Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 5
Capítulo 05




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Era bem cedo quando Samantha acordou, ansiosa para ir ao museu com seu tio, mas Lurdes já havia preparado o café e o Sr. Geraldo agraciava o jardim com suas mãos hábeis. Soprava uma brisa suave pela porta da cozinha e Samantha se deliciava com o cheiro que exalava da mesa, muito linda, que Lurdes arrumara.

— Acordou cedo e bem disposta hoje, Samantha, viu algum passarinho verde, foi?

Samantha olhou atônita para Lurdes sem entender o que teria um passarinho a ver com sua disposição.

— Ah não. Eu estou animada para conhecer os museus que tio Júlio irá me levar, só isso.

— Ah sim, ele me informou. Espero que divirta-se bastante. Vou chamar seu primo, antes que ele perca a hora da escola.

— Até mais Sra. Lurdes.

— Até mais Samantha.

Samantha aguardou que seu tio a chamasse, para saírem, no jardim, com Sr. Geraldo. Enquanto isso, ele falava alegremente sobre diversas coisas bonitas que Samantha iria conhecer no museu e contou ainda sobre sua filha, Luana, que também participava de algumas oficinas, após o trabalho, em um dos museus. Samantha não sabia que o Sr. Geraldo tinha uma filha e perguntou-o mais sobre ela, rendendo uma boa conversa com o jardineiro até seu tio lhes interromper par que pudessem sair.

Pelo caminho, Júlio explicou a Samantha que ela ficaria na parte da manhã no Museu de Imagens do Inconsciente, às doze horas, sua secretária a buscaria para almoçar e, à tarde eles iriam no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Nos outros dias ela mesma faria sua rotina e o motorista estaria à sua disposição para leva-la e busca-la quando quisesse.

O Museu de Imagens do Inconsciente teve origem nos ateliês de pintura e de modelagem da Seção de Terapêutica Ocupacional, organizada por Nise da Silveira em 1946, no Centro Psiquiátrico Pedro II. Aconteceu que a produção desses ateliês foi tão abundante e revelou-se de tão grande interesse científico e utilidade no tratamento psiquiátrico que pintura e modelagem assumiram posição peculiar. Todas as exposições tem afinidade direta com a psiquiatria e com as imagens do subconsciente humano, a fim de fornecer ao pesquisador condições de estudo através da análise de imagens e símbolos pela produção plástica espontânea. Várias das exposições contidas no museu é fruto das oficinas destinadas ao público e à pacientes psiquiátricos.

Júlio explicava detalhes, emocionado, sobre o local e Samantha percebeu que ele exercia um carinho particular pelo trabalho ali realizado. Enquanto contava sobre as pinturas, as formas e cores que ela iria encontrar no ambiente, foi pontuando a importância do trabalho na sociedade, e contou-lhe ainda do novo projeto de incutir diálogos estrangeiros com os grupos das oficinas, a fim de se observar a reação cultural das pessoas ao “estranho”. Era onde Samantha poderia participar de forma ativa, pois além de ser um típica alemã, tinha um gosto especial pela arte e pela literatura.

Samantha foi recebida com carinho tanto pelos funcionários e voluntários do local, quanto pelos “alunos” que participavam das oficinas. O Sr. Carrara fez as devidas apresentações, indicando Samantha como sua sobrinha alemã e voluntária para ajudar e participar das oficinas do museu até o início do próximo ano letivo. Ela observava com cuidado todas as pinturas, a arte desde o carpete até à maneira como as plantas eram expostas, tudo formando um agregado de cores e perfumes que fazia-a querer ficar ali para sempre. Percebeu que seu tio descrevera poeticamente o local sem poupar detalhes e ficou imaginando porque ele não era médico psiquiatra ao invés de advogado.

Samantha logo se enturmou com o pessoal, interagia com a ideologia do museu de forma encantadora e foi participando das oficinas e cursos oferecidos com o interesse de uma criança pela novidade. A manhã passou tão rápida que ela se assustou com o anuncio de que a secretária do Sr. Carrara estava lá para leva-la para almoçar.

Atendendo à solicitação do patrão, Letícia levou Samantha a um restaurante próximo ao museu, para que a garota pudesse saber onde poderia almoçar nos próximos dias, caso não quisesse ficar procurando. Letícia era jovem, estudante de advocacia e com um ar apressado e arrogante. Algo em suas reações fez Samantha pensar que, como o primo, Letícia só estaria ali para cumprir as ordens do Sr. Carrara e, tratou de deixar claro para a moça que sua presença era dispensável.

Samantha já havia terminado seu almoço, e aguardava em silêncio, quando seu tio chegou para levar-lhe ao Museu Nacional. Eles esperaram até que Letícia terminasse sua refeição, deixaram-na no escritório e seguiram rumo ao museu. Júlio alertara Samantha que não daria para ela ir, no mesmo dia, em ambos museus devido a distância e orientou que ela programasse quando estaria em um ou no outro. Antes que ela pudesse questionar, ele também afirmou que era importante que ela não ficasse apenas em um deles, assim, além de poder conhecer áreas diferentes, não se envolvia tão sentimentalmente em algum projeto. Durante o caminho ela contou-lhe sobre as pessoas, sobre as oficinas e os cursos que ela se inscreveu. Júlio nunca vira uma adolescente tão feliz por absorver cultura e sentiu-se orgulhoso da sobrinha.

Ao descer do carro, os olhos de Samantha brilharam de deslumbre, só por ver a fachada da Casa Imperial, onde funciona o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Este é a mais antiga instituição científica do Brasil e o maior museu de história natural e antropológica da América Latina. Criado por D. João VI, em 06 de junho de 1818 e, inicialmente, sediado no Campo de Sant'Anna, serviu para atender aos interesses de promoção do progresso cultural e econômico no país. O museu conta com projetos de pesquisas e voluntariado na organização e contingencia do acervo, por toda extensão do local que abrange várias áreas da ciência.

Samantha passou o resto da tarde passeando e conhecendo pessoas importantes pelo museu, visualizando e ouvindo as explicações do seu tio sobre as exposições, de onde vieram e porque estavam ali. O dia nunca passara tão rápido e ela não via a hora de poder voltar e começar a conhecer, de fato, cada item ali apresentado.


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