Guerra Mutante: A Relíquia Roubada escrita por Luis Gustavo


Capítulo 11
11 - Aprendo a evaporar motoqueiros




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Acordei com o som dos pássaros e da maré. Estava caído na terra, com meu corpo todo doendo. Tentei me levantar, mas em vão. Minha perna devia estar quebrada depois do golpe com a maça. Demetria também estava caída, desacordada. Ela tinha somente alguns ferimentos leves, e respirava lentamente. Como havíamos sobrevivido àquela queda?

Deixei aquela pergunta de lado e me arrastei pela terra molhada até ela. A remexi, e ela aos poucos abriu os olhos. Quando me viu, assustou-se e se levantou.

– Franklyn? – Exclamou, a voz fraca. – O que houve?

– Saltamos de um penhasco. – Respondi, juntando forças para falar.

– Eu sei disso, mas me refiro à você! – Ela me assustou, eu fui até a água do riacho que continuava a correr, e observei meu reflexo se remexendo. Eu estava diferente. Meu olho direito estava vermelho, e parte de meu cabelo estava branca. Era minha outra personalidade tentando tomar meu corpo.

Enfiei minha cabeça na água, e quando a coloquei de volta para o ar eu continuava o mesmo...

– Isso não é o que eu estou pensando, é? – Perguntou Demetria, aflita.

– Dupla Personalidade. – Murmurei, entristecido. – Sim, é. Mas isso nunca aconteceu antes.

Ela mordeu os lábios, e eu soube que ela sabia de algo. Antes mesmo de eu perguntar algo, parece que ela já sabia que eu iria fazer a pergunta e antecipou a resposta.

– Ela está te dominando. – Falou, aproximando-se de mim. – Sua outra personalidade.

– E o que eu faço? – Murmurei, tenso.

– Mande-a embora. Mostre para ela que é você quem está no controle.

Eu a olhei, confuso. No entanto, me concentrei. Pude ver a imagem de meu outro “eu” em minha mente. Ele estava sorrindo.

Saia, falei. Seu sorriso se foi. Eu estou ocupado agora.

Ah, que seja, falou, checando minha perna. Só me deixe terminar de te ajudar.

Eu não entendi o que ele quis dizer, mas quando olhei para minha perna vi que ela estava se regenerando. A dor estava indo embora. O mesmo acontecia com minha mão. Os ferimentos sumiam muito lentamente, mas pude sentir a dor se esvaindo.

– Como fez isso? – Observou Demetria, assustada, olhando para meus ferimentos fechando.

– Não fui eu. – Falei, sorrindo. Depois me encarei na água. Estava voltando ao normal. – Foi ele.

Nós nos entreolhamos, e não falamos mais nada. Eu me levantei e logo depois a ajudei a se levantar. Do outro lado do riacho, havia uma selva que se estendia tanto para a direita quanto para a esquerda. Atrás de nós, era uma planície com somente algumas partes com neve. Muito ao fundo, havia poucas árvores.

– Onde estamos? – Perguntei, concentrando-me para descobrir minha localização. Isso era outra habilidade de Instintos de Caçador.

– Devemos estar na fronteira entre Canadá e Estados Unidos. – Murmurou Demetria, dando alguns passos em direção da planície.

– De que adianta isso, agora? – Falei, seguindo-a. Nós começamos a caminhar pela planície, afastando-se do riacho. – Torrance está muito longe de nós. E nosso grupo está separado. Eles devem estar pensando que nós...

– Não. – Interrompeu-me, olhando para mim com os olhos cor-de-mel. – Iremos encontrá-los, e iremos recuperar a Espada. – Ela então percebeu algo, e me olhou com os olhos estreitos. – Torrance parecia te reconhecer, Franklyn. – Eu estremeci aos poucos. – O que foi tudo aquilo, afinal?

Eu fiquei quieto. Desviei meu olhar para o céu, em busca de resposta. Não queria mentir para ela. Mas também não queria lhe contar a verdade.

