Unforgivable escrita por oakenshield


Capítulo 31
Engagement


Notas iniciais do capítulo

hello
its me!!!!!!



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No dia seguinte, assim que o sol nasceu, Katerina se levantou. As lembranças da noite passada invadiram a sua mente.

Depois de contar sobre Joffrey para Francis, ele decidiu que ela precisava relaxar e eles fugiram do palácio.

— Você pode ser a rainha de Frömming, mas há lugares que ninguém da realeza poderia conhecer.

Ele a levou para uma rua deserta. Mesmo tendo visitado lugares pobres antes, eram lugares com famílias. Ali, no meio do nada, parecia um local perigoso.

Por dentro, parecia um bar do tipo que se vê em filmes no estilo medieval. O balcão era basicamente o tronco de uma árvore cortada ao meio. Havia dois homens bebendo no bar e outros três em uma mesa, mas ninguém além deles.

— Francis... o que estamos fazendo aqui?

— Você lembra quando eu prometi que te levaria para se divertir assim que nos conhecemos?

— Naquela noite eu cortei meus pés e fui parar em Las Mees. Não era o que eu tinha em mente quando você mencionou diversão.

Francis não consegue deixar de rir.

— Faremos diferente hoje, sim?

Katerina concordou. Ele chegou até o homem do balcão e tirou algo do bolso. Uma moeda em ouro com um gavião gravado nela.

— Kionbach.

O homem, já com seus cinquenta e poucos anos, pegou a moeda e a colocou entre os dentes para verificar se era verdadeira. Ao constatar que era, saiu de trás da bancada e fez sinal para o seguirem.

Eles seguiram para os fundos e pararam em frente a um armário com vários tipos de vinhos empoeirados.

— Seja bem-vindo à Kionbach SS, senhor.

A princípio, Katerina não conseguia ver. Estava tudo escuro. Sentiu um degrau abaixo dos seus pés após quase cair. Então, lá em baixo, viu várias luzes coloridas girando pelo teto como em um globo. Uma fumaça branca invadiu seu campo de visão e uma música alta e eletrônica fazia seu corpo tremer.

— Kionbach SS?

— Kionbach Sociedade Secreta.

Katerina o encara.

— Vocês não param de se infiltrar no meu país, não é mesmo?

— Tenho certeza que você faz o mesmo, Kat - ele a beija na testa e a puxa escada abaixo.

A música alta, as bebidas, o cheiro da fumaça... tudo é tão enebriante que a faz se sentir, pela primeira vez em tempos, viva novamente.

No meio da madrugada, lá por umas três da manhã, Francis a leva de volta para o palácio.

— Obrigada.

— Não podia deixar você voltar a pé - ele sussurra. - Além do mais, táxi levantaria suspeitas.

Ela dá risada.

— Não por isso. Eu... obrigada por hoje.

Ele assente.

— Eu aluguei um quarto no Frömming Palace - ele murmura. Eles ficam em silêncio por algum tempo, apenas se encarando. - Bom, está na minha hora.

Katerina o segura pela mão.

— Fica.

+++

Hillary passa os olhos pelos corredores. Não há ninguém. Michael havia desligado as câmeras do escritório de Vincent assim que recebeu o sinal dela.

— Nós temos - ela olhos no relógio - quatro minutos e trinta e sete segundos antes dele receber o alerta de falha no sistema.

Eles entraram correndo no escritório e enquanto Michael trancava a porta, Hillary posicionava a câmera em cima da mesa.

— Você fala - ela diz.

— Eu? O povo do norte conhece você, não eu.

— Mas o mundo conhece você, Michael. Você é o filho de sangue dele.

O loiro respira fundo e senta na cadeira giratória preta de Vincent.

3, 2, 1... Hillary faz com os dedos.

— Eu sou Michael Archiberz, filho adotivo de Joffrey Archiberz e Ivna Scherminski, filho biológico de Vincent Fieldmann e Harriet Mezzo Archiberz. Nesse exato momento, estou no norte de Frömming, mais especificamente em Meurer, na casa do meu pai. Aqui, descobri coisas inimagináveis.

