O Regresso do Desespero escrita por Duchess Of Hearts


Capítulo 31
This is my Family


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! ~
"Até que enfim ela volta", devem estar pensando vocês. E é verdade, finalmente! Era suposto esse capítulo ter sido postado MUITO mais cedo mas acabei não conseguindo. Para compensar ele é o maior capítulo que alguma vez escrevi. Ficou gigante.

Enfim, não vou me esticar muito por aqui, mas queria vos avisar que estou começando uma nova interativa! Se chama Reverie e é uma original. Se quiserem participar estão à vontade - mas devo avisar que aprendi minha lição com essa fic. Serei MUITO mais exigente com as fichas.

Aqui vai o link: https://fanfiction.com.br/historia/699247/Reverie_-_INTERATIVA/

Sem mais delongas, vamos começar!
OBS: Sempre que mudo de transição (com aquele - X -), vocês devem desligar as músicas que estão escutando.
OBS2: Algumas osts desse capítulo são pequenas demais para a transição. Cliquem com o botão direito no mouse no vídeo e escolham "loop" para ficarem escutando sem ter de dar play 1000 vezes.
OBS3: Não tenho mais OBS, mas quis fazer três para ficar bonitinho.



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"You see, I was manipulated by someone else

And intoxicated with a fake pair of wings

Trapped between the previous life and the next one

This one-way street goes on and on"

Já nada sobrava para mim.

Naquele momento, a minha mente recusava-se a raciocinar fosse o que fosse. Por isso, ali estava eu, preso num enorme vazio. Não sabia como tinha ido parar ali. Nem tinha vontade de descobrir. Pela primeira vez em muito tempo, eu tinha silêncio e calma.

— “Se Cristo vos libertar, verdadeiramente sereis livres”… – Disse uma voz atrás de mim, quebrando o meu tão estimado silêncio. – Enquanto isso, temos de ficar esperando? E como que ele escolhe quem libertar? Que entidade incoerente.

Não queria me dar ao trabalho de abrir os olhos, mas senti uma certa insistência da parte do outro. Suspirando, assim o fiz.

— Evan. – Cumprimentei. Talvez fosse de uma forma um pouco grossa, quem sabe. Eu não me importava.

— Olá, Isao. – Sorriu o rapaz, cruzando os braços numa expressão calma. Ele nunca parecia mudar a sua forma de ser por muita merda que acontecesse. Suspirei pesadamente.

— O que você quer? – Inquiri, pouco interessado. O rapaz riu em resposta.

— Eu vim te fazer companhia. – Respondeu, se sentando ao meu lado. Era um pouco estranho, porque não havia lugar nenhum para se sentar, então ele basicamente estava flutuando no nada. Estar de pé, porém, era um enfardo, pelo que o imitei. Ele me olhou com os seus olhos cuja cor eu nunca fui capaz de determinar. – Mas sabe, eles estão te esperando. No julgamento.

— Eu não quero voltar para lá. – Afirmei, enterrando a cara nas minhas pernas. – Eles que morram, se for necessário. Eu só quero que me deixem em paz.

O loiro inclinou a cabeça para me observar de um melhor ângulo, curioso.

— Mas eles não são seus amigos, Isao? – Perguntou, uma pitada de incredulidade se fazendo ouvir na sua voz. Abanei a cabeça negativamente.

— Eles me enganaram, me manipularam, até já me chamaram de assassino! E agora, para piorar tudo, estou com todos eles presos na minha cabeça… – Mordi o lábio inferior com força, tentando me focar nessa dor para não chorar. – O que eles fizeram por mim? Só me trouxeram problemas! Eles deviam de morrer, todos eles.

— Mas isso não foi tudo graças a eles? – Quem falava não era mais Evan, Ai estava sentada sobre os joelhos, ao meu lado, uma expressão claramente preocupada e nervosa no seu rosto. – Os SHSL Despair… e Naoto. Não são eles os verdadeiros culpados de tudo isso?

Não era a primeira vez que eu estava numa situação semelhante àquela. A compreensão de qual lugar era aquele me veio à mente. Estava sonhando, tal como da outra vez.

— Não preciso de te responder. – Murmurei. – Você não é a verdadeira Ai.

— Não sou, é verdade. – Concordou a garota, baixando o olhar tristemente. – Mas também não sou apenas um fruto da sua imaginação. Na verdade… Eu sou “a Ai que colocaram dentro de sua cabeça”.

Então era isso que eles eram? Todos aqueles sonhos que eu tive, em que algum colega meu vinha falar comigo, eram causados porque eu tinha aquelas pessoas todas dentro da minha cabeça? Bom, pelo menos isso agora fazia sentido.

— I-Isao! – Chamou a albina, nervosa. – V-Você… É o único que nos compreende. É-É o único que percebe tudo o que n-nós passámos!

— E os MEUS problemas!? – Gritei para a garota, irritado. Ela se afastou ligeiramente, os braços retraídos numa posição assustada. – A minha família, tudo o que eu acreditava… É TUDO MENTIRA!

— Nós podemos te mostrar a verdade. – Disse Natasha, do outro lado. Quando dei por mim, Ai já não estava mais lá presente. A loira tinha uma expressão séria, como nunca tinha visto antes. – Porém, devo te avisar: talvez você esteja melhor sem estas memórias.

Não esperava aquela proposta tão repentina e direta, o que me fez hesitar por uns segundos. No final, contudo, acabei acenando afirmativamente. Natasha desviou sua atenção para a nossa frente e, seguindo o seu olhar, notei que não estava mais no vazio, mas sim na frente de um grande edifício. A garota se levantou e entrou pelas portas do mesmo, pelo que a segui em seguida.

— Estamos recriando as coisas com base nas suas memórias que esqueceu. – Afirmou Natasha, que me esperava do outro lado. Enquanto falava, pessoas apareciam, em grande parte delas alunos. Consegui ver-me a mim mesmo no meio deles, caminhando para dentro do local. – Como nós somos entidades relativamente separadas de você, nós temos ainda acesso às mesmas. Como pode imaginar, isso aqui é Hope’s Peak.

— Foi aqui que todos nós nos conhecemos. – Explicou Eufrat, tomando a posição de Natasha. – Como é claro, também foi aqui que conhecemos aquela garota.

Num canto, Junko Enoshima conversava animadamente com um grupo de pessoas. Olhando para ela, parecia uma garota até bastante normal.

— Como já sabe, ela teve contato com a nossa turma através de uma única pessoa: Takane Kobayashi. – Explicou a empresária. Ao mesmo tempo, a figura de roupas cor-de-rosa chocantes apareceu, abraçando Junko como se fossem grandes amigas. – Não sei exatamente quando é que ela se tornou uma SHSL Despair, mas foi graças a ela que nos tornámos todos amigos próximos de Junko.

O cenário alterou-se para um jardim. Chiyeko, com o uniforme da escola, caminhava junto de Kobayashi numa conversa animada. A certa altura, a fashion designer meneou para que ela a seguisse, e começaram a correr para longe dali.

— …Ela foi a primeira. – Afirmou Teemu. – Com apenas um convite da sua melhor amiga da altura, ela foi levada para um lugar remoto onde foi absurdamente torturada por Junko, Kobayashi e outros SHSL Despair. Só que nenhum de nós descobriu.

