O fruto de um amor escrita por eliana


Capítulo 5
Abri os olhos... e não gostei do que vi


Notas iniciais do capítulo

Voltei!!! :D
Graças ao meu pai - que estava ansioso por voltar - vim um dia mais cedo e claro que não podia deixar de vir aqui. Obrigada por todos os comentários que deixaram enquanto estive fora!
Este capítulo, ao contrário dos outros em que quem narrava a história era essencialmente a Angie, vai ser a Violetta quem vai ter mais destaque e, no próximo, será o German.
Boa leitura!



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Violetta Pov’s on:

“- Ei, qual é a tua ideia? – Reclamei para a miúda que me empurrou. Nunca a tinha visto, mas devia ter uns 17 ou 18 anos. De qualquer maneira, parecia furiosa comigo.

– Nós as duas temos de falar!

– Desculpa, mas eu conheço-te.

– Agora conheces. Sou a Kim, e tu vais ter de me ouvir.”

– O que é que queres de mim? – Perguntei, com a paciência a extinguir-se rapidamente. – Hoje não é um bom dia, não estou particularmente de bom humor.

– E graças a ti, eu também não, temos pena…

– Mas qual é o teu problema? Tu por acaso conheces-me de algum lado? Sabes sequer com quem é que estás a falar? É que eu tenho ideia de que tu te enganaste na pessoa.

– Violetta Castilho, 23 anos, cantora internacional, ex-aluna do Studio On Beat, filha de German Castilho e Maria Saramego, sobrinha de Angeles Carrara, irmã de Maria Carrara... continuas a achar que me enganei na pessoa?

Arregalei ligeiramente os olhos e fiquei sem fala durante uns segundos. Como é que ela sabia tanto sobre mim?

– Eu não tenho nenhuma irmã – peguei na única informação que ela errara. – A Maria é minha prima.

– O facto de não serem filhas da mesma mãe não significa que não sejam irmãs… não quando o pai é o mesmo.

– O meu pai não é o pai da Maria. Se isso fosse verdade, ele ter-me-ia dito, se soubesse…

– Nem mesmo a Angie sabia que estava grávida quando vocês desapareceram. Assim que ela soube, enviou-vos vários e-mails a falar dela, mas vocês nunca lhe deram resposta, nem quando a Maria corria risco de vida!

– Nós mudámos de e-mail – expliquei, atordoada, sem saber se o que ela me dizia era ou não verdade. – Não podíamos ter feito outra coisa, desde que a Angie roubou…

– A ANGIE NÃO ROUBOU NADA NEM NINGUÉM! – Gritou ela de tal maneira que me fez dar um salto para trás. – Se vocês lhe tivessem dado o benefício da dúvida, saberiam que o Ramalho descobriu que a transferência de dinheiro foi feita a partir do Brasil, e a Angie não deixou Buenos Aires desde que voltou de França, nem tem contactos fora do país! Admite, tu e o teu pai não passam de ratinhos assustados que ao mínimo problema desatam a fugir em vez de tentarem resolver a situação! É esse o carinho que dizias ter pela tua tia? Pois ela pode viver muito bem sem isso! Ela teve de cuidar da filha até hoje sem vocês, teve de aguentar a possibilidade de ela não sobreviver à leucemia, teve de refazer a vida dela sozinha… e tudo porque vocês não sabem confiar em ninguém! Tu e o teu pai deixaram de fazer parte da família dela há muito tempo, e é bom que vocês não voltem a magoa-la como fizeram antes! E se te custa a acreditar no que eu disse, fala com o Ramalho, talvez confies mais na palavra dele do que na minha.

Assim que ela saiu da minha frente e começou a andar na direção do Studio, deixei escapar as lágrimas que continha para tentar superar o choque. Havia a possibilidade de a Angie não ter roubado nada e de tudo ter sido um esquema para a incriminar. Havia a possibilidade de eu ter uma irmãzinha que não conhecia por conta de não ter confiado na minha tia. Não consegui aguentar estas dúvidas e comecei a correr em direção ao Resto. Precisava de falar com o Ramalho, e sabia que ele almoçava sempre lá.

Violetta Pov’s off

Angie Pov’s on:

– Já soube que a Maria deu uma pequena dor de cabeça ao Gregório – murmurou a Beca ao sentar-se ao meu lado na mesa da sala de professores -, ou melhor, uma dor de rabo. Mas não me parece que seja por isso que estás com essa carinha. Conta lá, o que é que se passa?

