My pearl escrita por laracansi


Capítulo 3
Capítulo III – You Don’t Scare Me


Notas iniciais do capítulo

Para as duas leitoras que comentaram minha fic estou adorando saber que vocês estão gostando!! É ótimo poder ver que há gente acompanhando e eu adorei os comentários!! Bom aqui está o terceiro, espero que gostem!! xx



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A luz no porão estava fraca, apenas alguns buracos transpareciam a luz de fora. Depois de alguns passos ao longo do corredor, bati-me em alguém.

– Ah, desculpe-me.

– America?

– Will? Will! – Abracei-o.

– Wow! – Ele devolveu o abraço.

Seguimos para a proa do navio indo até a ponta para ficarmos a sós.

– Você tá bem? – Perguntei-o quando achei um lugar para nos sentarmos.

– Estou sim.

– E o que o Jack falou? – Perguntei receosa.

– Você sabe como o Jack é.

Will estava estranho. Nesses poucos minutos não esboçou nenhum sorriso ou olhou para mim.

– O que está acontecendo?

– Hã?

– Você tá assim...

– Você me usou. Como querias que eu estivesse America?

– Não é o que pensas

– Ah não? Então o que queres? – Ele olhava enfurecido para mim. – Acabas de estragar as poucas chances que eu tinha para reencontrar Elizabeth. Você muito bem sabes que Jack não deixara barato.

– Me desculpe. E-eu não queria lhe arranjar problemas Will.

– Pois bem, assim o fez.

– Desculpe-me. – Abaixei o olhar enquanto ele caminhava para longe.

Se Will não quer ajudar-me terei que tomar minhas providências sozinha. O que torna meu plano um pouco mais difícil de ser feito. Deixei um longo suspiro sair de minha boca quando me pus de pé e fui ajudar a tripulação com seus afazeres. Era hora do almoço, todos estavam felizes comendo o pouco que tinham no convés. Levei uma caneca de água na boca tentando localizar Will, e assim o fiz. Coloquei-me de pé e fui até a parte mais alta do navio.

– Will... – Murmurei enquanto me aproximava. – Precisamos conversar.

Will levou a caneca que estava em suas mãos até a boca tomando um longo gole.

– Will olhe pra mim. – Parei atrás do mesmo repousando minhas mãos em seus ombros.

Vendo que Will não iria facilitar, girei em meus calcanhares e, cabisbaixa, fui em direção às escadas.

– O que você quer? – A voz grossa de Will chegou aos meus ouvidos.

– Primeiro eu quero me desculpar – Falei apressadamente chegando mais perto. – Eu não queria arranjar problemas pra você Will, isso nunca passou pela minha cabeça, eu só, eu só queria saber o que estava acontecendo e e...

As palavras saiam descontroladas pela minha boca e minhas mãos faziam gestos estranhos, mostrando que eu estava nervosa com toda essa situação. Dei um longo suspiro, estávamos frente a frente.

– Me desculpe Will. – Abaixei meu olhar e ele pigarreou dando a entender pra mim prosseguir. – Eu preciso da sua ajuda.

– Já não ajudei o bastante?

– Will, escute-me. Eu vou fugir do navio.

– Você o que?

– Isso mesmo. Eu vou fugir do navio.

– Você não pode nem vai fazer isso.

– E eu estou te convidando para fugir comigo.

– Você só pode estar doida.

– Will, olhe aqui. – Segurei seu braço quando ele fez menção de sair dali. – Você acha mesmo que Jack vai leva-lo até Eleanor?

– Elizabeth.

– Que seja. Jack não é confiável Will e você sabe disso. – Repousei uma mão em seu peito e ele me encarou.

– Mas é o único que eu confio agora. – Will se retirou dali a passos firmes.

Joguei minha cabeça para baixo, derrotada. Se ele não quer me ajudar, pois bem não precisa. Só não diga que eu não avisei. Desci até ao porão e deitei-me em minha rede, cochilando logo em seguida. Ao acordar a noite já havia caído e poucas pessoas ainda restavam na proa do navio. Subi as escadas indo em direção ao leme, onde Jack estava, na parte alta do navio. Com um sorriso no rosto encarei-o.

– Para onde vamos capitão?

– A lugar nenhum – Ele sorriu. – O navio irá atracar agora. – Ele sorriu malicioso dessa vez.

Olhei-o esboçando um pequeno sorriso de canto de boca tentando mostrar-lhe que o jogo não estava ganho, coisa que não estava nem a léguas dali. Com seu habitual movimento, Sparrow chegou cada vez mais perto até conseguir sentir sua respiração no meu pescoço.

– Nem você, savvy? – Com um sussurro, Sparrow fez meus pelos eriçarem e minha pele arrepiar. Cheguei mais perto do seu ouvido.

– Eu não planejava ir a lugar algum.

Dito isso deixei Jack com seus afazeres e desci as escadas indo em direção ao porão. Como ele sabia disso? Ele nunca poderia saber. Só se alguém falasse. Will. Estava prestes a descer as escadas para o porão quando alguém me segurou. Ameacei soltar um grito, mas uma mão tampou minha boca, virei-me e vi os olhos escuros de Will. Ele foi tirando a mão lentamente, percebendo que eu não iria mais gritar.

– O que você está fazendo? Já não basta abrir essa boca e contar para Sparrow o meu plano agora você quer me raptar? – Sussurrei o mais alto que pude, dando-lhe uma bronca. Ele fez cara de tonto.

– Do que você está falando?

– Você muito bem sabes do que eu estou falando Will.

– Se eu soubesse não teria perguntado, não achas?

– Então como ele sabe?

– Sabe do que?

– Do meu plano oras. Como ele sabe o que eu planejava! – Segui o olhar do Will até as escadas do navio, onde Jack descia cambaleante.

– Turner, fugitiva. – Jack tirou seu chapéu e o abanou como uma reverência antes de entrar na sua cabine.

– É disso que eu estou falando Will, como ele sabe?

– E-eu não sei America.

– Como não sabe se foi você que falou Will?

– Eu não falei nada America, eu juro.

– Então me explica, como ele sabe?

– Jack pode ser tudo, mas não é burro. Ele deve ter ouvido ou alguém deve ter contado, não sei.

Coloquei minha franja para trás, passando freneticamente minha mão pelos cabelos.

– E-Eu vou me deitar Will.

Sabendo que minhas chances eram quase impossíveis agora, Will me deu passagem e eu desci as escadas escuras seguindo até minha rede. Deitei-me na mesma deixando logo em seguida uma lágrima cair, rolando pelo meu rosto. Funguei baixinho e limpei-a rapidamente. Depois de um longo suspiro forcei meus olhos a fecharem e depois de um longo tempo peguei no sono. Passos e murmúrios no porão fizeram-me acordar assustada nessa manhã. Rapidamente me pus de pé, peguei meu chapéu e subi as escadas até a proa. Um dos poucos dias em que Sparrow dava o ar de sua graça vagando pela proa. Rolei os olhos ao vê-lo e fui fazer meus afazeres. O dia passou e Jack não havia entrado na cabine quase nenhuma vez. Cada lugar que eu ia ou com quem eu falava Jack dava um jeito de chegar perto. As estrelas já começavam brilhar no céu quando fui falar com Sparrow.

– Então é isso? Vai ficar me vigiando dia e noite? – Ele soltou uma risada.

– Nunca se sabe o que pode vir de você mate. – Jack escorou-se em uma caixa.

– Digo o mesmo sobre o senhor. – Ele fez cara de desdém e começou a caminhar em direção a cabine. – Onde estás indo? – Gritei quando a porta se fechou.

Revirei meus olhos e repousei minhas mãos na borda observando as primeiras estrelas do céu. Ultimamente as coisas estavam indo de mal a pior. Nada ocorria como planejado, uma hora eu tinha tudo em mãos e em pouco tempo tudo desabava como um castelinho de areia. Sinceramente não sabia mais o que fazer, o tempo estava passando e eu nunca chegava onde eu queria. Desistir? Talvez... Jack me tirou de meus devaneios com seus passos pesados vindos até mim.

– O que é isso?

– São espadas ora.

– Sim, mas para que? – Confusa indaguei.

