Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 6
Capítulo 06




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Samantha passou ir aos museus todos os dias, de segunda a sábado, embora aos sábados ficava apenas meio dia. Conforme orientada pelo tio, ela alternava entre um e outro, assim tinha a oportunidade de conviver com duas culturas distintas, de um lado lidava diretamente com a história, do outro com o inconsciente de diversas pessoas. Embora no Museu Nacional a diversidade de áreas a trabalhar a estimulasse, Samantha se sentia encantada ao ter contato direto com as pessoas nas oficinas do Museu de Imagens do Inconsciente.

No Museu Nacional, Samantha conheceu Luana, a filha do Sr. Geraldo, jardineiro da casa dos Carrara. Luana era uma jovem muito ativa, lidava especialmente na área de mineralogia do museu e estudava Geologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Tinha 19 anos e quando não estava na faculdade, estava no museu. Quase não via seu pai e, sua mãe, como Samantha soube mais tarde, a deixou quando ainda era bem pequena. O Sr. Geraldo fazia de tudo para que Luana pudesse manter os estudos que, apesar se dar em uma universidade pública, tinha muitos gastos a cobrir. Mas ele investia nos estudos da filha com gosto e sentia-se orgulhoso por ela. Ela, por sua vez, era muito grata ao pai e compensava o esforço dele sendo uma aluna exemplar e muito estudiosa. Como Samantha, Luana não era muito vaidosa, apesar de possuir uma beleza natural sem igual, não se preocupava muito em ser atraente ou despertar a atenção dos garotos.

Quando Luana não estava na faculdade, ela e Samantha trabalhavam juntas no setor de mineralogia e Luana ensinava o que sabia sobre os minerais catalogados. Em outras vezes elas fugiam até a biblioteca para pesquisar sobre a origem de uma ou outra espécie diferente que aparecia por lá. Elas se divertiam muito e, as vezes durante a semana, almoçavam juntas e faziam uma caminhada antes de irem para casa.

Samantha também conheceu outras pessoas importantes e legais no Museu Nacional. Quando Luana não estava ela ajudava em outras áreas do museu envolvendo-se com a história e arte de vários ângulos diferentes. Isso, é claro também tinha um lado negativo, como Samantha não demorou a perceber, algumas pessoas não eram tão simpáticas e carismática e viviam a mercê do seu próprio conhecimento. Algumas até desprezavam e ignoravam Samantha que, aprendeu a identificar e retribuir todo menosprezo, e até grosseria, com indiferença. Samantha era muito boa em ser indiferente a opinião das pessoas sobre si, ela simplesmente não se apegava a isso e, como fez com Leonardo ou Letícia, saia do caminho evitando confrontos ou aborrecimentos.

***

Ao chegar em casa, em uma tarde, Lurdes entregou a Samantha uma carta que, como pôde ver, era de Amanda. Ela subiu para seu quarto e mesmo curiosa pelas notícias da amiga, preferiu tomar um banho e tirar as roupas respingadas da chuva de novembro.

Samantha,

Eu já imaginava que você iria gostar do Brasil, apesar de ser um país muito diferente do nosso, as pessoas daí, em geral, são carismáticas. Fico feliz que esteja se adaptando bem, mesmo sentindo imensa falta de você aqui no colégio.

As coisas por aqui continuam na mesma, de todas as formas eles tentam nos privar do mundo exterior, como se isso fosse ajudar-nos a enfrentar a vida lá fora. Ainda bem que você saiu daqui um ano antes, é melhor para você poder curtir sua juventude longe desse colégio.

Desde que você partiu eu não vi mais seus pais, mesmo nos fins de semana que meu pai me leva para casa e eu vou passear nas ruas, mas não tive coragem de ir até sua casa, até pensei em ir lá para saber como eles estão e te contar, porque, pelo que te conheço, você sequer escreveu para eles, mas acho que eles não iriam gostar muito da minha visita.

Seus tios parecem pessoas muito legais, quem sabe eles não autorizam que eu lhe faça uma visita, no ano que vem, quando terminar o internato? Seria bom voltar ao Brasil com tempo e poder conhecer melhor essa terrinha por ai.

Você falou muito pouco sobre seu primo, aposto que é um rapaz lindo e você está preferindo esconder o ouro né... pode me contar toda essa história por completo.

Bom, cartas demoram de mais para chegar, quando recebemos as respostas tudo já mudou. Aqui no colégio descobrimos um jeito de desbloquear o acesso à internet, então sempre que temos aulas de informática eu poderei te responder. Anote meu e-mail, assim você pode me contar tudinho, quantas vezes quiser e podemos conversar melhor.

Fico aguardando seu e-mail, um beijo no coração e espero que esteja se divertindo muito.

Samantha ficou imaginando a amiga falando com seu jeito animado e divertido, enquanto lia a carta. Ela não tinha e-mail, mal sabia lidar com um computador porque no colégio em que estudara aprendeu apenas utilizá-lo para fins acadêmicos, com acesso restrito à internet, embora sempre desconfiou que algumas garotas conseguiam acessar, de fato, sem bloqueios. A ideia de poder comunicar com mais frequência com a amiga a deixou ainda mais feliz e, durante o jantar, pediu permissão para seus tios para poder usar o computador que tinha na biblioteca, mas eles acharam que ela ficaria mais à vontade se tivesse o próprio computador.

— Leo, você pode ir amanhã até a loja com a Samantha para escolher um notebook para ela, e claro, configurá-lo para conectar à internet?

— Ah pai, amanhã eu tenho jogo, a Samantha não pode fazer isso sozinha? Afinal é só comprar, e quanto as configurações, eu passo a senha da internet e ela conecta. Não é difícil fazer isso, a não ser que ela não conheça o básico de um computador.

— Não se preocupe tio — Samantha interrompeu com dificuldade de conter a irritação por Leonardo na voz — eu posso sim comprar e conectar à internet. Tive aulas de informática no colégio e não terei dificuldades com isso. Não precisa incomodar meu primo com essas coisas.

— Tudo bem, então amanhã você pode passar no shopping e comprar. Se tiver dúvidas, peça orientações para o vendedor. Leonardo, não esqueça de passar a senha para sua prima.

Leonardo percebia o tom de desaprovação na voz do seu pai e, internamente, a raiva por Samantha crescia. Ela era tão independente, resolvia tudo sozinha, lidava com tudo e se tornou a queridinha da casa. Havia dois meses que ela estava lá e ia ganhando espaço enquanto ele ficava em segundo plano. Tudo bem que, conforme ela prometera, eles se viam apenas no jantar, porque seus pais faziam questão de jatarem juntos todos os dias, mas mal se falavam. Ela o tratava com indiferença e, a não ser em momentos como esses, em que seu pai ou sua mãe tentavam forçar um diálogo entre os dois, Samantha agia como se ele não existisse.


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Notas finais do capítulo

Revisado em 03/08/2014



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