O fruto de um amor escrita por eliana


Capítulo 7
Pânico no prédio: Quem andou a rogar pragas?


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é bem grandinho... acabadinho de fazer! Foi o capítulo mais divertido de escrever até agora!
AVISO: Para quem tem medo de bichos, é melhor saltarem este capítulo, ou vão começar a ter medo de lavar as mãos numa torneira :D



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Angie Pov’s on:

Quando entrei no quarto da Violetta, reparei que ela tinha adormecido. Tentando fazer o mínimo barulho possível, aproximei-me da cama e sentei-me na borda, observando-a dormir. Há anos que não podia fazer isso. Devagarinho, tentando não a acordar, acariciei-lhe a face e dei-lhe um pequeno beijo na testa. Tinha tantas saudades da minha sobrinha…

Com esse pensamento na cabeça, deitei-me ao lado dela, vendo-a dormitar, mas depressa os meus olhos começaram a pesar e acabei por adormecer também.

Angie Pov’s off

Maria Pov’s on:

Estava com tantas saudades de comer as bolachinhas da Olguinha que comi duas de uma só vez! É óbvio que ela começou a reclamar comigo, com medo que eu me engasgasse, mas ela não conseguia estar chateada comigo muito tempo.

– Olguinha, esta casa é tua?

– Quem me dera a mim… é do senhor German. – Disse ela, apontando para o homem que comia ao meu lado. Não sei porquê, mas ele não parava de olhar para mim.

– A sério? Esta casa é toda sua, senhor Sertã?

Mal eu perguntei isto, a Olguinha rebolou-se a rir em cima do balcão e eu fiquei sem saber o que é que tinha dito de mal.

– Sim – disse ele, sorrindo -, mas eu chamo-me German.

– Sim, foi o que eu disse, senhor Sertã!

– Repete comigo: German.

– Sertã.

– German.

– Jarjã.

– Deixa estar, Sertã está bom. – Suspirou ele, encostando-se na cadeira.

– Posso ir ver a mamã?

– Ela está a falar com a Violetta – disse a Olguinha, enquanto limpava uma lágrima de riso. – E a Violetta está doente, era melhor não ires para lá.

– Não há problema, eu agora nunca fico doente. Posso ir, senhor Sertã? Eu queria ir ver a Julietta.

– Ela chama-se Violetta, querida. – Respondeu ele, rindo-se. – E sim, eu levo-te lá. Mas tens de me prometer que não fazes barulho.

– Sim, eu prometo! – Disse enquanto saltava para o colo dele. Ele pareceu surpreendido, mas depois começou a sorrir e levou-me ao colo até ao quarto da Violetta – sim, desta vez, disse bem!

Quando entrámos no quarto, vi que a Violetta e a mamã estavam a dormir na cama.

– Acho que as meninas adormeceram – disse ele baixinho. – Se calhar devíamos deixá-las dormir.

– Posso ir dormir com elas?

– Sim, mas não as acordes.

Disse que sim com a cabeça e, quando ele me pousou no chão, corri até à minha mamã e deitei-me no colo dela. Ela pôs um braço em cima de mim e eu pensei que ela tinha acordado, mas ainda estava a dormir. O senhor Sertã sorriu para mim, piscou-me o olho e depois saiu do quarto.

Maria Pov’s off

Angie Pov’s on:

Acordei com um peso extra sobre a minha barriga e uma carícia na cara. Quando abri lentamente os olhos, vi que a Maria se tinha infiltrado no quarto e adormeceu em cima de mim. Quando subi o olhar, deparei-me com o olhar da minha sobrinha que, quando viu que eu tinha acordado, sorriu.

– Ainda bem que vieste. – Murmurou. – Tive medo que não quisesses vir.

– És minha sobrinha, é suposto eu cuidar de ti. – Sussurrei também enquanto lhe acariciava o cabelo.

– Isso quer dizer que estou perdoada?

Não estava pronta para perdoar ninguém, mas a espectativa no olhar dela fez-me lembrar que ela ainda era muito nova quando tudo aconteceu, apesar de já ter consciência dos seus atos.

– Tens de me dar um tempo, Violetta. – Pedi, sem a encarar. – Isto foi muito difícil para mim, eu não…

– Eu sei. – Interrompeu ela. – Eu percebo, nós fizemos asneira da grossa e não sei se eu no teu lugar era capaz de me perdoar pelo que fiz… mas acredita que estou muito arrependida, e gosto muito de ti, Angie, não duvides disso… tudo o que te peço é uma oportunidade. Por favor…

– Está bem. – Foi a minha vez de interromper. - Mas quero que entendas que isto não passa de um dia para o outro.