Ele respira fundo.

— Entreguei o material ao representante do Manske Global aqui no norte e em breve vocês terão o relatório completo, mas revelarei o que realmente importa nesse exato momento: não existe uma praga. Não existe A Praga ou a Infecção de Carrick. Não é nada genético ou transmitido por um animal. O IC2023 é um vírus modificado em laboratório, no passado uma arma para tornar soldados de guerra mais fortes. Com uma mutação, acabou se tornando mortal. E quem foi responsável por esse vírus foi o Marechal Johann Fieldmann. Quando ele morreu, Vincent assumiu o seu lugar e o seu projeto de redução populacional.

Hillary levanta dois dedos para ele atrás das câmeras. Dois minutos era tudo o que ele tinha.

— Famílias que não pagam impostos ou rebeldes e seus parentes são eliminados através de uma doença, assim ninguém jamais desconfiaria. Por isso quem morre são os pobres: ricos não se rebelam, pois são favorecidos pelo sistema e pagam todos os impostos por medo. Por isso A Cura é vendida por um preço exorbitante para os menos favorecidos, enquanto os ricos pagam uma quantia considerável e recebem as vacinas mensais. 

Hillary levanta um dedo. Um minuto.

— O vírus é colocado dentro das garrafas de leite que são distribuídas pelo governo.

O loiro sente uma gota de suor escorrendo da sua testa, mesmo que o ar esteja ligado ali.

— Agora vocês sabem. Se reúnam. Lutem. Lutem por vocês, pelos seus filhos, pelos próximos e por aqueles que se foram. Certa vez li em um livro chamado Genocídio, que foi proibido de ser vendido, mas que eu farei questão de trazer de volta às livrarias para que todos passam ter uma experiência como a que eu tive. Enfim, no livro falava sobre a luta dos rebeldes. Eles perderam, mas o sentimento ficou. O autor acreditava que chegaria o dia em que eles poderiam se juntar novamente e lutar. Esse dia chegou. "Nós não semeamos", ele dizia. Por isso eu digo a vocês: não deixem passar batido novamente. Se caírem, levantem e lutem novamente. Não fiquem no chão. Nós devemos isso aos nossos ancestrais.

Ele olhou para o relógio. Dez segundos.

Michael ouve murros na porta.

— Abre essa merda, Michael! - Vincent berrava do outro lado.

— Provavelmente serei preso por isso. Até morto, não é de se duvidar. Eu espero que isso não tenha sido em vão. Estou contando com vocês.

Vincent esmurra a porta e corre até a câmera para desligá-la.

— O que diabos vocês fizeram?

— Nós acabamos com seu governo - Hillary fala.

— Vocês acabaram com todos nós... acham mesmo que eles irão nos poupar? Pobre não sabe distinguir culpados e seus parentes. Iremos todos morrer.

— Pensei que você não temesse os rebeldes.

— Pois eu os mantinha em rédea curta e vocês destruíram tudo!

— Acabou, pai - Hillary fala com um sorriso cínico nos lábios.

— Eu jamais esperaria isso de você, Hill.

— Não esperaria? Depois de tudo pelo que você me fez passar, você realmente não esperava?

— O que eu te fiz passar? Eu te criei, paguei seus estudos, a amei! Tudo isso sabendo que você não era minha. O fato de não termos o mesmo sangue jamais me perturbou. Eu não demonstrei nada além do meu afeto e o que eu recebi em troca foi uma facada nas costas. 

— Você queria que eu abortasse! Me fez perder o amor da minha vida através de mentiras! Eu jamais o perdoarei. Por isso me juntei aos Apátridas, enquanto você pensava que eu estava infiltrada lá ao seu favor, eu estava, na verdade, tramando a sua morte.

— Apesar das suas tentativas, você falhou.

— Ainda não é tarde - Hillary sibila, puxando a arma do cinto, onde a manteve escondida por muito tempo, junto com a sua vontade de sangue Fieldmann, ansiando o momento em que a tiraria de lá.

— Hillary - Michael a tira de seus devaneios. - Não faça isso.

