My pearl escrita por laracansi


Capítulo 4
Capítulo IV – What Do You Want Most In The World?


Notas iniciais do capítulo

HELLO PEOPLEEEEEE!!! Finalmente férias!!! Vocês não tem noção da minha felicidade!!! Bom, agora que eu tenho duas semaninhas pra aproveitar eu vou tentar postar o máximo de capítulos possíveis e já tenho ótimas ideias para os capítulos que estão por vir. Queria pedir desculpa pela demora, mas podem tem certeza que ela vai ser recompensada. Enjoy xx



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O chapéu em minha cabeça protegia-me do pouco sol que brilhava no céu. Com dois guardas ao meu lado, fui encaminhada para casa do “chefe”. As ordens eram claras, achar e matar Jack. Simples, fácil de lembrar. Talvez o que Jack tanto procurara ao longo de sua vida estivesse em algo tão simples e comum, a morte. Ser livre de qualquer pessoa, não era isso que ele queria? Pois então ele será, livre de todos.

A porta de madeira em minha frente fora aberta revelando um grande hall de entrada, com uma rosa dos ventos pintada no piso gélido e em seu centro repousava uma grande mesa de madeira com uma flor morta em cima. Duas escadas levavam ao andar de cima aonde havia várias portas. Ao lado esquerdo e direito das escadas, em meio a dois pilares, havia duas portas. Uma que dava, provavelmente, para a cozinha e a outra, se não em engano, ao escritório.

Os guardas ao meu lado seguiram em direção as escadas e eu fui atrás deles. Jack não esperava pelo o que viria a seguir. O quarto era espaçoso para um quarto de visitas, tendo um grande tapete vermelho em frente à cama de casal com lençóis e travesseiros brancos com detalhes beges, em seu lado dois criados mudos com candelabros reluzentes em cima. Em frente à cama um grande armário de madeira e na parede em frente à porta, uma linda baywindow com cortinas beges e pesadas. Alguns quadros velhos enfeitavam a parede. Retirei o sinto que me incomodava e coloquei-o em cima da cama, fui em direção à janela e sentei-me, encostando minha cabeça na madeira dura.

Finalmente eu não estava desesperada nem com medo. Eu estava satisfeita, com esperança. Satisfeita, pois meu plano acabara dando certo, depois de muitos obstáculos cujos achei que nunca iria conseguir passar. Meus olhos marejavam agora, mas não por eu estar triste ou com medo, mas sim por eu estar esperançosa, sabendo que nada poderá dar errado desta vez e, por mais que minha volta tenha sido adiada, eu sabia que esse dia chegaria e eu pressentia que seria o mais rápido possível. Mesmo prestes a fazer tamanha crueldade, eu estava feliz. Esses dias em que eu passei a bordo de um navio sendo comandada por um pirata, fez-me ver que o mundo é cruel e, se eu não for cruel também, não terá espaço para mim nesse mundo. Acho que estou tomando a decisão certa, e mesmo se me falarem o contrário, nada ira me tirar deste caminho. Não agora que eu estou tão perto do fim.

Passei os olhos pelo quarto novamente e fixei-me em um pequeno objeto em cima da minha cama. A bússola. A pergunta era, por que Jack havia me dado aquilo? Aquilo nem funciona, e mesmo que funcionasse, por que Jack daria para mim sendo que ele poderia usar para outro fim, como achar o Pérola ou me achar? Não entendo porque Jack fora bondoso comigo. Bondoso, ri do meu pensamento. Jack não fora bondoso, nunca fora e nunca será. Deve haver uma pegadinha ai, Jack não seria tolo de dar-me a chance de ir atrás dele novamente. E eu também não sabia se aquilo me levaria a ele, mas só a um jeito de saber. Testando.

Levantei-me da baywindow e fui em direção à cama, agarrando a bússola e relembrando as instruções de Jack. “O que você mais quer no mundo?” as palavras soavam em minha cabeça. Oras, o que eu mais quero no mundo é ir para casa. Chacoalhei a bússola e o ponteiro girou e girou, até apontar para o noroeste. Olhei em direção a baywindow. Então é para lá que eu devo ir? Abri um sorriso, isso será mais fácil do que eu pensei. Deitei-me na cama e fiquei pensando, por que matar Jack? O que isso me trará? Basicamente Jack havia me ajudado com essa bússola, já que agora tenho meu caminho para voltar a minha casa. Jack havia planejado tudo então, ensinou-me a usar uma espada corretamente para enfrentar os piratas pelo caminho. Emprestou-me sua bússola que, antigamente, achava que não funcionava, mas que acabara de me surpreender. E, ainda por cima, ele me incentivou a fugir daquele navio, pois sabia que não iria me levar a lugar nenhum. Jack não era tão mal assim, ou era?

As duvidas tomaram conta da minha cabeça, matar ou não matar? Seguir o plano ou não seguir? O que fazer? Batidas na porta fizeram-me dar um pulo em cima da cama e uma voz soou abafada para dentro do quarto.

– Lorde Archeb aguarda por você.

Pus-me em pé e arrumei-me, pegando a bússola e o sinto e indo em direção à porta de madeira envelhecida. Fui guiada até a porta ao fim do corredor cuja qual revelou um cômodo de tamanho médio, com uma lareira na parede esquerda que iluminava a grande mesa em sua frente, já com talheres, pratos e copos em cima da grande toalha bordada à mão.

O resto do quarto era pouco iluminado, principalmente os cantos. Havia grandes cortinas de veludo vermelho barrando a entrada de luz solar naquele ambiente fechado. Na parede da direita, uma grande estante de livros encostava-se bem ao centro da parede e em cada lado uma pequena poltrona vermelha pegava pó. Uma planta murchando ali, um quadro velho lá e o quarto ganhava um pouco mais de vida, se era possível. O guarda empurrou-me e eu adentrei o recinto com a porta fechando-se atrás de mim.

– Pode se sentar minha cara.

O homem que eu havia conversado mais cedo estava sentado na ponta da mesa aonde a luz das chamas não chegava. Fui em direção à outra ponta, onde um prato estava exposto em frente à cadeira. Com um pouco de receio, sentei-me e repousei as mãos em meu colo.

– Providenciei um banquete para comemorarmos nossa vitória.

Pude perceber que ele sorrira, então fiz o mesmo. O silêncio dominava o local se não fosse pela madeira se quebrando com o calor do fogo. Em poucos minutos a comida chegara e logo começamos a comer. O som dos talheres era incessável, o que deixava o ambiente cada vez mais tenso. Com medo de abrir a boca, esperei que ele puxasse algum assunto, e foi o que ele fez.

– Levas sempre esta espada consigo? – Ri com nervosismo.

– Precaução. Deverias tentar.

– Não sei quem me ameaçarias com esses guardas por perto. – Ele riu mandando-me a indireta. Sorri e levei a taça de vinho a boca.

– Já sabes o curso? – Perguntei depois de um gole.

– Isso é com você. Se soubesses não teria lhe poupado, não achas? – Nunca fiquei tão feliz em ouvir isso. Assenti com a cabeça.

– Devemos brindar. – Ele me encarou.

– Concordo. – E então sorriu e levantou a sua taça de vinho. – A morte de Sparrow.

– A minha liberdade. – Sorri mostrando todos os dentes e então levantamos os copos e depois bebemos do liquido em seu interior.

Mais algumas garfadas, um pouco de vinho ali, conversas tolas acolá e o jantar acabara. Pus-me de pé e andei até a porta, antes de abri-la o tal lorde falou.

– Nós vemos ao por do sol.

– Mal posso esperar.

Sai da sala com um sorriso no rosto. Como percebi, aquele lorde era mais tolo do que uma porta. Não que ele não fosse esperto, mas achava que tudo já estava ganho, sobre controle. Mal sabias que eu estava em seu plano. Quando cheguei ao quarto verifiquei o céu pela janela tentando prever o tempo de mais tarde. Joguei-me na cama logo em seguida e depois de vários pensamentos peguei no sono. A maré estava a meu favor, finalmente.

Acordei-me com murmúrios em meu quarto, abri os olhos o mínimo que pude e avistei dos oficiais colocando alguma coisa, com delicadeza, na baywindow. Logo em seguida eles saíram do quarto, mas voltaram novamente colocando alguma coisa no chão, perto da janela. Um deles, antes de sair dali, me fitou por algum tempo e foi puxado pelo amigo que saiu falando alguma coisa sobre “ela pode nos conceder o maior prêmio de qualquer oficial britânico.” Então a porta fora fechada e trancada. Levantei-me rapidamente indo em direção a baywindow.

