Unforgivable escrita por oakenshield


Capítulo 30
Hundred Deaths


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora e por esse capítulo curtinho, mas queria muito postar algo hoje para vocês e isso foi tudo em que consegui pensar.
Boa leitura!



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Katerina acorda e olha ao redor. Estava em um quarto branco. Logo o reconheceu como um quarto de hospital.

De novo.

Não aguentava mais aquele cheiro de remédios e morte. Hospitais, especialmente, a faziam enjoar. Só queria que tudo isso acabasse.

Quando o médico veio mais tarde, ele disse que os ferimentos dela não foram graves. Apenas um corte no pescoço e um hematoma nas costas.

Onde aquela desgraçada me cortou, ela pensa, e quando ela me jogou na mesa.

Assim que o médico saiu, Joffrey entrou e contou que Andrew impediu que Fleur a matasse.

– Não podemos deixá-lo ser preso por causa dela - a ruiva fala. - Ele foi manipulado como tantos outros.

– Ele pagará pela burrice.

– Andrew é sangue do nosso sangue. Não podemos simplesmente ignorar isso.

Joffrey suspira.

– E o que você pretende fazer?

– Com todas aquelas informações, podemos prender Fleur.

– Pensei que você a quisesse morta.

– Queria, mas a morte é pouco. Ela deve pagar com a vida.

+++

Francis joga a pasta em cima da mesa quando Britney entra no escritório.

– Você queria falar comigo?

– Me explique isso.

Ele a vê engolir em seco. Suas mãos tremem levemente ao pegar a pasta da mesa.

Ele detecta surpresa ao ler o conteúdo.

– Francis, você não pode acreditar que...

– Eles me mandaram um holograma. Não há o que negar, Britney. Simplesmente confesse e poupe o nosso tempo.

Ela respira fundo e fica em silêncio.

– Você fez uma inseminação artificial?

– Sim - ela responde depois de um tempo.

Francis passa as mãos pelos cabelos. Esperava que ela fosse negar. Não conseguia acreditar que os Conselheiros haviam usado seu filho para separá-lo de Katerina e para garantir o futuro dele, ele havia cedido. Então descobriu que o garoto não era seu.

Foi tudo em vão.

– Thierry não é meu filho?

– Claro que é! - ela caminha rapidamente até ele, se ajoelha e pega as mãos dele. - Por favor, você tem que acreditar em mim.

– Então me faça acreditar.

Ela se levanta e senta no sofá próximo a ele.

– Quando meu irmão mais velho adoeceu, minha família gastou muito dinheiro em busca de uma cura. Foi em vão, pois ele morreu. Minha mãe entrou em depressão e tivemos que interná-la longe da Inglaterra para que não causasse má impressão. Gastamos mais ainda abafando isso. Meu segundo irmão era diplomata na Espanha e morreu em um ataque francês. Então meu pai se afogou em dívidas de jogos. Perdemos tudo o que ainda tínhamos.

Ela olha para Francis, mas ele sabe que ela não pode vê-lo realmente. Seu olhar está distante, como se as lembranças estivessem passando pelo seu campo de visão como em um filme.

– Estávamos falidos. Foi quando ele me casou com você.

A família de Britney havia dado o golpe. Certo. Muitas famílias faziam isso, o que o impressionava era seu pai não ter sabido disso antes de aceitar o casamento dos dois.

– Eu tinha alguém em Londres. Não queria me casar, porque ele era a única coisa boa que eu tinha em meio a desgraça que era a minha vida. Mas fui obrigada, então eu vim. Você, ao contrário do que pensei que seria, foi muito bom para mim. Mas você também tinha outra pessoa e eu sabia que não iria desistir dela. Nos separamos e eu voltei para a Inglaterra.

Francis não fazia ideia do que dizer. A vida de Britney tinha sido horrível.

– Um ano e pouco depois, recebo um holograma de Jean-Pierre. Ele me disse que você tinha sumido fazia tempos com Katerina para sabe-se lá onde. E então ele me contou a bagunça que estava em Altulle. O herdeiro havia sumido, já seu irmão nunca nasceu para reinar, sabemos disso. Alison foi para Las Mees.

– O que meu pai pretendia com isso tudo?

– Ele me pediu para fazer a inseminação. Ele disse que tinha seu material coletado aqui em Altulle, então ele mandou para uma clínica em Londres e eu fiz. Quando ele morreu, não havia quem pagar a clínica. Então eu voltei, porque eles estavam atrás de mim. Ainda estão pelo que vi.

