"O destino, como os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho"

– Quem é ele? - A voz do Cristiano o tirou do estupor em que se encontrava, Edith ainda tinha seus braços em voltar do seu pescoço. Félix a afastou, e virou-se, mas não conseguiu dar dois passos, quando Paloma parou na sua frente. Os olhos cheios de lágrimas não derramadas.

– Ele foi embora... eles foram embora - ela disse as lágrimas escorrendo por seu rosto.

– Eu preciso falar com ele... preciso explicar - disse sua voz tremendo.

– Mais o que esta acontecendo! - Cristiano se aproximou olhando os irmãos interrogativamente.

Félix olhou o irmão, depois Paloma que já começava a ficar com os olhos vermelhos pelas lágrimas. Edith estava alguns passos atrás tentando entender sua reação.

Não! Pensou. Eles não podiam estragar sua felicidade! Recuou se afastando, precisava colocar o máximo de distancia entre eles. Implorou aos seus pés que o levassem para longe, que o levassem até Niko.

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– Niko - podia ouvir Bruno o chamando, as lágrimas o cegavam, mas continuava andando, desviando dos vultos na sua frente, precisava andar, sentia que se parasse cairia, e não sabia se conseguiria se levantar novamente.

Alguém o segurou com força pelo braço, detendo sua caminhada desenfreada. Niko encarou Bruno, que o olhava com olhos tristes. Ele soltou seu braço delicadamente.

– tinha essa voz... que ficava me dizendo... para fugir dele - disse entre soluços - que eu ia... machucar... eu não queria... eu não queria acreditar Bruno... ele quebrou meu coração...

– Eu sinto muito... mas pensa podia se pior... - Bruno disse e Niko riu tristemente.

– Como podia ser pior?

– Eu não sei... mas você riu - Niko voltou a sorrir e lembrou-se de sua mãe que costumava dizer, que nos momentos de maior tristeza era necessário abrir um sorriso por mais difícil que fosse. E aqui estava Niko tentando seguir o conselho da mãe.

– Paloma...

– Ela esta gravida! - Bruno disse olhando para um ponto sobre seu ombro.

– Gravida? - Niko repetiu sem entender - como você descobriu?

– Ela me contou!

– Ela teve a decência de te contar... o Félix tem uma namorada ou sei lá o que aquela garota é dele

– Como assim noiva?... ele não é - Bruno lançou um olhar de confusão a Niko que voltou a sorrir da cara do amigo

– Você não imagina quantos caras escondem quem realmente são... vivem uma vida inteira de mentiras... uma vida infeliz.

E Félix era uma dessas pessoas pensou, o pensamento o deixou mais triste que a ideia de não vê-lo mais. Lágrimas voltaram aos olhos de Niko, deixou se enganar desde o momento que Félix cruzou seu caminho.

Deixou que ele o machucasse, deixou que ele entrasse em seu coração e agora como faria para arranca-lo de lá?

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– O que vocês estão fazendo aqui? - Paloma perguntou com raiva.

– Uau, essa é uma ótima recepção, maninha! - Cristiano disse com sarcasmo - Pensei que seria ótimo se os irmãos Khoury passassem um tempo juntos...

Paloma o olhou em descrença, Cristiano nunca fez questão de se aproxima dela ou de Félix.

– Então o que ela esta fazendo aqui? - perguntou olhando Edith.

– Ela ficou com saudades do amorzinho dela - ele disse cinismo escorrendo por sua voz.

– Para onde o Félix foi?... por que ele saiu correndo? - Edith perguntou, Paloma estava pronta para dar uma resposta ferina, quando algo captou sua atenção. Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto caminhava até os girassóis esquecidos no chão.

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Félix dividia sua atenção entre a pensão e a rua principal que a levava ate ela, Niko ainda não tinha chegado, o que começava a preocupa-lo, precisava se lembra que provavelmente ele estava com Bruno. Quando saiu do hotel, seu primeiro instinto foi percorrer as ruas de Roma, atrás dele, o que seria uma perda de tempo. Espera-lo na pensão era a melhor opção, sendo que não fazia ideia de onde ele estava.

Um carro estacionou em frente ao portão a alguns metros de onde ele estava, Félix passou os olhos pelos carro, o ignorando, a ideia de procurar Niko pelas ruas de Roma começava a ganhar força em sua cabeça, uma loira saiu do carro, falando português o que chamou a atenção de Félix.

– Então esse é o nosso adeus! - Félix escutou a voz que vinha de dentro do carro.

– Prefiro um até logo... você também esta indo amanhã para a costa Amalfitana, podemos jantar juntos. - ela disse insinuante, o que fez Félix revirar os olhos, ela não podia ser mais previsível, ignorando-os Félix voltou sua atenção para a rua que traria Niko ate ele.