Em cima do acolchoado estava uma blusa branca com rendas na barra da cima. Passei a mão sobre ela e o tecido era macio e havia alguns botões na parte do busto. Um pouco por cima, havia uma calça preta e justa, de um tecido que se ajustava no corpo. Ao lado da calça havia desenhos abstratos feitos em cima de uma fina listra de couro até a barra da calça. Ao lado um espartilho, que ia até abaixo do busto, preto liso, sem listras, apenas com botões em toda a frente. Sorri com a generosidade do cara, nem se passava pela sua cabeça que estava sendo enganado. Ao lado do espartilho havia uma capa de um tom de vermelho escuro. Ao chão uma bota preta que vinha até um pouco mais da metade da canela. Em cima das botas havia um pequeno envelope, abaixei-me para pega-lo.

“Aceite essa roupa como um presente.

Vista-a com honra e glória.

Faço-te parte de nossa tripulação agora.

Ass. Lorde Archeb”

Não iria desfazer um presente como esse, certo? Quando fui retirar a roupa de meu corpo, percebi que precisava urgente de um banho. Dei duas batidinhas na porta e ela se abriu. O guarda que ali estava encarou-me sem expressão.

– Aonde posso me banhar? – Ele abriu mais a porta.

– No fim do corredor, à direita. – E então sorriu gentilmente.

Voltei para dentro, peguei minhas roupas e passei por ele sussurrando um “obrigada” e indo em direção ao fim do corredor. Não entendia o porquê de tantos quartos se todos estavam com as portas abertas sem ninguém em seu interior, um ou outro estavam trancados e alguns sons vinham de lá.

Cheguei ao fim do corredor e virei à direita dando de cara com uma porta mais ao fim. Bati uma, duas vezes e ninguém abriu-a ou gritou alguma coisa lá de dentro. Cuidadosamente a abri e me deparei com uma grande banheira ao fundo. Pendurei minhas roupas em um ganchinho na parede e me despi, ligando logo em seguida a água que corria suave enchendo a banheira até quase transbordar.

Entrei com cuidado e a água estava morna. Deitei-me relaxadamente na banheira, levei minha cabeça para trás encostando-a na banheira e fechei os olhos sendo levada por pensamentos.

***

O céu ganhou uma coloração alaranjada enquanto o sol se punha no horizonte. O navio que estava a nossa espera no porto era grande. Apesar de não ter grandes escadas no convés, apenas uma pequenina que dava para o leme, as altas pilastras que seguravam as velas mostravam o quão majestoso ele era. Várias janelas se estendiam pelo casco do navio divulgando sua artilharia pesada.

O convés do navio estava tumultuado, com pouco espaço para caminhar era difícil de ver alguma coisa a não ser as cabeças dos marujos. Todos bem vestidos enquanto o capitão dava as ordens que logo foram seguidas por um bando de tripulantes. Alguém apertou meu pulso e me puxou por entre os marujos que caminhavam de um lado para o outro até encontrar sua posição. Com dificuldade, cheguei à porta da cabine do capitão que era escada abaixo na última porta do corredor do porão onde os marujos dormiam. A porta se abriu e fui empurrada pra dentro quando a mesma se fechou em um baque.

Passei o olhar pela sala avistando uma grande janela com vista para o mar em minha frente e, ao seu lado, uma grande mesa com duas cadeiras em sua frente e uma mais alta e majestosa atrás. Em um canto uma grande estante com livros e mapas e, no outro lado do quarto, uma parede dividia o lugar principal de um pequeno quarto com uma cama de casal e um pequeno sofá mais afastado. O lugar era escuro, diferentemente do resto do navio que era de cores claras e alegres, como o amarelo e o branco. A coisa mais colorida ai era o grande tapete vermelho vinho ao centro do salão.

A porta se abriu e passos firmes foram em direção à mesa rústica e escura em minha diagonal. O homem sentou-se na grande cadeira e repousou os braços no encosto da cadeira, com um sinal, convidou-me para sentar.

– Então é você que está com a bússola?

– Uhum.

– Me de.

– O quê?

– A bússola.

– Por quê?

– Pois eu preciso dela.

– Você sabe usa-la?

– Eu aprendo. – Ele sorriu e eu dei uma leva risadinha.

– O que você quer?

– A bússola.

– O que você mais quer? – Ele pensou um pouco.

– Matar... Sparrow? – Assenti com a cabeça.

– Você não precisa da bússola, você precisa de Sparrow.

– Garota... Eu não tenho todo o tempo do mundo. Ande, dê-me a bússola e você reencontrará sua família.

– Você mesmo disse que não sabe usa-la, não vejo porque seria útil ao senhor. – Coloquei uma das pernas em cima do braço da cadeira.

– Já lhe disse que aprendo rápido. – Ele piscou.

– Você não tem tempo para saber lidar com uma bússola.

– Garota...

– Do que lhe adiantas uma coisa que não sabes usar? O que lhe traria tirar-me a bússola? Se eu sei usa-la mate, eu te levarei até Jack. Ou não queres a cabeça do tal pendurada em sua parede?

– Você sabes como irritar alguém, huh?

– Aprendi com os melhores. – Pisquei.

– Ok. Se em dois dias eu não encontrar Sparrow a cabeça que habitara minha parede será a sua.

Dito isso o homem se levantou bruscamente da cadeira e saiu da cabine, fechando a porta em um estrondo. Fiquei estática em minha cadeira, aquele homem não era fácil de lidar e isso me deixava com uma pulga atrás da orelha. Enfim, eu estava com a bússola não estava? Era só eu chegar a meu destino em menos de dois dias, o que seria meio ruim porque eu não sei onde eu estou, mas eu teria que dar um jeito.

Depois de alguns minutos olhando para o nada, levantei-me e fui em direção à proa que, obviamente, estava cheia. Fiquei por lá andando entre as pessoas e conversando com alguns homens que descansavam. A noite já havia caído e as poucas estrelas já apareciam no céu. A lua sorria para nós enquanto cada um continuava com suas tarefas.

Sentei-me na borda e segurei-me na corda. As primeiras horas naquele navio começaram tensas e, pelo jeito, o resto da viagem seria igual. Estava na hora de fazer aquele navio andar mais rápido, ou a cabeça de alguém iria passar a habitar alguma parede por ali.

Coloquei-me de pé e fui em direção ao convés e depois até o leme, ficando ao lado do comandante. Peguei a bússola presa ao meu cinto e apertei-a bem forte, cerrando meus olhos e logo em seguida a abri. O ponteiro apontava para o sul e um sorriso se formou em meu rosto, então é pra lá que eu vou.

O resto da noite fora agradável. Andava pelo convés a procura de alguma coisa para fazer, olhando cada detalhe dele e, poucas vezes, conversando com alguém que ali passava o tempo. Hora entrava na cabine e deitava-me no pequeno sofá e pensava em como minha sorte havia mudado. Nada de novo acontecia naquele navio, como em todos os outros que eu já estivera. Nada pra me tirar daquele tédio incontrolável e da solidão que habitava aquela cabine escura.

Um barulho estranho no convés do navio fez-me levantar e ir ver o que era. A vista era chocante. Um navio em pedaços ao meio do oceano chamava a atenção por completo. Várias pessoas se juntavam no convés para vê-lo e alguns retiravam seus chapéus em honra e tristeza. Rolei os olhos e fui em direção à cabine, onde passei o resto da noite brincando com a bússola e treinando alguns golpes com a espada. Por fim, acabei deitando-me no sofá e cai em sono profundo, acordando só no outro dia com o raiar do sol.

O sol havia desaparecido há algum tempo e a garoa fina caia sobre nossas cabeças. As gotículas gélidas batiam em meu rosto dando a sensação de que uma pequena navalha cortava a minha pele. O vento vindo do norte balançava meus cabelos com força e meu chapéu ameaçava voar o tempo todo. Tirei-o e respirei fundo podendo sentir o cheiro de chuva. Permaneci com os olhos fechados por algum tempo.

– Remorso? – Soltei o ar com um riso.

– Não.

– Tens certeza?

– Sim. – Levantei meu olhar.

– Então vê-lo morto é seu desejo, uh?

– Sim. – Falei com a voz falha depois de um curto período de silêncio.

– O plano será o seguinte...

***

Dois dias já haviam se passado e nada de terra à vista, nem uma pequena ilha distante. Passei a tarde trancada na cabine roendo minhas unhas de nervosismo. Eu sabia que não daria certo, nunca dá, por que agora daria? Levei minha cabeça até o encosto do sofá e soltei minha respiração, certamente era meu fim.