O tempo subitamente passou mais depressa, saltando para um momento mais tardio do dia. Ali, as duas garotas voltavam. Inicialmente, ambas pareciam estar a conversar casualmente, com Chiyeko lançando um sorriso divertido. Porém eu conseguia vê-lo no seu olhar: medo. Puro medo do que lhe podia acontecer caso fosse contra as ordens que lhe foram dadas. Depois disso, Junko apareceu vinda da mesma direção, segurando um saco com o que parecia comida. Quando me apercebi, ela dirigia-se para um banco onde a minha pessoa estava sentada. Era estranho ver-me daquela forma, conversando animadamente com a loira.

— Foi também por essa altura que você descobriu que era o irmão biológico dela. – Afirmou Teemu, suspirando. – Ela mesma que te contou. Por causa disso, vocês passaram imenso tempo conversando e se conhecendo melhor.

— Então ela é mesmo…? – Inquiri, nervoso. O estrangeiro acenou afirmativamente com a cabeça.

— Sim. – Confirmou. – Ela é a sua irmã mais velha e sua irmã biológica. Quando descobriram, ela disse que os seus pais tiveram de te dar para adoção porque estavam com dificuldades financeiras.

— É mentira. – Afirmou Kurama num tom cortante. – Você foi fruto de uma traição. A única pessoa que sabia disso, além de sua mãe, era a própria Junko. Quando você tinha três anos, a Junko comentou sobre isso ao vosso pai, que obrigou a sua mãe a te abandonar num orfanato por raiva.

— Como que você sabe disso…?

— Ela te contou. – A génio passou a mão nos cabelos. Não estava com um aspeto podre e fétido como a Kurama real, pelo que aquela era provavelmente a sua aparência antes das torturas que recebeu. De facto, não era de todo igual à sua sósia: haviam vários pormenores que a distinguiam da outra, mas eram semelhantes o suficiente para nos enganar. – Ela guardou esse detalhe horrível para te contar quando chegasse a sua vez de ser torturado, para te trazer o maior desespero possível.

— Mas, antes disso, nós fomos submetidos aos experimentos deles. – Afirmou Kyoishi, ajeitando uma de suas luvas amareladas. – Um a um, os SHSL Despair faziam-nos torturas que nos levavam quase à loucura…

Não estávamos mais num jardim de Hope’s Peak. Estávamos numa espécie de armazém abandonado. As cenas que estavam à nossa frente iam mudando uma a uma. Eikichi vendado sendo levado para um cubículo. Connor eletrocutando Reiko, as lágrimas nos seus olhos enquanto lhe era injetado um líquido transparente no braço por uma garota com roupa de enfermeira. Kayo a fazer uma filmagem, com um SHSL Despair lhe apontando uma arma para a testa por trás da camara. Senti o meu coração a apertar com o que via. A expressão de todos eles era de sofrimento.

— É claro, você foi o último de todos nós. – Salientou Eikichi – E certamente foi o que mais sofreu de todos. Junko queria ver o desespero nos seus olhos, no seu irmão desaparecido. Por isso…

A cena que apareceu a seguir foi algo que me deu vontade de gritar. Eu sabia o que era aquilo, porque já o tinha visto antes, mas mesmo assim senti o meu coração parar. À minha frente, estava eu mesmo.

Com lágrimas nos olhos, apontava uma arma de fogo a uma pessoa. Junko sussurrava-me coisas ao ouvido, a sua expressão vazia. A pessoa para quem eu apontava a arma era Kenta.

— N-NÃO! – Berrei, correndo para aquele que seria eu mesmo. Queria pará-lo, queria impedi-lo de atirar, mas apenas atravessei o outro Isao como se um holograma se tratasse. Caí no chão, as lágrimas molhando-me o rosto. Eikichi aproximou-se lentamente de mim, observando-me.

— …desculpe, Isao. – Afirmou com suspiro triste. – Foi você que disparou contra o seu irmão adotivo.

— M-Mas… Porquê? PORQUÊ EU FARIA ISSO? – Berrei, as lágrimas me caindo no rosto em desespero. Kayo ajoelhou-se ao meu lado, pousando a mão nas minhas costas como que tentando me reconfortar.

— V-Você, bem… – Pareceu hesitante no que falar, o seu olhar saltando para a cena que estava a ser replicada antes de continuar – Você sabe aquele filme que o Monokuma mostrou? Dos nossos entes-queridos se matando mutuamente?

Ela mordeu o lábio inferior, nervosa.

— F-Foi por volta dessa altura que isso aconteceu. A tragédia de Hope’s Peak já estava no começo, também. Basicamente, Monokuma os prendeu a todos no lugar onde estivemos a viver durante os últimos tempos… Só que em vez de todas as regras que nós tínhamos, eles tinham livre-arbítrio para matar quem quisessem, como quisessem. O último a sobreviver ganhava. – Afirmou, mordendo o lábio inferior. Não parecia querer continuar falando, mas como essa era a razão para estar ali, teve de continuar. – Seu irmão, apesar de não ter sido o vencedor, conseguiu se passar de morto e assim sair vivo dali. E-Então Junko se aproveitou… E mostrou a filmagem dele m-matando sua mãe.

Voltei o olhar para trás. A expressão de Kenta era de puro ódio. Porquê? Porque é que as coisas tinham de acabar assim?

— Para piorar tudo, ela também fez com que ele pensasse que foi você que criou aquele “jogo”. – Continuou Reiko, me dando a mão e a apertando com força. – C-Cara, ele ia te matar se você não o fizesse! Você não fez… Nada de mal.

Assim que acabou de dizer essa última frase, o som do tiro fez-se ouvir, seguido de um corpo caindo. Não olhei para trás. Em vez disso, berrei. Berrei o mais alto que pude, tentando libertar toda a dor que sentia naquele momento. Devo ter ficado assim por um bom tempo. Quando finalmente me cansei, era Ichiro quem estava ali me esperando, sentado no chão.

— …você sabe o que aconteceu a seguir. – Afirmou, estalando os dedos. Estava naquele armazém abandonado de novo, só que dessa vez, várias camas estavam posicionadas em fila ao longo do mesmo. Em cima de cada uma, estavam um dos meus colegas, inconscientes. Tubos e máquinas ligavam as suas cabeças todas a uma única cama: a minha. Ichiro não olhava para mim nem para a cena à nossa frente.

— A transferência de memórias foi um sucesso. – Disse, escondendo a cara. – Você nunca mais voltaria a ser o mesmo. Agora, além da sua própria dor, tinha a de mais 14 pessoas junto.

— A Junko estava em êxtase. – Comentou Connor. Não tinha o seu casaco do Pikachu. Em vez disso, tinha um casaco básico e preto, dentro do qual escondia a cabeça. – Você enlouqueceu por completo.

A cena mudou para a minha pessoa, se babando e contorcendo no chão enquanto arrancava cabelos numa expressão de dor. Batia no chão, lágrimas caindo dos seus – dos meus – olhos, aparentemente sequer conseguindo respirar. De repente, o outro Isao jogou-se contra a parede. À sua volta, vários SHSL Despair riam, e os meus colegas limitavam-se a observar numa expressão horrorizada.

— Mas… Isso aconteceu. – Completou Connor, apontando para o que se estava prestes a suceder.