– Há dois anos atrás, no início da Guerra, meus pais, meu irmão e eu nos encontramos com a gangue de Torrance. – Falei, caminhando ao seu lado. – Quando a Guerra começou, um tanque explodiu o prédio em que estávamos. Quando acordei, minha mãe havia sumido, e meu pai e meu irmão estavam desacordados. Depois de acordarmos e sairmos daquele lugar, vendo a quantidade de corpos na rua e a cidade de Nova Iorque em destruição, começamos a procurá-la, até a encontrarmos no Central Park, como refém de Torrance. Eu, meu pai e meu irmão lutamos contra os motoqueiros, e eu tentei atacar Torrance, que quase me matou. Por sorte, meu pai e meu irmão salvaram a mim e minha mãe, mas então ele matou ambos, e minha mãe e eu fomos forçados a fugir por meio de teletransporte. Desde então, ficamos vivendo como nômades até chegarmos ao Abrigo.

Demetria me olhava com receio. Suspirou, e perguntou para mim:

– E como você conhecia Torrance?

– Eu não conhecia. Mas meu irmão, sim. A gangue de Torrance havia roubado uma moto, e meu irmão foi encarregado de recuperá-la. Quando a encontrou, estava em uma emboscada. Mas conseguiu escapar, explodindo a base dos motoqueiros. Matou alguns, e pensou ter matado Upton, enquanto na verdade ele estava fingindo-se de morto ou algo do tipo. E então voltou para se vingar.

– E qual era o nome de seu irmão? – Ela perguntou, e eu a olhei, confuso.

– Willian Thompson. – Respondi, e ela grunhiu.

– Você é irmão da Serpente Sombria? – Ela falou, e eu agora estava mais confuso ainda.

– Serpente Sombria?

– É o apelido de seu irmão. – Falou. – Sua família parece ser mesmo espetacular. Seu tio é um dos fundadores do Abrigo, seu irmão era um dos melhores Mutantes prodígios... E você tem Dupla Personalidade, dois poderes, dois subpoderes...

– Mas, espera aí... Como assim meu irmão era um dos melhores Mutantes prodígios? Você ta querendo me dizer que ele era tipo... Hmmm... Um destaque?

– Pode se dizer que sim. O apelido dele era Serpente Sombria porque seus ataques eram rápidos e letais, como uma serpente, e ele sempre atacava de surpresa, pegando os adversários desprevenidos. Saber que ele está morto me deixa triste...

– Você o conheceu?

– Só ouvi falar. Mas muitos Mutantes o adimiravam. E não era o de menos, já que ele era um Mutante espetacular para sua idade e seu nível.

– Demetria, me prometa uma coisa. – Falei, segurando-a. Ela ficou nervosa. – Não conte sobre isso a ninguém.

– Não contarei. – Prometeu-me, afastando-se de mim. Esqueci-me que ela não gostava de contatos físicos. – Mas onde vamos, afinal de contas?

– Se eu ao menos pudesse rastrear os outros... – Murmurei. E então me lembrei de algo que Ethan havia me mostrado durante a nossa viagem.

Ele mostrou-me algo que conseguia fazer com Manifestação Psíquica: Criar animais. Ele criava pássaros de pedra, tomados por uma luz esbranquiçada que saia de seus olhos e suas bocas, e das divisórias de seu corpo. Usava-os para reconhecer os locais.

Estava na hora de eu tentar aprender a usar aquilo.

Eu parei, e Demetria também parou, mas não falou nada. Devia saber que tentaria algo. Estendi minha mão à minha frente e fechei meus olhos. Pensei em alguma ave rápida, alguma ave que eu poderia criar. E me veio à cabeça um falcão-peregrino, uma das aves mais rápidas do mundo, se não a mais.

Concentrei-me com todas as minhas forças em minha mão, tentando criar, mas não sentia nada. Abri meus olhos para conferir, mas não havia resultados. Foram quatro tentativas em vão. Demetria já estava ficando impaciente.