O ranger da porta soou e passos vinham em direção a mim. Um calafrio tomou conta de meu corpo e instintivamente, meus olhos se fecharam. Minhas mãos tremiam e minha respiração estava alta e falha. A pessoa parada em minha frente deu o ar de sua graça.

– Chegou a hora.

Pega pelo braço fui levada até a porta da cabine que estava entreaberta. John ainda segurava meu braço e com um olhar de cúmplice, soltou uma piscadela e me empurrou para fora da cabine. Cambaleei um pouco até parar, olhei em volta: nenhum ser vivo habitava aquele convés e um vento gélido soprava. Apenas as fracas luzes dos lampiões iluminavam o espaço inabitado, juntamente com a lua crescente amarelada no céu.

Andei alguns passos, já com os olhos marejados e olhei em volta. Nenhum sinal de terra. Tudo o que eu via era escuridão. Nenhum porto, nenhuma terra, nenhuma luz, nada. Um fervor tomou conta do meu corpo e eu jurava que meus olhos tornaram-se vermelhos. Apertei a bússola com uma mão e fiz menção em joga-la, mas uma voz, que eu conhecia muito bem, gritou horrorizada.

– Não faça isso mocinha!

Passei o olhar pelo navio até encontra-lo em um canto escuro com as mãos presas em um pedaço de madeira cravado no chão. Fiquei paralisada, com a boca entreaberta, olhando pra um Jack encostado em algumas caixas. Olhei ao redor novamente ainda não entendendo o que estava acontecendo. O navio estava silencioso e só se ouvia as ondas do mar. Concentrei meu olhar nele novamente.

– Venha, retire essas cordas dos meus pulsos, como uma boa menina. – Olhei para bússola em minhas mãos e, como num impulso, fui em direção a ele. – Sabia que não ia me desapontar.

Estava chegando cada vez mais perto dele que, com certeza, levava consigo um sorriso no rosto. A luz naquele ponto do navio era fraca e só metade de sua face era iluminada. Joguei com força a bússola em seu peito e cruzei os braços em sua frente enquanto ele me olhava confuso.

– Essa porcaria não funciona.

– Ou é você que não sabe usa-la direito, love.

– Como eu não vou saber usa-la se foi você que me ensinou? – Ele fez silêncio. – Isso comprova que nem mesmo você sabe com o que está lidando. Pirata idiota.

– Deixei a conversa pra depois huh? Vamos, corte essas cordas infernais.

– Você é muito covarde mesmo hein! Empresta-me uma coisa que nem ao menos sabe usar.

– Eu sei usa-la muito bem ok?

– Agora vai querer brigar comigo? Saiba que a bússola é sua Jack.

– Eu não tenho tempo pra ficar ouvindo essa sua voz minha cara, faça-me uma favor e RETIRE ESSAS AMARRAS DOS MEUS PULSOS.

– Você vai ter tempo enquanto estiver ai.

Com raiva, dei as costas a Jack que ficou resmungando. Segui em direção à borda e fiquei observando o mar aberto, pensando no que estava acontecendo. Eu não estava entendendo, aquela bússola só podia estar errada ou alguma coisa do tipo. Com certeza Jack havia mentido pra mim quando me falará que a bússola apontava para o que você mais queria no mundo. Que bússola que faz isso? Deixa-me ver... Nenhuma! Como eu fora burra em confiar em um pirata bêbado e mulherengo. Meus pensamentos estavam a mil quando Jack me puxou, fazendo-me bater em seu corpo, e colocou sua espada em meu pescoço, arrepiando-me.

– Agora diga-me, por que estou aqui? – Seus lábios entravam em contado com uma parte de minha orelha a cada palavra que ele proferia. Sua voz baixa enchia meus ouvidos dando-me calafrios.

– N-não sei. – Com a voz falha e gaguejando falei a primeira coisa que minha mente pensou.

– Não brinque comigo pequena...

– Você está em perigo Jack. – Tateei meu sinto até encontrar a ponta da espada onde segurei firme.

– Só tem você aqui love, não há o que temer. – Deixou, então, o ar sair pelo nariz e repuxou os lábios.

– Por isso mesmo.

Com o cotovelo acertei a barriga de Jack que cambaleou para trás. Rapidamente me virei ficando de frente pra ele que sorria. Fiz o mesmo e ataquei-o e, obviamente, ele se defendeu rapidamente dando início a uma luta. Os barulhos das lâminas se chocando já eram familiares. Ocupávamos todo o convés seja pulando ou correndo sem nem pensar em tirar a espada das mãos.

Durante todo o tempo em que tentávamos nos defender e, ao mesmo tempo, ganhar a luta, minha cabeça me proporcionava pensamentos totalmente fora do que estava acontecendo ali. Em silêncio eu tentava desvendar o mistério de como Jack havia parado ali, naquele convés. Aquela bússola não poderia estar quebrada e, se poderia, por que me deu coordenadas? Alguma coisa estava errada nessa história e eu iria descobrir.

Andamos mais um pouco e uma corda pendurada ao meio do navio teve bom uso quando Jack usou-a para subir na pilastra principal escorando-se no grande poste com os pés firmes na pequena tábua que sustentava a vela.

Com aquele típico sorriso de canto mostrando seus dentes de prata, Jack desafiava-me, mesmo em silêncio. A pouca luz me impedia de ver seus olhos, mas tinha certeza que não estavam nada mais nada menos que fuzilando os meus. Agarrei-me na corda e pisei em uma pequena tábua que me fez ficar ao lado de Jack.

Cambaleei um pouco e movimentei freneticamente meus braços com medo de cair. A mão áspera dele agarrou meu pulso fazendo-me parar, olhei-o e ele sorriu e recomeçamos a batalha. Em um movimento brusco desequilibrei-me e a única saída foi segurar-me na corda. Em poucos segundos já estava no chão e Jack desceu logo em seguida. Ele levou uma sobrancelha para cima e deu o seu sorriso mais charmoso. Ataquei-o e ele segurou meu pulso, girando-me. Minhas costas bateram no mastro principal. Jack ainda segurava meu pulso e estava tão perto que eu conseguia sentir seu bafo de rum.

– Por que você está aqui?

– Sentiu minha falta, love?

Soquei sua barriga fazendo-o cambalear para trás. Segurei firme minha espada e apontei-a para ele que olhou-a e a baixou vagarosamente. Ficamos alguns segundos nos olhando quando ele me atacou, fazendo-me ir para trás e recomeçar a briga. Mais alguns passos e uma corda esticada em uma parte do convés me fez cair e deixar minha espada voar e cair longe de mim. Olhei da espada para Jack que estava relativamente perto de mim. Sorri para ele que me olhou com um sorrisinho.

Em uma tentativa falha, Jack foi com toda sua força tentar cravar a espada em meu rosto, mas rapidamente desviei-a, indo para o lado. Mais uma vez Jack tentou me atingir, mas não conseguiu, então resolveu por a espada em meu pescoço. Rastejei-me até parar em umas caixas e barris empilhados e tateei até achar alguma coisa em que me fosse útil.

A espada de Jack roçava em meu pescoço e ele sorria quando joguei um pó que havia achado atrás das caixas, o que o fez recuar e levar as mãos ao rosto indo até ao meio do convés. Localizei minha espada e peguei-a, indo em direção a Jack que limpava seus olhos.

Fui chegando perto dele com a maior calma possível. Seu rosto já estava quase limpo e ele piscava freneticamente tentando tirar a poeira dos olhos. Cheguei por trás dele colocando a espada em seu pescoço.

– Por que está aqui? – Refiz a pergunta. – O que você quer?

– Não sei. – Ele respondeu receoso.

– Hum... Capitão Jack Sparrow não sabes o que quer... – Jack colocou sua mão por cima da minha que segurava a espada em seu pescoço. Vagarosamente levou-a para baixo colocando-a ao lado de minha perna. Foi virando devagar até ficar de frente para mim.

– Eu sei o que eu quero. – Jack estava receoso e mexia freneticamente as mãos em seu movimento habitual. O estranho é que ele falava com uma expressão estranha. Sorri em saber que meu inimigo estava com um pé atrás desta vez.

– Mostre-me.

Tentei acerta-lo agora que estava desarmado, mas ele foi mais rápido e se esquivou. Duas, três, quatro tentativas falhas até ele chegar perto de sua espada e, enquanto eu tentava acertar sua cabeça com um golpe de lado, ele se abaixou e pegou-a, travando o movimento da minha logo em seguida.

Recomeçamos a luta sobre a luz fraca do navio. Com sua rapidez e seus reflexos ficou difícil acompanha-lo, a cada passo que ele dava eu sabia que não teria chance de lhe ganhar.