— Ele merece - ela sussurra tão baixo que ele mal pode ouvi-la, mas percebe que suas mãos tremem.

— Não seja como ele.

Ela encara Michael.

— Ele não é seu pai. Pode ser sangue do seu sangue, mas jamais será seu pai.

— Não me importa. Ele ainda é alguém e se você matá-lo, perceberá com o tempo que isso não a satisfaz. Então terá sido tudo em vão.

— Já matei antes, Michael. Não me importo de adicionar mais um nome na minha lista.

— Mesmo que, apesar dos pesares, esse nome seja do homem que a criou?

Ela hesita por um instante.

— Ele pode ter feito coisas horríveis, mas se não fosse por ele, você jamais teria um pai. Isso não deve ser ignorado.

As lágrimas emaranham seus olhos.

— Por que você está o defendendo?

— Porque você está errada. Ele é meu pai, tanto quanto é seu. Porém fui criado pelos Archiberz e nós nunca desistimos dos outros.

Hillary olha para a arma em sua mão.

— Eu não vou desistir dele, assim como não vou desistir de você - o loiro completa.

O baque da arma contra o chão invadiu os ouvidos deles. Vincent, incrédulo, se retirou em silêncio do escritório enquanto Michael corria para abraçar a irmã.

— Onde ele está? - Hillary pergunta depois que consegue controlar as lágrimas. - Michael, ele... ele fugiu.

+++

Katerina passou a maior parte da semana em salas de reuniões. Mal teve tempo para Francis e isso a deixou frustrada. Enquanto isso, ignorava Joffrey pelo maior espaço de tempo que conseguia. Apenas nas reuniões mais importantes não podia evitar, sendo ele seu Primeiro Conselheiro, e isso atrapalhava sua concentração, pois não conseguia pensar nos relatórios, afinal só conseguia imaginar as cem pessoas que tiveram que morrer para que ela pudesse viver.

Na sexta-feira à noite, ela finalmente pôde jantar com tranquilidade. Francis sentou-se de um lado seu, enquanto Joffrey se sentou do outro. Era o último dia de Ivna em Frömming, por isso ela e Wolfgang se juntaram a eles. Andrew estava lá também. Depois de toda aquela história com Fleur, ele pediu perdão e aceitou o pedido de Katerina de se tornar o Segundo Conselheiro.

Outras pessoas se juntaram a eles. Pessoas da Corte, claro. Apenas convidados de Ivna. Kimberly Fieldmann viera do norte e Ivna fizera questão que todas suas irmãs viessem da Rússia. A família de Wolfgang ou estava morta ou espalhada pelo mundo, por isso a única alemã sangue do seu sangue a comparecer era sua filha do primeiro casamento, Katja. Além disso, seus Conselheiros, assim como o embaixador alemão em Frömming.

Após a Grande Guerra, as Américas foram aniquiladas. Sua maior potência, os Estados Unidos, foi destruída aos poucos por seguidos ataques terroristas. Quando o país começou a entrar em declínio, seu presidente fugira com a filha, aconselhando a população a evacuar. Os que não fugiram, seja por falta de dinheiro ou teimosia, morreram nas mãos dos rebeldes. Diziam que aqueles que espalharam o terror viviam em meio as ruínas. O presidente e sua filha foram abrigados na França e, em retaliação, os francesas bombardearam os EUA a fim de matar os terroristas que lá ficaram. 

Anos mais tarde, em uma viagem diplomata à França, Wolfgang casou com a filha do presidente. Emily deu à luz a uma menina, a qual Wolfgang nomeou Katja em homenagem a sua mãe. Emily morreu no parto.

Mesmo que muitos terroristas tenham morrido no bombardeio, haviam milhares deles espalhados, escondidos, apenas à espera de mais um conflito para causar o caos no mundo. E, raivosos pela filha do presidente ter escapado, e como ela já havia morrido, decidiram ir atrás da família da sua filha. Em retaliação, a família real alemã foi dizimada em um ataque violento ao palácio no aniversário de doze anos da princesa Katja. Apenas ela e o pai sobreviveram, pois haviam se escondido em uma sala secreta.

