chover.


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