Foi quando que, na quinta tentativa, pedras começaram a surgir em minha mão, e o som de rochas batendo-se uma contra a outra podia ser ouvida. Continuava a me concentrar, e quando o som cessou, abri meus olhos. Em meu antebraço estava pousado um falcão-peregrino de pedra. As luzes que saíam de algumas partes de seu corpo eram avermelhadas: a cor de minha aura. Era outra coisa que Ethan havia me mostrado: dependendo da cor da aura do Mutante, o poder acaba tendo sua cor. Era isso que havia acontecido com Energia Ancestral, e não era diferente com Manifestação Psíquica.

– Você conseguiu! – Exclamou Demetria, animada. O falcão remexeu a cabeça.

, pensei, e ele pareceu me ouvir. Encontre meu grupo. Sabe quem são eles. Tente achar por Ethan Winterhold. Avise-o onde estamos e para onde iremos.

A ave entendeu e levantou vôo em direção norte, e em alguns segundos ela era somente um ponto no céu, voando em uma velocidade incrivelmente alta.

– E agora? – Falou Demetria, olhando-me ainda com o sorriso no rosto. – Para onde iremos?

– Para o sul. – Falei. De alguma forma, sabia que deveríamos continuar indo até lá. – Mas não precisamos ter pressa. Em breve eles nos acharão.

Nós seguimos o riacho que descia. Demetria e eu caminhávamos, sem pressa. Seus arranhões já não lhe irritavam. A planície parecia não ter fim. Antes mesmo de perceber, já estávamos entrando em uma floresta de pinheiros, onde a neve era muito pouca ali. Já devíamos estar mudando de estação do ano.

Demetria estava pensando em algo, mas não dizia absolutamente nada. De vez em quando trocávamos olhares, e ela sorria forçadamente para mim.

Saímos da floresta mais rapidamente do que entramos, e estávamos agora novamente nas planícies. O riacho deu uma curva, e nós o seguimos. Senti que deveríamos seguí-lo, mesmo ele tendo mudado o curso para o sudeste.

Eu estava sentindo o falcão que eu havia criado voando à procura de Ethan. Ele seguia o riacho, e eu conseguia sentir o vento que o atingia, mas ele continuava voando firmemente. Quando ele encontrasse com Ethan eu saberia, provavelmente. Era como se a minha mente e a do falcão fosse uma só.

Demetria grunhiu, parando de andar repentinamente, e estalou o dedo.

– Franklyn, a profecia! – Exclamou, olhando para mim com um pouco de animação e tensão. – Diga a última parte que você ouviu.

Eu me forcei para lembrar-me, e a frase veio bem do fundo de minha mente.

– “E com um sorriso impotente, o ódio se erguerá”. – Falei, sem entender.

– Exato! – Ela aproximou-se de mim. – O ódio não é um sentimento! É uma pessoa!

– Uma pessoa? – Murmurei, e comecei a entender. – Torrance.

– Exato! “Com um sorriso impotente”. Viu a forma que ele sorria ao te encontrar? “Um presente de natal”, é como ele te descreveu, não foi?

– Isso mesmo. Mas por que você acha que ele é o ódio?

– Pense bem, Franklyn. Torrance estava brincando com você. Se ele de fato quisesse te matar, teria feito logo de uma vez. Estava brincando com você. Te desafiando. Ele tem ódio de você, Franklyn. Ódio porque você escapou dele, aparentemente.

– E por isso ele quer brincar com meus sentimentos, ferir meu emocional e me torturar, é isso?

– Provavelmente.

Estava admirado com a inteligência de Demetria. Ela havia descoberto aquilo tão rapidamente. Então, pelo jeito, duas partes da profecia já haviam sido descobertas. Deveria haver mais, com certeza. E eu tinha receio de descobrir o resto.

Eu sorri para Demetria, e ela me olhou, estranhando-me.

– O quê foi? – Perguntou.

– Estou feliz de você estar aqui. – Falei. Percebi o quanto estranho aquela frase soou. – Quer dizer, por você estar me ajudando... Não, quer dizer... Bom... É por que você está aqui e... Ah, não... Eu posso explicar!