– Você não queres sair do navio love? – Encarei-o. – Então vai ter que aprender a usar isto.

Jack girou a espada entre os dedos, deixando o cabo virado para mim. Só o que me faltava, Jack querer me ensinar a lutar com espadas? Me poupe.

– É pro seu bem queridinha. – Receosa peguei a espada e ele sorriu indo até ao meio do convés. – Venha. – Ele me chamou e eu fui a passos lentos.

– O que você está tramando?

– Só acho que, pra quem quer sair do navio, é bom aprender a usar uma espada.

Sparrow vagava pelo espaço cedido apenas a nós dois. As estrelas brilhavam sobre nós e o pequeno sopro de vento fazia nossas peles arrepiarem. Andei mais um pouco ficando de frente para ele. Jack apoiava-se na espada, que achava apoio ao chão. Com seu típico ar de ironia, Jack trazia consigo um sorriso malandro no rosto. Pegou a espada e colocou em seu devido local, a bainha. Com passos precisos, Jack contornou-me parando em frente as minhas costas. Sem nenhum aviso prévio Jack passou suas mãos rente a minha cintura, dando-me o privilégio de sentir sua respiração em meus cabelos. Meus olhos se cerraram por alguns segundos enquanto levei minha cabeça para baixo. Em suas mãos, Jack estava com um cinto que logo em seguida envolveu em minha cintura junto com suas mãos que passavam meticulosamente em cima do tecido. Ao chegar as minhas costas, com suas mãos firmes, Jack segurou o tecido apertando-o rapidamente e fechando-o logo em seguida. Sem mais delongas segurou minha cintura, virando-me, e deixando-me cara a cara consigo enquanto fitava meus olhos. A distância entre nós era pouca, pouca o bastante para fazer nossos narizes roçarem. As órbitas pretas agora pareciam uma ônix reluzente. Jack levantou seu indicador levando-o até o canto do meu olho e trilhando um caminho até o canto da minha boca, logo depois deixando transparecer um sorrisinho. Meus olhos se fecharam e coloquei levemente minhas mãos na cintura de Jack apertando gradativamente até afasta-lo um pouco de mim. Meus olhos fitavam os seus. Levantei-me minha espada deixando-a rente a sua garganta.

– Vamos começar. – Encarei-o com ferocidade e ele sorriu, de novo.

Lentamente Jack postou sua espada em cima da minha, abaixando-a gradativamente até ficar na altura dos joelhos. Olhei da espada para seus glóbulos negros e em um segundo Jack atacava-me pela esquerda. Em um movimento desajeitado, levei a espada para a esquerda, batendo-a na de Jack. Logo em seguida, sua espada foi parar ao lado direito do meu corpo e com dificuldade levei a espada a direita. Jack caminhava para frente, induzindo-me a fazer o contrário, andar para trás. A cada momento em que ele colocava seu pé esquerdo à frente, meu pé esquerdo ia para trás. Nossos passos eram ritmados. Ao levantar da espada de Jack, levei a minha para cima e em um movimento rápido, Jack puxou-me pela cintura, passando sua espada rente ao meu espartilho. Nossos corpos se chocaram e um pequeno gritinho escapou de minha boca. Minha espada caíra no chão quando minhas mãos apertaram fortemente os ombros de Jack.

– Numa luta de verdade você estarias morta. – Os lábios de Jack roçavam perto do meu ouvido enquanto as palavras proferiam de sua boca.

Jack foi afrouxando minha cintura enquanto eu ia vagarosamente para trás. Rapidamente agachei-me e peguei minha espada, apertando-a até os nós dos meus dedos ficarem amarelos. Jack brincava com a espada enquanto vagava pela proa.

– Vejo que nunca havias pego em uma espada antes. – Ele lançou-me um olhar. Assenti.

– O que eu fiz de errado? – Perguntei depois de um pouco de silêncio.

– Primeiro – Ele vinha andando com a sua pose típica, dedos erguidos, braços entreabertos e andar cambaleante. – Isso tudo tem a ver com os pés não com as mãos ou espadas. – Ele sorriu pela sua sabedoria.

– E por segundo?

Jack chegou mais perto, sua mão pegou a minha e me guiou até o centro do convés, onde ficamos cara a cara. Suas mãos apertaram minha cintura quando nossos corpos se chocaram. Minhas mãos chegaram ao seus ombros quando ele começou a caminhar para frente. A cada vez que Jack colocava seu pé à frente, o meu ia para trás. Jack dificultava cada vez mais, me fazendo ter mais agilidade e prestar mais atenção. Em uma passada de pés difícil, meu corpo cambaleou para trás e imediatamente fechei meus olhos, esperando o contato com o chão chegar. Abri meus olhos devagar dando de cara com Jack com um belo sorriso sarcástico estampado no rosto. Minha mão apertava a sua, enquanto a outra segurava fortemente sua nuca. Meus olhos fitavam seus glóbulos negros enquanto ele me levantava vagarosamente até ficar de pé. Deslizei minha mão até seu ombro enquanto nossas mãos se entrelaçavam e caíam ao lado dos nossos corpos, agora pertos. Jack afrouxou minha cintura depois de um tempo sustentado nosso olhar. Dei um passo pra trás levando uma mexa para trás da orelha, Jack sorriu.

– Está feito. – Ele falou com a voz pesada, andando até um caixote para pegar seu casaco.

– Como assim? Eu ainda não sei nada!

– Mate, mate... – Jack parou em minha frente colocando o casaco. – Você aprenderá com o tempo. – Ele piscou e minha boca ficou aberta.

– Tempo? Eu não tenho tempo! – Sabendo do que eu falava, Sparrow lançou-me um olhar e soltou uma risada pelo nariz.

– Só se não terá para onde ir. – Ele piscou novamente andando a passos firmes até a porta da cabine, abrindo-a e soltando uma reverência logo depois sumindo lá dentro.

Soltei mais um suspiro derrotado e peguei meu chapéu, indo até o porão. Jack me enfurecia como ninguém mais. Todos os meus planos, minhas esperanças eram acabadas por ele. Joguei-me na rede fazendo-a balançar um pouco. Quase nenhuma alma viva estava acordada o que me restou a fechar meus olhos e esperar o sono vir. O tempo foi passando e o sono não vinha, tudo o que eu conseguia pensar era em Jack e minha falta de sorte. Meus pensamentos simplesmente pararam, eu já não imaginava mais as coisas e também não pensava nelas. Adormeci e acordei em um pulo já ao amanhecer. Coloquei-me em pé com meu corpo mole, subi as escadas com um pouco de dificuldade e meu braço direito estava doendo. O sol de todas as manhãs havia sumido e as variadas nuvens de diversos tons espalhavam-se pelo céu que, aos poucos, ia perdendo o tom azulado. Dei uma boa olhada pelo convés seguindo até o lugar em que eu sempre ficava. Percebi que não havia tirado o cinto que Jack me dera noite passada, passei levemente a mão pelo tecido áspero do mesmo, relembrando da noite anterior. Levei meu olhar diretamente a porta da cabine do capitão. Por que ele faz isso justamente comigo? Meus devaneios sumiram quando a porta foi aberta e dela saíam Jack e Will. Jack acenou para mim quando me viu e eu poderia jurar que meus olhos ficaram vermelhos. Will caminhava até mim, fitando o chão com um leve sorriso. Ele parou ao meu lado.

– Will, conte-me o que ele lhe falou? – Perguntei afobada, já virada para o mesmo que estava agachado. Ele se endireitou e me olhou.

– Ah, bom dia America, espero que tenha um ótimo dia nesse imenso navio. – Suas mãos repousavam em meu braço. Sem delicadeza alguma, retirei suas mãos dali.

– Bom dia Will, agora me diga o que ele lhe disse?! – Ele apenas soltou uma risadinha.

– Você quer saber mesmo? – Assenti com a cabeça. – Encontre-me nesse mesmo lugar no cair da noite, temos muito a conversar. – Com a respiração quente, Will falava ao pé do meu ouvido.

– Will!

Tentei segura-lo ou chama-lo de volta, mas ele não o fez. Will saiu a passos firmes com dois baldes em mãos, indo em direção a um bote que estava preso ao lado de fora do navio. Confusa com essa história, andei em direção a porta da cabine do capitão. Bati uma, duas, três vezes e ninguém me atendeu, ao fazer a menção de encostar a mão na maçaneta, um pigarro fez-me paralisar.