O carro partiu, e a loira se virou, notando Félix pela primeira vez, o olhou de cima a baixo, e sorriu com o que ela deveria considera um sorriso sedutor, Félix lhe lançou seu melhor sorriso de desprezo, esperando que ela fosse inteligente o suficiente para entender que preferia ser atropelado por um rolo compressor a que ela se aproximasse dele, ela pareceu entender, pois fez um som de indignação e entrou na pensão batendo o portão com força.

Félix voltou sua atenção para rua, e respirou fundo quando viu Niko se aproximando. Repassou mentalmente tudo o que diria a ele. Ele se deteve quando o viu, e todas as explicações que tinha criado desapareceram no momento em que viu seu olhar magoado.

Bruno disse alguma coisa a ele, que balançou a cabeça positivamente. Bruno chegou ate Félix primeiro, e passou por ele sem ao menos lhe lançar um olhar.

Niko continuou parado, Félix pode vê-lo suspirar e como se não tivesse escolha caminhou ate ele. O tempo pareceu se deter enquanto os pés dele o traziam para mais perto, os olhos deles estavam vermelhos e tristes, Félix quis abraça-lo e beija-lo ate que eles voltassem a ser límpidos e alegres como sempre.

– O que você quer Félix?

– Eu queria explicar!

– Explicar?! - a voz dele saiu dura e cortante - o que você quer explicar? Que você mentiu para mim... que para você era apenas divertimento! - seus lábios tremeram e seus olhos se encheram de lágrimas, isso machucou Félix mais do que se ele tivesse levado um soco de Niko.

– Não! Eu queria te contar... eu não planejei o que aconteceu entre nós... essa viagem foi um presente de noivado - as lágrimas escorreram pelo rosto dele, mas Niko precisava saber a verdade, Félix devia isso a ele.

– E eu sou a sua despedida de solteiro! - ele disse com raiva e tentou entra na pensão, mas Félix o segurou pelo braço.

– Não... Eu não amo a Edith... Nunca amei - Félix tentou desesperado para que ele o ouvisse - Niko... eu vim para cá para fugir... fugir do meu destino... eu não planejei me apaixonar por você. Droga! - Félix soltou o braço dele, e respirou aliviado quando ele não se moveu - O meu pai... - Félix tentou controlar sua voz - ...ele nunca... - lágrimas escorreram por seu rosto - ...ele me odiaria... eu não sei se eu suportaria...

Niko se aproximou tocando seu ombro, Félix encontrou os olhos dele, já não havia raiva apenas pesar.

– E você será infeliz para agradar seu pai? - Niko perguntou gentilmente.

– Ele é meu pai Niko! - Félix respondeu angustiado.

– E eu sou alguém que você conhecer a três dias - Niko disse cansado e abatido.

– Não, você é...

– Eu sou o que Félix? - Niko o interrompeu se afastando dele - Eu sinto muito se eu me tornei uma decisão difícil para você... mas se é difícil é por que... - a voz dele tremeu.

– Niko! Não duvide do que eu sinto por você...

Niko respirou fundo e foi ate ele, passando os braços pelo seu pescoço, enredando os dedos nos seus cabelos.

– Eu te amo - ele sussurrou.

Félix o sentia escapar das suas mãos. O puxou para mais perto e o beijou com fúria. Félix queria mostrar com esse beijo o quanto o amava, o quanto queria ficar com ele, que ele não o deixasse. O segurou com força, e podia senti-lo se agarrando a ele com a mesma força, podia sentir o gosto salgado de lágrimas, mas não sabia se eram suas ou dele.

As mãos dele foram para seu peito, e o empurraram delicadamente, Niko encostou sua testa na dele, seus narizes se tocando, suas respirações se misturando. Félix tentou beija-lo novamente, mas ele o afastou.

– Amanhã a uma estarei indo embora de Roma... - Mais lagrimas deslizaram pelo rosto dele, mas ele as limpou e sorriu - Félix eu não posso te dar garantias... - ele disse sua voz extremamente calma - o que posso garantir a você é que vão ter tempos difíceis... e quando esse dias chegarem, eu quero te abraçar ate ficar com o cheiro do seu perfume nas minhas roupas, eu quero que você seja a ultima pessoa que eu veja antes de dormir... eu também posso garanti a você, que se eu não pedir para você se meu... eu vou me arrepender pelo resto da minha vida, por que eu sei, no meu coração, que você é a pessoa certa para mim.

– Niko...

– Não diga nada!... pense - Niko caminhou ate o portão, mas antes de entrar seus olhos voltaram para Félix - Não importa qual decisão você tome... você sempre será a minha melhor lembrança de Roma.

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Félix parou na frente do seu quarto, mas antes que abrisse a porta se afastou, virou-se e bateu na porta em frente a sua. Levou apenas um minuto para que Paloma abrisse a porta, dando passagem para que ele entrasse, o quarto dela não era muito diferente do seu, seus olhos se detiveram nos girassóis em um vaso.

– São do Niko - ela disse a suas costas, Félix limpou as lágrimas que deslizaram por seu rosto e olhou a irmã, Paloma não parecia esta em um melhor estado que ele.

– Desculpa por te estragado tudo.