Katerina não conseguia deixar de pensar nas histórias por trás das pessoas. Por trás dos sorrisos e das taças de cristais molhadas pelo vinho tinto, havia tanta tristeza e destruição que eles tinham que suportar. Todos eles. E ainda haviam aqueles que ansiavam uma vida na Corte. Uma vida de máscaras.

Michael não viera. Ninguém sabia exatamente onde ele estava, até seu anúncio na televisão de Meurer. Leona gravou um holograma em nome da família Le Lëuken em apoio ao casamento de Ivna e Wolfgang, além de mandar seu embaixador como representante. Grandes países mandaram seus embaixadores, porém haviam aqueles, inimigos, que nem isso o fizeram. Isso não surpreendeu Katerina, mas enfureceu Ivna. Claro que a russa não demonstrou, mas a ruiva sabia reconhecer a raiva atrás dos seus olhos, tendo o visto por tantos anos. O que surpreendeu Katerina, porém, foi Heron Hallaya ter vindo em pessoa. Ao seu lado, sua nova esposa (e velha conhecida de Katerina), Anne, sua ex-criada.

Quando soubera o que o rei de Hahle havia se casado com uma criada, ficou muito surpresa. Ainda mais conhecendo o antigo Heron. Autoritário como o pai, o qual ela matou, geralmente arrogante e metido a galanteador. Não entendia como Anne se encantou por ele, mesmo que ela sempre tenha sido a mais ambiciosa entre suas criadas de confiança. Poém, parecia que o coma havia o mudado. Até Francis percebeu. E o jeito que Heron olhava para Anne...

— Ele deve me odiar, Francis - ela sussurra ao vê-los passar pela grande porta da sala de jantar principal. - E com razão. Eu matei o pai dele e mesmo que Jacques tenha merecido, Heron não.

— Você não devia ter matado o rei, eu sempre disse isso. Porém depois que o fez, você sabia que arcaria com as consequências. Se quer paz, Heron ignorará o fato, caso contrário, ele declarará guerra.

Katerina assente e percebe o toque de leve de Francis por baixo da mesa. Seus dedos se entrelaçam aos dela por breves segundos, pois, assim que Heron e Anne se aproximam, Francis fica de pé para cumprimentá-los. Katerina faz o mesmo.

— Rei Heron Hallaya - ela sorri. - Não o esperava por aqui.

Ela olha para a acompanhante dele.

— Anne - a ruiva cumprimenta.

— Rainha Anne agora - Heron a corrige. Anne toca o braço dele, sussurrando que aquilo não era necessário.

Katerina não fez questão de corrigir-se. O papa não havia reconhecido o casamento dos dois e por isso não era considerado legítimo. Mesmo que tivesse grande apreço por Anne, ela não poderia ir contra a vontade do Santo Padre, grandíssimo aliado de Frömming.

— Não esperava que viesse, Heron - ela retoma o assunto. - A maioria dos países mandou seus embaixadores.

— Não gosto de representantes. Depois da quase-morte, muita coisa mudou. Prefiro ver tudo com os meus próprios olhos e tratar dos meus assuntos de interesse pessoalmente.

Ele abre um sorriso descontraído.

— Rússia e Alemanha? Fala sério! Eu precisava presenciar isso.

Assim que vê os convidados distraídos, ele se aproxima. Sua voz é rápida e baixa demais, mas Katerina consegue entender:

— Eu não tenho intenção de causar qualquer mal à você ou ao seu país. Não quero vingar a morte de meu pai ou qualquer coisa do tipo, pois sei que você estava fazendo justiça por Erik e ele era um grande amigo meu.

Isso a traz um grande alívio, mesmo não sabendo se deveria confiar nele. Agradece, apesar de tudo. 

O jantar começa a ser servido e tudo parece estar em ordem. Bom, pelo menos ali dentro, pois Katerina sabia que quando encarasse o mundo lá fora, poderia vê-lo queimando.

+++

Após o breve discurso de Ivna e Wolfgang, chega a vez da anfitriã, Katerina, falar.

Chegou a hora do show, ela pensa.