– Sim eu sei – disse ela, sorrindo e abraçando-me. – És a minha tia favorita!

– Sou a tua única tia, Violetta!

– E ainda bem! Não há ninguém que te possa substituir, és a maior!

Não consegui evitar mais um abraço, desta vez com toda a força que tinha, mas depressa foi interrompido.

– Ei! – Reclamou a minha filha, entalada entre mim e a minha sobrinha. – Mais um bocadinho e transformam-me numa panqueca! Que raio de despertador!

Desatei a rir juntamente com a Violetta e, em resposta, a Maria fez um beicinho adorável. A minha sobrinha fez-lhe uma carícia na cabeça e eu quase me emocionei ao ver as duas irmãs finalmente juntas.

– Está na hora de ir. – Murmurei, levantando-me da cama e segurando a Maria no colo.

– Oh, já? – Perguntaram as duas em coro.

– Sim, já, tenho de ir trabalhar. Por falar nisso, achas que ficas boa depressa, Violetta? Vais conseguir cantar no espetáculo?

– Claro que sim, vais ver que amanhã já estou a pé!

– Ótimo! Porta-te bem. – Disse eu, abandonando o quarto com a minha filha nos braços. Mal fechei a parta, dei de caras com o German.

– Já vais?

– Sim, o Pablo já deve estar à minha espera. – Disse, segurando a Maria com mais força contra mim e fixando o chão como se fosse a coisa mais interessante do mundo. – Não me posso atrasar, tenho aula com os miúdos.

– Não sabia que ainda eras professora no Studio. – Desta vez, ergui os olhos e encarei a Esmeralda. Não tinha reparado que ela estava ali. – Fico muito feliz por ti. E quem é essa menina linda que tens ao colo?

– É a minha filha, a Maria. – Respondi a contra gosto, fixando o German, esperando que ele afirmasse que ela também era sua filha. No entanto, na presença da Esmeralda, não disse nada. Infelizmente, não me surpreendeu.

– Tens um nome tão lindo… disse ela enquanto se aproximava da minha filha. – Aposto que vais querer ser cantora como a tua mãe, não é?

Ela não respondeu e eu olhei para ela, interrogada. A Maria não costumava ter vergonha ou medo de ninguém que não conhecia, mas com a Esmeralda, ela parecia não querer falar – o que era a primeira vez, pois normalmente eu tenho é de lhe pedir que não fale demais mas, neste caso, parece o oposto. Ela limitava-se a fixar a Esmeralda com cara de quem comeu e não gostou, e apertou mais o meu pescoço entre os bracinhos.

– Ela está cansada – justifiquei, ajeitando-a nos braços. – Desculpem, mas temos de ir, estamos atrasadas.

Esgueirei-me por entre eles os dois e estava a descer as escadas quando o German decidiu falar novamente.

– Eu acompanho-te à porta.

– Deixa estar. – Disse eu, fazendo com que ele parasse no topo da escada. – Eu sei onde é.

Quando saí da mansão, respirei de alívio e olhei para a Maria com curiosidade. Ela não disse uma única palavra na presença da Esmeralda, o que normalmente não acontece. Quando percebeu que eu estava a olhar para ela, devolveu-me o olhar e, como se soubesse o que é que eu lhe queria perguntar, justificou-se.

– Não gosto dela, mamã. Ela é estranha, e mete-me medo.

– Porquê, Maria?

– Não sei – disse ela saltando para o chão. – Mas não gosto mesmo dela! Ela é má!

– Não julgues as pessoas assim, Maria. – Pedi enquanto lhe dava a mão, apesar de eu também não gostar daquela mulher. – Como é que podes saber se uma pessoa é má se não a conheces?

Ela encolheu os ombros e não disse mais nada o caminho todo.

Dia seguinte, 19h e 35min.

Estava agora em frente ao apartamento da Kim e do Leonardo, à espera que me abrissem a porta. A Kim tinha-me convidado hoje de manhã para passar por casa dela para “experimentar” uma invenção do pai, mas não me deu mais pormenores. Quando o Leonardo abriu a porta, não pude evitar e desmanchei-me no chão a rir, juntamente com a Maria. Quero lá saber se passa alguém e nos considera malucas, aquilo é hilariante!

– Estão a rir-se de quê? – Perguntou ele, cruzando os braços e fingindo-se ofendido. – Não podem ver um homem de avental? É alguma coisa do outro mundo?

– Para ti é! – Respondi, limpando as lágrimas dos olhos.

– Bem-vindas ao meu dia-a-dia desde ontem – gracejou a Kim, aparecendo à porta. – O pai decidiu que estava na hora de aprender a cozinhar, e vocês vão avaliar os pratos dele!

