Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 7
Capítulo 07




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Os dias passavam rápido. Samantha estava tão imersa em suas atividades que mal percebeu que a cidade estava enfeitada para o natal. Já era quase fim de novembro, fazia três meses, quentes, que ela estava morando no Brasil e desde então não falou mais com seus pais. Mas isso não a preocupava, apenas ficava chateada com o fato deles sequer ligar para saber se ela estava adaptando bem ao novo país. Também sentia um pouco de vergonha porque seu tio, Júlio, custeava todas as despesas delas, deu-lhe um cartão de crédito para comprar roupas, mas ela não chegou a usar. Dava-lhe mensalmente uma quantia considerável para ela dispor com seus gastos pessoais, mas ela só usava mesmo para comprar itens de necessidade básica e não gastava nem a metade por mês. Deu-lhe ainda um computador e a matriculou no curso da auto escola para que ela pudesse aprender e ter licença para dirigir. Além disso, seus tios, principalmente Júlio, eram muito atenciosos. Sempre queriam saber como foi seu dia, o que tinha feito, o que estava lendo. Todos os dias o jantar se tornava um ritual onde eles perguntavam ao Leonardo e a ela sobre as coisas que haviam feito.

Desde o episódio da compra do computador de Samantha, ela e Leo não trocaram mais nenhuma palavra. As vezes ele ficava incomodado pelo fato dela se virar tão bem sozinha, mas por outro lado, ele agradecia por não ter precisado incluir Samantha em sua rede de amigos. Ela havia feito algumas amizades nos museus que frequentava e, quando não estava com eles, ficava em casa apenas na biblioteca lendo ou no quarto conversando na internet com sua amiga Amanda. Leonardo não era acostumado a não ser o centro das atenções, mas a prima se mostrava totalmente indiferente a ele.

Martha, a tia de Samantha era dona e administradora de um conceituado buffet no centro da cidade, ela gostava muito do seu trabalho e passava a maior parte do dia lá. Samantha estranhou ao chegar em casa, em uma tarde chuvosa de novembro, e ver a tia enfeitando uma árvore de natal. Ela ficou olhando a delicadeza da tia ao pendurar os enfeites e a graça com que organizava os detalhes. Até em casa era elegante e possuía uma beleza envolvente. Samantha ficou observando-a sem deixar de notar a semelhança com sua mãe. A tia convidou-a a se aproximar e começou a contar as tradições do natal no Brasil, apesar de não ter uma ligação forte com o costume, como em todos os lugares as ruas ficavam cheias de pessoas que iam às compras, o clima era sempre mais solidário e de companheirismo. Martha também explicou a Samantha que nos finais de ano ela sempre trabalhava mais, por isso estava tão pouco em casa, mas Samantha compreendia e admirava o esforço da tia.

Durante o jantar, como era de costume, seguiu-se uma conversa sobre os acontecimentos do dia. Samantha sempre tinha uma história sobre algum integrante das oficinas do Museu de Imagens do Inconsciente ou algum episódio vivenciado com Luana e contava a seus tios que lhe davam total atenção. Ela nem percebeu que o primo estava acuado e mal comera neste dia, até que Júlio se dirigiu a ele:

— Não está com fome Leonardo? Nem tocou na comida.

— Não. — Leonardo respondeu um pouco mais rude do que gostaria.

— E como foi seu dia? Está tudo bem?

— Nada tão emocionante como dia de Samantha. Aliás eu não faço nada dessas coisas que poderiam lhe agradar, pai. O Senhor me dá licença para me retirar? Já terminei meu jantar.

— Não Leonardo. Fique aí. Ainda não saíram suas notas? Já está em tempo, não?

Leonardo levantou os olhos. Temia que o assunto pudesse ser este. Há três dias ele recebera as notas e precisaria fazer recuperação em três matérias. Isso com certeza, ao olhos de Leonardo, desencadearia a terceira guerra mundial direto de sua casa. Mas agora não havia mais jeito. Contou ao pai a situação tentando fazer parecer o mais normal possível e surpreendeu-se ao não ouvir mais que um “entendo” vindo dele. Em seguida, Júlio concedeu-lhe permissão para que se retirasse e não disse mais nenhuma palavra.

Mais tarde, já em seu quarto, tanto Samantha quanto Leonardo puderam ouvir uma discussão entre os Carrara a respeito das atitudes de Leonardo e do quanto Júlio estava decepcionado com ele. Martha no entanto defendia o filho e tentava justificar com vários argumentos sobre suas ações. Samantha temia que a tia pudesse lhe culpar pela frieza do tio com Leonardo, pois o tio admirava o esforço e a inteligência dela visivelmente. Ela pensou em oferecer ajuda ao primo nessa fase de recuperação, sempre fora uma boa aluna e poderia incentivá-lo a não repetir o ano, enfurecendo ainda mais seu pai e estava decidida a procura-lo no outro dia.

Embora chovesse, fazia um dia quente. Samantha havia se despido e colocado um pijama, abriu um pouco as janelas para deixar o quarto mais fresco e preparava-se para uma conversa com Amanda quando ouviu batidas na porta do seu quarto. Pensando ser Lurdes que sempre vinha à noite perguntar se queria alguma coisa antes de se retirar, Samantha abriu a porta de imediato e deparou-se com Leonardo.

Ambos ficaram desconcertados. Samantha pela surpresa de ver o primo à sua porta e Leonardo pela primeira vez ver Samantha sem as habituais roupas e com os cabelos sem as enormes tranças (que ele detestava). Passado o momento do choque, Samantha perguntou-lhe o que desejava, tentando parecer calma.

— Posso entrar por um minuto?

Ela hesitou, olhou-o desconfiada mas acabou por concordar.


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Notas finais do capítulo

Revisado em 03/08/2014



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