No meio dos meus grunhidos grotescos de dor, uma pessoa veio ao meu pé e abraçou-me. Tanto eu quanto a minha cópia fizeram uma expressão surpresa quando, no meio de lágrimas, Akatsuki envolveu os seus braços sobre mim.

— NÃ’ AGUENTO MAIS! – Berrou ela, apertando ainda mais o abraço. – ISAO, ACORDA! ‘SAS MEMÓRIAS NÃ’ SÃO SUAS!

— Ahhh? – Kobayashi, no meio dos outros SHSL Despair, fez uma expressão confusa. – Riya-chan, você realmente acha que uma conversinha tosca vai salvá-lo? Nada, nada kawaii.

— Mestre Junko. – Inquiriu uma outra SHSL Despair de cabelos prateados, retirando uma espada e apontando para a mulher à sua frente. – Devo agir?

A modelo deu uma risada em resposta.

— INTERESSANTE, INTERESSANTE! – Afirmou ela, rindo ao ponto de lágrimas lhe caírem dos olhos. Subitamente, parou. – Ninguém diz nada. Ninguém faz nada.

— Mas Mestre Junk…!

— Ninguém diz nada. Ninguém faz nada. – Repetiu, fazendo beicinho. – Não me diga que tenho de repetir uma terceira vez?

A outra guardou a espada novamente, em silêncio. Enquanto isso, Akatsuki não parecia se importar. Continuava tentando falar com aquele que seria eu.

— I-Isao… Independente do qu’aconteça, a gente vai tar aqui. – Afirmou, mordendo o lábio inferior. – A-Agora tu sabe tudo sobr’a gente… NÓS SÓ TEMOS MOTIVOS PRA TE PROTEGER!

— Ela… Está certa. – Afirmou Teemu. Andava um pouco zonzo, como se não conseguisse ter a certeza de que estava andando na direção certa, mas chegou lá perto e também se juntar a mim e à estratega. – A gente consegue. Juntos.

— Nesse estado meu, a vida já não me interessa para nada. – Comentou Kurama num tom de pouco interesse. Contudo, também ela se aproximou dele. – Mas sei de uma coisa, Isao Kimoto. Você era o que menos merecia esse sofrimento. Assim sendo, conte com a minha ajuda.

— S-Se isso é o que preciso para n-não me transformar num monstro… Então assim o farei. – Afirmou Connor, também se aproximando de mim. Juntos, os quatro ajudaram a minha cópia a se levantar. Por muito desesperados, aterrorizados e cansados que estivessem. Porquê… Porque é que fariam isso?

A minha mente estava a tentar ponderar no assunto mas, quando dei por mim, o outro Isao falou. Estava melhor. Não bem, mas melhor. Já não parecia estar em pânico nem completamente louco. Falava para os restantes colegas.

— Esperança… Desespero… – Comentou, mordendo o lábio inferior. – Não quero saber de nada disso. Não me importa o que os outros pensem ou que eles nos persigam. Nós merecemos… VIVER COMO NÓS QUEREMOS!

A cor parecia, um a um, voltar ao rosto dos restantes. Os SHSL Despair limitavam-se a observar, em silêncio.

— Nós não precisamos de um ideal. Nós não precisamos de um futuro. – Afirmou, olhando no rosto de cada um dos colegas. – Deixemos que a nossa única esperança e desespero seja nós mesmos!

— As razões para continuar vivendo... São ínfimas. – Comentou Eufrat, numa expressão vazia. Contudo, um sorriso surgiu no seu rosto logo a seguir. – Mas as razões para morrer são menos ainda, não é mesmo?

— I-ISSO NÃO FAZ SENTIDO NENHUM! – Berrou Reiko, lágrimas caindo do seu rosto. – E-EU NÃO QUERO CONTINUAR NESSE ESTADO!

— Mas não é melhor assim, mesmo? – Inquiriu Kyoishi, numa expressão lunática. – Para quê continuar se importando? Tudo o que importa é viver, e a vida somos nós que fazemos.

— As coisas não vão continuar como estão. – Concluiu o outro Isao. Caminhou até Reiko e lançou-lhe um sorriso amável. – Porque a nossa vida… somos nós quem a fazemos. Certo?

O rapaz acenou afirmativamente, sorrindo em desespero.

Subitamente, todos os meus colegas gritaram e começaram a correr de um lado para o outro, empurrando os SHSL Despair e correndo para a saída. Em pouco tempo conseguiram abrir uma saída. Os SHSL Despair, como Junko lhes tinha mandado, nada fizeram, mantendo-se obedientes às suas ordens. A minha cópia dirigiu-se até à frente de Junko, soltando-lhe um sorriso.

— Penso que você falhou, onee-chan. – Comentou, com um riso abafado. – Nós não somos SHSL Despair. Nós somos zero.

— Ohhh, irmãozinho! – Comentou a loira, extasiada. – Você não imagina o desespero que é em vos deixar fugir! ~ Tão, tão desesperante! Ter seus planos falhando por pura vontade própria é a coisa mais desesperante de sempre! Upupu, upupupu! Só posso agradecer!

Contudo, tomou subitamente um semblante sério e sussurrou-me ao ouvido.

Mas se você pensa que escaparam de nós, está redondamente enganado. Apenas aguarde, irmãozinho. Pelo regresso do desespero.

Quando dei por mim, estava no vazio outra vez. A voz que soou atrás de mim falhava, como se tivesse medo do que tinha para me dizer. Voltando-me para trás, encontrei Chiyeko, os braços cruzados numa pose defensiva.

— …ela tinha razão. – Concluiu, desviando a cara. – Nós vivemos bem, sabe. Graças às suas dicas, o nosso sofrimento acabou. Você era nossa esperança e desespero. Por você, seguiríamos o nada sem nem olhar para trás… E nos tornámos Zero.

— Eu… Eu não fiz nada! – Exclamei, a encarando com uma expressão atónita. – Porque é que vocês acreditaram tanto em mim? Não tem…

— Não tem lógica? – Cortou a outra, me encarando diretamente nos olhos, deixando-me um tanto confortável. – Você era o único que compreendia exatamente pelo que nós tínhamos passado. Era o único que era capaz de nos ajudar, de nos defender. Você entendia – não, você SENTIA – a nossa dor.

A garota mordeu o lábio inferior.

— Pensar que alguma vez alguém podia nos apoiar dessa forma… é algo que nunca me passaria na cabeça. – Confessou. – A-Ainda assim… Nós fomos enganados por uma tentação maior…

O lugar em que estávamos era a sala comum. Nela, toda a turma estava sentada em meia-lua, ouvindo uma criança falar para todos eles. Naoto sorria amavelmente, mostrando um computador com o que pareciam cálculos complicados. Eu não estava presente.

— “Se vocês aceitarem minha ajuda, poderei vos fazer esquecer tudo o que passaram”, dizia ele. – Citou a justiceira baixinho, o rosto baixo. – “Vocês poderão voltar a ser como era antes! Só têm de confiar em mim!”

Lágrimas começavam a cair do seu rosto, desesperada.

— Nós... acreditámos nessas palavras, como imbecis. – Afirmou, soluçando. – Você nos disse que ele não parecia de confiança, m-mas… pela primeira vez, decidimos não seguir seus conselhos. E como é óbvio, nós estávamos enganados.