Ela riu, e então me lançou um olhar que me acalmou.

– Eu entendi, Franklyn. – Ela sorriu para mim. – Mas não pense que eu vou ser sua amiga de uma hora para a outra. Terá que conquistar minha amizade, e pode acreditar que isso demorará.

– O tempo me ensinou a ser paciente. – Falei, e nós dois sorrimos. Deste então, não conversamos.

À medida que caminhávamos, mais eu tinha a impressão de estar sendo vigiado. Sentia um pressentimento estranho. Lançava olhares para todas as direções às vezes, tentando ser um pouco discreto, mas não via nada. Demetria também parecia estar tensa. Alguém – ou alguma coisa – estava nos vigiando. E eu não sei se queria saber o que era.

Mas eu soube.

Do riacho, um turbilhão de água surgiu da água, atingindo o chão à nossa frente. Uma nuvem de poeira e água se ergueu no local do impacto, e Demetria e eu fomos lançados ao chão, molhados e cobertos de poeira.

Nós nos levantamos e nos afastamos de onde aquele turbilhão havia atingido. De lá, saiu um homem. Era um motoqueiro da gangue do Torrance, e eu o reconheci.

– Ainda quero o meu aumento. – Falou o mesmo motoqueiro que havia quebrado minha perna.

Eu lancei um olhar a Demetria, que estava mais surpresa do que eu. Se ele havia nos encontrado, não demoraria muito para o resto de seus companheiros nos acharem. Lembrei-me de minha ave, e senti que ela continuava voando. O motoqueiro estava mais molhado que nós. Eu me foquei, e percebi que ele não estava molhado, ele estava transformado em água.

– Mimetismo aquático. – Falou Demetria, afastando-se um pouco mais. Chegou até a mim e sussurrou. – Temos que fugir, Franklyn. Não venceremos um Mutante como ele.

Assenti, e antes mesmo que pudéssemos fugir uma onda saiu do riacho e nos atingiu. O homem riu de forma boba, como se fosse uma criança ganhando um doce.

– Acho que não. – Falou, e começou a puxar uma quantidade de água para sua mão, que começou a tomar a forma de uma maça. A maça, no entanto, parecia terrivelmente sólida e ameaçadora, mesmo que tivesse sido feita de água. – Eu terei meu aumento!

Demetria me olhou com medo quando me levantei. No entanto, eu não ataquei e nem fugi. Olhava diretamente para o motoqueiro abobalhado.

– Sim, grandão, você terá. – Ele me olhava, sorrindo, mas seus olhos eram cheios de ódio. – Mas não ao lado de Torrance. Ele está te usando.

– Não fala assim de chefe! – Exclamou o bobalhão, mas eu não me assustei.

– Olhe para ele, grandão. – Falei, tentando fazê-lo se acalmar. – Ele não quer te dar um aumento. Se você me matar, ele ficará irritado com você e te matará. E se você me levar até ele, ele não te dará nada. Ele não se preocupa com os outros, grandão.

– Ele se preocupa comigo! – Gritou. Água escorria de seu rosto, e vi que na verdade eram lágrimas saindo de seu rosto. – Ele me trata como irmão!

– E como você sabe se ele te dará um aumento? – Ele ergueu a mão para falar algo, mas a abaixou, e vi que eu o havia pegado. Ele devia ser de fato muito bobo.

– O senhor tem razão. – Falou, por fim. – Não mato vocês. Mas não matem “eu”.

– Fique tranqüilo, grandão. – Falei, sorrindo para ele. Lancei um olhar à Demetria, que riu um pouco. – Nós iremos te ajud...

Fui então atingido por uma rajada de água extremamente forte, que me lançou a vários metros de distância dos dois. Quando parei de rolar pela grama, olhei para o bobalhão, que sorria de forma maléfica.

– Como Torrance falou, você é de fato muito burro, Franklyn. – Riu. Aquele desgraçado havia me pregado uma peça. Ele estava só fazendo papel de idiota. E eu caí direitinho.