— Eu e minha família estamos extremamente felizes nesse dia - ela começa. - Durante todos esses anos, Ivna foi uma mãe para mim. Nunca vi tão dedicada, mesmo eu não tendo seu sangue. Com seus filhos não era diferente.

A ruiva olha para a ex-madrasta e dá graças a Deus por estar se livrando daquela mulher. A morena sorri, parecendo compartilhar de seus pensamentos.

— Ivna sempre foi forte e determinada. Quando queria algo, sabia como conseguir. Isso é o verdadeiro espírito de uma líder. Tenho certeza que assim como fez em Frömming e na Rússia, reinará na Alemanha ao lado de Wolfgang com grande sabedoria e imponência.

Katerina sorri de forma amigável para o alemão, quase piedosa. Mal ele sabia onde estava se metendo ao casar-se com aquela diaba.

— Declaro aqui o total apoio de Frömming a essa união - ela levanta sua taça e todos fazem o mesmo. - Um brinde!

+++

Todos conversavam animadamente na sala de jantar principal. A madrugada já havia chegado, mas ninguém parecia disposto a partir. Katerina, já cansada, se dirigiu para uma das várias sacadas do palácio. Isso era algo que a agradava lá: as sacadas em todos os cantos. Podia sair para pensar após uma reunião cansativa ou simplesmente tomar um ar após a janta. 

Sentiu uma mão tocando seu ombro e assim que virou e viu Francis, sentiu os braços dele ao redor da sua cintura. Ela fechou os olhos para apreciar aquele momento.

— O que você acha de aproveitar o noivado de Wolfgang e Ivna para anunciar o nosso também?

Ela ri.

— Não sabia que estávamos noivos.

Ele também ri. Katerina sente seus lábios se abrindo atrás de si e não consegue ignorar aquela maravilhosa sensação.

— Podemos estar - ele deposita um beijo em seu pescoço -, basta você querer.

Eu adoraria, é o que ela quer dizer. Porém, a ruiva vira-se para ele e fala:

— Pensarei na sua proposta.

Francis sabe a verdade: que ela e o ama e que, mais cedo ou mais tarde, eles acabariam casados. Era tudo uma questão de tempo.

— Até porque, se sequer pensarmos em ofuscar Ivna essa noite, não sei se estaria viva amanhã.

— Não se preocupe, pois outras oportunidades surgirão.

Ele a puxa mais para si, se é que isso era possível. Seus lábios macios tocam o rosto pálido da ruiva primeiro, como se esperasse algo dela. Katerina fecha os olhos e sente o cheiro do seu hálito tão próximo, o desejo pelos seus lábios...

Não sabia se a sua confiança em Francis estava completamente restaurada depois de tudo. Mas ambos tinham cicatrizes, afinal. Era uma época difícil e ela jamais saberia se não desse mais uma chance. Estava cansada de carregar o mundo nas costas sozinha, sentia que precisava de alguém para compartilhar esse fardo, alguém que ela amasse e que entendesse o peso dessa vida cercada de luxo e mentiras.

Por isso, quando os lábios de Francis tocaram os dela, Katerina não recuou. E quando ele a conduziu até o escritório mais próximo, ela não o afastou. Deixou que o agora loiro -ela sempre se impressionava como ele conseguia ficar bonito de ambos os jeitos- Francis levantasse seu vestido até a cintura e beijasse cada canto do seu corpo. Ansiou por aquele toque por tanto tempo que pensou que não o reconheceria caso tivesse a oportunidade tê-lo novamente. Porém o reconhecia e sentia cada sensação, cada beijo e cada toque, como se fossem os primeiros.

Era isso que buscava: uma paixão que a fizesse se sentir tão viva como se fosse a primeira vez. E se havia encontrado isso em Francis, é com ele que ficaria, não importava o que custasse.

+++

Katerina pediu a ajuda de Francis para fechar o seu espartilho. A pequena comemoração de ambos não durou muito, afinal as pessoas começaram a ir embora e havia muito barulho pelos corredores. Assim que ele apertou as cordas, tão forte que quase a sufocou, ela sorriu de forma agradecida. Ajeitou os cabelos e saiu do escritório acompanhada de Francis.

