O fruto de um amor escrita por eliana


Capítulo 6
A verdade dói


Notas iniciais do capítulo

Acabei de escrever o capítulo agora mesmo, espero que gostem ;)



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German Pov’s on:

Eu estava seriamente preocupado com a minha filha. Ela chegou a casa num pranto incompreensível por causa da tia e fechou-se no quarto sem querer falar com ninguém. Já lá está há horas… quando a Olga me chamou para jantar, decidi ir novamente ao quarto da Violetta, na esperança de que desta vez ela falasse comigo.

Abri a porta de mansinho e, assim que coloquei a cabeça dentro do quarto, reparei que ela continuava enfiada na cama, enrolada na colcha. Sentei-me ao seu lado e verifiquei que ela tinha adormecido, mas ainda notava as marcas de algumas lágrimas que lhe tinham escorrido pela face. Sem saber exatamente o que fazer, limpei-as com os dedos, dei-lhe um beijo na testa e saí de casa em direção ao Studio. De certeza que o Pablo saberia o que tinha acontecido.

Quando cheguei à porta do Studio, estanquei. Não queria encontrar a Angie outra vez, não agora que me ia casar com a Esmeralda. Contudo, respirei fundo e forcei-me a entrar. A minha filha valia mais do que qualquer outra coisa.

Felizmente – sim, não olhem para mim com essa cara! Mantenho a minha versão, é FELIZMENTE – a Angie não estava e só encontrei o Pablo na sala de professores.

– German? – Perguntou ele, surpreso por voltar a ver-me ali. – O que faz aqui?

– Olá – cumprimentei. – Vim perguntar-te se sabes o que é que se passou com a minha filha, ela não chegou a casa lá muito bem.

– Pois, a Angie também não veio da parte da tarde pela mesma razão – comentou ele com ar pensativo. – Sabes se elas discutiram?

– Não me espantava…

– Não te atrevas a insinuar que a Angie tem culpa no cartório! – Reclamou ele, elevando a voz. – Não sabes o que ela passou nestes últimos anos.

– Suponho que não tenha sido pior do que o que sofreu a Violetta…

– Acredita que foi – rosnou, aproximando-se de mim lentamente. – Tu não fazes a mínima ideia do que lhe fizeste. E agora que aqui estás, devias começar a cuidar da tua filha!

– Eu sempre cuidei bem da Violetta! – Disse, com a paciência a esgotar-se.

– Não é da Violetta que eu estou a falar, German.

– Como assim? – Perguntei, mas ele já tinha abandonado a sala. Tentei procura-lo para tirar tudo a limpo, mas não o encontrei. O que será que ele quis dizer com aquilo?

Ainda mais confuso do que estava antes, abandonei o Studio e dirigi-me a casa. Não fazia ideia do que andava toda a gente a esconder, mas de certeza que não era nada de bom.

German Pov’s off

Angie Pov’s on:

Eu já estava insegura. Já sabia que ia ser difícil falar com ele. Já sabia que, entre nós os dois, não voltaria a acontecer nada. Mas definitivamente não estava preparada para ver o que vi. Não estava pronta para ver que ele tinha novamente pedido em casamento a mulher que lhe mentiu, que se tornou uma cópia da minha irmã para se poder aproximar dele e o enganar. Não estava preparada para me mentalizar de que ele me tinha trocado por ela outra vez. Não estava pronta para me mentalizar de que o tinha perdido para sempre.

De qualquer maneira, eu própria nunca deixaria que ele voltasse a aproximar-se de mim, não depois de ele me ter acusado de algo tão grave e de me ter abandonado durante cinco anos. Mas isso não quer dizer que o tivesse esquecido. Eu ainda o amava, amava-o com todas as forças, com todo o meu coração, com toda a minha alma… mas ele não me ama a mim. Preferiu a Esmeralda em vez de mim, e isso doía mais do que o que eu estava pronta para admitir. Parecia que eu estava condenada a sofrer por causa dele.

O Leonardo e a Kim não se atreveram a perguntar o que tinha acontecido. Consolaram-me assim que me encontraram, juntamente com a minha filha, telefonaram ao Pablo a avisar que eu não iria às aulas da tarde e levaram-me para casa deles. Vimos filmes, comemos pipocas, lutámos com almofadas… tudo para me verem sorrir. Até mesmo a Maria que, embora não soubesse o que tinha acontecido, fazia tudo para me ver feliz.