– Você não estragou tudo sozinho... - Félix sentou-se em uma poltrona, Paloma ficou em pé parada no mesmo lugar.

– Eu posso falar com o Bruno... explicar...

– Félix...

–... Acho que se você falar com ele... ele vai entender... você não contou sobre a Edith para me proteger... eu digo que eu te obriguei.

– Félix... - ele a olhou, Paloma tinha os braços em voltar do corpo, como se sentisse muito frio, o olhar dela não parecia de uma menina de apenas dezessete anos, mas sim de alguém que viveu muito - Estou gravida.

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Paloma se mexeu desconfortável, suas pernas estavam dormentes, percebeu que tinha dormido na poltrona, uma manta a cobria, Félix ainda estava em pé na janela, no mesmo lugar que o tinha deixado quando adormeceu. A luz da manhã invadia seu quarto, seria mais um dia lindo em Roma.

Esticou as pernas e levantou-se, suas pernas levaram alguns segundos para se adaptar ao seu peso. A conversa com Félix foi mais difícil do que desejava, mas o irmão não a decepciono.

Depois de xingar Ninho com todos os nomes que Paloma nem imaginava que o irmão conhecia, e outros que nem ela conhecia. Ele se acalmou, e disse que estava do lado dela para o que desse e viesse, e que enfrentariam tudo juntos, e que se ela não o convidasse para ser o padrinho, ela ganharia um inimigo implacável, o que a fez sorrir pela primeira vez desde que tinha contado sobre a gravidez ao Bruno.

– Papi vai me odiar! - ele disse sem se virar, Paloma se manteve em silencio sabendo que essa era uma verdade, que palavras gentis não poderiam mascarar - Eu nunca vou ser feliz com a Edith... ou com qualquer outra pessoa que não seja ele! - Félix se virou sorrindo para irmã - Eu sei disse como sei que meu nome é Félix - lágrimas deslizaram pelo rosto dele indo de encontro com seu sorriso.

– Irmão vai! Vai de encontro a sua felicidade... vai de encontro ao seu destino!

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– Niko? - Niko se virou, Bruno estava parado na porta, ele também pareceu não ter dormido a noite inteira - Sua mala já esta pronta? O carro já chegou. - Niko olhou para a mala aberta sobre sua cama, depois para o relógio sobre a sua cama, que marcava meio dia e quarenta e cinco, com um suspiro fechou a mala e a puxou de cima da cama.

– Não, tudo bem! - disse quando Bruno fez menção de pegar a mala das suas mãos. Os dois seguiram em silencio ate a pequena recepção. Amarilys já os esperava irradiando felicidade, carregada com o dobro das malas que tinha trazido.

– Meus Deus! Vocês não precisam ficar com essas caras de velório só por que estamos indo embora de Roma! - ela disse sorrindo, nenhum dos dois correspondeu o sorriso.

– É melhor levarmos as malas para o carro - Niko disse com um fantasma de um sorriso.

Assim que organizaram todas as malas no carro, algo que Niko quase acreditou se impossível devido todas as malas de Amarilys, perguntou as horas para o motorista que simpaticamente informou que era uma hora.

Niko se obrigou a não chora, por que sabia que se começasse talvez nunca mais conseguisse parar. Félix tinha feito a escolha dele, e Niko tinha jurado a si mesmo que se ele decidisse pelo pai, e por ela, desejaria do fundo do seu coração que ele fosse feliz... Amarilys e Bruno entraram no carro, Bruno lançava olhares a rua principal, podia ver nos olhos dele o mesmo desejo que tinha nos seus.

– Niko olha a hora, já e uma e cinco! Entra logo no carro! - Amarilys chamou.

Niko entrou no carro. O motorista começou a guiar, os levando embora de Roma. O levando para longe dele.

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Félix terminou de arruma-se, olhou seu relógio de pulso, eram quase onze horas. Dando uma ultima olhada no espelho, sorriu para o seu reflexo. Tinha feito à escolha certa, com Niko do seu lado enfrentaria todos os obstáculos que se interpusessem em seu caminho. Piscou para sua imagem no espelho, e se dirigiu ate a porta, mas antes que pudesse alcança-la. Edith entrou no seu quarto.

– Estou de saída Edith! - disse passando por ela.

– Aonde você vai? - a voz dela o atingiu, virou-se, Edith parecia muito pequena ali parada no meio daquele quarto de hotel. Félix respirou fundo.

– Vou atrás da minha felicidade - disse tentando ser o menos cruel possível. Edith abriu a boca, seu olhar expressando sua confusão, Félix retrocedeu - E você deveria fazer o mesmo... Eu não te amo... não vou me casar com você... espero que você encontre alguém que te ame de verdade.

– Você não pode!

– Edith...

– Você não pode! - ela gritou

– Não vou discutir com você! Não agora! - Félix disse e caminhou até a porta, mas as palavras seguintes delas foram como correntes aprisionando-o ao chão.

– Eu estou gravida!