Não era a primeira vez que ouvia essa história. O próprio Naoto havia me contado. “Todos eles são traidores. Traidores do seu King.” Engoli em seco, tentando conter o ódio que surgia dentro de mim. A culpa não era minha. Não era preciso ninguém morrer, nem mesmo a Dra. Hiroi. Se tivessem acreditado em mim, eles estariam a salvo. Mas eles foram quem me deixaram mal.

— Sim, nós fomos. – Respondeu Akatsuki, ouvindo meus pensamentos. A forma dela falar não era a grosseira do costume: talvez porque ela não passava de uma cópia da verdadeira. A estratega se aproximou de mim e, sem dizer nada, me abraçou. – Mas isso não significa que nós queiramos o seu mal.

Ela se afastou, me encarando com seriedade.

— Nós apenas somos constituídos das memórias incompletas que foram implantadas na sua mente – Começou, num tom pensativo – Mas somos o suficiente para saber como que as nossas versões “reais” se sentem. Se eu tivesse de dar um palpite… Diria que eles escolheram isso porque acreditavam que também seria o melhor para você, Isao.

— É nisso mesmo que você acredita? – Inquiri. A garota deu uma pequena risadinha, como se achasse a minha pergunta engraçada.

— Não. É o que VOCÊ acredita. – Explicou por fim.

É verdade. Eles estão na minha mente. Aquelas pessoas com quem eu acabara de falar eram a junção dos meus colegas comigo mesmo. Eles são eu, e eu sou eles. Somos todos um único ser, graças aos experimentos que a minha irmã fizera na minha cabeça. Agora eu percebia.

Não eram eles que precisavam de mim para continuar em frente. Era eu que precisava deles.

Eles eram minha esperança e desespero. Eles foram o motivo pela qual eu continuei em frente, e não enlouqueci de vez. Era por isso que eu tinha de continuar lutando, de continuar vivendo…

Por aqueles sorrisos.

 

— X –

 

— Isao! – Algo me agarrava pelo ombro, abanando-o com vigor – Isao! Acorde!

Quando abri os olhos, encontrei várias pessoas em cima de mim. Todos os meus colegas – aqueles que ainda estavam vivos, quero eu dizer – estavam ajoelhados à minha volta, me encarando com uma expressão preocupada. A única exceção era Kurama, que me observava de forma serena. Kyoishi era quem me segurava.

— Você está bem? – Inquiriu, ainda com a mão sobre o meu ombro.

— Cê basicamente deu um berro e desmaiou. – Afirmou Akatsuki, coçando a cabeça em confusão. – O que bosta te deu na cabeça?

Abri a boca e fechei mais do que uma vez, tentando explicar, mas a verdade era que nem eu tinha a certeza do que me tinha acontecido. Assim sendo, limitei-me a baixar a cabeça, envergonhado. Quando dei por mim, algumas lágrimas começaram a cair do meu rosto, surpreendendo todos os outros.

— E-Eu… Obrigado. – Murmurei baixinho. Ninguém pareceu perceber ao certo o que eu dissera, pelo que após mais alguns momentos a se certificar que eu estava bem, regressaram aos seus lugares. Quando me levantei, mais uma enchente de olhares me atingiu, dessa vez vindos dos meus colegas presos nas telas.

Naoto, que se mantivera no seu lugar o tempo todo, bocejou. Estava empoleirado sobre o seu pódio, segurando um monokuma desfeito com carinho. Era uma situação um tanto macabra, vê-lo afagando um urso de pelúcia cujas costuras tinham rebentado e um dos olhos caído como se nada estivesse errado. O corpo de Kenta, é claro, continuava no mesmo lugar de antes, mas consegui voltar a ignorá-lo.

— Até que enfim, Isao-nii-chan. – Afirmou a criança. O seu tom era preocupado, mas o rosto mantinha-se completamente neutro. – Pensei que não poderíamos continuar com o nosso julgamento. Não que eu me importasse, eu tenho tempo. Sou apenas uma criança, afinal.

O rapazinho abanou as pernas, a sua atenção regressando para o Monokuma por uns momentos. Seguidamente, soltou um sorriso dirigido a todos os presentes.

— Enfim, parece que já entendemos o essencial, não é mesmo? – Afirmou entusiasticamente – Tal como vocês descobriram, eu queria salvar apenas um grupo específico!

— Os quatro guardiões. King. “Sayaka Maizono”. – Confirmou Kurama, tornando suas atenções para Kyoishi – E Shiva… O sobrevivente indesejado.

— Falando dessa forma, quase me ofende. – O ilusionista fez um beicinho, apesar de não parecer muito afetado. – Mas o que lhe garante que eu não devia estar aqui, também?

Kurama virou a cara, como se fosse algo tão elementar que não merecia sua atenção.

— Naoto Hiroi assim o disse. – Explicou. – “Nos meus planos, mas um de vocês morreria”. Por exclusão de hipóteses, Kyoishi Satoru é o único que sobra para morrer nesses planos.

— Uaaahhh! – Soltou Kobayashi, aplaudindo – Essa nova Natsuri-chan é tão inteligente! Se ela pelo menos fosse kawaii, Takane a aqueceria todinha! ~

— É, mas ela tem razão. E alguém pode adivinhar porque é que era tão importante assim que apenas essas pessoas específicas sobrevivessem? – Inquiriu Naoto, olhando de um lado para o outro em busca de uma mente iluminada – Vamos, vamos! Vocês conseguem, peenseem!

— E-Eu… Eu acho que sei. – Quem disse isso, para surpresa de todos, foi Reiko. O rapaz, na sua tela, mordia o lábio inferior, aparentemente nervoso. Era óbvio para todos nós que a resposta só simbolizava más notícias, mas a sua expressão só me deixava mais assustado.

— Você… Nunca pretendia deixá-los presos, não é? – Inquiriu o rapaz – Você ia soltá-los… Porque nós somos a “turma mais protegida de Hope’s Peak”.

— O que raios isso significa, afinal? – Inquiriu Connor, torcendo o nariz em frustração – “Turma mais protegida de Hope’s Peak”? Significa que nós éramos importantes.

— Não da forma que você pensa. – Afirmou Eufrat, tomando um gole na sua xicara de chá virtual antes de continuar falando. – Nós não somos propriamente melhores ou mais importantes que os outros… Mas certas pessoas da nossa turma são especiais, ao ponto de serem protegidas rigorosamente pelo governo japonês.

— Eu sou uma delas, por exemplo! – Natasha piscou o olho, como se estivesse nos dando uma pista importante – E Clyde é outra, também!

Qual era a relação que Natasha e Evan tinham em comum, ao ponto de serem protegidos pelo próprio governo? Seria o seu talento? Ou outra coisa? Não demorei a entender o que realmente se destacava na nossa turma.

— …os estrangeiros. – Afirmei por fim, recebendo um aceno de concordância de Eufrat em resposta.

— Como eu disse, meu nome era “Arti Setiwan” e não “Atsuro Reiko”. – Explicou-se o rapaz. – Isso dá-se devido ao facto de eu não ser… Bem, japonês. Minha mãe era, mas meu pai não. Eu vim da Indonésia.

— Mas porque você haveria… De nos enganar esse tempo todo!? – O cosplayer não parecia minimamente feliz com a novidade. Reiko simplesmente encolheu os ombros.

