[Interativa] I've got a secret to tell escrita por Zimniy Grust Labhaoise


Capítulo 3
Primeiro Ato: Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Notas em números outra vez, porque descobri que me ajudam a não esquecer o que eu queria dizer:

1. Acabam aqui as apresentações. O que significa que nos próximos capítulos as coisas começam (ou deveriam começar, mas instabilidade deveria ser meu segundo nome, então nunca se sabe -qq) a ficar interessantes :D
2. Não contem quantas vezes eu conjuguei os verbos suspirar, sorrir, ou quantas vezes eu escrevi sobre fechar os olhos. Eu preciso desesperadamente me controlar na hora de escrever porque, olha.
3. Comecem a preparar os corações. Angústia e sofrimento e bizarrices no geral adoram fazer suas aparições macabras nas coisas que eu escrevo.
4. Não ignorem o que eu disse acima *LOL*
5. De novo a história da contagem de palavras. Desisto de deixar a história com um número certinho de palavras, com um 0 no final ;--;
6. Postagem programada. Qualquer coisa que der errado, terei um treco só depois que acordar e ver 'huehuehuehue (also, mudei o nome da história, pois não estava curtindo o anterior -qq)
7. Agradeço muito pelo feedback e espero que tenham uma boa leitura :)



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[Acreditava que sempre era melhor dizer a verdade,

dizer toda a verdade, sem alarde, e, quanto mais desagradável

a verdade, mais era necessário contar.

O Silêncio das Montanhas, Khaled Hosseini]

Cassie encara o espelho como se ele fosse o demônio em pessoa. Ela franze o cenho, cerra os punhos, e observa cuidadosamente — observa seus cachos ruivos, seus olhos azuis e sua pele de porcelana.

Doente”, dizia a garota em seus sonhos. “Estranha. Aberração.

Mas Cassie não é uma aberração. Sabe disso. Por que então tanta solidão? Por que então tanta raiva, tanto ódio? Quando ela deita, os sentimentos queimam dentro dela como uma fogueira acesa. Quando sorri, eles borbulham. Quando é provocada, eles se agitam como animais ferozes — como monstros, desejando emergir e transformar seu mundo pessoal em um verdadeiro Inferno.

A garota prende a respiração e, lentamente, afrouxa o aperto em suas mãos.

— Cassie? — sua mãe bate na porta do banheiro, delicadamente. — Já tomou seus remédios, querida? Precisamos ir. Phyllis está nos esperando.

Phyllis é uma senhora que mora no fim da rua. Ela tem olhos cegos assustadores e mãos firmes demais para alguém com mais de 70 anos. Toda tarde de sábado, sem exceção, Cassie é obrigada a visitá-la e, com sua mãe, ajudá-la a cuidar de seus gatos. A doutora disse que faria melhorar — ela disse que podia ajudar —, e Cassie até seria capaz de considerar Phyllis uma avó — não fossem os hematomas em suas mãos e ombros e braços, ou velhas queimaduras de chá propositalmente derrubado e arranhões de gatos — aquela casa é um pesadelo.

— Eu já estou indo, mãe. — Cassie responde, e suspira, lançando um último olhar ao espelho.

Seu reflexo sorri para ela num flash de dentes brancos e lábios rosados.

Cassie, minha adorável Cassie… Quando finalmente virá para casa?

xxx

A respiração da garota é ruidosa conforme ela corre, pé ante pé, a borracha macia do tênis marcando a grama do parque. Após intermináveis segundos ela para, ofegante, e esfrega os olhos, cabelos de bronze presos num coque no alto da cabeça. As batidas do coração de Victoria são rápidas como as de um colibri — Valentim pode praticamente sentí-las sob a ponta de sua língua, batida após batida após batida. Ele reconheceria esse som em qualquer lugar.

O coração de Victoria soa como o coração de Jullien.

xxx

Eles nunca a incomodaram antes, ou tentaram assustá-la — nem mesmo quando ela não passava de uma garota assustava que gritava e gritava e gritava em agonia, sem jamais compreender as razões. Meerin fora deixada à própria sorte, abandonada à visão de um coração que mal batia e sangue — tanto sangue — tingindo paredes e tecidos e chão. Ela acreditara que após o dilúvio viria a calma, que seu espírito teria paz — mas eles a arrastaram com dedos mortos de unhas quebradas e a remendaram e a fizeram boneca de pano e marionete quebradiça.

Grite, mensageira, disseram as vozes. Grite aos ventos e aos homens de nossa terra — aos jovens, aos velhos, às crianças, às mulheres e aos enfermos. Grite e grite e grite até que não haja mais voz, e esconda seu rosto em cascatas de cabelos negros e olhos cinzentos. Seja nossa bailarina de gelo da caixinha de música que nunca é aberta — gire e gire e gire nas pontas de seus dedos sob os ruídos de nossas almas inquietas.

Meerin fecha os olhos. Se ao menos — se ao menos eles pudessem parar, nem que por apenas um instante. Ela suspira.

{“Cinco dias Meerin deu ao homem que a condenou.

Cinco agonizantes vozes que pingaram como gotas roxas de veneno

sobre um fio de vida que desvanecia.

Plec-plec-plec-plec-plec.”}

xxx

Victoria estremece quando a brisa fria balança as cortinas da janela. Relâmpagos cortam o céu num show de luzes e nuvens e sombras que a irritam quase tanto quanto a sensação do assoalho rangendo sob seus pés.

Tempo maldito. Victoria apoia os cotovelos na janela e suspira, encarando os jardins. Não é nem mesmo que ela não goste de frio mas — não. Simplesmente não. Dias chuvosos não fazem parte da lista de favoritos, nem nunca farão. A garota suspira, e observa o mundo além da janela.

Na rua, poucas são as casas que mantém luzes acesas. Ela se arriscaria dizer que é a única pessoa acordada — não fosse por saber que Luke Sellar, quase seu vizinho, provavelmente passa noites em claro pensando no que pretende fazer para acabar com a paz do bairro. Ele não faz nada muito sério, como, ela não sabe, destruir janelas de carros ou pichar muros. São apenas brincadeirinhas estúpidas — como sumir com os jornais que o jornaleiro joga toda manhã de domingo, ou esconder as ferramentas de jardinagens das pessoas em lugares que elas não esperam. Victoria já tentou conversar com ele, duas ou três vezes, mas Luke faz o tipo socialmente desajeitado e fugiu antes que ela pudesse lhe dirigir a palavra.

Bem, pelo menos os jornais de Victoria — não que ela goste de jornais — pararam de desaparecer. A garota sorri sozinha — sorriso esse que desaparece no momento em que as primeiras gotas hesitantes de chuva caem em seu rosto. Franzindo o cenho, Victoria encara o céu de nuvens negras e estremece novamente.

{“A chuva diz a ela que os dias de tempestade apenas começaram. E Victoria

— Victoria, de natureza e de terra, e de água e de vento

diz à chuva que as tempestades começaram há muito tempo”}


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Notas finais do capítulo

Aceito abraços, caixinhas de bombom, puxões de orelha, Nutella porque Nutella é bom e potinhos de geleia -qq (e revistas de super-heróis, pois revistas de super-heróis o amor da vida)
Até a próxima, folks :3



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