Corri para a ponta da proa e recuperei meu folego, eu já não tinha mais tanta força para ao menos conseguir coloca-lo no chão. Em pouco tempo Jack e eu estávamos cada um em um lado do timão. Ficamos nos esquivando um do outro quando Jack travou um golpe com força o que fez sua espada prender no timão.

Com a vantagem que recebi, fui rapidamente para o meio do convés e lá respirei fundo. Barulhos de passos foram substituídos por uma rápida espada em minha direção. Atrapalhei seu caminho colocando a minha fazendo as duas espadas fazerem um barulho irritante.

Apertei minha mão na espada colocando força para que a espada de Jack não rasgasse minha cabeça. Nossos olhos se encontraram. Mesmo olhando-o tão de perto não dava para identificar o que ele sentia, ele ainda parecia estar com receio de alguma coisa, mas do que?

Meu braço tremia por causa da força que eu colocava na espada. Eu sabia que não aguentaria mais tempo. Cerrei meus olhos e fiz uma cara de dor, segurando a respiração, mas não adiantou e quando olhei para os olhos de Jack que brilhavam, fui empurrada com toda a força para trás caindo em cima de várias caixas de madeira.

A espada voou longe e minhas costas doeram com o impacto, fechei meus olhos com dor e soltei o ar pela boca. Jack recolocou sua arma em seu sinto e escorou-se no mastro principal com os olhos vidrados em mim.

– Agora me diga, por que eu estou aqui? – Gemi de dor antes de responder.

– Eu... Não sei. – Soltei um suspiro.

– Você está aqui a mais tempo do que eu, claro que sabes. Ande, conte-me.

– Essa sua bússola não funciona e, se funciona, deve estar com algum problema.

– Minha bússola funciona muito bem. – Ele observava a bússola em suas mãos, aberta. Fechou-a em um baque e recolocou no sinto.

– Não para mim. – Suspirei e fui em direção a minha espada, guardando-a. – Não era pra você estar aqui Sparrow.

– Não era?

– Meu plano era totalmente diferente e, por causa da sua bússola, foi por água a baixo. – Olhei-o com cara feia e ele deu um meio sorriso. Encostei-me no mastro ao seu lado. – E, só pra avisar, sua bússola não mostra o que você mais quer no mundo.

– Se não mostrasse milady, eu não teria todas as coisas que eu quero. – Ele sorriu.

– Então só funciona com você. – Andei até ficar atrás dele. – Só lhe pergunto mais uma coisa – Falei chegando mais perto de seu ouvido. – Queres mesmo saber por que estás aqui? – Sussurrei.

– Ay. – Ele falou com a voz falha.

– É hora de morrer. – Coloquei a espada no pescoço dele e o levei até o centro do navio. Ele estava imóvel.

– Eu sei por que a bússola não funcionou.

– Sabes?

– Seu plano, provavelmente, era de ir para casa, não é? – Fiquei em silêncio e ele prosseguiu. – Mas era isso o que você mais queria no mundo?

Afrouxei a espada de seu pescoço. Eu não havia pensado nisso, mas sabia que esse tempo todo o que eu mais queria era ir para casa, mas pensando no mundo inteiro, era isso que eu queria? Jack virou-se e colocou a mão em minha cintura, apertando-me contra ele. Sua respiração batia em meu rosto e eu sentia o seu bafo de rum misturado com o suor de seu corpo. O efeito de suas mãos em minha cintura era como se várias formiguinhas caminhassem por ali e a distância mínima entre nossos corpos faziam meu estômago revirar.

A espada foi deslizando até cair no chão fazendo um som irritante. Nossos narizes podiam se tocar se fizéssemos o mínimo de movimento possível, os olhos de Jack, negros como a noite, tinham uma pontada de brilho e ele não tinha vergonha de mostrar aquele sorriso cafajeste.

Enquanto Jack firmava suas mãos na minha cintura, vagarosamente eu colocava minhas mãos em seus ombros e ia deslizando até seu peito, onde a camisa branca estava entreaberta, mostrando a pele bronzeada do mesmo.

Minha respiração falhava e eu tentava falar alguma coisa, mas, com medo de dirigi-lo a palavra ou encostar meus lábios nos seus, minha boca apenas abria e fechava milimetricamente e dela só saia ar. Percebi que minhas mãos repousavam em uma parte de seu peito nu e rapidamente retirei-a de lá, ele a olhou e dirigiu-me seu sorriso. Chegou um pouco mais perto antes de falar.

– Eu sei o que você quer.

Eu não. Eu não sei o que eu quero porque até minutos atrás minha cabeça estava focada em voltar para casa e acabar com esse sofrimento de angústia. Eu queria estar com a minha mãe e meu irmão, mesmo que eu me esquecera de pensar neles ao longo do tempo. Mas agora eu realmente não sei o que está acontecendo comigo. Foi só Jack fazer aquela pergunta que toda aquela dúvida do dia anterior, enquanto eu ainda estava na casa do Lorde, voltou rapidamente. Eu não sabia mais o que pensar, eu não conseguia nem mesmo proferir qualquer palavra.

Por um momento, um segundo, uma ideia passou pela minha cabeça. A dúvida se dissipou e tudo pareceu fazer sentido. Mas não fazia sentido algum. Eu sabia o que eu queria ou aquele pensamento era apenas uma mentira para o meu verdadeiro desejo?

– Mate-me.

– O quê?

– Eu disse pra me matar. – Tateei seu sinto até achar um canivete. Coloquei-o em sua mão. – Agora.

– Por quê?

– Eu sei o que eu quero.

Olhei para os seus olhos e ele lançou um pequeno sorriso. Envergonhada, olhei para baixo e segurei sua mão com o canivete apontado para mim, coloquei a lâmina em minha garganta e assenti com a cabeça. De repente tudo ficou preto.

Jack Sparrow

America me olhava com suplica e eu, como o bom homem que sou, até faria essa vontade para a tal donzela em perigo, seja lá o que for, mas a porta da cabine se abriu e um grito raivoso saiu lá de dentro. Sem pensar muito bem no que devia ou não fazer, girei America fazendo-a bater a cabeça no mastro principal então virei-me para a cabine onde um homem, com altura média, não tão bonito quanto eu, óbvio, carregava uma espada em mãos e me olhava furioso.

– Estava esperando por esse dia Sparrow.

– Você me parece familiar, já lhe ameacei? – O homem riu.

– Jack, Jack, Jack. Finalmente não? – Ele foi se aproximando. – Já estava na hora de nos reencontrarmos. – Olhei-o confuso. – Você não se lembra de mim não é?

– Talvez eu lembre, talvez não, mas isso quem sabe sou só eu. – Sorri enquanto andava pelo convés.

– Pois bem, assim fica mais fácil, sem ligações, sem sentimentos. – Agora ele sorriu e pousou sua mão na espada.

– Ah... – Sorri.

Rapidamente puxei a espada do meu sinto indo em direção a ele e começando a o atacar rapidamente. Ele era ágil, mas não tanto quanto eu. Em um giro, cortei uma corda que fez cair um saco em frente a ele, que se assustou e pulou para trás. Ri da cara que ele fez, mas tive que ir em direção à ponta da proa.

Ele me seguia com a espada em punho, com um olhar zangado atacou-me algumas vezes enquanto eu esquivava e ele acertava a madeira. Com seu excesso de gordura, em pouco tempo ele já estava cansado de correr pra lá e pra cá então deu um pequeno assobio e uns quinhentos marujos surgiram e me encurralaram. Suas espadas e armas apontavam pra mim e cada um tentava fazer uma cara assustadora.

Fui um pouco mais perto do mastro principal onde America estava jogada no chão, provavelmente inconsciente. O espaço ao meu redor ficava cada vez mais pequeno e algumas espadas estavam perto o bastante para me espetar. O mastro principal estava com uma grande corda enrolada em seu tronco que estava presa a uma vela amarrada.

– Matem-no.

Cuidadosamente me abaixei e peguei America, colocando em meus ombros, os homens vieram um pequeno passo a frente, com medo do que eu poderia fazer. O homem gordo que eu havia ameaçado e saqueado no passado, deixando-o provavelmente pobre e com poucos navios usáveis, cujo nome era John, olhou-me com cara feia e mandou eu solta-la. Sorri de volta para ele e desprendi a corda do mastro.

– Esse é o dia que vocês sempre lembrarão como o dia em que vocês quase mataram o Capitão Jack Sparrow.