— Meu pai era um pescador, e um dia morreu numa tempestade no mar. Por causa disso, eu fui com minha mãe e irmã morar para o Japão. – Explicou-se – Eu… mudei o nome porque era constantemente humilhado por não ser japonês. Era muito mais fácil para mim assim… desculpe.

— Hope’s Peak aceita pessoas que são a “esperança da nação”. – Continuou Eikichi, rapidamente mudando de assunto – Mas a verdade é que algumas pessoas da nossa turma não são só isso. Elas também são a “esperança do planeta”. Os países de onde elas originaram vigiavam o japão de perto, para caso algo acontecesse com elas.

Connor, Teemu, Natasha, Evan e Reiko. Eles tinham origens em várias partes do planeta e, pelos seus talentos extraordinários, foram convidados a entrar em Hope’s Peak. A sua importância como mentes brilhantes e talentosas chamara a atenção dos restantes países sobre a escola.

— Porque acham que a Future Foundation não nos matou impiedosamente quando desconfiou que éramos SHSL Despair? – Soltou Shizue, de braços cruzados. – É porque nós somos importantes. Mesmo que apenas alguns de nós seja estrangeiro, matar um membro da turma significa que todos os outros estão em perigo. Eles não podiam deixar que isso acontecesse, porque…

— Começaria outra guerra. – Interrompeu Naoto, com um sorriso divertido. – Se vocês morressem, seria apenas mais um motivo para os outros países entrarem em mais uma guerra.

— M-Mas mais de metade de nós morreu! – Apercebeu-se Connor, nervoso. – I-Isso significa que…?

— Talvez comece mais uma desgraça, talvez não. – Afirmou o rapazinho, encolhendo os ombros em desinteresse. – O mundo está caótico o suficiente para as vossas vidas não importarem tanto quanto importavam antes, de qualquer jeito. Esse é só o motivo pelo qual vocês estavam VIVOS até agora, não porque eu decidi vos fazer se matar! ~

— E-Então… Qual era o verdadeiro motivo? – Murmurou Kyoishi, as suas sobrancelhas de aproximando em dúvida. A criança deu uma risadinha feliz.

— Vocês sabem, a Future Foundation está completamente ciente do vosso estado como Zero graças aos relatórios da mamãe. – Afirmou ele, a expressão rapidamente evoluindo para uma maníaca – E adivinhem só como eles vão reagir quando, subitamente, King, os seus quatro cavaleiros e uma SHSL Despair saírem de Hope’s Peak com todos os outros mortos!

— E-Eles vão pensar que nos tornámos SHSL Despair…! – Apercebeu-se Teemu, agarrando o cordão que levava ao pescoço com raiva, quase o quebrando com a sua força. – Com tudo o que aconteceu, a Future Foundation sequer nos ia tentar ouvir, ia nos matar na primeira oportunidade!

— E-Espera aí! – Interrompeu Natasha numa expressão desconcertada – M-Mas eles vão ver que você está aqui, Naoto! Eles vão perceber que algo está errado!

— Isso me leva à parte final do nosso julgamento! – Afirmou a criança, escalando para cima do seu pódio e ficando em pé no mesmo. O rapazinho sorria, acenando para todos como se seus fãs se tratassem. – Eu chamo a esse final a “decisão fantástica e mega-desesperante que vai deixar todos em desespero pelo seu desespero incumbido!”

— Que loucura… é essa? – Eufrat parecia atordoada, a xícara de chá deslizando sobre suas mãos e caindo. Os olhares caíam todos sobre a criança que, no seu entusiasmo, quase caía do pódio.

— Se quiserem, podem ficar em Hope’s Peak. – Explicou Naoto, com um sorriso alegre e batendo palmas – Vamos todos viver em harmonia e juntos! Aqueles que se transformaram em AI também terão liberdade para ficar com todos nós! Seremos todos felizes e em família! ~

— NÓS NUNCA FICARÍAMOS COM VOCÊ! – Afirmou Connor com convicção, batendo com o punho na madeira com força. – Esse tempo todo estivemos tentando fugir, não permitiríamos…

— Então prefere a escolha B? – O risinho de Naoto se esticou ainda mais, tomando proporções inumanas. Transmitia a sensação de uma aranha que observava uma presa cair em sua teia, lentamente caminhando até ela para a sua morte enquanto a outra se debatia inutilmente para escapar. – Sim, claro, vocês poderão também sair, mas…

Pegou num comando e clicou num botão. Automaticamente, todas as telas onde estavam os nossos colegas se desligaram.

— EIKICHI! – Chamou Kyoishi, subitamente desesperado.

— Eles estão presos no sistema informático daqui. – Explicou a criança, com uma risadinha macabra – É claro, eu também morrerei, e vocês ficarão livres para sair daqui. Direitinhos para as garras da Future Foundation!

As telas se ligaram novamente, e nossos colegas se mantinham lá presentes, sãos e salvos. Pareciam desconcertados, mas não tinham sido realmente apagados. Natasha voltou a interromper.

— Mas como eu disse, assim que eles virem o seu corpo, eles vão entender que algo está errado! – Explicou-se novamente. – Se eles saírem, talvez a Future Foundation lhes dê uma seg—

— Minha execução será uma tal que não restará absolutamente nada do meu corpo. – Interrompeu a criança, se deliciando com as perguntas que lhe eram feitas. – Não restarão provas nenhumas de que eu existi!

Era o fim. Naoto tinha ganho. Não podíamos sair dali com aquelas condições. Seria suicida. O mundo lá fora estava um caos que nós sequer nos lembrávamos como era. Nossos amigos – que pensámos que tínhamos recuperado – serão perdidos. Toda a nossa liberdade pela qual lutámos esse tempo todo na verdade não valia a pena…

— Sendo assim, a escolha é mais que óbvia. – Afirmou Kurama num tom apático. – Não podemos sair, aceitaremos a convivência com Naoto Hiroi pelo bem do—

— Que chaaatooos! Vocês são tão crédulos, nossa! Dois pontos importantes. – Resmungou a criança, levantando um braço e os dedos conforme falava. – Primeiro: Quem disse que seriam TODOS VOCÊS a tomar essa decisão? Segundo: Quem disse que a escolha que vocês iam tomar era a de ficar cá?

— C-Como assim? – Inquiriu Ichiro, batendo na tela como se quisesse sair – VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COM NOSSA CARA, SE EU TIVESSE CORPO, EU…!

— Blábláblá. – Cortou Naoto rapidamente – Já chega. Eu ainda não acabei, mas devo dizer uma coisa.

Deu um giro no pódio sem motivo nenhum, o som da madeira rangendo com o movimento. Quando parou, apontou para mim com um olhar psicótico.

— Independentemente do que aconteça, a escolha será a de sair daqui. – Afirmou, com um risinho. Depois piscou o olho – É a hipótese mais desesperante, afinal! ~

— Como… Como assim? – Murmurou Ai, nervosa – V-Você não pode querer dizer que há ainda m-mais condições?

— Mas é claro! Para começar, essa decisão será tomada única e exclusivamente pelo Isao-nii-chan! – Explicou o garoto, divertido. – E depois…

Pegou num comando, clicando em alguns botões. Duas telas enormes se ligaram atrás dele, cada uma com um rosto. Confuso, me virei para a criança tentando compreender o seu significado.

