Ele me pareceu, em primeiro momento, desconfiado pelo meu convite para entrar no apartamento. Eu insisti, precisava dar o troco depois de ver a velha dar em cima dele, pouco tempo atrás. Confesso que isso também era um teste para eu mesma ver até onde eu poderia ir. Miroku entrou, com seu sorriso estampado no rosto. Senti que ele estava analisando, sem disfarce, a minha casa - e o meu corpo.

Emendei uma conversa boba, ao oferecer uma bebida. "Você prefere chá ou água mesmo?"  "Acho que aceito um chá, por favor.", ele completou, enquanto eu botava a água para ferver rapidamente. Percebi que ele sentou no sofá após observar cautelosamente o meu apartamento. O chá já estava pronto, levei até ele com um sorriso um pouco cínico em meu rosto. "Você recebe muitas visitas... deve ser um homem bem requisitado.", disparei essas palavras para ele, agindo com uma franqueza que não é costumeira a mim. Miroku riu, e, percebendo o meu incomodo a sua reação, ele respondeu. "Não sabia que você era espiã." Rapidamente, ele completou sua fala. "Bom, você deve ter notado as visitas freqüentes ao meu apartamento. Antes que você pense algo ruim da minha pessoa, espero que fique claro que essas visitas são apenas com intuito profissional."

Mas que diabos eu tenho a ver com isso? Detestei o sarcasmo em suas palavras, a maneira como ele disse 'antes que você pense algo ruim'... e o que eu tenho a ver com isso?! De qualquer maneira, preferi responder a altura. "Ah... fico pensando que tipo de profissão precisa receber lindas mulheres a certas horas da noite!" Ele riu novamente. "Não é nada disso que você está pensando, Sango-chan! Eu sou apenas um fotógrafo...!"

Não sabia se eu ficava surpresa com a intimidade que ele logo adquiriu comigo ou com a revelação do que realmente explicava as constantes visitas no seu apartamento. Inclusive a do homem, que tinha ido nesses dias! "Fo... fotógrafo? Fotógrafo profissional, daqueles de capa de revista e tudo o mais?!", comentei. Ele fez sinal afirmativo com a cabeça. "Sim, faço catálogos e fotos para campanhas publicitárias, além de ensaios com modelos", revelou, num tom estritamente profissional - e completamente inesperado, diga-se de passagem. Mas aquilo não me convenceu completamente. Aposto que ele devia não apenas fotografar as garotas, como dormir com elas. Estava na cara que Miroku era um legítimo garanhão.

"Você nunca pensou em posar, Sango?",emendou, de repente. Por pouco, não derrubei minha xícara no chão. "É bonita, está em ótima forma...não entendo como nenhum caça-talentos ainda não a encontrou", brincou, bebendo um último gole do chá e sem desviar os olhos do meu rosto. "Não, eu nunca pensei nisso, não!", respondi, um pouco tímida. Um silêncio tomou conta do ambiente. Ficamos os dois sem fala alguma por alguns minutos, ambos fingindo estar concentrados na degustação daquela prosaica situação. Finalmente, eu disse algo. "Ah, claro, quase me esqueço completamente. Vou buscar o sal.", falei, tomando a direção da cozinha. Surpreendentemente, ele veio atrás de mim. Enquanto eu colocava sal num pequeno pote, Miroku se aproximou de mim e ficou a perigosos centímetros de distância. Engoli seco.

"Realmente... você deveria ser modelo", murmurou, olhando-me fixamente. Sorri e desvencilhei-me, quebrando completamente o clima. Antes de ir embora, Miroku me convidou para conhecer o seu apartamento, dessa vez. Tudo marcado para o dia seguinte. Não pensei muito, apenas topei.

Dormi ansiosa aquela noite. Em minha cabeça, imaginei diversos devaneios com o meu  sensual vizinho. Eu sabia que se tratava de uma roubada. Tinha plena consciência de que corria o risco de me apaixonar por um safado, que cultuava o amor poligâmico  o oposto de mim, uma garota romântica.

Um cheiro agradável de algo assado no forno escapava pela fresta da porta dele quando cheguei ao meu apartamento. Deve estar armando uma senhora armadilha! falei a mim mesma, imaginando que tipo de comida - e de conversa fiada - ele viria para cima de mim. Olhei o relógio. Tinha pouco mais de 10 minutos para me arrumar e ir jantar. Usei uma maquiagem leve, assim como um discreto  mas curto  vestido, rosa bem claro com um efeito degradê mais escuro. Tudo foi friamente calculado, para que eu fosse notada - mas para que a minhas fantasias não ficassem tão claras e facilmente notáveis em meu rosto.

Toquei a campainha, um pouco tremula. Ele abriu a porta sorridente. A casa estava impecável. Nas paredes, fotos de modelos famosas. "Já fotografei algumas delas", disse, apontando para uma conhecida top model da era moderna. Notei a mesa montada, apenas esperando a minha chegada para o jantar. Miroku logo me convidou para sentar à mesa. "Você costuma organizar muitos desses jantares?", perguntei, depois de provar um pouco do sakê. O jantar estava simplesmente divino. Ou seja, além de charmoso, Miroku era um cozinheiro de mão cheia. Conversamos sobre assuntos diversos, e ele me contou um pouco mais sobre sua profissão, sempre com seu olhar pontual, que me faziam tremer por dentro.

Na quarta dose, já não tinha mais controle da situação. Não era mais capaz de controlar minhas ações com completa lucidez. Só pude sentir o seu toque delicado, de suas mãos incrivelmente leves, deslizando pelos meus ombros.  Em pouco tempo, estava deitada na cama macia, beijando aquele homem. À medida que tentava recobrar a minha lucidez, via uma parte de minha roupa sendo tirada aos poucos e meu corpo sendo explorado delicadamente. Meu coração batia forte, como se dissesse: "Menina, lute para que ele seja só seu!".