Francis lembrava. Tinha dezesseis quando seu pai mandou recolher o material dele e de Hector, dizendo que caso acontecesse algo com eles, ainda poderiam ter herdeiros.

– Os Kionbach viverão até depois da morte - ele costumava dizer.

Mas ele não se lembrava disso até esse momento. Seu pai tramou tudo e os Conselheiros usaram isso.

Francis se levanta e olha para a janela. As engrenagens do seu cérebro giravam. Britney só fez o que seu pai pedira, afinal.

– Eu vou pagar a clínica. Ninguém jamais saberá disso.

Britney suspira, aliviada.

– Obrigada.

– Você tomará conta de Altulle.

– Quê? - ela arqueia as sobrancelhas, surpresa.

– O país é do nosso filho. Você cuidará dele até ele ter idade suficiente para casar e assumir o trono.

– Mas...

Ele anda até ela e a puxa para que fique de pé.

– Não deixe que os Conselheiros manipulem você ou Thierry. Confie apenas em Tyler - ele deposita um beijo em sua testa. - Você vai se sair bem. Eu confio em você.

– Mas... e você?

– Eu vou atrás de Katerina.

+++

Fleur balança as grades. Parecem frouxas, mas não cedem. Além das paredes de pedra que a cercam, havia uma janela pela qual era impossível um ser humano passar.

Ela espera o tempo passar até ficar escuro demais para se ver qualquer coisa. Sem saber o horário ou o dia em que estava, Fleur viu uma fraca luz no final do corredor. Essa luz ia ficando cada vez mais forte. Ela levantou da cama dura com dificuldade por causa da dor nas costas e esperou. A figura se aproximou e em meio à luz de uma lanterna, Fleur conseguiu ver Katerina.

– Pensei que você estivesse morta.

– Já enganei a morte uma vez, repetir o ato não foi difícil.

A loira sorri cinicamente.

– Veio tripudiar?

– É o que você faria, não é mesmo? Mas eu não sou você.

Fleur cruza os braços a espera de uma resposta.

– Entreguei o dossiê sobre você à um juiz amigo de Joffrey. Você já foi indiciada e seu julgamento será em breve.

Ela não parecia sequer ter medo.

– Julgamento? Não sabia que faziam julgamentos em Frömming. Pensei que apenas senteciavam as pessoas à morte.

– Para os merecedores. A sua sentença será o tempo.

Katerina aprecia aquele momento. Sempre pensou que se deliciaria com a morte de Fleur, mas vê-la atrás daquelas barras de ferro era ainda mais gratificante.

– Por que você não me mata logo? Seria uma vingança mais rápida.

– Porque a morte é pouco para tudo o que você me tirou! - ela respira fundo, tentando manter o controle da sua voz. - Tudo o que eu quero é descer até essa prisão todos os dias e vê-la perder a sua beleza com o passar dos anos. Quero assistir seu corpo definhar e sua carne apodrecer. Quero, daqui cinquenta anos, achá-la feia e morta nessa cela.

Katerina sorri ao ver, pela primeira vez, uma faísca de desespero nos olhos de Fleur.

– O tempo será a minha vingança e pode ter certeza que ele passará lentamente. Seu sofrimento durará uma vida inteira e bem mais do que isso. Durará a eternidade.

A ruiva está pronta para ir embora, mas ouve uma risada louca atrás de si. Ela vira para encarar aquela lunática.

– Você não faz ideia, não é mesmo?

– Do que você está falando?

– "Seu sofrimento durará uma eternidade." Você está dizendo que eu irei para o inferno. Pois bem: eu te vejo lá.

– Eu não sou nada como você.

– Não mesmo. Eu não fui responsável pelas mortes que você foi. O que eu faço, eu assumo. Esse peso, essa culpa, é algo que você deve carregar.

– Se você está falando de Erik...

– Estou falando das cem pessoas que Joffrey e Carrick mataram para trazer você de volta à vida.

Não. Katerina não conseguia digerir a informação. Joffrey não... ela não conhecia Carrick direito, mas seu tio... seu pai... ele não faria isso.

O pior é que ela estava mentindo para si mesma. Sabia que ele era capaz daquilo. Sabia que o faria por muito menos, pela vida da filha então...

E saber isso dessa forma, através de Fleur... era mais do que podia suportar.

Cem pessoas. Cem vidas. Cem almas. Todas perdidas por causa dela.

Ela não conseguia acreditar.