— Se você escolher ficar aqui, ninguém morre. Isso é muito chato, então eu decidi acrescentar uma execução legal! – Afirmou, batendo palmas à sua própria inteligência com orgulho. – Foi o que Junko-nee-chan fez quando foi a vez dela! Então achei que seria digno que o sacrifício fosse nada mais, nada menos que o vosso King! Esse é você, Isao!

O coração me caiu ao estômago com a notícia. Se eu escolhesse ficar, eu morreria. Seria executado em prol do bem de todos os outros, presos para sempre neste lugar. Mas não tinha acabado.

— E sabe… O vilão e todos os mortos desaparecem caso você escolha sair. – Afirmou o rapaz, cruzando os braços. – Isso não é chocante o suficiente! A história ficará chata! Assim sendo, mais uma pessoa será executada além de mim! Uma pessoa que todos gostem, que todos amem! Uma pessoa que não devia de estar viva nesse momento, mas está!

Na outra tela, o rosto sorridente e lunático de Kyoishi piscava, como se de um mero jogo se tratasse. Não, vidas não eram um jogo. Aquilo não podia ser assim, não podia. Eu tinha de escolher entre a minha vida e a de Kyoishi? Não não era só isso. Se eu escolhesse viver, também todos aqueles que pensávamos estar mortos iam desaparecer. Puxei os cabelos, nervoso, lágrimas me caindo dos meus olhos. Eu não queria morrer. Eu só queria viver pacificamente, com meus amigos. Eu não posso escolher…

— Qual vai ser a sua decisão, Isao-nii-chan?

— Isao…?

— Não desespere, Isao Kimoto. Vamos arranjar uma solução.

— Cê tá doida? Nã’ tem solução! Ele tem que se matar!

— Isao!

Por aqueles sorrisos…

 

— E-Eu escolho… – Murmurei entre lágrimas. Eu não queria isso. Não queria. Aquilo era demasiado cruel. – E-Eu escolho…!

Sentia o meu queixo a tremer. Diga, Isao. Diga que escolhe ficar. Diga que escolhe morrer. Contudo, a minha voz não saía. Sempre que tentava falar, apenas soluços escapavam. Alguém que me salve. Alguém, por favor. Se isso continuar, eu vou acabar escolhendo…

E que tal a gente nã’ escolher nenhum? – Inquiriu Akatsuki. Quando olhei para ela, a garota segurava um botão vermelho nas mãos, os dedos ameaçando carrega-lo a qualquer segundo.

— WAR! – Berrou Kurama, perdendo a compostura em menos de um segundo. – O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?

— ‘Cês sabem, tem uma coisa ca gente ainda nã’ descobriu. – Explicou ela, estalando a língua nos dentes impacientemente. – Na verdade, cês nã’ descobriram, mas eu sim. Onde a gente tá?

— Nós estamos em Hope’s Peak, não é verdade? – Inquiriu Connor, confuso. – Não é isso que têm dito o tempo todo?

— Sim e não. – Explicou Eikichi. – De facto, essas instalações SÃO Hope’s Peak, mas não são o lugar onde tivemos aulas esse quando estudámos aqui.

— Então é a escola de preparação? – Sugeriu Kyoishi. O loiro abanou a cabeça negativamente em resposta.

— Também não. De facto, esse lugar é mais como… Um centro de pesquisa de talento abandonado. – Explicou, suspirando. – Como sabem, Hope’s Peak faz pesquisa de talento, não é?

Acenámos afirmativamente e Evan foi quem continuou.

— Basicamente, num estadio inicial eles só tinham a escola, mas precisavam de um lugar onde pudessem estudar os seus alunos de mais perto. – Explicou, ajeitando os óculos. – Isso era só um rumor… Mas diziam que eles tinham criado instalações extra, sem salas de aula, onde os alunos seriam analisados de perto.

Me lembrei daquelas salas pequenas que haviam no ginásio e piscina. Elas controlavam absolutamente tudo, desde o nível da água da piscina até à inclinação do campo. Seria isso um modo de estudarem o talento?

— Quando era necessário, os alunos eram levados até aqui… E bom, havia sempre um grupo seleto de cientistas que ficavam a dormir nestas instalações. – Explicou Natasha, pousando o dedo nos lábios de forma pensativa. – Por isso é que tínhamos dormitórios. E também é por isso que haviam aqueles dados todos sem sentido no laboratório ao lado do escritório.

— Tá, tá. – Cortou Akatsuki, pouco interessada nos detalhes – Mas existe algo mó importante. Nisso tudo. Cês sabem como eu achei as disposição das janela tudo mó estranhas?

Acenámos afirmativamente, ao que ela respondeu com um sorriso.

— Então, é que elas nã’ são nem janela. – Explicou – São placas para sustentar as parede, porque a gente está de baixo da terra.

Teemu acenou afirmativamente, concordando.

— É verdade. Estas instalações existem diretamente em baixo da verdadeira Hope’s Peak e são secretas. – Afirmou, coçando a cabeça em confusão. – Mas o que isso tem de importante.

— Tenho de agradecer a cês todos por nã’ avisarem do meu talento. – Explicou a garota, com um sorriso travesso. A expressão de terror surgiu automaticamente no rosto de todos os mortos, e confusão em maior parte dos vivos. – Mas cês sabem, eu tou farta, cansada. Essas treta tudo me enjoam. Fui convidada para Hope’s Peak sobre um título falso pra começar uma vida nova… E ‘sa merda acontece.

Suspirou fundo, irritada.

— Primeiro tenho que conviver co’ “herói da nação” que prendeu meus irmão. – Grunhiu – E depois sofro ‘sas loucuras toda? Nã’ tenho paciência. Que se foda minha “nova vida”, eu nasci para explodir trecos.

 

Riya Akatsuki – Super High School Level Terrorist

 

É verdade, os apontamentos de Eikichi afirmavam que a Super High School Level Strategist não existia. Assim sendo, era óbvio que Akatsuki não tinha outro título, e provavelmente seria um bem problemático para que ela precisasse de esconder. Engoli em seco, percebendo que a garota se referia a mim como “aquele que prendeu os seus irmãos” e, mais importante que isso, o significado que tinha aquele botão nas suas mãos.

— Devo ser sincera. – Comentou a garota, suspirando. – É até bizarro que ‘sa criança tenha deixado um monte de bomba com um SHSL Terrorist ali perto. Mas heh, quem se importa. Nã’ é como se a gente fosse sobreviver, de qualquer jeito.

— AKATSUKI! – Berrou Natasha, desesperada – VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO! MORREREMOS TODOS! DEPOIS DE TUDO ISSO…!

— É EXATAMENTE POR ‘SA BOSTA QUE TOU FAZENDO ISSO! – Gritou a outra de volta, o dedo tremendo sobre o botão perigosamente. – Eu vivo a minha vida TODA com medo! Medo de ser pega pelos polícia! Medo de explodir minha família por acidente! Medo de viver, medo de ser como eu quero, medo de ser fraca… EU NÃ’ AGUENTO MAIS!

As lágrimas dela caíam à medida que aproximava o dedo do botão. Num impulso rápido, corri para a garota. Tinha de impedi-la, ou todos nós morríamos. Me lancei sobre ela, surpreendendo-a, e caímos os dois no chão.