– O que é que tens contra nós? – Perguntei, fazendo o Leonardo chatear-se ainda mais. – Eu tenho de estar viva amanhã, tenho aulas para dar!

– Estou farta de ser só eu a apanhar com as intoxicações alimentares! – Disse ela, agarrando na minha mão e na da Maria e puxando-nos para dentro. – Agora é a vossa vez! O que é que achas de comer comida de borla, Maria?

– Para mim a comida é sempre de borla, é a mamã que a faz! – Respondeu ela com o nariz empinado. – Eu nunca a pago.

– Pois podes ter a certeza de que não te vais esquecer desta refeição! Pai, traz o puré! E tu, Maria, ouvi dizer que foste a casa da Violetta ontem. Gostaste?

– Sim, é enorme! Devias ver, Kim, a sala deles é maior do que a nossa casa!

– Acredito…

– Mas está lá uma pessoa que eu não gosto…

– A Maria não achou piada à Esmeralda. – Respondi por ela.

– E quem a pode censurar? Dizem que os melhores a avaliar personalidades são os animais e as crianças. E eu também não gosto dessa ranhosa!

– KIM! – Repreendi. Já me bastavam as ideias da Maria e agora ela também lhe punha mais palavrões na cabeça?

– Desculpa – murmurou ela com a mão à frente da boca, arrependendo-se do que disse.

– Prontas para provar o primeiro prato? – Interrompeu o Leonardo com uma travessa na mão.

– Mamã, o puré dele é verde!

Olhei para o puré com cara de quem chupou limão e disse:

– Sabes que o puré é feito com a batata, não com as folhas.

– E fiz puré de batata! – Reclamou ele, indignado. – Só acrescentei um bocadinho de couve e menta para ficar mais saboroso. É bom experimentar coisas novas!

– Sim, desde que não afetem o meu estômago. – Respondi. – Desculpa, Leonardo, mas isso cheira a uma coisa que eu não posso nomear aqui porque não posso usar essas palavras na frente da minha filha.

– Vocês são umas ingratas! Se se sentem mais seguras assim, eu provo primeiro! – Afirmou ele, segurando numa colher e provando o “puré”. Depressa fez uma careta pior do que as da Maria e cuspiu a mistela para o caixote do lixo. – Ok, está mesmo horrível. Mas não se vão embora, tenho mais pratos para vocês provarem!

– Outro dia – pedi, fulminando a Kim com o olhar, que só se ria de nós. – Tenho de preparar as aulas de amanhã.

Enquanto segurava a Maria pela mão e saía do apartamento deles, o Leonardo correu para me alcançar e sussurrou-me ao ouvido.

– Preciso de falar contigo sobre uma coisa. É importante…

– Ok, diz lá.

– Aqui não – pediu ele, olhando de esguelha para a Kim. – Depois combinamos um dia, pode ser?

– Claro! Sempre que quiseres, desde que não seja para provar um dos teus cozinhados. Não quero ofender, Leonardo, mas não nasceste para ser cozinheiro!

– E depois queixaste de que eu como demasiada comida de plástico! – Gritou-me a Kim de dentro da cozinha. – Mas agora diz-me o que é mais seguro, a comida de plástico ou o plástico que o meu pai diz que é comida?

– A partir de agora, come o que quiseres, Kim, nunca mais reclamo contigo por causa disso!

Ignorei o ar chateado do Leonardo e entrei no meu apartamento, começando a fazer comida a sério para o jantar.

– Mamã, está aqui um bicho!

Virei-me para ela e vi que ela estava deitada no chão a olhar para debaixo do armário.

– Deve ser um dos teus brinquedos que foi aí parar, Maria. – Disse, virando-me novamente para a frente e concentrando-me na comida. – Não há bichos neste prédio, é proibido. E agora deixa-me fazer o jantar, graças ao Leonardo, atrasei-me.

– Mas está a mexer-se… ahá, apanhei-o!

– Que bom, Maria… - murmurei sem olhar para ela.

– Olha, mamã! – Pediu ela, e logo percebi que estava atrás de mim. – Encontrei o Ratatui!

Franzi a testa, confusa. Eu nunca lhe tinha comprado um brinquedo do Ratatui! Virei-me para ela e desatei aos gritos, dando-lhe uma palmada na mão para que ela largasse aquilo. O raio da miúda apanhou mesmo um rato… um rato verdadeiro!

– Oh, fugiu…

– Esquece isso, Maria! Anda lavar as mãos já! – Exclamei, segurando-lhe as mãos por baixo da torneira e esfregando-as com força. – Não voltes a segurar num bicho daqueles, ouviste?