– Procurando-me, love? – Com um sorrisinho no rosto, virei-me para o mesmo.

– Jack! – Ele sorriu.

– Gostarias de conversar ali? – Ele fez menção com a cabeça para a cabine e eu sorri, abrindo-a e entrando-a.

Jack seguia meus passos enquanto eu fitava seus olhos, sustentando seu olhar. Com seu inigualável sorriso no rosto, Sparrow entrelaçava minha cintura com suas mãos cheias de anéis. Minhas costas bateram na mesa, mostrando-me que era hora de acordar.

– Ahn... Jack... – Afastei suas mãos de minha cintura e recuei rapidamente, antes que o mesmo beijasse meu pescoço. – Eu não estou aqui para isso. – Sentei-me na cadeira majestosa que ficava atrás da mesa.

– Então por que estas aqui?

– Hum... – Passei a mão em meus cabelos. Com o cotovelo em cima da mesa, apoiei meu rosto em minha mão, inclinando-me um pouco para frente. – Não é você que sabe de tudo? – Ergui uma sobrancelha.

Cuidadosamente, Sparrow dedilhou na madeira envelhecida da mesa espalmando logo em seguida suas mãos, inclinando-se para frente, até ficar criticamente perto de mim.

– Eu sei de muitas coisas, milady – Ele sorriu, soltando seu bafo de rum. – Cujas quais você nunca saberá. – Ele abriu seu sorriso. Levantei-me grosseiramente da cadeira.

– Ok, tanto faz! Se você não quiser me contar eu vou descobrir isso sozinha! – Falei indo até a porta.

– E como você irá fazer isso?

– Não é da sua conta! – Falei, enfurecida, batendo a porta em minhas costas.

Eu não sabia como, nem com quem descobrir. Eu estava perdida, sem rumo, sem ideias e sem chances e a única pessoa que poderia me dizer era a mesma que estava estragando completamente as minhas chances. Afastei-me da porta da cabine, indo para o lado direito do barco e começando a amarrar as cordas. Eu havia perdido minhas esperanças. Há exatamente dois dias minha cabeça estava cheia de planos, ideias que funcionariam perfeitamente. Mas os ventos mudam de direção e tudo foi escapando da minha mão lentamente, como grãos de areia. O que me restara agora era fazer parte de um plano para dar satisfação ao cara que arruinou minha vida. Os nós dos meus dedos começaram a ficar cada vez mais brancos e uma trovoada cortou os meus pensamentos. Subitamente olhei para o céu e as nuvens que antes se arrastavam por cima de nossas cabeças, agora faziam sua pausa anunciando a chuva torrencial que veria a seguir. As lufadas quentes de vento anunciavam que a tempestade poderia chegar a qualquer momento. Como formigas, os marinheiros postos naquele convés, corriam de um lado para o outro guardando os caixotes de comida. O primeiro pingo havia caído, dando sequência a chuva. Em passos leves caminhei lentamente até a escada que dava ao andar superior do navio. Subi as escadas com dificuldade me deparando com dois piratas escorados na borda. Andei até eles.

– O que a senhorita estás fazendo aqui? – Um deles me perguntou, o mais magro com um olho de vidro. Levantei meu olhar.

– Não sei, ao certo. Ultimamente nada sei e nada que eu saiba irá me adiantar.

Com a inocência de uma criança e um pouco de medo tomado em seus olhos, misturados com pena, o pirata que havia me perguntado esticou sua mão oferecendo a pequena garrafa de rum que havia em sua mão. Peguei-a como em um impulso e levei-a na boca, tomando um gole logo em seguida lhe devolvendo e sentando-me na frente dos mesmos.

– Qual é o seu nome? – O amigo mais gordo e um pouco careca ao seu lado perguntou-me.

– America e o de vocês?

– Pintel – O mais gordinho falou e apontou para si. – Ragetti. – Apontou o dedo para o companheiro.

– Mas por que você estás assim, triste?

– Eu não tenho mais esperanças. – Os dois se surpreenderam.

– Queres ajuda? – Ragetti perguntou logo em seguida.

– Vocês me ajudariam?

– O que você tem a nos oferecer?

– Serve isso? – Tirei do bolso de trás da minha calça uma pequena bolsinha com algumas moedas dentro. Os dois a pegaram e sorriram vendo o seu conteúdo.

A chuva, que antes era apenas pequenos pingos gélidos que pareciam cortar sua pele, agora havia engrossado. Rapidamente me pus de pé indo em direção à escada. Trovões e relâmpagos preenchiam o céu naquele dia chuvoso, sentada em minha rede com um pequeno cobertor por cima das minhas costas, Will chegou mais perto, oferecendo-me uma caneca de alguma coisa quente. Recusei. Sentado num caixote em minha frente ele começou a falar.

– America – Ele deu uma pausa. – Me desculpe.

– Isso não importa mais agora. – Sorri fraco.

– Eu estou desculpado? – Ele me olhou com suplica no olhar. Assenti com a cabeça e ele sentou-se ao meu lado na rede.

O resto do dia, Will e eu conversamos como se nunca tivéssemos nos conhecido. E não tínhamos, havia coisas sobre Will que eu nunca imaginara que ele havia passado. Saber que ele era um mero ferreiro com um grande amor por uma dama da alta sociedade nunca passaria pela minha cabeça, simplesmente porque eu não enxergava que Will estava ali a todo o momento. Eu apenas queria sair dali o mais rápido possível sendo assim fechando meus olhos para qualquer presença a não ser pelo Sparrow. Will espantava-se a cada palavra que eu dizia. Falei-o sobre Nova York e como era frequentar uma escola, jogar videogame ou então fazer pipoca de micro-ondas. Também o falei sobre a Time Square e como era lindo o Ano Novo por lá. Não pude deixar de mencionar o grandioso Madson Square Garden e, obviamente, minha família e amigos. Impressionado como o “mundo lá fora” era diferente do que ele viverá sua vida inteira, Will pegou no sono e eu deixei minhas pálpebras se fecharem logo em seguida. Já pela manhã, Will e eu fomos até o convés e ali ficamos.

– Venha. – Will puxou-me pelo braço até ficarmos ao convés de cima.

– Will o que você está planejando?

– Ouvi dizer que você estás aprendendo a usar uma espada, certo?

– Sim, ma-mas... - Sem conseguir terminar a frase, Will puxou sua espada apontando-a para mim.

– Mostre-me o que sabes.

Com um ar de desafio e brincadeira, puxei minha espada logo em seguida batendo-a na de Will. Logo já estávamos numa luta intensa rodopiando e correndo pelo pequeno deque de cima. Com movimentos rápidos e precisos Will desarmou-me, jogando minha espada longe. Ao perceber que estava sem saída levei rapidamente minha mão até o braço direito de Will, passando-a pelo mesmo até chegar em sua mão. Fitando seus glóbulos, tirei a espada da sua mão encostando logo em seguida a lamina em sua garganta. Abri um sorrisinho e ele fez o mesmo. Um pigarro nos fez virar a cabeça.

– Então vocês querem cruzar espadas, no meu navio? – Jack sorriu. – Não sem o capitão.

Rapidamente tirei a lamina do pescoço de Will e o mesmo pegou minha espada caída no chão. Will foi até ele e os dois começaram a lutar. Will era hábil e preciso, conseguia se defender muito bem e como também atacar seu oponente. Já Jack tinha seu reflexo bom como o de um gato e sua velocidade era fantástica. Jack encurralou Will, dando um golpe em sua espada fazendo-a cair ao chão. A ponta de sua espada encostava o peito de Will, rapidamente bati e minha espada em cima da de Jack, fazendo-o soltar um sorrisinho surpreso. Sparrow levou minha espada para o lado então começamos a lutar. O tilintar das espadas era ensurdecedor e realmente alto, em poucos minutos já havia um pequena plateia nas escadas. Jack quase havia me pego duas ou três vezes, quando Will surgiu por trás dele. Com um sorriso no rosto de ambos me vi livre em parar de lutar com Sparrow, até porque o mesmo tinha problemas maiores agora. Mas não foi assim que aconteceu.