Fez-se silêncio por uns momentos enquanto todos observavam o que acontecera, estáticos. Os segundos, naquele momento, pareceram durar horas. O tempo, que parecia ter decidido passar mais lentamente apenas para aquela ocasião, me permitiu olhar para as mãos da terrorista. O seu dedo havia carregado no botão. Engoli em seco, e me levantei, olhando em volta. Todas as outras pessoas estavam estáticas, em choque. Naoto havia desaparecido. De repente, uma explosão fez-se ouvir lá em cima.

— CORRAM! – Berrou Kurama, apontando para um canto. – ALI EXISTEM UMAS ESCADAS! NÓS PODEMOS SUBIR POR LÁ!

As chamas escarlates desciam, provenientes da bomba que acabara de explodir, o teto começando a desabar no mesmo momento. Teemu, Connor, Kyoishi, Kurama e até mesmo a própria Akatsuki começaram a correr para onde a génio apontara. Kobayashi, contudo, mantinha-se parada no seu pódio.

— Que… bonito…! – Afirmava perante as chamas das novas explosões, os seus olhos brilhando, encantada. Não sei bem porquê, mas senti a necessidade de puxá-la e obrigá-la a vir connosco para segurança. A garota pareceu um pouco emburrada mas acabou nos seguindo. Os nossos colegas que estavam presos num computador haviam desaparecido das respetivas telas.

A corrida até ao topo da sala de julgamentos pareceu demorar dois séculos. Quando chegámos, Teemu rapidamente abriu um alçapão, saindo para o arsenal. Tínhamos todos aqueles andares para subir, ainda. O loiro olhou em volta, desesperado.

— COMO VAMOS SOBREVIVER A ESSA MERDA, AKATSUKI? – Berrou, fora de si. A garota baixou a cara, mordendo o lábio, e não respondeu. Subitamente, uma voz vinda do laboratório ao nosso lado fez-se ouvir.

— GENTE! GENTE, ESTÃO AÍ? – O som estava falhando, mas era a voz de Reiko. Corremos para o laboratório onde ele soltou um suspiro aliviado. Estava a ser projetado na tela gigante no fundo do quarto. – N-NÃO SE PREOCUPEM! NÓS ESTAMOS CONECTADOS COM O PROGRAMA INFORMÁTICO DE HOPE’S PEAK! NÓS SEREMOS VOSSOS OLHOS E OUVIDOS!

Enquanto a energia e os computadores funcionassem, queria ele dizer.

— Corram para o corredor e subam para o andar de Arte! – Ordenou, exaltado – DEPRESSA! Os cálculos indicam que esse andar vai desabar em 2 minutos!

— M-MAS ATSURO, E VOCÊ!? – Choramingou Connor, desesperado. O rapaz soltou um sorriso calmo, fazendo um sinal de ok com as mãos.

— Não se preocupe comigo. Eu já estou morto de qualquer jeito, não é mesmo? – Sossegou, mas uma pequena lágrima caiu do seu rosto. – Queria ter aproveitado essa segunda oportunidade um pouco mais com vocês, m-mas… Não dá mesmo.

Abanou a cabeça negativamente, como que tentando se despertar.

— ESTÃO ESPERANDO O QUÊ!? – Berrou, as colunas soando tão altas que me feriam os ouvidos – As bombas estão explodindo de baixo para cima! Se correrem rápido o suficiente, poderão sobreviver! VÃO!

Não havia tempo, por isso tivemos de obedecê-lo. Corríamos pelo corredor do andar da arte, até que subitamente ouvimos um grito.

— PAREM!

Mal tivemos tempo de reagir, que subitamente o chão à nossa frente desabou, cortando-nos o caminho. Em cima da porta para a sala de escultura estava uma tela onde Ai estava presente. A garota roía as unhas, nervosa.

— M-Mantenham a calma! – Afirmou, nervosa – E-Eu tenho uma solução! A-A parede ao vosso lado leva à sala de jogos, e os s-sensores indicam q-que ela está fraca e desabará em 3… 2… 1…

Dito e feito, a parede desabou. Contudo, isso também fazia o chão abaixo de nós ficar ainda mais instável. Tínhamos de pular para a sala de jogos o quanto antes e continuar subindo. Os barulhos de explosão que ouvíamos indicavam que não tínhamos muito tempo.

— P-Pessoal, por favor… Vivam! – Suplicou a albina, preocupada – Não deixem que a Future Foundation vos pegue! Vão!

Um aceno e um sorriso foi a única coisa que tivemos tempo de falar a Ai. Quando entrámos na sala de jogos, cujas prateleiras haviam desabado e todo o seu conteúdo estava espalhado no chão, vimos a tela em que a ativista estivera momentos antes a desabar e se partir.

Ali dentro, contudo, não tínhamos mais sorte. Quando tentámos abrir a porta, ela parecia presa. Foi Eufrat quem apareceu na tela daquele quarto para nos ajudar. As mesmas que eram usadas para nos avisar e torturar sobre assassinatos por Monokuma agora tinham os nossos amigos. A ironia não podia ser maior.

— Existem destroços bloqueando a porta. – Afirmou num tom calmo demais para a situação. – Terão de forçá-la ou não conseguirão sair.

Contudo, era impossível. A porta não abria.

— Nee, é normal estar chovendo aqui? – Inquiriu Kobayashi, que aparentemente estava divertida demais com a situação para ficar assustada. Eufrat, contudo, pareceu gelar com a notícia.

— A piscina! – Afirmou a garota, aterrorizada – A piscina fica diretamente sobre esse quarto! Se vocês não se apressarem, ela vai desabar sobre vocês!

— MERDA! – Teemu tentava abrir a porta, que tremia mas não saía do lugar. Em desespero, eu também o ajudei, assim como todos os outros. Contando até três, jogámo-nos todos para a porta que, com o peso do nosso corpo, acabou arrastando os destroços. Repetimos umas três vezes e conseguimos, saindo do quarto para as escadas. Assim que Connor abandonou a sala, a água caiu sobre o quarto, levando todos os livros, jogos e filmes que ele outrora usara. Felizmente, conseguimos alcançar o andar de Desporto.

Corríamos em direção ao lugar onde estariam as escadas, mas fomos interrompidos por Shizue que estava numa das telas à frente da entrada para a sala de tiro.

— PAREM! – Berrou, exasperada – AS ESCADAS DESSE ANDAR JÁ DESABARAM!

Uma explosão fez-se ouvir e, atrás de nós, o chão começou a rachar. A justiceira parecia perdida, murmurando algumas coisas entre si até chegar a uma conclusão. Apesar do nosso pânico, ela parecia pouco apressada.

— Ok, OK! ACHEI UM JEITO! – Afirmou, estalando os dedos. – Subam as bancadas do ginásio! Pelo que consigo ver através das câmaras, existe uma bomba ali perto que vai explodir em breve. Com isso conseguirão entrar nas casas-de-banho do andar da ciência!