– Franklyn! – Gritou Demetria, correndo até a mim. Ela me ajudou a me levantar. Olhei para mim, e vi que estava com alguns cortes. A água havia me feito aquilo?

– Estou bem. – Murmurei. O homem aproximava-se de nós. Sua expressão havia mudado completamente. Ele batia com a haste da maça em sua outra mão, como se fosse um taco de baseball.

– Por enquanto. – Falou o homem. Ele vinha sem pressa. Demetria me puxou para corrermos, mas um paredão de água se ergueu atrás e ao lado de nós. Estávamos encurralados. A água transformou-se em gelo repentinamente, tornando-se uma parede brilhante. Eu sentia que meu falcão estava vivo, mas não sabia como ele estava, se estava voando ou não. Minha cabeça estava a mil.

Demetria estava calma, no entanto. Estava bolando alguma estratégia, com certeza. Ela então aproximou-se de mim.

– Consegue lançar rajadas com sua Energia Mental nele? – Perguntou, e eu assenti. Ethan havia me ensinado a lançar aqueles golpes mentais-físicos que havia me mostrado quando partirmos. – Então use-o com toda sua força.

Não discuti. Olhei para minhas mãos, e depois para o grandão. Ele se aproximava lentamente, sem pressa alguma. Concentrei toda minha energia em minhas mãos. Senti-as queimarem, como se estivessem em chamas. Olhei para elas, e estavam cobertas por uma energia avermelhada, como na vez que eu as usei. Concentrei ainda mais minhas forças, e a energia aumentava de tamanho.

O homem riu e começou a correr em minha direção, e quando estava a 5 metros de distância de mim e de Demetria eu o ataquei. Uma rajada de luz avermelhada atingiu-o no peito e o atravessou, mas ele não sentiu nada. Não saía sangue dele, só espirrava água. Ele estava mimetizado, havia me esquecido daquilo. Talvez a água o deixasse inatingível.

Mas sua velocidade diminuiu, e ele olhou assustado para o peito aberto. Eu continuava a lançar a rajada contra ele, e vapor começava a sair de dentro dele. Estava sendo vaporizado. Demetria havia acertado em cheio!

Se ele continuasse mimetizado, ele seria reduzido a vapor, como seu peito estava sendo. No entanto, se ele voltasse ao normal, ficaria com um rombo enorme no corpo e morreria da mesma forma. E eu não iria parar. Ele tentava fugir, mas eu o seguia com minha rajada. Sua maça se dissipou e desapareceu. Ele gritou, aproximando-se de mim. Estendeu seu braço para me segurar, mas ele explodiu em água. As paredes de gelo começaram a rachar. Deu um outro passo, e sua perna desapareceu e ele caiu. Minhas mãos ardiam. Ele continuava a gritar, e então começou a desaparecer por completo, até por fim transformar-se em vapor e sumir.

Eu caí sentado no chão no mesmo momento em que as paredes de gelo explodiram em água, molhando a grama. Demetria estava me olhando, receosa. E eu estava mais tenso do que ela. Havia matado novamente. Meu corpo todo tremia de medo.

Em minha frente, havia somente marcas de água no chão. Demetria aproximou-se de mim e caiu sentada.

– Você o fez... – Murmurou, não acreditando. – Você matou.

– De novo. – Falei, e ela compreendeu. Minha voz estava falha. – Não queria que isso se repetisse.

– Era ele ou nós. Você nos salvou, Franklyn.

– Mas de quê adianta? Se ele nos encontrou, outros irão fazer o mesmo. Não há chance de vencermos.

Eu senti um choque em minha cabeça, então. Meu falcão havia encontrado Ethan. Meus olhos arderam, e me vi como o falcão. Eu estava no corpo da ave, sobrevoando o grupo todo reunido. Mergulhei e parei na frente de todos, batendo as asas.

– Pessoal, sou eu, Franklyn! – Gritei, antes que tentassem me destruir. Rick já estava criando uma bola de fogo.

– Franklyn? – Falou Royal, um pouco confuso. Todo mundo se assustou quando ouviram-me falando.