– Não sabia que desistia tão fácil assim, love.

Jack provocou-me. Segurei fortemente minha espada batendo-a novamente na espada de Jack, que sorriu com o meu feito. Rapidamente Jack saiu de minha frente, deixando que Will fizesse sua parte no jogo. Com uma habilidade inexplicável, Will batia fortemente na minha espada enquanto eu tentava defender-me. Em um piscar de olhos havia dois homens tentando me matar. Jack e Will me faziam andar pelo convés enquanto eu me defendia de suas espadas. Éramos um trio. Um trio ligado por apenas uma coisa. Liberdade. Will queria ser livre de Sparrow para poder se casar com a sua amada. Jack queria ser livre, sem ter ninguém que o mandasse ou que o quisesse matar. Queria navegar os sete mares sem nenhuma responsabilidade a seguir. E eu queria ser livre desse navio para poder voltar a minha vida normal. Lutamos por longos minutos até que em um passo mal calculado, tropecei em meus próprios pés e, rapidamente, Jack e Will largaram suas espadas para segurar meus braços. Sorri agradecida quando fiquei em pé novamente.

– Mexam-se bando de ratos de convés! – Jack gritou e os marujos foram correndo fazer seus afazeres. Sparrow voltou-se a mim.

– Ahn... Por que tudo isso? – Perguntei aos dois.

– Você não queria sair do navio? – Will perguntou e eu assenti com a cabeça.

– Nós estamos te treinando. – Jack piscou e eu segurei seu braço antes que ele saísse dali.

– Por que isso agora?

– Pra sua segurança. – Will respondeu com um sorrisinho.

– Minha segurança? Primeiro vocês nem se importam se eu vou ou não sair do navio, agora vocês querem me ajudar? Eu realmente não entendo vocês... Piratas! – Bufei e fui a passos pesados até a escada.

– America, espera!

Will gritou e eu não dei ouvidos. Eles queriam me deixar louca, isso sim. Desci as escadas rapidamente indo até o convés. Olhei-o e encontrei os dois piratas com quem eu tinha falado e rapidamente andei até eles. Eles estavam me ajudando certo? Então era a hora certa de por meu plano em ação. Senti uma forte pressão eu meu braço esquerdo.

– America, precisamos conversar.

Will e eu nos afastamos dos demais, escoramo-nos em algumas caixas empilhadas bem na ponta da proa.

– O que queres?

– Explicar-lhe uma coisa, mas ninguém poderá saber. – Fiz sinal para ele continuar. – Você pode estar achando tudo isso muito confuso, e eu até entendo, mas eu sei que isso irá lhe ajudar. Jack acha que lhe ajudando a usar uma espada irá trazer-lhe confiança para ficar no navio. Ele sabes que você não irá sair e, se saísse, não queria que você se machucasse.

– E desde quando ele se importa comigo Will?

– Desde que você se tornou uma das poucas coisas que ele pode usar para conseguir o Pérola.

– Uma das poucas coisas ou a única coisa? – Ele fez uma longa pausa.

– Jack não irá sossegar enquanto não tiver o Pérola em suas mãos. Ele pode até ser estranho, misterioso...

– Arrogante, sem coração, mal... – Cortei-o e ele pigarreou fazendo-me deixa-lo prosseguir.

– Ele pode ser tudo isso America, mas é aqui que você estará segura.

– Segura para depois morrer? Eu acho que não Will. Jack prometeu que me ajudaria e eu já o ajudei antes. Ele tem uma divida comigo e se ele não pagar, ele não terá seu precioso Pérola.

– E por que você acha que ele quer o Pérola? Ele poderia ter pego qualquer um, mas ele lhe escolheu. Por que será?

– O motivo, eu não sei. Mas eu sei que não é para me levar embora. Quem não gostaria de ter uma mercadoria fácil de trocar Will? Me diz, quem?

– America... Não pense assim... Você...

– Will, eu já estou cheia disso. Jack pode ir para onde bem entender a hora que ele quiser, por que ele não me leva embora logo? Eu não quero mais ser uma moeda de troca Will. Eu só quero ir pra casa.

– America...

– Chega. Se você confia tanto em Jack a ponto de por sua amada em risco, eu não posso mudar sua opinião. Mas você não irá mudar a minha. Passar bem.

Rapidamente foi para o porão procurando o lugar mais escuro que havia. Sentei-me no chão, escorando-me na parede e repousando minha cabeça em meus joelhos. A raiva e a tristeza tomavam um só caminho, transbordando em seguida pelos meus olhos. O medo tomava conta dos meus pensamentos e eu não conseguia mais me imaginar fora dali. Será que eu estava fadada a viver ali para sempre? Ao lado de Jack e Will? Sem poder olhar para a minha família novamente? A questão era que ao longo do tempo eu havia perdido toda a minha coragem do primeiro dia. Eu estava cada vez decaindo para o fundo do poço. Eu estava perdendo minhas forças e eu não sabia como reencontra-las. Passei as costas das mãos nas minhas bochechas encharcadas agora e pus-me de pé. Minha cabeça transmitia uma dor horrível e a pouca luz me fazia cambalear por entre as redes. Meus olhos estavam embaçados e o frio começou a me dominar, cheguei em minha rede com dificuldades e em alguns segundos eu já estava em meu mais profundo sono. Os passos gradativamente aumentavam ao meu lado, os marujos andavam rapidamente pelo porão, carregando caixas e ferramentas para o depósito logo ao fim do corredor. Agora acordada ia em direção ao convés. O sol se punha ao horizonte e a vista era realmente muito bonita, com passos leves fui até uma das pontas mais altas do navio para uma melhor visão do por do sol. Deleitei-me com a bela vista que tinha dali, uma das melhores coisas que havia encontrado nesse navio. Era realmente muito bonito poder apreciar uma coisa tão comum na natureza em meio ao mar aberto. Involuntariamente abri um sorriso me sentindo, depois de muito tempo, bem. Um pigarro tirou-me a concentração.

– Jack quer falar com você. – Virei-me para encara-lo.

Olhei-o diretamente em seus olhos, podendo sentir sua tristeza e culpa. Com a cara séria e os poucos fios de cabelos soltos esvoaçando, Will olhou para baixo esperando por uma resposta. Aspirei uma grande quantidade de ar ainda fitando-o. Will levantou seu olhar para mim, suplicando por um perdão que poderia acabar com seu sofrimento. Abri a boca e soltei as palavras com frieza.

– Diga a ele que eu já vou.

Assentiu com a cabeça e a passos leves saiu em direção a cabine do capitão. Deixei que o tempo passasse enquanto olhava para o céu alaranjado que ia escondendo o radiante sol. Sem ter certeza de quanto tempo havia ficado olhando para o nada, apenas com meus pensamentos, percebi que a noite já havia caído e as estrelas brilhavam fortemente no céu escuro. Sabendo do meu compromisso desci as escadas e bati duas vezes na porta, esperando por uma resposta.

– Eu estava esperando por você.

Apertei a maçaneta da porta, pensando se era a coisa certa a fazer no momento. O que eu tinha a perder? Abri-a e entrei avistando Jack com os pés em cima de sua mesa jogado na majestosa cadeira logo atrás. Ele soltou um pequeno sorrisinho e logo se pôs de pé, vindo em minha direção.

– Que bom que você veio. – Ele passou seu braço por cima do meu ombro. – Temos muito que conversar.

Sorri de canto enquanto ele me levava até sua mesa. Apontando-me para as cadeiras a frente, Jack pediu para que eu sentasse. Com a voz derrotada, perguntei.

– O que queres?

– Não podemos conversar agora? Como amigos?

– Você nunca foi meu amigo Jack!

– Eu estou lhe dando moradia, comida e tudo que há de bom nesses mares – Jack apontou para si, vangloriando-se. – E você tem a capacidade de dizer que eu não sou seu amigo?

– Se você meu amigo iria me levar embora.

– Você não gosta daqui?

– E deveria?

– Deveria. Pois não há outro lugar.

– Ouvi dizer que há algumas ilhas perto daqui.