Passei a noite com a Maria em casa dos dois, já que o apartamento deles era mesmo em frente ao nosso, e no dia seguinte já me sentia melhor, pronta para voltar ao Studio e a seguir em frente com a minha vida. A partir de agora, nada de German, nada de Violetta, nada que me magoe… chegou o momento de começar a pensar em mim e deixar de lado tudo o que teima em deitar-me abaixo. Basta de sofrimento, basta de sentimentos de culpa, basta de me sentir abandonada, basta! Eu tenho de seguir com a minha vida, ao lado daqueles que realmente me amam e que me consideram como um membro da família.

Angie Pov’s off

German Pov’s on:

O tempo passava, as horas corriam, e eu continuava na mesma posição, sentado na beira da cama da minha filha, acariciando-lhe o cabelo. Ela adoeceu durante a noite, mas o médico que acabou de sair falou essencialmente em depressão, enfatizando que tinha sido essa a causa da doença. Assim que ela abriu os olhos, eu sorri-lhe e beijei-lhe a testa.

– Bom dia, meu amor – disse. – Como é que te sentes?

– Dói-me a cabeça, papá. – Murmurou ela, com os olhos semicerrados. – E a garganta, dói-me quando falo.

– É normal, querida. Estás com febre, agora só tens de descansar.

Ela assentiu levemente com a cabeça e a porta do quarto abriu-se lentamente.

– Posso? – Perguntou a Olga, com um tabuleiro na mão. – Trouxe uma canjinha para a minha menina. Vais ver que melhoras num instante!

– Obrigada, Olga – agradeci, agarrando no tabuleiro enquanto ela saía do quarto. – Agora abre a boba, Violetta, eu dou-te a canja.

Ela fez uma careta e virou a cara.

– Não tenho fome…

– Tens de comer, filha. É a única maneira de melhorares. – Como vi que não a convencia, tentei outro método. – Queres que chame os teus amigos cá a casa para te fazerem uma visita?

Para meu espanto, ela negou com a cabeça e pediu o que eu julgava que ela nunca mais pediria.

– Podes chamar a Angie, por favor?

Senti que as cores me fugiam do rosto e, a muito custo, consegui responder.

– Como assim, Violetta? Queres que chame a Angie? Para quê?

– Quero vê-la, papá. Preciso de lhe pedir desculpa.

Agora eu estava totalmente confuso. Ela queria pedir-lhe desculpas de quê? Ela nunca lhe fez nada, muito pelo contrário!

– Para quê, Violetta? – Perguntei. – Tu não lhe fizeste nada de mal, foi ela que te magoou e que te traiu, não tu!

Ela negou com a cabeça levemente, como se esse simples ato lhe desse imensas dores, e eu comecei seriamente a pensar que a doença lhe estava a causar delírios.

– Ela não fez nada, pai, nós estávamos enganados. Ela não roubou dinheiro nenhum e nunca nos traiu, nós é que não confiámos nela.

O meu coração falhou uma batida e, involuntariamente, comecei a pensar nessa hipótese, mas logo me mentalizei de que não era verdade.

– Não penses assim, Violetta…

– É verdade – teimou ela -, eu falei com o Ramalho, e ele confirmou tudo. A Angie não teve nada a ver com o roubo, nós julgámo-la mal, papá…

Ela mordeu o lábio, como se estivesse a tentar dizer-me mais alguma coisa, mas não soubesse se o devia dizer ou não.

– Podes chamá-la? – Murmurou. Não consegui dizer que não.

– Tudo bem – respondi, levantando-me da cama e saindo do quarto. – Mas come a canja que a Olga te trouxe.

Ela fez uma careta e eu fechei a porta do quarto dela, ainda a pensar no que ela me tinha dito. Seria mesmo verdade?

Desci para a sala e encontrei o Ramalho na cozinha a lutar contra a máquina do café.

– Maldita máquina… - reclamava ele, sem ainda ter reparado na minha presença - como é que isto funciona?

– Porque é que não perguntas à Olga?

Ele deu um salto com o susto e a cápsula do café rolou para o chão.

– Bolas, German, não precisavas de me assustar assim, eu já não vou para novo! A Olga foi às compras e deixou-me aqui sozinho a lutar contra a máquina do café.