Rapidamente puxei a corda e fui levado para cima. Senti que poderia voar naquele momento se meus pés não encostassem à ripa em que a vela estava enrolada. Andei um pouco mais para frente tentando equilibrar-me quando alguns disparos vieram em minha direção. Desequilibrei-me e previ o barulho que o meu corpo faria quando batesse no chão, mas isso não aconteceu, pois uma corda que pairava por ai me deu uma bela ajuda. Segurei-a firme e me impulsionei para frente indo em direção a borda do barco e caindo no mar.

A água gélida molhou-me por inteiro e por um segundo fiquei preocupado em poder ter afogado America, que não estava mais em meus braços, mergulhei um pouco e a puxei pela cintura, recolocando-a em meus ombros e nadando mais rápido por causa dos tiros que vinham em minha direção. A água estava gelada e aquela garota não era uma das mais leves, o barco não estava muito perto dali. Algumas braçadas depois já estava subindo para o convés e Gibbs me ajudou a leva-la para a cabine.

– O que eu faço com ela? – Gibbs perguntou, mas foi interrompido quando a porta se abriu bruscamente.

– America!

– Nada. – Abocanhei uma maçã enquanto tirava meu casaco e meu colete, ficando apenas com a blusa branca colada ao meu corpo e minha calça encharcada.

– O que você fez com ela? – Will virou-se para mim e me olhou com raiva.

– Calma ai marujo, não está vendo que agora ela está a salvo.

– Ela podia ter morrido.

– Mas ela não morreu.

– Mas poderia.

– Mas não morreu.

– Jack, você tem noção da gravidade do assunto?

– Que gravidade?

– O jovem Turner tem razão Jack, você só os deixou mais enfurecidos, ainda mais depois de tê-la resgatado.

– Nada com o que eu não posso lidar. Eu sou o Capitão Jack Sparrow savvy? Agora, arrumem isso. – Abanei os braços e fui até a minha mesa. Com a bússola em cima de um grande mapa fui traçando uma rota. Tudo daria certo daqui pra frente.

Will Turner

A cama de Jack estava encharcada como America também. Gibbs me olhava sério e eu alternava o olhar entre os dois. Pedi-o para que pegasse um pano seco para mim então retirei as botas dos pés de America e coloquei-as no pé da cama, retirei a capa que ela usava e coloquei ao lado das botas.

Cuidadosamente desamarrei o pequeno espartilho que ela usava e coloquei-o ao seu lado na cama. A camiseta branca colava na sua pele molhada, em seguida retirei o seu sinto. Peguei as roupas molhadas e coloquei dentro de um pequeno balde enquanto Jack me observava. Cheguei mais perto dela e retirei os fios de cabelo molhados do seu rosto.

Passei a mão pelas suas bochechas e, mesmo com roupas molhadas, ela estava quente. Coloquei as costas da mão em sua testa que pegava fogo. Jack parou ao meu lado, apenas com uma blusa branca e uma calça.

– Como ela está?

– Mal.

– Mal? Mas ela parece tão bem.

– Mas ela não está.

– Aqui, seu pano Will. – Gibbs me trouxe o pano que eu pedira e parou ao nosso lado.

– Obrigado.

– Mr. Gibbs, pode, por favor, trazer duas garrafas de rum, uma para mim e outra para o senhor Turner, ay?

– Ay, Cap. – Gibbs saiu da cabine.

– O que você fez com ela? – Aprecei-me em pegar Jack pega gola de sua camisa e encosta-lo contra a parede dura da cabine. Ele sorria cinicamente. – Responda!

– Primeiro, pode me por no chão? – Ele falou com a voz falha e eu concedi seu pedido. – Segundo, ela está viva não está? Nada a que se preocupar.

– Ela está mal Jack.

– Pra mim ela está muito bem. Agora, se me permite, tenho mais coisa a fazer. – Segurei seu braço e ele me olhou.

– Ela precisa de uma roupa seca.

– Não sei se tenho roupa de mulheres aqui, até porque é uma tripulação de homens.

– Que seja. Onde posso conseguir? – Falei bufando.

– No porão deve haver.

– Quando eu voltar iremos terminar isso daqui.

– Desde que tenha rum, por mim...

Dei-o as costas e quase atropelei Gibbs no caminho que vinha com duas garrafas de rum em mãos. Desci as escadas que davam para o porão e fui até um compartimento aonde tinha de tudo, rum, cabras, armas, pólvora.

Demorei um tempo até achar uma roupa que, talvez, servisse para ela e então subi correndo até a cabine. Entrei na cabine devagar e, ao fechar a por atrás de mim virei-me e vi uma cena inusitada: Jack estava parado ao lado da cama onde America repousava e a olhava, intrigado talvez, com uma garrafa de rum em mãos. Olhou para suas roupas jogadas no chão e seguiu o olhar até seu rosto.

– Há quanto tempo está ai? – Perguntou e eu me assustei.

– Só achei a cena engraçada. – Ele sorriu e me deu espaço, afastando-se da cama.

Sentei-a cuidadosamente e retirei sua camisa encharcada, torcendo-a antes de joga-la ao chão. Deitei-a de novo e, um pouco receoso, abaixei vagarosamente a barra de sua calça. Olhei para Jack que fez-se de desentendido e foi sentar. Esbocei um sorriso e com todo o cuidado do mundo retirei sua calça, logo em seguida vestindo-a com roupas secas e desproporcionais. Apressei-me em ajeitar o local e em seguida fui em direção a Jack.

– O que você fez com ela?

– A salvei.

– Creio que sim.

– Garoto – Ele tirou os olhos dos mapas e concentrou-os em mim. – Não subestime o que você não sabe. Eu a salvei, savvy? Simples, rápido. Agora, se fizer o favor de me acompanhar... – Ele ofereceu-me uma garrafa de rum e eu a dispensei.

– Por que você a salvou?

– Não me digas que não sabe meu jovem? Você quer salvar sua amada e malvada Lizzie?

– Ay. – Jack indicou America com a cabeça.

– Essa é sua única chance.

– Mas por que ela?

– Quem melhor pra dividir tarefas com Edward Teach e sua linda filha, Angélica, do que uma traidora como os tais? – Jack sorriu.

– Se ela é uma traidora você sabe que ela vai se vingar, não sabe? – Ele me olhou.

– A vingança só é ruim dependendo do jeito que você a pratica.

America

O frio dominava meu corpo fazendo-me arrepiar. Abri vagarosamente os olhos. O lugar era pouco iluminado, eu jurava que já estivera ali antes, não era o barco em que eu estava há minutos antes. Ou era?

Levantei-me em súbito e minha cabeça latejou, olhei ao redor e fiquei feliz em saber que não estava mais naquele barco horrendo, mas a felicidade sumiu quando meus olhos se encontraram com os dele. Uma raiva subiu pelo meu corpo e meus punhos se cerraram, levantei-me de pressa da cama e fui em sua direção já o xingando de vários nomes.

– Calma ai doçura. – Jack segurou meus punhos me impedindo de acerta-lo vários socos nos braços e peito. – Você não deveria fazer isso, não comigo. – Ele sorriu e eu retirei com brutalidade meus braços que estavam presos em suas mãos.

– Por que eu estou aqui?

– É, às vezes, eu faço coisas boas. É involuntário sabe, não da pra ser mal o tempo todo. – Revirei os olhos. – Mas acima de tudo, não iria deixar minha chance escapar não é? – Ele riu baixo. Dei um pequeno grito de raiva.

– Você deveria estar morto agora! Que droga! – Joguei-me na dura cadeira em frente à mesa.

– Morto? Eu?

– Esse era o trato, eu deveria tê-lo matado.

– E por que não o fez?

– Porque você não era pra aparecer lá. – Suspirei e relaxei na cadeira. – Estranhamente tudo deu errado e tudo por culpa dessa sua bússola inútil.

– Não culpe a bússola quando a errada é você.

– Eu não estou errada. Você nem sabe do que eu estou falando, fique quieto por favor.

– Ok, eu não sei que você queria ir de volta para sua linda e bela casinha, mas não conseguiu porque seus planos foram atrapalhados porque você, milady, não sabes o que quer. – Calei-me. Bebericou um pouco do seu rum e me ofereceu e eu recusei, ficando tonta só com o cheiro da bebida.

Enquanto Jack verificava os mapas em sua mesa, minha cabeça explodia e meu estômago revirava cada vez mais. Meus braços começaram a se arrepiar e um frio intenso tomou conta do meu corpo. Eu não estava me sentindo assim antes, ou estava e não havia percebido. Minhas mãos começaram a tremer de leve e o frio tornou-se mais intenso. Encolhi-me na cadeira e Jack me olhou e ficou me encarando por um tempo.

– Você está tremendo.

– Não me diga? Onde tem um casaco por aqui?

– Toma, pegue o meu. – Ele ofereceu e eu me surpreendi.