– A quilômetros longe. Um dia inteiro ou mais de viagem. Não vai querer se arriscar, vai? – Soltei minha respiração, derrotada. Ele chegou mais perto. – Até porque ficar um ou mais dias sem me ver, seria horrível, não seria?

– Você não sabe o que esta falando.

– Eu sei muito bem o que estou falando, pois se quisestes sair deste barco já poderia tê-lo feito.

– Com todos esses aprendizados que você me proporciona Jack, não vejo porque não esperar.

– E quem disse que eles são bons o bastante para salvar sua vida? – Ela se aproximou mais um pouco.

– Não dizem por ai que você é o melhor pirata? – Encurtei nossa distância. Estávamos cara a cara.

– Eles falam a verdade. – Ele sussurrou por causa da distância.

– Então por que não aprender com o melhor pirata?

– Porque o melhor pirata também sabe enganar. – Ele piscou.

– Você me enganaria Jack? – Fingi-me de inocente, umedecendo os lábios com a língua.

– Quem pode lhe garantir que eu não estou lhe enganando agora, milady?

– Você está? – Ele ficou em silêncio. – Você seria capaz de me matar Jack?

– Não – Ele falou, quase sem nenhum som, e chegou mais perto depositando beijinhos em meu pescoço até chegar à orelha. – Agora.

Jack se afastou minimamente de mim encarando-me. Estávamos muito perto, nossa respiração já se transformava em uma e o nariz de Jack roçava contra o meu. Seus lábios abriam e fechavam em um movimento ritmado e seu olhar ia de meus olhos aos meus lábios. Fiquei ligeiramente tonta com o cheiro de Jack, mas mais ainda quando percebi que seu olhar parou em meus lábios e um sorriso pervertido escapou dos seus. Jack estava quase chegando ao seu destino, mas eu me afastei rapidamente. Olhando-o surpresa ele se recompôs e me fitou.

– Boa sorte.

Soltei um sorriso de desafio, ainda mais depois do que havia acontecido. Girei-me em direção a porta e sai da cabine com ares renovados. Então Jack iria me matar? Vamos ver se ele consegue. O olhar de algumas pessoas pesaram sobre mim quando eu fechei a porta da cabine. Mas um em especial me chamou a atenção. Fui em direção à Will, que carregava algumas caixas com um pouco de dificuldade. Peguei a primeira e abri um pequeno sorriso seguindo-o logo depois. Fomos até o fim do corredor escuro do porão, onde vários caixotes de diversos tipos estavam sendo empilhados. Após colocar o último escoramo-nos na borda do navio.

– O que ele queria?

– Dizer que estou em sua mira. – Ele se calou. – Mas nada que eu não pude resolver.

– E o que você fez?

– Não é questão do que eu fiz. É o que eu vou fazer. – Pisquei para ele dando uma risadinha.

– E o que será?

– Lhe contarei quando chegar a hora, meu caro. Boa noite.

Plantei-o um beijo estalado na bochecha e segui até o meu aposento. Ajeitei-me na rede e logo vieram os pensamentos do dia que se passará e do dia que ira seguir. Adormeci com um leve sorriso no rosto. Acordei com o meu corpo batendo contra a parede de madeira ao meu lado. O alvoroço no porão era sempre o mesmo, marujos recém acordados, cansados e com pressa para fazer seus afazeres. Sentei-me na rede e abri um sorriso, pus me de pé e como sempre fui até o convés. Rapidamente alguém me puxou pelo braço.

– Will! – Sorri em vê-lo. – Bom dia.

– Bom dia. – Ele me ofereceu um pedaço de pão e uma caneca da água. Aceitei. – Vejo que está bem feliz, o que acontecerá?

– Ótima noite de sono, talvez. – Ri. – O que tem pra hoje?

– Iremos pintar as bordas do navio.

Sorri e acabamos de tomar nosso café. Depositei a caneca em cima de um caixote e segui Will até uma das extremidades do barco. Will alcançou-me um pincel e uma lata de tinta verniz. Em seguida eu e Will estávamos pintando e cantarolando, conversando sobre tudo um pouco. Por fim o sol que na manhã estava fraco acabou ficando forte e escaldante. As nuvens que pairavam sobre nós haviam fugido, e o céu estava mais azul que o comum. Will e eu havíamos parado para tomar um pouco de água.

– Você não tinha que me contar uma coisa?

– Ainda não chegou a hora. – Pisquei e voltamos a trabalhar.

A tarde foi se arrastando e no meio dela o nosso trabalho havia sido concluído. Fomos até o porão guardar as latas de tintas, de repente Will puxou-me pelo braço nos colocando em um canto escuro.

– Acho que já está na hora.

Repousei minhas mãos em seus braços fortes e olhei diretamente para seus olhos. Ele me encarava sério quase sem nenhuma expressão se eu não soubesse que a curiosidade e o medo o tomavam.

– Você não irá concordar com isso Will, mas é para o meu bem.

– V-Você...

– Essa noite eu irei sair desse navio. Não quero que me impeça de fazer isso, pois eu não vou. É a única chance de fugir do meu destino cujo eu não queria ter. Você é o único que eu confio Will, não me decepcione. – Dito isso eu o abracei.

– Você não pode fazer isso America – Ele sussurrou em meu ouvido. – É perigoso.

– Eu tenho consciência disso. Mas o que eu posso fazer?

– Esperar? Você não conhece esses mares, você não sabe dos perigos.

– Will – Afastei do seu corpo quente, fitando seus olhos. – Eu não quero morrer. – Passei a mão de leve em seu rosto.

– Então fique. – Ele repousou a sua em cima. – Por mim.

Meus olhos umedeceram a ponto de deixar as lágrimas escaparem. Abri um breve sorriso.

– Eu te amo, mas não posso fazer isso.

Aprecei-me em abraça-lo, fazendo-o bater na parede de madeira logo atrás de nós. Will segurava minha cintura tão forte, prendendo-me a ele, dando a entender para eu não ir. Ajeitei minha cabeça na dobra de seu pescoço e falei em palavras abafadas.

– Eu sei das consequências, mas tenho que enfrenta-las.

Dito isso me afastei de Will, dando uma última olhada em seus olhos pretos e seguindo meu caminho até o convés. Pintel e Ragetti já preparavam um barco para mais tarde. Fui até eles.

– Como estão indo?

– Acho que irá dar tudo certo madame. – Pintel me falou com um sorriso.

– Ótimo.

Novamente fui até a parte mais alta do barco e encostei-me na borda. O sol já estava se pondo e as estrelas começavam a aparecer no céu. Levei meu olhar para cima, aquela imensa coisa azul que pairava todo o dia por nossas cabeças agora estava tornando-se um azul fraco. Aos poucos o céu ia ficando cada vez mais escuro e as estrelas cada vez mais brilhantes. “Finalmente”. Uma voz na minha cabeça aparecia a cada momento. Sorri quando vi que o céu já não deixava-nos ver as nuvens e então desci até o convés. Desci as escadas rapidamente pulando algumas, bati meus pés no chão com um salto e levei meu olhar a borda do navio. Jack dedilhava a borda enquanto caminhava.

– Olá love. – Ele falou quando percebeu que eu me aproximava. – Vejo que tem um plano em mente.

Fiquei em silêncio.

– Achou que eu não iria descobrir? – Ele se virou e ficamos cara a cara.

– Jack!

Will gritou da ponta da escada que dava para o porão logo em seguida correu até nós.

– Não faça nada com ela.

– E quem disse que eu irei fazer?

– Ok, agora me da licença, tenho uma noite muito longa pela frente. – Sorri sínica e Jack não moveu um músculo.

– Tens certeza? – Will proferiu as palavras e eu o encarei, sorrindo.

– Nunca tive tanta certeza como antes, Will.

Impulsionei-me para frente empurrando Jack que segurou meu braço. Olhei-o.

– Há uma coisa que você precisa.

– Sorte? Não sei se isso é possível de me dar agora. – Ele sorriu e chegou mais perto.

Sparrow pegou minha mão e colocou uma pequena bússola em cima da palma aberta.

– Uma bússola – Abria- e vi o ponteiro rodar e rodar até apontar para o lado esquerdo. – Que não funciona.

– Você já a usou para ver se funciona?

– Jack, por que você está me dando isso? – Perguntei já cansada dessa conversa.