– A sua lista de pecados é ainda maior do que a minha - Fleur sorri ao ver a dor no rosto da ruiva. - Sabia que eles não fizeram distinção entre as pessoas? Idosos, adultos, jovens, crianças... desde que fossem puros de coração, Carrick disse. Para isso, ele precisaria conhecer cada um deles. Cem almas puras em troca de uma alma tocada pelas trevas. Esse era o acordo dele com aqueles deuses ridículos que ele serve. Para mim, não passa de um pacto.

– Um pacto... Carrick fez um pacto com o diabo em troca da minha vida.

Katerina estava chocada demais para sequer medir suas palavras ou reações.

– Ele é o diabo.

Ela olha para a loira com os olhos cheios de lágrimas.

– Você não é muito diferente dele.

Fleur volta a sorrir.

– Eu disse que você deveria ter me matado.

+++

Katerine pegou uma capa escura e colocou por cima do vestido esverdeado. Partiu para os estábulos. Estava cansada já. Toda aquela sujeirada que descobriu através de Fleur não saia de sua cabeça. Pegou seu adorado sangue-puro chamado Avalon e saiu pelas colinas. O sol em seu rosto, o vento fazendo seus cabelos chicotearem a sua volta e o silêncio a transmitiam uma paz que ela não encontrava a muito tempo.

Quando começou a escurecer, se preparou mentalmente para enfrentar Joffrey. Não conseguia encará-lo da mesma forma.

Pensou que ele tinha mudado. Parece que havia se enganado.

Ao voltar para o palácio, entregou Avalon ao cavalariço e subiu para seu quarto. Depois de tomar um banho demorado, Judith veio ajudá-la a se arrumar. Secou seus cabelos e deixou-os enrolados, a ajudou a colocar um vestido tomara que caia azul clarinho e passou pouca maquiagem, apenas um pó para esconder as poucas olheiras e um rímel incolor já que seus cílios eram tão vermelhos quanto seus cabelos.

– Lorde Archiberz disse que há um convidado especial para o jantar.

– Aposto que é algum dos pretendentes para quem ele quer me empurrar - ela resmungou.

– Se me permite, Majestade, mas a senhorita já se apaixonou por seu marido uma vez. Ao contrário do que dizem, um raio pode, sim, cair duas vezes no mesmo lugar.

– Erik era diferente. Ele era... especial. Era o único que estava lá por mim no pior momento da minha vida. Me deu o meu primogênito. Uma mãe nunca ama nada nesse mundo como ama o seu primogênito. Mesmo que eu me apaixone pelo meu marido, jamais será como foi com ele.

Judith ficou em silêncio. Katerina não conseguiu evitar a culpa que a invadiu por ter aflado daquela forma com ela. Apesar disso, a rápida conversa ficou em sua cabeça e ela se pegou pensando em Francis.

Onde ele estaria agora?

Deixou suas indagações de lado e suspirou, se preparando para dar um fora em quem quer que fosse o pretendente que Joffrey havia levado até ali.

A sala de jantar estava arrumada de forma primorosa. Uma bela toalha branca com detalhes em dourado se estendia pela comprida mesa e os empregados corriam para todos os lados em busca de deixar tudo perfeito. O convidado estava sentado na frente de Joffrey. Os dois viraram-se ao mesmo tempo para encará-la.

A última pessoa que Katerina esperava ali era Francis.

Ela respirou fundo, tentando controlar a sensação estranha que se formava no seu estômago. Ansiedade. Mas então as lembranças vieram, a dor e a mágoa junto com elas. Apesar do seu desejo de se jogar nos braços dele, seu corpo a impedia de se mexer.

Sabia que se chegasse perto demais, não conseguiria suportar.

– Katerina - ele se levanta.

Francis usava uma calça social escura e uma camisa de mangas compridas também social branca. Seus músculos estavam marcados e, Deus, Katerina sempre teve um fraco por homens de calça social.

– O que você faz aqui?

Ele parece surpreso pela reação fria dela. Katerina pensou que ele não deveria, afinal foi ele quem a mandou embora. Devia esperar esse tratamento da parte dela.

– Vim conversar com você.

– Poderia ter mandado um holograma.

– Eu... - ele olha para Joffrey, decidindo se vale ou não a pena ter essa conversa na frente dele. - Eu queria te ver.

Eles ficaram em silêncio por algum tempo. O único som era dos empregados correndo de um lado para o outro na cozinha.

– Eu acho melhor jantarmos, hum? - Joffrey sugere.

Katerina esquece repentinamente da raiva que sentia dele e agradeceu mentalmente pela ideia. Se senta na cadeira da ponta, entre os dois, e espera os criados trazerem os pratos.

Sabia que depois do jantar teria uma longa conversa com Francis e precisava se preparar.