– Aprendeu a criar aves? – Perguntou Ethan, um pouco animado.

– Sim, aprendi, mas isso não vem ao caso! Demetria e eu estamos bens, eu acho. Um motoqueiro nos seguiu, e nós o matamos. Foi o mesmo que nos fez sumir. Ele nos derrubou de um penhasco.

– E onde vocês estão? – Perguntou Royal, um pouco animado por saber que estávamos bem.

– Não sabemos. Acordamos em uma planície, após cairmos do penhasco que havia próximo da estrada. Lá embaixo havia um rio, e nós caímos nele, e quando acordamos estávamos próximo ao rio que continuava a correr em direção sul. Nós o seguimos e o motoqueiro nos surpreendeu. Se Demetria não tivesse bolado uma estratégia tão rapidamente, estaríamos mortos.

– Certo, eu sei onde estão. – Falou Rick, e todos nós olhamos para ele. – Eu passei pelo penhasco, mas não sabia que Franklyn e Demetria haviam caído.

– Iremos o mais rápido que pudermos, Franklyn. – Falou Ethan. – Avise à Demetria que voltaremos o mais rápido possível. Rick, nos guie.

– E como faço para voltar ao meu corpo? – Perguntei, e Ethan sorriu.

– Assim. – Ele fez sua mão ficar coberta de energia e lançou-a contra mim, destruindo minha ave.

Abri meus olhos na mesma hora. Demetria assustou-se com a forma que eu levantei. Eu estava ofegante. Meu coração estava disparado. Por um momento, pensei que havia morrido. Ela me olhava com dúvida, e eu falei:

– Estão vindo. – Eu sequei meu suor. Ela estava suando também, mas se recusava a tirar seu casaco. Lembrei-me de algo que eu queria perguntar à ela. – Demetria, afinal de contas, o que é aquela tatuagem que você tem? Eu sei que você mentiu ao me responder naquela hora.

Ela me olhou, hesitante, e então suspirou lentamente.

– Eu não posso falar sobre, Franklyn. – Ela disse, por fim. Sua expressão era triste agora. – É algo que odeio comentar.

– Por quê? – Falei, mas percebi que era melhor não persistir. – Bom, esqueça tudo isso. Irei respeitar sua privacidade.

– Se estão vindo, vamos seguir caminho. – Ela falou, levantando-se. Eu também me levantei.

– Não seria melhor voltarmos para facilitar a busca deles? – Falei, e ela negou.

– Caso fizéssemos isso, poderíamos acabar encontrando mais motoqueiros. – Falou, ajeitando seu cabelo que caía sobre seu rosto, colocando-o atrás de sua orelha. – Vamos nos abrigar em algum lugar próximo ao riacho, por agora. Deve haver alguma árvore grande o bastante para escalarmos e esperarmos.

– E onde vamos encontrar uma árvore dessa? – Ela soltou um pequeno riso, e apontou para o outro lado do riacho, onde havia outra planície.

– Já encontramos. – Eu olhei na direção em que ela apontava, e observei a enorme árvore. Ela devia ter, no mínimo, 30 metros de altura. O tronco era enorme, e os galhos eram grossos o bastante para agüentar 10 pessoas em cada um. E, no entanto, estava a uns 500 metros de distância de nós. – Vai ser uma caminhada um pouquinho cansativa, sem falar quando precisarmos atravessar o rio nadando.

– Caminhada? – Falei, rindo. – Nadando? – Eu agarrei sua mão e senti meu corpo levitar, e nós dois estávamos no ar.

Ela gritou, observando quando subíamos, e se segurou em mim.

– Estamos voando? – Exclamou, e então riu de felicidade. – Estamos voando! Quando aprendeu isso, Franklyn?

– Hoje mesmo! – Gritei, voando em direção da árvore. – A sorte deve estar ao nosso favor!

– Deve estar, mesmo! – Ela gritou de volta, e em poucos minutos estávamos na árvore, sentados cada um em um tronco, esperando por Royal e os outros.


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