– Ela irá te ajudar.

– Como se ela não funciona!

– Quem disse que não? – Ele me olhou desafiador.

– Prove.

Jack tomou a bússola das minhas mãos, fechando-a e a chacoalhando. Sibilou algumas palavras e a abriu novamente. O ponteiro fez a mesma coisa da primeira vez, mas agora parando para o sudeste. Levei meus olhos para lá e fitei a porta da cabine do capitão. Olhei-o confusa.

– Essa não é apenas uma bússola, mate. É o que lhe dará seu maior desejo. – Continuei a encara-lo, agora séria. – O que você mais quer no mundo? – Falando pausadamente, Jack colocou a bússola em minhas mãos novamente e eu apertei-a.

Fitando-o com um pouco de medo, Jack abriu um sorrisinho e então meus olhos se fecharam e eu não senti nem vi mais nada.

Will Turner

America havia saído correndo de meus braços me deixando com medo e preocupado. Ela seria mesmo capaz de fazer isso? Ou ela estava me enganando? Por que eu não conseguia decifra-la? Às vezes achava que ela era pior do que Jack, mas então ela abria aquele sorriso que me fazia sorrir também. Ela irá partir? Intrigado com toda essa história aprecei-me em subir ao convés e quando cheguei lá minhas perguntas foram respondidas. America e Jack trocavam olhares perto da borda.

– America! – Gritei e alternei meu olhar para Jack. – Não faça nada com ela. – Ordenei e me aproximei.

Olhei-a incrédulo. Então ela era mesmo capaz de se aventurar sozinha nesse imenso mar. Meu estômago embolou, eu não queria que ela fosse, mas também sabia das consequências se ela ficasse. Talvez eu pudesse ajuda-la. Talvez. Olhei profundamente em seus olhos.

– Tens certeza? – Perguntei com medo da resposta que já sabia que viria. Ela me olhou e sorriu.

– Nunca tive tanta certeza como antes, Will.

Simplesmente paralisei. Ela ia mesmo sair do navio e eu achando que ela não era capaz disso. Afastei-me um pouco dos dois, encostando-me na grande pilastra no centro do convés. Eu a entendia perfeitamente e comprovava todas as razões dela partir, mas eu não queria que ela fosse. Eu não queria que ela ficasse longe de mim. Porque, agora, ela era o mais próximo de Elizabeth que eu tinha e eu não queria perder isso, que nem eu a perdi. Senti lágrimas começarem a brotar no canto dos meus olhos, mas logo as sequei. Não era hora de chorar certo? Jack não a deixaria ir tão fácil. Meus olhos estavam vidrados nos dois, em cada movimento de Jack e a cada expressão de America. Eram minhas esperanças que me davam forças a crer que ela não iria fazer isso.

Jack Sparrow

Senhorita America estava agora em minha frente, prestes a seguir seu livre caminho por onde ela quiser ir. Nunca pensei que ela teria tamanha coragem, mas aquela menina que parecia uma boneca de porcelana guardava muitos segredos. Não mais segredos quando você é comandada por um capitão cujo nome é Jack Sparrow, savvy? Segurei o braço da boneca de porcelana antes que ela pudesse pular para o pequeno barquinho, flutuando na água gélida de fevereiro, a sua espera.

– Há uma coisa que você precisa. – Olhei diretamente em seus olhos que, devo admitir, eram como duas joias ainda não catalogadas. Talvez eu poderia rouba-los pra mim? Talvez...

– Sorte? Não sei se isso é possível de me dar agora.

Sorri com o sarcasmo da garota e me aproximei. Peguei sua mão, virando-a com a palma para cima e, devo admitir que eu estava com muito receio de fazer isso, e ao mesmo tempo chateado pois eu poderia por um fim nisso, aqui e agora, se esse projeto de boneca não fosse o que eu precisava. Peguei a bússola sempre presa em meu cinto e posicionei-a no centro de sua mão branca.

– Uma bússola – Ela exclamou mostrando o quanto esperta era. – Que não funciona.

– Você já a usou para ver se funciona?

– Jack, por que você está me dando isso?

– Ela irá te ajudar.

– Como, se ela não funciona!

– Quem disse que não? – Olhei-a, desafiando-a.

– Prove.

Rapidamente tomei a bússola daquelas mãos pequenas e finas de uma mulher traidora e apertei-a entre minhas mãos ásperas. Chacoalhei-a algumas vezes e então abri-a. O ponteiro girou e girou até parar para o sudeste, apontando para a cabine. Bingo! Era tudo do que eu precisava agora. Minha boca ficou aguada só de pensar no delicioso rum que me esperava depois que tudo isso acabace. Olhei-a intensamente nos olhos antes de prosseguir.

– Essa não é apenas uma bússola, mate. É o que lhe dará seu maior desejo. – A menina estava com a expressão séria. – O que você mais quer no mundo?

Tentando manter o tom de suspense em minha voz que, ficou muito mais bonito e sexy do que eu havia pensado, devolvi-lhe a bússola e fechei sua mão. Ela fitava a bússola com curiosidade, perguntando se era mesmo verdade que a bússola lhe traria o que ela mais queria. Mas a pergunta era, o que ela mais queria? Com um sorriso formando-se no canto da minha boca, tateei minha mão em cima de um caixote atrás de mim e segurei uma pequena garrafa de rum vazia. Apertando-a bati na cabeça da bela dama em minha frente que, rapidamente, amoleceu e caiu em direção ao barquinho. O barulho que veio a seguir me deixou com duvidas sobre a conservação dos ossos daquela menina que agora vagava com a correnteza no seu pequeno barquinho.

Will Turner

A conversa já acabara e America fitava suas mãos com intriga no olhar. Desejei do fundo do meu coração que ela desse um tapa em Jack e se voltasse para o porão, caminhando em passos firmes e deitasse na sua rede, aonde dormiria tranquila por saber que fez a coisa certa. Mas um barulho de vidro quebrado me acordou a tempo de ver America cair, mole como massa, em direção ao barco lá em baixo e o barulho que se seguiu não foi dos melhores.

– AMERICA! – Gritei e me aproximei rapidamente de Jack que olhava para o barquinho sobre a correnteza com total naturalidade. – O que você fez? – Agarrei sua gola.

– Sabe Will – Ele retirou minhas mãos. – Alguém, um dia, deverá morrer certo? Morrera por doença, velhice ou por alguém. Como um bom pirata que sou, eu deveria morrer certo? Mas eu não posso. Tenho coisas a fazer por aqui. – Jack olhou para um ponto fixo e acariciou seu queixo enquanto pensava.

– Jack... – Passei minhas mãos em frente a seus olhos e, em um pulo, ele voltou a explicar.

– Eu não posso morrer mate, mas eu quero que alguém morra no meu lugar, e, para alguém morrer no meu lugar, eu não posso morrer para pessoa que deve morrer no meu lugar morrer, savvy? – Olhei-o confuso enquanto ele sorria.

– Então você está fazendo tudo isso para America morrer? É isso?

– Por que eu a mataria Will? Se eu a quisesse morta, eu havia a deixado em Port Royal, não é?

Enquanto eu pensava sobre o que ele havia dito, Jack foi andando até sua cabine, rindo e cantarolando. Pousei minha mão sobre minha espada e, decidido, puxei-a rapidamente indo em direção a Sparrow.

– Se você não quer a matar, por que deixou-a ir? – Com a espada apontada para si, Jack olhou para mim e cutucou a ponta algumas vezes. Levou a espada para o ombro direito e esquerdo, e nesse deixou-a.

– Você não confia nela Will? Tem medo que ela não irá voltar? – Fiquei em silêncio enquanto ele sorria cinicamente. – Gostas tanto dela que acho que não precisas da Elizabeth, não é?

– Elizabeth. – Sussurrei.

– Você achas mesmo que eu iria deixar essa pobre e indefesa garota sair mar a fora sem saber para onde está indo?

– Sim. – Ele me olhou com ar repreensivo e eu o deixei continuar.

– Você acha que eu deixaria minha única chance de ter o Pérola de volta sair das minhas mãos como areia? – Ele tirou a espada de seu ombro, fazendo-a cair em meu lado. – Você achas que eu não lhe trarei Elizabeth? Você achas que eu deixaria alguém sair nessas águas sem saber o que quer? Will – Ele falou mais baixo. – Você achas que eu sou um homem sem palavra?