Porém, eles perceberam que Heron e Anne ainda estavam por lá.

— Estive pensando em ficar em Frömming por alguns dias.

A ruiva força um sorriso.

— É bem-vindo para ficar no palácio.

— Anne também irá ficar.

Ela engole em seco.

— Tudo bem.

Nunca teve complexo de superioridade, mas cresceu rodeada de uma pesada hierarquia. Uma ex-criada sua ser recebida como convidada em seu palácio, ainda mais como rainha, era, no mínimo, fora do padrão.

Anne se retirou com um sorriso e sem fazer reverência. Heron encarou Katerina.

— Se não fosse pelo acidente no casamento de Rebekah, eu não teria conhecido Anne.

É aí que ela percebe que ele a ama de verdade.

— Ela cuidou de você - Katerina supõe. A ruiva sabia que a mãe de Anne era uma enfermeira, então ela deve ter aprendido algo. Além do mais, soube que o palácio havia montado uma área hospitalar improvisada depois do ataque no casamento de Rebekah.

Heron assente com a cabeça.

— Eu menti.

Katerina gela.

— Sobre o quê?

Quando disse que não vim atrás de vingança. Eu menti.

Ela respira fundo. Já foram atacador antes por Hahle no reinado anterior. Rebekah não se importou com o estrago, perdida demais em sua loucura, mas Katerina ainda lutava para reconstruir as partes atingidas e para tentar suprir de alguma forma as coisas que as pessoas perderam. Se fossem atacados novamente, ela não sabia se conseguiria fazer tudo voltar a ser como era antes.

— Eu estou atrás de alguém. Soube que ela estava em Frömming e sei que você a mantém aqui. Em troca do meu apoio incondicional, eu só peço que a entregue a mim.

Assim que Heron disse ela, Katerina sabia quem era.

— Ela tentou me matar. Não posso simplesmente entregá-la assim sem que o preço seja pago.

— Fleur irá pagar, isso eu posso te garantir.

Katerina então flagrou o ódio flamejando em seus olhos. Sua voz podia ser serena, mas seu olhar o entregava.

— O que ela fez?

— Muitas coisas. Entre elas, tentou matar meu filho ainda não nascido.

Katerina não sabia que Anne estava grávida.

— Como eu disse, Archiberz, ela irá pagar. Apesar de ter feito tudo isso, Fleur ainda é uma Hallaa e deve pagar sua pena em Hahle.

Katerina acaba concordando, sabendo que o castigo de Fleur viria.

— Confiarei em você, Heron. Espero que não me arrependa.

— Não irá. Prometo.

+++

A chuva começou assim que ele saiu de casa. Correu e se escondeu em becos, algo que jamais se imaginou fazendo, pois o povo estava raivoso nas ruas. Jogavam móveis, gritavam e queimavam coisas, mesmo em meio ao temporal.

— Vincent deve morrer!

Se escondendo na escuridão, ele consegue chegar ao maior prédio do centro de Meurer, o Swen, onde sua sede militar fica disfarçada no subterrâneo.

Quando as portas do elevador se abrem, ele vê o fluxo de pessoas. Militares em sua maioria, mas também homens e mulheres com roupas sociais.

— Avise ao Primeiro Exército que Vincent Fieldmann está convocando uma reunião de urgência - ele avisa ao primeiro soldado que vê.

— Senhor - ele presta uma rápida reverência. - Devo avisar que há soldados que se viraram contra nós.

— Convoque os que restaram. Avise ao Pequeno Conselho também. Quero todos aqui em uma hora.

Ele se retira para o seu escritório. Vai até o banheiro e seca os cabelos negros com uma toalha. Há olheiras profundas em seu rosto, algo que ele não tinha percebido antes.

Quando vai lavar as mãos, ele percebe sangue na pia. Ao se olhar no espelho novamente, vê que o sangue veio do seu nariz.

A reação está começando.

 

 


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Notas finais do capítulo

e aí?????
gente estamos chegando ao fim e eu adoraria saber o que vocês acham que vai acontecer, se estão gostando, essas coisas
sugestões também são sempre bem-vindas xx



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