– Pousa isso antes que te queimes. – Aconselhei. Quando ele pousou a máquina de novo no balcão, eu continuei, decidido a acabar de vez com as dúvidas que tinha. – Preciso de te perguntar uma coisa, Ramalho…

– Não me digas que é sobre a Angie? – Perguntou ele, com ar enfadado. Sem perceber a reação, confirmei com a cabeça e ele ficou com ar ainda mais aborrecido. – Tenho de começar a gravar uma cassete, ainda ontem a tua filha me perguntou a mesma coisa!

– Então é verdade? – Perguntei, ansioso.

– Sim, German, é verdade. A transferência foi feita a partir de São Paulo, não há maneira de ter sido obra da Angie ou a mando dela!

– Não pode ser – murmurei, levando as mãos à cabeça. Agora eu percebia a angústia da minha filha! Era muito menos doloroso pensar que a Angie era a culpada do que aperceber-me de que a tinha condenado injustamente por algo tão grave e que a tinha abandonado durante cinco anos! Mas antes que eu conseguisse assimilar as novas informações, o Ramalho fez outra revelação que me abalou ainda mais que a primeira.

– E além disso ela também teve de cuidar da vossa filha sozinha. Foi muito difícil para ela, principalmente quando…

– Como assim? – Interrompi em estado de choque. – A Maria é minha filha?

Ele mordeu o lábio e recuou, confuso.

– A Violetta não te contou?

Agora é que as peças se encaixavam todas. O facto de o Pablo ter afirmado que eu tinha mais uma filha para além da Violetta, o esforço da Angie em afastar a Maria de mim quando nos encontrámos no Studio, o facto de a pequenina ter um sorriso igual ao da Violetta… como é que eu fui tão estúpido? Como é que não me apercebi logo?

Sem dar justificações, saí de casa a correr em direção ao Studio, onde tinha a certeza da que encontraria a Angie. Quando cheguei, estavam todos no intervalo da manhã, e foram vários os amigos da Violetta que me perguntaram o porquê de ela não ter vindo. Expliquei-lhes rapidamente que ela tinha adoecido e que poderiam visitá-la na hora de almoço, desenvencilhei-me deles e dirigi-me a sala de professores.

Não me dei ao trabalho de bater à porta, simplesmente abri e dei de caras com o António, o Pablo, o Gregório, o Beto, a Jackie, uma mulher que eu não conhecia de cabelos castanhos pintados de rosa nas pontas e, por fim, a Angie, que me encarava com a surpresa cravada no rosto. Estava ainda mais linda do que eu me lembrava.

– Preciso de falar contigo – disse, sem desviar os olhos dela. Percebi que ela se preparava para negar, mas eu insisti. – É importante.

Sem saber o que fazer, ela olhou para o António e para o Pablo, que assentiram com a cabeça e, por fim, levantou-se, e só nesse momento é que me apercebi da presença daquela que eu recentemente descobrira ser minha filha. Vi que a Angie lhe pediu discretamente para ficar na sala e, em seguida, saiu, sem olhar para mim.

Quando fechei a porta da sala após me ter desculpado ao António pela intromissão, encarei a Angie e apercebi-me de que ela estava irritada. Muito irritada.

– O que é que queres? – Perguntou, ainda sem olhar para mim.

Não me lembrava da última vez que estive tão nervoso. Nem sequer tinha pensado no que iria dizer, mas agora era tarde para voltar atrás. Ela estava a começar a ficar impaciente com o meu silêncio e eu perguntei-me como é que alguma vez pude duvidar dela. Ela era o meu anjo da guarda, aquela que me fazia sempre sorrir, que espalhava alegria por onde quer que passasse… e eu arruinei a oportunidade de passar a minha vida ao lado dela por causa de uma desconfiança parva! Agora, eu estava noivo da Esmeralda, e provavelmente ela nunca mais olharia para mim como olhava antes… mas eu tinha de tentar.

Espantando toda a insegurança que se apoderava de mim, segurei-lhe nas mãos e olhei-a nos olhos, como sempre quis fazer ao longo destes últimos cinco anos.