– Não, Capitão. – Falei baixo e derrotado.

– Pois deveria achar – Ele piscou e saiu andando. – Nunca se confia em um pirata – Abriu a porta da sua cabine e eu me apressei em parar na frente. – Savvy? – Ele soltou seu bafo quente em um sussurro e fechou a porta. Que logo em seguida se abriu. – Confie em mim uma única vez em sua vida... – Olhei-o confuso. – Você poderá se surpreender.

Um fervor subiu até o meu peito e, antes que ele conseguisse fechar a porta, coloquei minha espada entre o vão aberto. Jack, sem hesitar, pegou sua espada a abriu a porta com força, vindo em minha direção. Andei de ré até a grande pilastra no meio do convés com Jack me atacando todo o tempo. Fiquei encurralado em menos de cinco minutos de luta e a espada de Jack já cutucava meu pescoço. Com um sorrisinho incansável em seu rosto, ele colocou a espada para baixo e recuou um pouco, virou-se e foi andando até seus aposentos. Mas nada seria tão fácil assim não é? Corri até ele com a espada em mãos, apontando-a para suas costas. Em súbito, Jack parou no local que estava e girou em seus calcanhares.

– Então é isso que você quer, huh?

E o cruzar de espadas continuou enquanto eu tentava, com todas as minhas forças, ganhar de Jack. Andamos por aquele convés várias vezes, algumas pulando por cima de caixotes empilhados. Em uma dessas tentativas, sabendo que Jack iria me encurralar se eu não saísse dai o mais rápido possível, pulei em cima de um caixote perto da borda. Com o olhar fixo em Jack e sua espada, não tive tempo o suficiente de perceber que o caixote estava brevemente solto e pendia para o mar, juntamente com o meu peso. Em uma pisada em falso, desequilibrei-me e pressenti que iria cair na água gélida de fevereiro. Mas alguma coisa segurou meu pulso jogando-me fortemente em direção ao chão fazendo minhas costas baterem no chão deixando no ar um som abafado. A espada de Jack roçava em minha garganta.

– Mate... – Ele fez um silêncio. – Você realmente acha que me matando vai conseguir alguma coisa não é? Sabes muito bem que precisas de mim, e do Pérola, para achar sua preciosa Elizabeth. Mas a questão é, podes ou não servir a um pirata? – Nisso Jack girou sua espada, deixando-a com o cabo apontado para mim.

Olhei confuso para Jack que continuava com seu sorriso de canto de boca nos lábios. Apenas fitei-o pensando no que ele acabara de dizer. Jack girou a espada e colocou-a no seu devido lugar.

– Foi o que eu pensei.

Então ele me estendeu a mão, em um ato de amizade talvez, e eu a encarei por alguns segundos, pensando se seria seguro aceitar sua ajuda. Receoso, levei minha mão até a sua, segurando-a firmemente enquanto ele me ajudava a se erguer. Ainda assustado ou confuso, fitei-o e ele sorriu, passando seu braço por cima dos meus ombros e me guiou até sua cabine.

– Temos muitos planos juntos, mate.

AMERICA

Alguns pontos brilhantes embaçavam o escuro céu. Pisquei algumas vezes a o foco voltou fazendo-me ver melhor as estrelas radiantes no céu. O movimento do mar estava mais perceptível agora, as pequenas ondinhas movimentavam-me mesmo eu estando deitada na dura madeira de um barquinho. Um barquinho? Como assim eu estava num barquinho e não me lembrava como tinha ido parar aqui? Num impulso sentei-me e apertei as bordas do barquinho, assegurando-me que não iria cair dali. Olhei ao redor e me vi rodada por água. Tentei me mover, mas a cada movimento rápido que eu fazia, o barquinho ameaçava em virar. A solução foi ficar de quatro em meio ao barquinho e se esticar o bastante até que consegui pegar os dois remos. Posicionei-os e comecei a remar desengonçadamente, olhando freneticamente para os lados. Deixei meus dedos encostarem na água e, como se tivesse levado um choque, tirei-os rapidamente de lá. A água estava gélida o que me fez ter muito cuidado em não cair daquele pequeno pedaço de madeira flutuante. Um forte latejo em minha cabeça me fez levar a mão até ela, posicionando-a em cima do lugar dolorido. Logo que passei a mão por entre meus cabelos senti um liquido em minha pele, já imaginando o que seria, levei o dedo indicador até o lábio inferior colocando a língua para fora logo em seguida e, então, lambendo o sangue que habitava a ponta do meu dedo. Parei de remar colocando os remos dentro do barquinho. Tateei todo o minúsculo espaço que me encontrava procurando achar as coisas que havia pedido para Ragetti e Pintel colocarem aqui dentro mais cedo. Alguns centímetros a frente do meu pé achei um pequeno e macio cobertor e, em cima do mesmo, uma espécie de lampião e, ao seu lado, duas pedras e um pedacinho de pano. Fui tateando mais para a direita achando uma pequena trouxa feita de pano amarrada com uma corda, provavelmente guardando um pouco de comida. Rastejei-me um pouco mais para frente, sentando agora no meio do barco conseguindo assim pegar o lampião e as pedras que estavam do seu lado. Como só a luz da lua me fazia enxergar pouquíssimas coisas, me vi perguntando como usaria aquelas pedras. Com uma pedra em cada mão, mudava meu olhar da mão esquerda para a direita. Com meus grandes conhecimentos em acampamento, cujas aulas eu faltei, pois achava que era uma ótima campista, tentei de algum modo fazer fogo.

Peguei o pequeno pedaço de pano e coloquei em minha boca e atritei as duas pedras em frente ao pano, com os olhos fechados. Senti um calor em frente ao meu nariz e rapidamente abri os olhos. Tentando ser cuidadosa, abri o lampião e levei o pano até a vela lá dentro, acendendo-o. Livrei-me do pano em chamas jogando-o no mar. Agora uma chama amarelada imanava de dentro da gaiolinha de vidro, iluminando uma pequena área já suficiente para enxergar as coisas perto de mim. Minha cabeça havia latejado novamente, me fazendo lembrar do corte que havia ali. Inclinei-me um pouco para o lado conseguindo assim pegar um pouco de água e passar em cima do corte, fazendo-o arder. Tentei limpa-lo o máximo possível então posicionei o lampião mais a frente, pegando os remos e continuando a remar. O céu estralado e a grande lua cheia faziam da paisagem uma das mais bonitas que eu já vira. Nenhuma montanha, nenhum ser vivo e nenhuma luz da cidade grande para incomodar-me, apenas eu, o mar e o céu. Com os braços cansados de remar, deitei-me, ocupando todo o espaço do pequeno barco. Com o cobertor, cobri-me e fiquei observando o céu, procurando as mais brilhantes estrelas ali presentes, até pegar no sono. O nascer do forte sol ao horizonte fez-me abrir os olhos com um pouco de dificuldade, nunca gostara de acordar com a luz. Sentei-me e espreguicei-me, sentindo o barco chacoalhar congelando então na posição que eu havia parado. Olhei para os lados e, um pouco mais a frente, já dava para se ver terra firme. Um sorriso formou-se no meu rosto. Peguei os remos e avistei uma pequena caixinha cuja eu já havia visto. Estiquei-me e peguei-a, observando-a até recordar-me do que era. A bússola que Jack me dera não era mais útil agora, já que a terra firme estava a poucos metros, talvez quilômetros de mim. Sorri enquanto a olhava, relembrando o ato de Jack e em seguida o sorriso desapareceu. Só podia ter sido ele a fazer esse corte em minha cabeça. Ainda com a bússola em mãos e com a curiosidade imensa por saber como ela funciona, segurei-a firmemente em minhas mãos, fazendo o mesmo passo que Jack fizera em minha frente. Cerrei meus olhos e chacoalhei-a. Quando a abri o ponteiro girava e girava infinitamente, sem dar nenhuma direção específica. Ia de norte a sudeste sem parar. Enquanto encarava o ponteiro me peguei rindo da bobagem que Jack falara para mim. Uma bússola que lhe concede desejos? Agora só falta um gênio de cor azul com um turbante da cabeça sair dali de dentro perguntando meus três desejos mais profundos. Joguei a bússola em um canto do barco e continuei a remar em direção a pequena terra que ia ficando cada vez maior.