Ela assentiu com a cabeça e eu comecei a ficar enjoada. Tenho um rato na minha cozinha. TENHO UM RATO NA MINHA COZINHA! Como é que ele veio cá parar?

Subitamente ouvi um grito no corredor, em frente à porta do meu apartamento, e virei-me instintivamente na direção do som. Mas que diabo é que se passa?

– Mamã, está uma bola preta a sair da torneira.

Virei-me novamente para a torneira e soltei mais um grito. Agora apareciam baratas pelo buraco da torneira? Afastei-me instintivamente dela com a Maria bem segura nos meus braços e ouvi mais um grito do lado de fora da porta. Desta vez abri-a e dei de caras com toda a gente do prédio aos berros.

– O que é que se passa? – Perguntei à Kim, que também estava no corredor, com uma palidez de morte.

– Ratos. Pulgas. E baratas. – Respondeu ela, pausadamente. – O prédio. Está cheio. De RATOS, PULGAS E BARATAS!!!!!

– Mas como é que isto aconteceu…

– TENHO PULGAS NA MINHA CABEÇA!!!!!!! – Gritou uma mulher que passou por nós, correndo escadas a baixo e coçando a cabeça. – AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!

– Não faço ideia… - tentou a Kim responder à minha pergunta, mas logo interrompeu a frase, passando de uma palidez de morte a um vermelho intenso de fúria, apontando o dedo ao pai. – FOSTE TU! TU E AS TUAS MANIAS DA COZINHA! ESTÁS A VER O QUE ARRANJASTE? A TUA COMIDA SÓ ATRAI OS RATOS!

– E as pulgas e as baratas. – Corrigiu ele. – Mas não me apontes o dedo, quem te disse que a culpa é minha?

– A TUA COMIDA!

Desviei os olhos e olhei para o andar de cima, onde uma mulher ameaçava um rato com uma frigideira.

– Tem cuidado, ouviste? – Dizia ela para o rato, que se limitava a olhar para ela com curiosidade. Era uma cena bastante cómica, mesmo para quem tem medo de ratos. – Eu tenho uma frigideira… isso mesmo, eu posso magoar-te muito se não te afastares de mim!

Subitamente o rato saltou para a frigideira que a mulher segurava e ela gritou, atirando a frigideira e o rato pelo ar.

– RATATUI VOADOR! – Exclamou a Maria do meu colo, apontando para o rato a voar. – Posso ficar com ele?

– Claro que não, Maria! – Disse eu, apertando-a mais contra mim. – Nós vamos é sair daqui!

Nesse momento saiu uma mulher do seu apartamento para o corredor, no andar de baixo, com uma barata na cara.

– AJUDEM! – Pedia ela. – TENHO UMA BARATA NA CARA!

– Eu ajudo! – Disse um homem que prontamente bateu com uma tábua de madeira na cara da mulher para matar a barata.

– SEU IMBECIL!!! – Gritava ela com a mão no local onde ele lhe batera, enquanto eu e a Maria só nos riamos.

– Ei, matei a barata, não foi?

– Temos de sair do prédio. – Disse eu ao Leonardo e à Kim, que concordaram com a cabeça. – Kim, podes levar a Maria para a entrada enquanto eu arrumo as minhas coisas e as dela e o teu pai arruma as vossas? É que, daqui a nada, a Maria começa a apanhar pulgas, põe uma toalha nos ombros e anda por aí a dizer que é o Super Cão!

– Boa ideia! – Disse ela, desta vez no colo da Kim. – Posso fazer isso, mamã?

– Atreve-te! – Sussurrei enquanto a Kim corria pelas escadas abaixo com a Maria nos braços. Arrumei o essencial para mim e para a minha filha dentro de uma mala, sempre com paragens para espantar eventuais ratos que apareciam no meio da roupa, e desci com o Leonardo para a entrada.

– E agora? – Perguntei para o Leonardo, quando já estávamos junto à Kim e à Maria. – Eles vão demorar a fazer a desinfestação, onde é que dormimos entretanto?

– Eu já resolvi essa parte… - comentou a Kim com um sorriso traquina no rosto e o telemóvel numa mão. – Liguei agora à Olga. Ela falou com o senhor German e ele insistiu para que nós ficássemos os quatro na mansão dele. Há espaço para todos!

– Lindo… - murmurei, derrotada. Agora que as coisas estavam a correr tão bem, tinha que ir morar outra vez para a casa dele… Fantástico!

Angie Pov’s off


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Notas finais do capítulo

Queria só agradecer a todos os que continuam a acompanhar a fic, MUITO OBRIGADA!