– Não é nada, Beca. – Disse eu, sorrindo para que ela não ficasse preocupada. – Só estou com problemas com uma, ou melhor, duas pessoas.

Ela desmanchou o sorriso e a sua testa enrugou-se.

– Quero o nome, apelido, idade e morada dos dois!

– Não vais bater em ninguém, Beca. Eu consigo resolver isto.

– É por causa do German e da Violetta?

Virei-me para ela, pasmada.

– Como é que sabes deles?

– As paredes têm ouvidos… e eu também! – Comentou, sorrindo.

– Não sabia que gostavas de escutar atrás das portas.

– Não é essa a questão agora. A questão é que tens de falar com eles de uma vez e pôr tudo em pratos limpos.

– Não sou eu quem tem de ir falar com eles.

– Pelo que ouvi, quando encontraste o German, ele disse que não sabia que tinhas uma filha… isso significa que, por alguma razão, ele não recebeu os e-mails que lhe enviaste.

– Ou não acreditou neles.

– Talvez. Mas nunca saberemos se não falares com eles. É óbvio que eles não querem dar o primeiro passo, mas alguém tem de o fazer.

– Sabes que mais: tens razão! – Disse eu, levantando-me da cadeira e dirigindo-me à porta. – Vou agora mesmo à mansão e acabar com isto de uma vez!

– Essa é a Angie que eu conheço!

Foi a última coisa que ouvi quando saí daquela porta. Não tardei a sair do Studio e, como já previa, a Maria estava com a Kim à entrada a tentar fazer com que ela a ensinasse a dançar.

– Kim, preciso que leves a Maria a almoçar, tenho umas coisas para fazer. – Disse, retirando algum dinheiro da carteira para que elas almoçassem.

– Tudo bem, não há problema. – Disse ela, guardando o dinheiro no bolso. – Mas não queres companhia? Não pareces estar muito à vontade.

– Estou bem. Só não deixes a Maria comer lambarices, ainda está de castigo por causa do que aprontou com o Gregório.

– Bolas… - reclamou ela para si própria, cruzando os braços e fazendo beicinho – colas o rabo de um professor à cadeira e és condenado para sempre!

– Reclama à vontade, pequenita… amanhã a tua mãe já se esqueceu disso. Se bem que não foi uma má ideia. – Comentou a Kim em voz baixa. – Já agora, Angie, a Maria fez-me uma pergunta e eu não lhe sei responder: Beca é diminutivo de quê?

Estava para lhe responder quando me dei conta de que nem eu sabia.

– É que nem desconfio…

Angie Pov’s off

Violetta Pov’s on:

Tal como esperava, encontrei o Ramalho no Resto a almoçar numa das mesas ao lado do palco e, sem cerimónias, sentei-me à sua frente sem me lembrar de o cumprimentar.

– Preciso de falar contigo, Ramalho. É urgente.

– Claro! – Disse ele, limpando a boca com o guardanapo. – Em que é que precisas que te ajude?

Antes de responder, percorri o Resto com o olhar, apercebendo-me subitamente de que não estava preparada para ouvir o que ele me ia dizer.

– Onde está a Olga?

– É por isso que estás tão perturbada? Está na mansão, a fazer o almoço para ti, para o teu pai e para a Esmeralda.

– Não, não era exatamente isso. – Murmurei enquanto brincava com os dedos, olhando para todos os lados menos para ele. – Preciso de confirmar uma coisa que uma rapariga me disse…

Como parei a meio da frase, sem coragem para continuar, ele ergueu as sobrancelhas e chegou-se mais para a frente, apercebendo-se de que se tratava de algo importante.

– Queres confirmar o quê, Violetta? – Incentivou em voz baixa.

– É que… - parei, respirei fundo e decidi perguntar logo de uma vez para acabar com as dúvidas. – É verdade que a Angie não teve nada a ver com o roubo, Ramalho?

– Ah… - suspirou ele, recostando-se à parte de trás da cadeira com ar resignado, como se soubesse que mais tarde ou mais cedo eu lhe ia fazer esta pergunta. – Foi a Kim que te falou disso, não foi?

– Sim, pelo menos, acho que era assim que ela se chamava.