– Não, obrigada. Está frio e você vai se congelar.

– Frio? – Ele riu. – Você só pode estar doente. – Então ele me encarou e deixou de lado seu ar de brincadeira e rapidamente veio em minha direção.

– Jack não precisa, eu pego uma coberta qualquer. – Falei já de pé, preparada para ir em direção à cama.

Ele segurou minha mão antes que eu pudesse sair dali e me girou, depositou o casaco por cima dos meus ombros e passou suas mãos pelos meus braços, cobrindo-os com o casaco, logo me esquentando. Segurei o casaco pela gola para não deixa-lo cair e me virei para Jack que me encarava.

– Obrigada. – Ele sorriu e voltou-se a se sentar.

O silêncio se instalou na sala e ficamos nele por longos minutos, apenas se ouvia minha tosse ecoando pelo lugar. Jack não parava de olhar os mapas e sua bússola e várias vezes batia na mesa, o que me fazia rir. Sua concentração era tanta que se eu me jogasse barco a fora ele não notaria, ou fingiria que não notaria só pra me “salvar” depois.

Levantei da cadeira, já entediada de ficar olhando Jack pensar e pensar e fui em direção à porta. A capa de Jack coube perfeitamente em mim, se não fosse pelas mangas cobrirem um pouco das minhas mãos. Calcei as botas que estavam ao pé da cama e coloquei a mão na maçaneta quando a porta se abriu, batendo em minha cabeça e fazendo-me cair de bunda no chão. Levei a mão à testa.

– Ai, olha por onde anda! – Falei, com os olhos fechados enquanto massageava o local onde a porta havia batido.

– D-desculpa! – Aquela voz... Abri os olhos devagar e Will sorria para mim.

– Will! – Exclamei e fui abraça-lo que recuou um pouco por causa do meu peso ao prender-me em seu pescoço e tirar os pés do chão.

– Wow que saudades hein! – Ele riu um pouco e eu coloquei os pés no chão. - Mas você não deveria estar repousando ou coisa do tipo?

– Repousando por que? Eu me sinto ót... – Um crise de tosse me impediu de terminar a frase. – Ótima. – Falei ainda meio rouca com um sorrisinho de anjo no rosto.

– Aham, sei. – Ele passou o braço pelo meu ombro e caminhou comigo até as cadeiras em frente à mesa de Jack.

– Ah, Will que bom que você está aqui. – Ele sorriu e nós nos sentamos.

– Bom?

– É, agora que estamos todos reunidos é um ótimo começo pra começar a ir atrás do Pérola não acham? – Ele sorriu como uma criança quando vê um doce.

– Há Há, sonha! Eu já tive aventura o bastante. Se não for incomodo, no caminho podes me deixar em casa? – Ele me repreendeu com o olhar.

– Qual o plano?

– Ahá! O plano é mais simples do que você pensa mate. Apenas alguns dias de viagem até chegarmos na pequena ilha onde o majestoso navio de Edward Teach estará ancorado.

– Edward Teach?! – Eu e Will perguntamos juntos. Quem é esse?

– Você só pode estar brincando.

– Não marujo, iremos mesmo atrás do Queen Anne’s Revenge.

– Queen Anne’s Revenge? Edward Teach? Alguém, por favor, pode me explicar o que está acontecendo?

– Você não sabe quem é Edward Teach? – Will me perguntou incrédulo.

– E deveria?

– Milady, Edward Teach é o pirata mais temido por todos os piratas, um saqueador terrível, rei do inferno e ressuscitador de pessoas nas horas vagas. – Olhei confusa para Will.

– Barba Negra.

– Ah, aquele do desenho? Ele parece ser legal. – Os dois começaram a rir. – O que foi?

– Nem nos seus sonhos, love.

– Então quando zarparemos?

– Ao nascer do sol quero todos os homens em seus postos, não espero demorar mais que dois dias, no máximo.

– Mais alguma ordem?

– Nã... – Jack não pode terminar por culpa da minha crise de tosse.

– Des... Culpe.

– Pensando bem, não a deixe sair do navio ou se quer da minha cabine savvy? Boa noite. – Dito isso Jack pegou sua bússola, o lampião em cima da mesa e foi porta a fora, deixando eu e Will no escuro.

– Cavalheiro huh? – Will soltou uma risadinha.

– Acho melhor você se deitar, longo dia amanhã.

– Só se for pra você porque, como o capitão disse, eu estou proibida de fugir dessa... Coisa.

Levantei-me e Will me ajudou ir até a cama, com alguns tropeços no caminho. Depois a porta se fechou a cabine ficou silenciosa e horrenda. Eu poderia muito bem fechar os olhos de cair num sono profundo, mas eu não conseguia fazer isso. O sono simplesmente não vinha e minha última opção era contar carneirinhos antes que o Jack chegasse e me expulsasse dali.

O dia chegou e minhas costas doíam como minha cabeça e meus braços. Sentei-me na cama e a cabine estava muito mais iluminada do que na noite interior, mesmo com a chuva caindo lá fora. O barco chacoalhava o que me deixava com o estômago embrulhado. Levantei-me e percebi que não tinha nenhum ser naquela sala, andei até a mesa e vários mapas e garrafas de rum estavam jogadas por cima da mesa e Jack estava na mesma posição da noite anterior, sentado em sua cadeira com os olhos em sua bússola. Dei-lhe bom dia e meu estômago soltou um barulho estranho, levei a mão até ele e o barco se moveu novamente me deixando mais atordoada ainda.

Cambaleei para trás e levei de súbito minha mão à boca, como se fosse adiantar alguma coisa. Cerrei meus olhos e em seguida já estava vomitando. Uma mão apertou-me pela barriga e eu me choquei no corpo dele que ajeitava meus cabelos para trás. A mão de Jack entrelaçou a minha que estava apoiada na barriga quando parei de vomitar. Jack me soltou devagar e eu fui cambaleando para trás, aquilo tudo estava muito nojento e se eu passasse mais alguns minutos ali eu, provavelmente, vomitaria mais quinhentas vezes. Jack correu até a porta e chamou Gibbs e Will para ajudarem-no. Rapidamente, Will me levou para fora do local, indo comigo até o porão e me dando um pouco de água.

– Obrigada. – Agradeci e ele sorriu.

– Você está tremendo. – Encolhi-me dentro do casaco de Jack.

– É apenas frio.

– Frio. – Ficamos um tempo em silêncio quando ele tornou a falar. – Está melhor?

– Um pouco. O barco em movimento me deixou assim, não tem com o que se preocupar.

– Você está doente.

– Me sinto ótima, e eu sei me cuidar. Sério. – Falei enquanto passava a mão pelo seu braço. Ele riu incrédulo.

– Vem, acho que já podemos ir.

– Poder nós podemos, mas não sei se quero pisar lá novamente. Tá fedendo. – Ele gargalhou.

– Queria vê-la dormindo com a tripulação milady.

– Já provei dessa experiência e digo: foi uma experiência um tanto quanto traumatizante. – Ri um pouquinho.

– Eu vou estar escada a cima se precisar de mim. – Ele piscou, plantou um beijo em minha testa, e foi em direção as escadas. Acenei antes de vê-lo sumir.

Como ele dissera, o cheiro do porão é horrível e a poeira me da ataque de espirros. Cruzei meus braços por causa da corrente de ar gélida que passava pelo meu corpo e, já com medo de permanecer tempo demais naquele lugar medonho, aprecei-me em subir as escadas. A chuva fina batia no meu rosto e eu poderia ficar o dia todo ali, se minha tosse não começasse e eu lembrasse de que eu estava doente.

Entrei na cabine e o cheiro não era o mais agradável de todos, a mistura de rum e vomito exalava pelo ar deixando qualquer um tonto. Will e Gibbs corriam de um lado para o outro limpando a sujeira, enquanto Jack sentava-se confortavelmente em sua cadeira.

Com a bússola em mãos ele fazia uma cara de raiva e confusão, o que será que estaria acontecendo? Fiquei observando-os do batente da porta, sem que ninguém me percebesse ali. Pigarreei depois que vi que tudo estava limpo e eles olharam em minha direção.

– Já limparam tudo? – Falei brincalhona e Will fez um gesto para que eu entrasse. Sentei-me ao seu lado na cadeira e Gibbs ficou atrás de mim. – O que deu?

– Podem ir. – Jack falou sem olha-los e eu supliquei com os olhos para que Will ficasse, o que foi inútil, pois ele apenas me olhou e saiu.

– O que quer? – Perguntei entediada.

– Preciso da sua ajuda.

– Ora, ora Capitão Jack Sparrow precisando da minha ajuda? Quem diria! – Falei e cruzei as pernas.

