Nicholas P.O.V

Finalmente o primeiro Bimestre tinha acabado, e na verdade, logo o segundo já estaria acabando também. Os professores já estavam nos preparando para um possível teste, talvez aquele que o diretor falou que aconteceria, para passarmos no ‘Nível Mutante’. Bem que eu desconfiava de que um desses aconteceria mais cedo ou mais tarde. Só que eu não me preocupava com isso agora... Eu só me perguntava o que acontecia no mundo lá fora, sabe, como anda Londres, meus pais, meus amigos... Mas isso não importa agora. A única coisa que importa, é que eu tenho que descansar. Acabamos de ter uma aula de Simulação, onde tivemos que impedir o assassinato de Júlio César... Fracassamos, mas esse era o objetivo.

No final, a maioria ficou nos dormitórios por que o professor Rick nos deixou de aula livre... Algo que até eu não acredito. Ele é uma pessoa muito rígida... Mas também consegue ser legal. Pelo menos, comigo sim.

Mas algo em que eu ainda não acredito mesmo, foi naquele cara com a cartola que apareceu repentinamente para mim, lá na Sala de Natação. Até hoje eu anseio em entrar lá se não for acompanhado, mas por sorte o professor de Natação está sempre faltando... Eu sei lá o porquê, mais eu acho que talvez seja porque ele esteve de licença ano passado...

Bem, mas eu parei de pensar nisso. Não por que já estava ficando chato. Porque Browson me jogou da cadeira onde eu estava e comentou que tínhamos que sair por aí.

– Sair para onde cara?

– Sei lá, andar pela escola. Está chato aqui, e as meninas já estão com a única bola de esportes que o professor de Educação Física deu.

– Eu não gosto muito de esportes mesmo.

– Você é um putinho sem vida.

No fim ele conseguiu me obrigar a ir com ele para... Seja lá onde for. Mas quando nós saímos da classe onde o professor lecionava sua aula teórica, esbarramos em um cara alto. Tinha cabelos e olhos completamente azuis claros, e possuía um moicano. Ele conversava com outro cara bem forte, mais não deixava de esbanjar que também era furtivo. Provavelmente eram do terceiro ano. Eles olhavam para nós com um desprezo bem forte, principalmente para Brownson, que os encarava de volta em um olhar tipo: “Vai querer mesmo?”.

– O que querem nanicos?

“Nanicos”, eu pensei. Quem chama alguém hoje em dia de nanico? É bem mais fácil, e menos humilhante, chamar o cara de baixinho e fraco de uma vez.

– Acho que nós queremos passar, se não percebeu. Causo não tenha entendido, eu explico... Olha – Brownson começou a fazer gestos com a mão, simbolizando com dois dedos cada um de nós – Nós, vamos passar por vocês, quando nos derem espaço, e então nós vamos –

O cara com moicano pegou Bronwson pelo pescoço e o prendeu na parede com o outro punho cerrado, emanando uma aura verde.

– O que você disse? Nanico. – Ele fez questão de falar ‘nanico’ devagar, como se estivesse soletrando.

– Hey, larga ele cara...

– E você nem tenta se intrometer viu seu... Merdinha?

O Outro me falou isso depois de me empurrar... Sinceramente, eu queria dar um soco nos dois, mais daí eu vi que um homem tinha chegado no corredor.

No princípio pensei que era um Instrutor vagando por aí, mais daí eu percebi que com certeza, aquilo nunca seria um instrutor. Ele usava um jeans surrado, uma camisa marrom que provavelmente foi a primeira que viu no armário. Por cima disso tudo, um sobretudo preto e aberto. O que mais me intrigava, era que ele usava uma foice amarrada em suas costas e sua pele, era azul. Sim, azul. O Cabelo também, mais do jeito que essa escola se enche de cabelo azul, eu até acostumei, embora os dele sejam mais escuros.

Bem, ele estava descalço e se dirigiu até mim. Ou melhor, até nós.

– Eu posso saber... Por que estão brigando?

– Eu desejaria saber isso também

– Fica quieto, ô do Dreadlock. Foi você que me provocou.

– Por que você ficou na minha frente.

Os dois começaram se insultando. O cara de azul revirou os olhos e deu um tapa na nuca dos dois. Mais um tapa bem forte, deu até para ouvir o estalo. O Garoto largou Brownson, que ficou com a mão no lugar do golpe, obviamente porque doeu.

–Eu não sou babá de ninguém aqui... Agora, vão para algum lugar vão, eu não quero aparecer aqui de novo e bancar o instrutor.

Os dois moleques saíram, não sem antes cruzar os olhares com os de Brownson, que ficou os encarando até saírem do corredor.

– E então...

– Obrigado, senhor.
Ficamos em silêncio por um tempo. Bati com o cotovelo no de Brownson e o olhei fixamente como um sinal.

– Ah sim, obrigado, senhor.

– De nada. Agora, podem me dizer onde se encontra o Diretor Nathan?

– Sim, ele fica subindo o elevador... Se não me engano, no terceiro andar.

– Obrigado. E até mais.

Ele se dirigiu para fora do corredor enquanto Abigail passou ao seu lado, mas provavelmente os dois se ignoraram. Ela corria com uma papelada em mãos e com seus cabelos ruivos amarrados. Ela estava muito apressada, e deixou um envelope fechado na minha mão.

– Hey, Nicholas. Por favor, entregue isso para o Loyd, ele já sabe o que é e o que tem que fazer. E não abra, é sério

Concordei com a cabeça e logo ela saiu andando apressadamente pelo mesmo local que havia aparecido. Brownson começou a andar e foi até a diagonal do corredor.

– Para onde você vai?

– Sei - lá, andar talvez?

Ele terminou a fala e começou a andar novamente. Dava pra sentir que ele queria encontrar aqueles dois moleques, mais eu não o impedi. Virei-me e entrei na sala novamente. Loyd conversava com as garotas, mas parou quando eu cheguei e entreguei o envelope na sua mão. Ele o abriu rasgando sua parte superior e leu o que estava escrito.

– Wow...

– O que foi?

– Nada demais... Só achei que iriam atrasar mais o Teste Mutagênico.