Ele tirou os óculos e esfregou os olhos, como que a tentar ganhar tempo.

– E então? É ou não é verdade? Vá lá, Ramalho, fala comigo, preciso de respostas!

Por fim, ele olhou-me nos olhos e murmurou:

– Sim, Violetta, é verdade. A Angie não teve nada a ver com o roubo do dinheiro do teu pai. A transferência foi feita a partir de São Paulo, no Brasil, onde a Angie nunca esteve nem conhece ninguém. Infelizmente não consegui descobrir quem foi o responsável, mas quem quer que tenha sido, é óbvio que o objetivo era incriminar a tua tia.

Nesse momento, senti um aperto tão grande no peito que tive de me dobrar sobre mim própria. A culpa atingiu-me como uma machadada, e eu não sabia como lidar com ela.

– E a Maria? – Perguntei numa voz tão baixa que ele teve dificuldade em assimilar. – Ela é minha irmã? É filha do meu pai?

Ele confirmou com a cabeça e eu desabei em lágrimas. Como é que eu pude ser tão injusta com a minha tia? Como é que eu consegui acusá-la de algo tão grave quando ela dava tudo por mim?

– É melhor ires para casa, Violetta. – Disse ele, apoiando uma mão no meu ombro. – Falas com a tua tia quando estiveres mais calma.

– Porque é que não me disseste logo, Ramalho? – Perguntei ainda com as lágrimas a escorrer. – Porque é que não falaste connosco sobre isso assim que chegámos?

– Ela pediu-me para não vos dizer nada. Está muito magoada convosco, não só porque a obrigaram a refazer a vida dela sozinha por não terem confiado nela, mas também porque não estiveram presentes quando ela mais precisava.

– O que é que se passou com a Maria? Disseram-me que ela esteve doente…

– Teve leucemia. – Murmurou, como se a simples recordação disso lhe trouxesse sofrimento. – Precisava de um transplante de medula, ou poderia não sobreviver. A Angie não era compatível, mas tinha esperança de que tu ou o teu pai fossem…

– Mas nós não estávamos cá – completei, finalmente assimilando o sofrimento por que a minha tia teve de passar nestes últimos anos. – Não estávamos cá, e a Maria podia ter morrido por nossa culpa.

– Não fiques assim… - pediu ele, limpando as minhas lágrimas com os polegares. – Não sabias que ela estava doente…

– Porque não quis saber, Ramalho! Porque acabei com qualquer tipo de contacto que pudesse haver entre mim e a Angie, e isso podia ter custado a vida à minha irmã! Eu ainda não acredito no que fiz… porque é que eu tive de fazer isto?

– Acalma-te, Violetta. Eu levo-te a casa, e quando estiveres melhor, falas com a tua tia e resolves tudo. Agora tens de descansar.

Confirmei com a cabeça e deixei que ele me acompanhasse até à mansão. Não estava em condições de ir sozinha, não depois de abrir finalmente os olhos e de me dar conta do que fiz.

Quando chegámos a casa, o Ramalho levou-me ao meu quarto para que eu descansasse e avisou que ia informar a Olga de que ia almoçar mais tarde. Agora, só precisava de dormir.

Acordei poucos minutos depois, com o barulho de uma porta a bater. Levantei-me, olhei-me ao espelho para confirmar que ninguém se aperceberia de que estive a chorar, e encaminhei-me para fora do quarto, dando de caras com o meu pai, que se preparava para descer para o salão.

– O que é que se passa, pai? – Perguntei. – Porque é que bateste a porta com tanta força?

– Não se passa nada, filha – disse ele, tentando transparecer um ar calmo. – Fica aqui, está tudo bem.

– Mas eu precisava de falar contigo. É importante…

– Pode esperar, Violetta. Tenho uma coisa importante para fazer.

Ele desceu para o salão e eu fiquei no topo das escadas a observar, sem que ele desse por isso. Estava nervoso, como se estivesse prestes a fazer algo que sabia que não estava correto, e isso preocupou-me.

Reparei que ele falava com a Esmeralda perto do piano, mas subitamente, apercebi-me de algum movimento na cozinha e vi que a Olga abraçava alguém que tinha acabado de entrar.

Os acontecimentos seguintes foram tão rápidos que mal tive tempo de os apreender.

O meu pai ajoelhou-se.