– Eu sei que as minhas desculpas não vão apagar o que sofreste – comecei – e também sei que provavelmente não mereço o teu perdão, mas só queria que soubesses que lamento imenso ter feito o que fiz. Não devia ter duvidado de ti, e por o ter feito, fiz sofrer toda a gente, sobretudo a ti. Eu cometi um erro enorme. Fui um estúpido, um egoísta e egocêntrico, eu sei disso… mas nunca te quis magoar. Eu estava com medo, e não quis encarar a realidade por causa disso, e arrependo-me profundamente. Achas que me podes perdoar?

Ela baixou o olhar e soltou as mãos, recuando alguns passos e deixando-me ainda mais nervoso. Quando, por fim, ergueu a cabeça, vi que ela chorava.

– Sabias que a Maria teve leucemia aos dois anos?

Aquela pergunta deixou-me completamente sem fôlego. A minha filha esteve doente? Com leucemia?

– Sabias que ela precisava de um transplante de medula para sobreviver?

Eu não podia acreditar no que estava a ouvir. Não, simplesmente não queria acreditar.

– Eu não era compatível. Tentei avisar-vos, mantei-vos dezenas de e-mails a pedir que viessem. Eu estava numa luta contra o tempo para salvar a minha filha. Quando me disseram que tinha aparecido um dador compatível, pensei que vocês tivessem voltado, que tivessem vindo para Buenos Aires e que tinham tentado ajudar a Maria… mas não eram vocês. A Maria esteve às portas da morte e vocês não se dignaram a responder aos meus e-mails, não recebi uma única resposta vossa!

Eu não conseguia arranjar coragem para levantar a cabeça depois do que ouvi. A minha filha podia ter morrido por minha culpa, e eu sem saber de nada. Sentia-me o pior lixo da Terra.

– Ainda achas que te posso perdoar, German?

Não respondi. Eu próprio não me conseguia perdoar por isto.

Ela começou a caminhar novamente em direção à sala de professores quando subitamente parou.

– Porque é que a Violetta não veio hoje?

Como é que ela ainda conseguia preocupar-se connosco depois de tudo o que lhe fizemos? Como é que alguém podia ter um coração assim tão grande?

– Está doente – murmurei, ainda com os olhos presos no chão. – Ela pediu para te ver, queria falar contigo, mas não pode sair da cama. Achas que podias passar pela mansão para a ver?

Ela entrou na sala de professores sem me dar uma resposta, e não a censurei por isso. Se eu estivesse na posição dela, teria feito muito pior, simplesmente porque não tinha o coração de ouro que ela possuía.

Eram duas horas da tarde. Os amigos da Violetta já tinham vindo visitá-la e estavam agora a sair, mas a Angie não apareceu. Estava pronto para subir quando tocaram à campainha. Avancei rapidamente até à porta na esperança de que fosse ela e, felizmente, não me enganei. A minha Angie estava ali, com a Maria pela mão, para ver a Violetta.

German Pov’s off

Angie Pov’s on:

Eu não queria voltar àquela casa, mas a Violetta é minha sobrinha, e isso é algo que eu não posso esquecer. Mesmo com o medo a instalar-se dentro de mim, peguei na Maria e dirigi-me à mansão. Foi o German que me abriu a porta, e pareceu feliz por me ver, mas não quis estar com rodeios e afirmei que tinha vindo simplesmente para ver a minha sobrinha. Ele deixou-me entrar e, assim que pus os pés dentro daquela casa, a Maria largou a minha mão e começou a correr pela sala.

– Olha para isto, mamã! Esta sala é maior do que a nossa casa!

– Não mechas em nada, Maria! – Pedi, já tarde demais, pois ela não demorou a abrir o piano e experimentar tocar.

– Está tudo bem – afirmou o German ao meu lado. – Ela não estraga nada.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, a Maria saltou do piano e correu para a cozinha a gritar.

– Olguinha!

– Olha, a minha pequenina! – Exclamou a Olga, agarrando na minha filha e espetando-lhe um grande beijo na bochecha. – Já estava com saudades tuas, linda! Vieste visitar-me?

– Sim, Olga – disse antes que a Maria pudesse dizer alguma coisa. – Podes cuidar dela enquanto eu vou ver a Violetta?

– Claro! É um prazer, não é linda?

– Sim, especialmente porque tu vais fazer-me umas bolachinhas para eu comer, não é?

– Sua aproveitadora… é claro que sim!

Angie Pov’s off


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Notas finais do capítulo

Eu sei que não está grande coisa, foi escrito à pressa... amanhã eu compenso!
Bjs