A distância, que antes parecia ser imensa, agora estava ficando cada vez menor. Mais algumas remadas e já poderia por os meus pés na areia. Cheguei até perto da beira e iria atracar ali, se não tivesse visto uma pequena ponte um pouco longe dali. Sem nada a perder, remei até lá e quando cheguei peguei uma corda caída com sua ponta na água e amarrei-a numa parte do barquinho. Peguei a sacola de comida, agora entreaberta e pela metade, desamarrando um pouco a corda e fazendo uma bolsa desajeitada, facilitando o carregamento. Dei mais uma boa olhada dentro do barquinho, procurando mais alguma coisa que poderia me ajudar mais tarde. Meus olhos pararam na bússola. Sustentei meu olhar nela, piscando algumas vezes e soltei uma risadinha. No que uma bússola que não funciona me ajudaria? Coloquei-me de pé já pronta para por o pé na ponte. Parei em súbito e voltei meu olhar para a bússola novamente, sem razão, agarrei a bússola e amarrei-a, pela cordinha que nela estava pendurada, em meu sinto. Impulsionei-me com um pé na borda do barco, conseguindo assim subir em cima da ponte. Ao levantar meu olhar avistei várias pessoas andando de um lado para o outro na beira da praia e, mais a frente, um homem, provavelmente um pirata, recebendo alguns trocados de pessoas que atracavam seus barcos ali. Fui andando até ele afundando o chapéu em minha cabeça e rezando para ele não me ver. Furei a fila e iria passar despercebida quando ele deu um assobio.

– Ei, você ai, pode parando. – Girei em meus calcanhares ficando de frente para ele. – O que você tens para me oferecer?

Tateei minha bolsa e achei uma garrafa grande de rum. Ofereci para ele que analisou-a.

– Pegar ou largar. – Falei com a mão estendida e ele agarrou a garrafa.

– Você me paga o resto depois.

Ele soltou uma piscadinha e arrancou a rolha da garrafa, virando-a em sua boca e tomando um longo gole do líquido. Segui pela madeira envelhecida e molhada até parar na calçada de pedras e andar até em frente a um portão grande de ferro. Abri-o cuidadosa e fui seguindo as ruazinhas de terra batida. Seguindo pela esquerda passei por várias casas e alguns centros de comercio. Andei e andei e nada de achar ninguém, tudo o que encontrava eram casas uma ao lado da outra feitas de madeira, alguns centros de comercio como bares, ferreiros e loja de armamentos. Depois de tanto caminhar cheguei, novamente, em um portão de ferro e o abri lá havia um grande pátio onde se concentrava várias pessoas, algumas com roupas normais, mas a maioria fardada. Fardado. Com vermelho, branco e azul. Aquelas cores, eu conhecia aquelas cores e também conhecia aquela bandeira no alto do mastro. Grã-Bretanha. De longe consegui avistar um palco e queria nunca ter visto aquilo. Corpos, agora mortos, pendurados por cordas. Enforcados apenas por serem... Piratas. Minha cabeça rodou e fez um nó e tudo ficou preto. Minha visão estava desfocada, não conseguia ver direito, mas sabia que havia uma pessoa em minha frente. Também havia uma mesa. Foi o que eu consegui ver antes de meus olhos se fecharem novamente e em alguns minutos depois se abrirem. Pisquei duas, três, quatro vezes e minha visão melhorou um pouco. Meus olhos lagrimejavam e eu levei minha cabeça de um lado ao outro analisando a sala, que era escura se não fosse pelas duas janelas nas paredes dos lados. À frente, um homem com os pés em cima da mesa aparentemente fumando um charuto ou cachimbo. Pisquei mais algumas vezes e me remexi na cadeira. As cordas que prendiam minhas mãos nas costas da cadeira estavam esfolando meus pulsos.

– Até que enfim acordou. – O homem que estava sentado atrás da mesa falou depois de soltar a fumaça do charuto.

– Quem é você? E o que queres comigo?

– Quero lhe dar o destino que todo pirata merece... A forca. – Minha boca se abriu e um calafrio tomou meu corpo. – Mas não antes de arrancar informações de você. Soube que andou navegando com um tal de Jack Sparrow, não é?

– Capitão. – Falei entredentes.

– Que seja. Mas você o conhece, não conhece? – Fiquei em silêncio. – Bom, se não conhecesses como teria isso? – Ele jogou a bússola em cima da mesa fazendo um barulho ecoar pela grande sala.

– O que você quer?

– Quero saber tudo o que você sabes sobre Jack... – Ele pigarreou. – Capitão Jack Sparrow.

– Ah, então és um ilustre fã da pirataria suja de um certo Capitão Sparrow, uh?

– Fã? – Ele riu. – Vejo que não me conheces madame. Oh, por falar em conhecer, qual é o seu nome senhorita?

– Não interessa.

– Oh se interessa. Você devia cooperar mais...

Um homem cujo qual não sabia que estava lá colocou sua espada em minha garganta, fazendo-me erguer a cabeça.

– Agora me diga – Ele riu mais um pouquinho. – Da onde você conheces Sparrow?

– Não tenho certeza se é essa a pergunta que você quer respondida. – Falei fitando o grandalhão com a espada em meu pescoço.

– Menina esperta... E qual és a pergunta?

– Você quer saber onde está Jack. – Ele fez um sinal com a mão e o grandalhão tirou a espada do meu pescoço e se afastou.

– Então você sabes onde ele está?

– Se você sabes tanto sobre ele, por que não usa essa bússola para descobrir?

– Esperta você, mas não tenho certeza de que essa bússola funciona. Mas tenho certeza que você sabes usa-la, já que passou tanto tempo com Sparrow.

– Então você achas que eu não sei onde ele está?

– Questão de segurança. – Ele piscou. – Mas vamos direto ao assunto. Você me leva até Sparrow e eu lhe poupo da morte. Fechado? – Ri pelo nariz.

– Acho que para fazer devidos negócios eu deveria estar solta, não achas? – Ele fez novamente o sinal com a mão e o grandalhão de antes me soltou.

– Voltando aos negócios...

– Não achas que Sparrow vale muito mais do que me poupar de morrer? – Falei enquanto ia até a sua mesa e colocava minhas mãos espalmadas em cima dela. – Até porque foi para mim que ele confiou sua preciosa bússola. – Falei, pegando-a e chacoalhando-a em sua frente. Ele à segurou, fazendo-me parar de chacoalha-la.

– O que queres?

– Bom – Tirei minha mão de baixo da sua e fui contornando a mesa. – Já que, pelo jeito, temos o mesmo inimigo, devo dizer que dar-lhe o prazer de matar Jack podes me conceder um desejo – Agora estava atrás de sua cadeira. Inclinei-me até seu ouvido. – Não achas? – Sussurrei. – Não gostas de desejos? – Ele foi rapidamente para frente, um pouco nervoso.

– O que queres?

– Quero que me leve para casa.

– Para onde? – Ele falou em deboche. Girei sua cadeira, deixando-o virado até mim e me inclinei ficando cara a cara com ele.

– Eu posso ser sua última chance de por as mãos em Jack antes que ele lhe ache e lhe mate. Você tens certeza que não vai aceitar essa proposta? Tens certeza que vai deixar que uma bússola que mal funcionas lhe dar o caminho certo? Tens certeza que não é seguro confiar em mim? – A última frase fiz questão de falar mais baixo e ele sorriu, chegando mais perto.

– Hoje. No porto. Ao por do sol. – Ele foi até meu ouvido. – Sem falta. – Ele se levantou e foi seguindo até a porta.

– Espere. – Ele me olhou. – Meus pertences.


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Notas finais do capítulo

Novamente um capítulo grande, mas cheio de surpresas. Espero que tenham gostado e, por mais que eu tenha que estudar, vou tentar postar quando possível. Até a próximaaaa
P.S: Vai ter alguns pov's do Will e do Jack ao longo da história, mas não vão ser muito longos.



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