– Você me deve essa, love. Não só essa como muito mais. – Com a voz mais sedutora que ele poderia fazer, Jack proferiu as palavras de sua boca com um sorriso perverso de canto de boca fazendo meu corpo arrepiar.

– Fale.

– Você vai ser nossa navegadora.

– Navegadora? Eu? Tem certeza? Nenhum plano que eu planejara ocorreu corretamente e ainda você acha que isso vai funcionar? Boa sorte.

– Esse não é seu plano, boneca. O plano é meu, você só vai atuar nele, dando os créditos a mim, é claro. – Ele sorriu de novo.

– Ah, agora você tem a audácia de dizer, na minha cara, que eu só sou “parte do plano”? Pensei que você quisesse que eu participasse disso ou, ao menos, tivesse a mínima consideração pela minha pessoa. – Levantei-me. – Passar bem. – Então dei alguns passos em direção à porta.

– Não, não, não – Jack agarrou meu braço e eu congelei. – Você não vai fazer isso comigo, vai? – Ele falou se aproximando. – Você sabe muito bem que eu posso pegar qualquer um pra fazer esse “papel” e me livrar rapidinho de você, não sabe? – Engoli em seco quando sua respiração batia em minha nuca.

– Sei. Mas também sei que você não tem coragem o suficiente pra se livrar de mim. – Então ele me virou bruscamente, fazendo-me ficar relativamente perto dele, o que me fez afastar um pouquinho.

– Será? – Ele se inclinou pra frente, olhando para minha boca.

– Me diga o que tenho que fazer. A recompensa vem depois, love. – Desviei-o e falei ao pé do seu ouvido, fazendo-o apertar meus pulsos enquanto estremecia.

– Com prazer. – Ele falou em meu ouvido e se virou e sentou em sua cadeira. – Tudo é muito simples, apenas me diga para onde eu tenho que ir. Quanto mais rápido, melhor. – Ele sorriu pervertido, pensando obviamente na recompensa que nunca chegaria.

– Fácil. Só falta eu saber as direções. – Ele remexeu em seu sinto e me esticou sua bússola. – Ah, não obrigada, prefiro pegar um mapa do tamanho desse navio do que usar essa bagaça de novo.

– O que você mais quer no mundo?

– Não precisa fazer essa pergunta novamente, Jack – Falei enquanto escorava-me ao lado de sua mesa. – Eu sei muito bem como se usa e sei também que esta quebrada.

– Saiba que ela funciona muito bem, obrigado.

– Então por que você esta pedindo para eu usa-la? Está tendo problemas com a bússola Jack? – Ele ficou quieto. – Ora, Sparrow não sabe o que mais quer no mundo uh?

– I-isso não vem ao caso. – Ri.

– Ok, não me importa o que você quer ou deixa de querer, eu não encosto mais nessa bússola nem que me pagassem, pode pedir para outra pessoa fazer seu servicinho, capitão. – Falei a última palavra gozando do mesmo e ele recolheu sua bússola sem tirar os olhos dos meus.

– Ok, que seja. Só que eu ainda quero a minha recompensa. – Fui em frente a sua mesa, onde havia parado quando ele falou isso, e me debrucei em cima dela.

– Você não me fez nada para mim recompensa-lo.

– Eu salvei sua vida. – Ele estava mais perto. – Isso já é um bom motivo, não achas love? – Ele já estava bem perto.

– Persuada-me. – Virei-me e sai da cabine em busca de Will.

A capa de Jack me protegia da chuva fina que caia sobre meu corpo. O ventinho frio batia nos meus cabelos e uma crise de espirro começou, cambaleei pelo convés em busca de Will. Desci até o porão e lá ele não estava, fui até uma ponta da proa e o avistei na parte mais altinha do navio e dei um sorrisinho. Caminhei devagar até lá com a chuva meu rosto e parei ao seu lado enquanto ele olhava para o horizonte. Levou um susto quando me notou ali.

– O que você está fazendo aqui fora? – Perguntou preocupado.

– Procurando você?! – Ele apenas sorriu e eu me debrucei na borda. – Ok... Preciso falar com você.

– Fale.

– Por que você tá assim?

– Era esse o assunto? – Ele me olhou desconfiado e eu sorri travessa.

– Não. Mas pode ser. – Ele suspirou.

– Saudade. – Calou-se por um tempo, mas logo retomou a falar. – Sem esperança. Triste. – Ele suspirou. – Eu tinha certeza que conseguiria. Mas agora eu sei que eu não vou.

– Para com isso, você nunca fora assim e não vai começar agora. Não é tão difícil sorrir, é?

– Quando não há motivos pra sorrir, é sim.

– Mas há motivos. Olhe em volta, não tem como dar errado.

– Sempre tem.

– Will, você sabe que eu vou te ajudar, mas é só questão de tempo. Apenas esperar Jack pegar o Pérola, o que mais ele quer além disso? Ele deve muitas coisas a você Will, vocês se conhecem há anos, não tem porque ele fazer isso contigo!

– Você não entende não é?! – Ele aumentou a voz. – Você não o conhece garota, você nem me conhece. Eu estou esperando por isso faz meses, eu não tenho noticias dela e nem sei se ela está viva. Talvez isso seja um plano inútil. Você não sabe o que diz.

– Eu sei o que eu digo. Se eu não soubesse eu não diria.

– Gastar suas palavras comigo não vai adiantar nada. Mas me diga, por que confias tanto em Jack?

– Está com ciúmes? – Perguntei indignada. – Quem diria.

– Por que estaria com ciúmes de quem me abandonou?

– Ei, eu não te abandonei e você sabe muito bem disso. Você mesmo diz que não se pode confiar em Jack e aposto que faria a mesma coisa se não precisasse dele. Não venha me caluniando agora.

– Mas mesmo assim me abandonou quando eu mais precisava. Estávamos a caminho do Pérola e você teve que estragar nosso curso.

– Eu não estou aqui a serviço dos outros.

– Desde que você pisou nesse navio você estragou tudo. – Meus olhos começaram a marejar. – Eu já estaria ao lado de Elizabeth se não fosse por você. Nós já teríamos conseguido o Pérola se você não fugisse daqui. – Um nó se formou na minha garganta e as lágrimas começaram a cair.

– Não estou te entendendo. Você me ajudou em todo o momento, mas por quê? Por que não me disseste isso antes? Pensava que tinha mais consideração por mim Will.

– Você nunca me escutou America, não teria porque lhe alertar.

– Eu sempre te escutei Will, mas não posso fazer tudo que me mandam.

– Com Jack você pode.

– Quer saber? Faça o que você quiser, você está certo não é? Mas ainda não entendo porque fez isto, agora que tudo estava se encaixando. Eu simplesmente não te entendo mais Will. – Limpei as lágrimas do meu rosto e sai soluçando.

Fui rapidamente em direção à cabine e lá fiquei, deitada na cama com um travesseiro na cara. Eu não entendi o motivo dessa discussão fútil, sempre fora amiga dele e agora ele me vem com essa? O que está acontecendo? Se ele quer assim, assim será. Ele que busque sozinho uma forma melhor de ir atrás de Elizabeth, pois eu não estarei mais ao seu lado.

Depois de um tempo as lágrimas começaram a secar e o choro foi se dissipando, não tinha mais vontade de chorar, agora só restava raiva. “Homens” pensei comigo mesma e sentei-me na cama, colocando as costas na parede. O tempo passou e minha cabeça só pensava no que ele dissera. Parecia que estava com ciúmes de Jack e eu por estarmos tão relativamente bem. Ou então era o tempo que o deixara maluco de vez, tentando tirar esses pensamentos da cabeça fui até a mesa de Jack e comecei a revirar os mapas que estavam expostos em cima. Várias rotas eram traçadas, mas nenhuma chegava ao destino. Bem, elas chegavam, mas parecia que não era onde Jack queria. Olhei-os novamente sem entender nada quando a porta se abriu e revelou Jack com sua bússola em mãos.

– Bugger.

– Ah, oi.

– O que está fazendo aqui? E cadê Will? – Jack fechou a bússola enquanto falava.

– Não me fale dele, por favor.

– Onde ele está?

– Não sei, mas espero que esteja no fundo do oceano.

– Por que estás tão brava? – Falou ele parando ao meu lado, encostado de costas à mesa. Fiz o mesmo.

– Aquele idiota não sabe o que diz.

– O que ele fez?

– Eu o considerava muito, sempre achei que ele fosse meu amigo e que sempre me ajudaria quando precisasse, como eu o ajudei. Mas não, a gente sempre se engana ainda mais com quem a gente não conhece.