+++

Katerina entrou no escritório e caminhou até a enorme janela enquanto Francis trancava a porta. Ela se serviu de vinho e a lembrança de quando Fleur tentou matá-la há uma semana ali mesmo invadiu sua mente. Ela apenas bebericou o vinho e deixou a taça em cima de uma bandeja.

– O que você quer aqui?

– Você.

– Vai ter que entrar na fila então. Há vários pretendentes na sua frente. Não sei se você sabe, mas Joffrey quer me empurrar para alguém. Como eu sou uma rainha de qualquer jeito, teria que aprovar, claro, assim como Ivna, então acho que você não teria muitas chances.

– Pare de ser infantil, Kat. Você sabe que não gosta de nenhum desses caras. Sequer os conhece.

Ela desfaz a expressão de brava. Sente um peso saindo de suas costas, sua máscara caindo. A mágoa começa a transparecer no seu rosto, ela sabia pois vê a tristeza nos olhos de Francis.

– Por que você me mandou embora?

– Foi necessário. Os Conselheiros me ameaçaram.

– Ameaçaram com quê?

– Eles disseram que matariam Alison e Hector caso eu não mandasse você de volta para Frömming.

Katerina respira fundo. Sabia como os Conselheiros podiam ser ardilosos, mas não conseguia entender como Francis deixou tudo chegar nesse ponto.

– Eu nunca tive o trono antes - é como se ele pudesse ler os pensamentos dela -, ao contrário de você. Fiquei meses no poder, então fomos embora para aquele abrigo rebelde. Eu nunca tive a oportunidade de me impor ou de conviver com os Conselheiros, por isso eles não me respeitavam e eu não tinha ideia de como dobrá-los. E então na primeira chance que tiveram, ameaçaram a família que deveriam ajudar.

Katerina entendia. Sabia que faria a mesma coisa por Hana ou Michael.

– Assim que fiz o trato com eles e assumi o trono, ajudei meus irmãos a fugirem da prisão e os mandei para longe, então eles jamais poderão me chantagear de novo.

Ele pega as mãos dela. Katerina não se lembrava de como era a sensação do toque dele, mas quando o sente, é como se nunca tivesse esquecido.

– E então eu vim.

Katerina sabe que ele não tinha culpa. Porém, ainda assim, doía. Por que Francis simplesmente não lhe disse a verdade? Ele preferiu se afastar todo esse tempo sem nenhuma explicação, a fazendo pensar o pior dele novamente. Se realmente confiasse nela, teria contado. Ele deveria saber que ela sempre estaria ali por ele e o esperaria.

– Por que você não me contou? Eu poderia ter te ajudado a acabar com essa ameaça ou simplesmente me afastaria de bom grado, mas não teria essa ideia terrível de você que eu tive durante meses.

– Eu... - Francis não tinha explicação. Nem lhe passou pela cabeça contar para Katerina. Claro que ele sabia que ela o ajudaria no que pudesse, mas tudo o que ele não queria era que ela se envolvesse na bagunça do seu país. Ela tinha a sua renascença com que se preocupar. Sabia que seria perigoso caso os Conselheiros sequer pensassem que eles estavam fingindo. Tudo precisava ser real. Ele quase a perdeu um par de vezes, não queria correr esse risco novamente. - Eu sinto muito.

Ela respira fundo.

– Tudo bem... eu acho.

– Obrigado por entender.

Ele a abraça. Francis tinha um cheiro muito bom. Não simplesmente o leve aroma do perfume, mas um cheiro próprio.

Ele tenta beijá-la, mas Katerina o afasta da forma mais gentil que pode. Podia ter o perdoado, mas ainda levaria um tempo para que ela confiasse em alguém que ela sabia que não confiava nela.

– Tem algo que eu preciso te contar.

Conta para ele sobre a chegada de Fleur, da pretensão de Andrew de tomar o trono dela e da prisão da loira depois de tentar matá-la.

– Fui falar com Fleur e então... então ela me contou que quando eu renasci, meu pai fez um acordo com Carrick.

– Acordo? - Francis questiona depois que ela fica em silêncio por um bom tempo. - Que tipo de acordo? Em dinheiro, títulos?

– Não.

Apesar da dor e da culpa, ela não consegue chorar. Parecia ainda irreal demais.

– Para eu renascer, cem pessoas tiveram que morrer.


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Notas finais do capítulo

Apesar de ser um mix de futurismo/monarquia, óbvio que a mitologia deveria vir junto. Não podemos esquecer que Manske é um continente totalmente novo de tudo que conhecemos e que tudo é possível xx.



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