Não houve tempo para fazer perguntas porque o chão começava a desabar, as luzes se desligando e nós perdendo a transmissão com a garota. Não tivemos outra hipótese além de correr para o ginásio. Bolas de diversos desportos voavam em todas as direções, e uma explosão fez as bancadas de um lado desabarem. O chão, que tinha circuitos elétricos por baixo, começava a faiscar perigosamente. Corremos para as bancadas da esquerda, subindo o máximo que conseguíamos, o mais depressa possível. Pouco antes de chegarmos ao topo, uma das paredes explodiu, obrigando-nos a baixar para não ser pegos pela mesma. Tal como a justiceira havia dito, a explosão havia sido alta o suficiente para abrir um buraco que – se nos esforçássemos – conseguiríamos rastejar para chegar ao andar superior. A última pessoa que passou por ele foi Akatsuki. Uma nova explosão atrás dela fez com que a abertura começasse a desabar sobre si, ferindo-lhe a perna.

— CORRE, AKATSUKI! – Berrei, em desespero. Estávamos quase a sair dali. A moça abanou a cabeça em negação, abrindo a boca para me dizer para continuar sozinho. Ela não conseguia andar direito. Grunhindo algo para mim mesmo, recusei-me a deixá-la sozinha, puxando-a pelo braço e obrigando-a a se apoiar em mim para correr.

Estávamos no corredor ao lado dos dormitórios, o chão tremendo perigosamente. Naquele andar, as eletricidade ainda funcionava. Para que lado devíamos ir? No meio da nossa dúvida, Evan chamou-nos à atenção.

— Têm de ir para a ala oeste! – Afirmou, mordendo o lábio inferior. – Mas o caminho direto desabou, entrem num dos dormitórios, rápido!

Dito isso, a porta de um dos dormitórios à nossa frente destrancou-se. Por acaso, era o dormitório do próprio estrangeiro que falava connosco. Quando o atravessámos, pudemos ter uma visão sobre os objetos que ele abandonara ali: algumas roupas, uma bíblia sobre a cama e uma foto dele com uma mulher semelhante ao rapaz. Não houve tempo para analisar com muito mais pormenor porque tivemos rapidamente de correr para a outra porta. Na tela do cómodo, Evan sorriu.

— Não se preocupem. Estaremos sempre convosco. – E piscou o olho. Quando passámos para a sala comum, encontrámos Natasha já nos esperando. O aquário havia rebentado – mais uma vez – com os tremores e explosões, e o teto balançava de forma ameaçadora, arriscando cair em cima de nós a qualquer momento. A garota, no meio da confusão, sorriu.

— Está quase, gente! – Afirmou, olhando em volta à procura de alguma coisa – Por favor, não desistam! Só a porta de Kayo é que dá para abrir, por isso terão de atravessar por lá. Depressa! Existe um edifício enorme por cima desse complexo subterrâneo, e isso vai cair tudo em cima de vocês caso não consigam fugir a tempo!

Ainda demorámos alguns segundos a nos lembrar qual dessas portas era a verdadeira – com o pânico ficava difícil de raciocinar direito – mas Connor logo a encontrou e passámos por ela. O quarto de Kayo era vazio – claramente, não era esse o que Ichiro usava – mas ao chegarmos à porta, não a conseguíamos abrir. Teemu bateu na mesma, irritado.

— PORRA! – Lembrou-se, irritado – A MAÇANETA ESTAVA ESTRAGADA!

— Mas existe outra solução, não é verdade? – Inquiriu Kayo, aparecendo na tela – Uma outra saída desse quarto?

É verdade. O armário do quarto de Kayo conectava ao de Ichiro – era o que ela tinha usado para nos enganar no seu assassinato. Rapidamente corremos para o quarto ao lado, onde Ichiro nos esperava. Ao contrário da garota, parecia nervoso e irritado.

— SE APRESSEM! – Berrou, apontando para a porta – ISSO VAI TUDO CAIR, SEUS MONGLÓIDES LERDOS!

Não foi necessário muito para obedece-lo. Abrindo a porta, estávamos diretamente no corredor da ala este. O chão começava a perder a força – um enorme vazio havia-se formado por baixo daquele andar, pelo que ele desabaria a qualquer segundo. Corremos o mais que pudemos, desesperados. Eikichi esperava-nos ao fundo do túnel.

— Ali ao lado! Para vossa sorte, Akatsuki colocou uma bomba na saída. – Afirmou, com um sorriso – Por isso, ela agora está aberta. CORRAM!

Começámos a correr, encontrando as escadas que passaram todo aquele tempo fechadas por umas grades – que, naquele momento, tinham um enorme buraco e pareciam queimadas. Corremos para lá, tentando perder um único segundo que fosse. Quando estávamos todos quase a sair, olhei para trás. Uma única tela estava ali, com todos nossos amigos nos observando. Eles sorriam, acenando em adeus. Era o fim. Aqueles que, por momentos, achávamos que tínhamos recuperado, agora iam embora.

Natasha. Evan. Eikichi. Ichiro e Kayo. Shizue. Ai. Eufrat. Reiko.

Havíamos passado por tantas coisas juntos naquele lugar – algumas delas que nem sequer nos lembrávamos. Estiquei a mão para eles, querendo alcançá-los. Mas não podia. A fumaça que tomava conta do local impedia-me de respirar.

— Adeus. – Murmurei, sendo puxado por um par de braços fortes para fora dali. Uma última explosão – desta vez bem maior que as outras – fez-se ouvir e tudo ficou negro.

— X –

Quando acordei, estava sozinho.

Tudo o que eu via à minha volta eram destroços. Aparentemente, nós realmente estávamos por baixo da verdadeira Hope’s Peak, pelo que conseguia reconhecê-la por entre as estruturas que conseguiram se manter relativamente intactas. À minha frente, contudo, estava uma enorme depressão que fora preenchida com ruínas. Aquele lugar era o de onde viéramos. Onde os nossos colegas morreram. Onde nós sofremos, mas também conseguimos vencer o desespero. Por algum motivo, eu sentia saudades. Saudades do primeiro dia em que eu conhecera todos, sem saber que eles eram na verdade a melhor coisa que alguma vez me havia acontecido. Se ao menos tivesse havido outra hipótese…

Levantei-me. Não me lembrava ao certo como havia parado ali. Devo ter-me separado dos outros em algum ponto, por isso tinha de encontra-los. Subitamente, um grunhido animalesco fez-se ouvir ao meu lado. Quando olhei, vi uma criança loira rastejando por entre os destroços, tossindo e morrendo de dores. Olhou para mim com uma expressão confusa.

— I-Isao…? – Inquiriu Naoto, as lágrimas nos olhos. – D-Desculpe… Onde está… Onde está mamãe? O que aconteceu? M-mãe…

Ele soluçou baixinho, triste. Contudo, não consegui sentir pena nenhuma dele. Um tubo jazia ao meu lado, pelo que o peguei discretamente. Eu podia fazê-lo. Podia matar aquela criança ali mesmo, enquanto ele estava distraído demais. O rapazinho chorava para si mesmo, suplicando pela mãe. Seria mesmo isso que ele queria? Estaria tentando simplesmente conseguir meu dó para me apanhar desprevenido?

Levantei o tubo entre as minhas mãos, preparado para terminar o ato.


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Notas finais do capítulo

Então gente, como será que isso vai acabar? Bom, adivinhem só: Isso é uma fic interativa, logo vocês vão decidir!

Em relação à ação do Isao ali no final: Sim ou não? Acham que ele deve fazê-lo? Acham que não? Por favor, escolham. O final mudará conforme vossas escolhas! :D

Espero que gostem!