A mulher que tinha entrado pela cozinha chegou-se à porta e estancou, fixando a Esmeralda e o meu pai.

O meu pai pediu a Esmeralda em casamento.

Ela aceitou.

E a mulher desapareceu.

Isto não estava certo. Não tinha como estar certo. O meu pai pediu a Esmeralda em casamento para esquecer a Angie de vez… e ela tinha assistido a tudo!

Eu não podia ficar parada a olhar, tinha de fazer alguma coisa! Desci as escadas a correr, ignorei o chamamento do meu pai e saí de casa atrás da minha tia, mas só consegui ver o carro dela a desaparecer numa curva. Recusei-me a desistir e corri a procura-la nos sítios onde ela mais gostava de ir: o Studio, a Praça, o Resto… mas nada.

Violetta Pov’s off

Kim Pov´s on:

Já estava farta de esperar. Ela já devia estar no Studio há meia hora! E nem o telemóvel atende… alguma coisa aconteceu, só pode!

Assim que vi a Violetta a entrar no Studio à pressa, vasculhá-lo de ponta a ponta e desaparecer outra vez, percebi que alguma coisa tinha acontecido entre ela e a Angie ou entre a Angie e o German. Sem me dar ao trabalho de perguntar à Violetta o que é que se tinha passado, liguei para o meu pai e obriguei-o a vir cá. Quando ele apareceu, peguei na Maria ao colo, entrei no carro e começámos a procura-la.

Kim Pov’s off

Violetta Pov’s on:

Estou exausta. Procurei pela cidade inteira e nada! Nada de nada! Será possível que ela tenha desaparecido do mapa?

Sentei-me num banco para descansar e estava prestes a desistir quando vi um carro a estacionar a cerca de dez metros de mim e três pessoas a sair dele a correrem apressadas para um parque cheio de arvoredo. Assim que vi que uma delas era a rapariga que tinha falado comigo e trazia a Maria pela mão, decidi correr atrás deles, na esperança que me levassem até à minha tia. Contudo, depressa me apercebi que eles se tinham separado, o homem loiro para um lado, e a rapariga morena e a Maria para o outro. Sem saber por que lado haveria de seguir, corri sempre em frente.

O parque era enorme e tinha tantas árvores que se tornava difícil ver qualquer coisa a mais de 5 metros. Parei de correr assim que cheguei à margem de um rio. O chão, que até aí era plano, descia abruptamente durante pouco mais de dois metros até chegar ao rio, e estava cheio de ramos e folhas secas. Comecei a caminhar ao longo da margem e, poucos minutos depois, avistei uma pequena ponte de madeira que atravessava o rio e, na margem oposta àquela em que me encontrava, estava a minha tia, sentada no chão encostada a uma árvore e com a cabeça baixa.

Estava prestes a chamá-la e correr na sua direção quando o homem loiro que tinha visto antes passou por mim sem me ver e se dirigiu à Angie, sentando-se ao lado dela e abraçando-a com força. Não sei porquê, mas assim que vi aquilo, a voz morreu-me na garganta e os pés ficaram presos ao chão como se tivessem ganho raízes. Assim que a rapariga morena e a Maria também apareceram e se sentaram junto dela, percebi o que a rapariga me estava a tentar dizer hoje de manhã: “Tu e o teu pai deixaram de fazer parte da família dela há muito tempo!” E era verdade. Nós abandonámo-la, e ela encontrou uma nova família, uma família que a adorava… e eu não voltaria a fazer parte dela. Fui egoísta, e por causa disso, perdi a pessoa que se tinha tornado minha mãe.

Antes de dar por isso, já tinha começado a chorar outra vez e, sem que eles me vissem, deixei o parque e caminhei para a mansão a arrastar os pés. Assim que entrei em casa, o meu pai veio em direção a mim.

– Violetta! Onde é que andaste, deixaste-me preocupado pela forma como saíste… - a voz enfraqueceu e ele segurou a minha face com as mãos assim que se apercebeu de que eu estava a chorar. – O que é que se passou, Violetta? Porque é que estás assim?

– Perdi a Angie, papá – murmurei num fio de voz -, e a culpa é minha.

Violetta Pov’s off


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não sei se poderei postar mais algum neste fim de semana, os meus pais andam fulos comigo porque eu passo a vida no computador :(
Bjs!!!