– O que ele fez?

– Aquele monte de merda não sabe o quando dói na gente saber que do nada não pode mais contar com quem sempre esteve do seu lado, será que ele não perc...

– Você pode, por favor, calar a boca? – Jack falou mais alto e eu fiquei quieta.

– Desculpa, é que... – Suspirei. – Will me falou umas coisas, disse que eu só estava atrapalhando. Argh! Eu não entendo o porquê dele ter feito isso.

– Por que ele faria isso contigo?

– Eu não sei, acabei de te falar.

– Ele deve estar confuso.

– Por que estaria confuso? A vida dele é tão simples. Vocês são amigos a tempo e ele sabe que tu vai ajuda-lo a reencontrar Elizabeth.

– Nesse meio tempo ele pode perde-la.

– Perde-la? Duvido muito e perde-la pra quem?

– Ele pode se sentir desejado. – Jack falava olhando para um ponto fixo, como se estivesse em transe.

– Desejado? Faça o meu favor Jack. Ele pode até ter quinhentas mulheres ao seus pés, ele só terá olhos para uma.

– Ele não precisa de quinhentas quando se tem uma que faria qualquer coisa para conquista-lo novamente.

– Como ela vai conquista-lo? Você não pensa não é mesmo, ela pode estar tanto perto quanto na China. – Ele continuava a olhar para frente. – Jack, psiu, ei, você está bem? Ei! – Passei a mão em frente ao seu rosto e ele me olhou.

– Quem disse que é ela? – Olhei-o confusa e minha expressão foi mudando.

– Jack. Você tem problemas.

– Só estou dizendo o que vejo love.

– Você só pode ser cego. Will nunca pensaria em mim desse jeito, ele acabou de admitir que me “odeia”. – Fiz aspas com as mãos. – Ele nem deve saber o que é amar outra pessoa.

– Como sabes? Já perguntou isso a ele?

– Jack, você sabe muito bem que Will nunca olharia pra outra pessoa a não ser Elizabeth.

– Eu não sei de nada. Só sei que ele prometeu que a resgataria, não quer dizer que está apaixonado por ele ou coisa do tipo. Savvy? – Ele me olhou antes de sentar em sua cadeira e eu me joguei em uma na frente da mesa.

– Você não ouve o que está dizendo?

– Eu ouço e muito bem. Will ama Elizabeth, como sempre amou e sempre amara, mas isso não o impede de cair aos pés de outra garota. Até porque ela não está aqui pra vigia-lo. E eu sei muito bem que Lizzie entenderia – Ele riu pervertido. – Já passou por isso uma vez e, huh... – Ele não terminou de falar, mas eu pude entender o que ele disse. O sorriso no seu rosto entregava tudo.

– Certo... Mas ainda assim não acredito nessa história. E também não acredito que teve coragem de fazer isso com ele. Como pôde?

– Não mude de assunto puppet. Agora se você não quer mais atordoar o pequeno Will acho melhor você se afastar dele.

– Por que eu faria isso?

– Você não quer ajuda-lo?

– Quero, mas...

– Céus, será que você não entende? Ele apenas discutiu contigo para que pudesse se distanciar. Será que você não enxerga que ele está caindo aos seus pés cada dia mais? Ele só está resistindo e com você distante será fácil de focar o pensamento em Lizzie.

– Mas eu não quero o perder.

– Você não vai. Apenas algum tempo longe melhora a situação e, além disso, você ganha alguma coisa em troca. – Encarei-o.

– O que? Ouro? Prata? Um barco?

– A mim.

– Há há, me poupe.

– Saibas que essa é uma das poucas chances de ter o capitão do navio como seu braço direito.

– Braço direito? Não obrigada.

– America, olhe pra mim – Olhei atentamente aos seus olhos negros. – Distanciando-se de Will você estará ajudando-o. Juntando-se a mim você estará se ajudando. Não banque a difícil, nós dois sabemos que você não sobreviverá um dia sem uma figura masculina ao seu lado. – Ele piscou pra mim. – Savvy?

– Quer apostar quanto? – Fui um pouco pra frente, fazendo meu peito encostar na madeira da mesa. Ele me encarou e chegou mais perto.

– Não quero apostar nada eu quero, apenas, que tudo de certo entre nós.

– Conta outra Jack – Ri em deboche e recostei-me na cadeira. – Nós dois sabemos que você nunca foi com a minha cara e eu nunca me dei com você.

– Esse seria um bom começo uh? Não quer nem tentar? Você pode se surpreender.

– Duvido muito.

– Nunca vai saber se não tentar. – Ele estendeu a mão esperando que eu pousasse a minha ali.

Vagarosamente, ainda olhando-o torto, pousei minha mão ali e ele a levou até seus lábios, encostando-os suavemente nas costas gélidas da minha mão que, o encontro dos seus lábios, esquentou. Ainda segurando minha mão, levantou-se e fez a volta na mesa parando ao meu lado e sussurrou em meu ouvido.

– Sabia que não iria resistir.

Mordiscou de leve meu pescoço e deixou-me sentada, com a respiração presa e congelada. A porta da cabine se fechou e eu soltei o ar que estava segurando, relaxando-me na cadeira. Fiquei parada ali por alguns minutos ainda pensando ou tentando pensar em alguma coisa que não fosse o que Jack acabara de fazer. Tudo bem eu ainda o odeio, e muito, mas isso... Um arrepio passou pelo meu corpo então coloquei as mãos no bolso do casaco de Jack e percebi que acabei ficando com ele por muito tempo.

Paralisei novamente e relembrei o que Jack me dissera (e fizera) será mesmo que eu deveria deixar Will “esfriar a cabeça” e seguir adiante nesse plano com Jack? Ou eu deveria ir lá e me rastejar por perdão por alguma coisa que eu não tinha feito? Ou então eu deveria pedir se ele estava apaixonado por mim ou pela Elizabeth? Sacudi a cabeça e decidi que a primeira opção era a que mais se encaixava nesse momento. Eu estava com raiva de Will, mesmo querendo que ele estivesse agora ao meu lado para dar uma boa surra naquele pirata malandro, mas uma coisa dizia que isso iria demorar pra acontecer.

Will Turner

Deixei ela ir e quando a vi sumir meu coração apertou. Eu estava estressado e sem mais nenhuma esperança, tinha um enorme nó na minha cabeça, mas eu deveria mesmo ter feito isso? Suspirei. Não vou chorar pelo leite derramado não é? Melhor assim, sem ninguém tentando me ajudar ou dizendo o que devo ou não fazer. É só eu tomar a bússola de Jack, dar algumas coordenadas erradas aqui, colocar um pouco de rum ali e... Voilá, Elizabeth estará de volta em meus braços. Abri um pequeno sorriso pensando em Lizzie aqui novamente, enchendo o ar de alegria com aquele sorriso lindo, fechei os olhos e deixei que a imagem dela viesse em minha mente e sorri em vê-la toda linda, como a lembrava do último dia que a tinha visto.

A lembrança ainda era fresca na memória, estávamos eu e ela olhando o pôr-do-sol no cais enquanto algumas crianças brincavam ali perto. Ela deitou em meu colo e passamos horas rindo e se divertindo, acabamos pegando no sono, ela dormiu primeiro em meus braços. Os meus olhos foram pesando e eu acabei dormindo logo em seguida. No meio da noite o vento frio me acordara e eu senti que alguma coisa faltava, olhei para o lado e Lizzie havia sumido e ao longe consegui ver a figura pequena de um navio. Gritei até meus pulmões ficarem sem ar e prometi pra mim mesmo que, daquele dia em diante não iria descansar até tê-la nos meus braços novamente. Levantei a cabeça e abri os olhos, o céu estava cinza e a chuva começou a cair um pouco mais forte, limpei a garganta e me virei para sair dali e me deparei com Jack ao meu lado.

– Jack! O que faz aqui?

– Falar que você fez a maior burrada da sua vida! – Encarei-o.

– Ela foi lhe procurar?

– Por que não iria?

– Por que ela te odeia?

– Os ventos mudaram mate. Você não a quis, tem quem quer. – Ele piscou.

– Pode ficar – Minha raiva aumentou agora. – Não a quero mais por perto.

– Você pode ficar o quão longe quiser, só não saia do navio, ainda preciso da sua ajuda.

– O que é?

– Direção. – Ele sorriu e me deu a bússola.

– Sem desvio de curso, eu sei a rota certa.

– Então por que precisa de mim?

– Só... Faça.

Olhei o leve objeto em minhas mãos, o que eu tinha a perder?


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam???? Espero que tenham gostado e até a próximaaaaa



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