Escudo escrita por Melzinha


Capítulo 17
Capítulo XVII "Entre Sentimentos e Espadas"




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Escudo

Capítulo XVII

Entre Sentimentos e Espadas

Por Mel

Como nuvens carregadas em dia de tempestade o cenário era amedrontador, caótico e frio. Nenhuma guerra em toda história da humanidade fora bonita, e aquela não era diferente. Se gritos pudessem criar uma canção fúnebre, se mortos pudessem fazer uma oração silenciosa, se a falta de amor pudessem titubear o sentido, se ideais gerassem intolerância. Se...

“Uma coisa que me irrita profundamente”- A rainha remexeu-se no trono dourado sentindo a ameaça da espada de Li em sua garganta enquanto encarava Sakura- “É esse sorriso triunfante em um rosto perdedor”.- Riu um pouco- “Eu sempre soube que você era burra. Uma menina tão ridiculamente mimada que ao invés de ficar quieta usufruindo das riquezas de Ueda ao lado do ‘grande amor de sua vida’”- Ironizou encarando Li- “Resolveu vestir uma armadura e mexer em vespeiro...”- Levantou-se sentindo o toque frio da lâmina acompanha-la- “Até eu que não esperava nada...Esperava bem mais de você”.

“Acha mesmo que eu iria dar as costas para o meu povo? Deixar que você continuasse destruir Tomoeda? Você não me conhece Sayiuri”.

“Acho que a conheço até demais”- Torceu o nariz- “Não passa de uma imagem mais nova da mulher nojenta que chamava de mãe”- Sorriu- “E daqui a pouco vou fazer questão que se junte a ela em seu leito de morte”.

“Está com a lâmina da minha espada a um milímetro da sua garganta e ainda assim acha que pode continuar com essa arrogância toda?”- Perguntou incrédulo e um pouco sem paciência- “Confesse logo sua culpa, ex-rainha de Tomoeda, confesse diante do seu exército que é a única assassina aqui nesse lugar”.- A voz de comando a fizera titubear por um pequeno instante, mas então lembrou-se de algo.

“Acha mesmo que podem ganhar mim?”- O encarou debochada se aproximando mais de sua cadeira- “Guarde as minhas palavras general...Vocês nunca vencerão”- E puxando uma corda dourada atrás de sua cadeira conseguiu tombar o trono, fazendo Li baixar a guarda. Alguns soldados rodearam o casal que agora perdera a vantagem sobre a rainha. – “Mate-os... Lentamente”- Foi a ordem sádica que deixou os lábios da ruiva enquanto levantava-se já rodeada por homens de seu exército.

“Ora ora, se não é o ex-comandante Li”- Um dos soldados com uma imensa cicatriz no rosto começou a falar- “Sempre quis dar um soco nessa sua ‘cara’ arrogante. Sempre cheio de si, sempre puxando o saco da família real... Aonde já se viu, o protegidinho do rei tramar contra a própria coroa que o acolheu”- Fechou a cara- “Tem gente que não sabe aproveitar a sorte que tem...”.

“Você não sabe do que está falando”- Syaoran levantou a espada contra o ex-companheiro.- “A única assassina aqui chama Sayiuri”.

“Como ousa falar assim da rainha?”.- Rebateu nervoso.-“Vocês voltaram aqui para terminar o que começaram meses atrás, mas não vamos permitir!”.-Deu ordem a outros quatro homens –“Matem a princesa!”.

“O- O que?”- Syaoran não havia percebido que estavam tão perto. Observou Sakura empunhar sua espada e virar a costas para ele, numa clara estratégia de ataque.

“Não se preocupe comigo, Syaoran”- Ela disse suavemente sem desviar sua atenção dos soldados- “Eu tive um excelente professor”.

A luta começou em desvantagem para os soldado. A princesa e o guerreiro eram apenas dois, mas pareciam um exercito inteiro. Moviam-se com precisão milimétrica. E em pouco tempo os homens estavam no chão, mas parecia que quanto mais lutavam, mais soldados apareciam.

“Parece que eles brotam do chão”- Sakura comentou acertando um golpe na cabeça de um deles.

“Continue com a guarda alta. Precisamos dar um jeito de desmascarar Sayiuri”.- Disse defendendo-se de mais um golpe e encravando sua espada no peito de mais um soldado.

“Não consigo vê-la”- A princesa comentou dando um giro sobre seus próprios pés antes de acertar um chute alto no queixo de mais um adversário.

“Droga!”- Li praguejou ao perceber que ela estava fugindo. Mais homens os rodearam. Sakura olhou para cima e viu as cortinas que envolviam a sala conectadas por todo pé-direito.

“Syaoran eu tive uma ideia”- Apontou para as cortinas.

Ele respirou fundo. Quando que ela tornara-se tão estrategista? Riu de lado. Ela sempre fora extremamente inteligente. Descobria saídas inusitadas para seus problemas, talvez por isso sobrevivera.

“Eu vou contar até três”- Ele disse olhando profundamente nos olhos dela, passando toda confiança que poderia- “Um...Dois...Três”. E no terceiro número ela se apoiou na cadeira tombada e pendurou-se na cortina que rasgou em cima de alguns soldados, inclusive da rainha que foi encoberta pelo manto vermelho de veludo.

O ataque ‘surpresa’ do casal custara um ferimento no braço do general. Um dos soldados estava tão próximo que não conseguiu parar o ataque. A lâmina afiada cortou profundamente seu braço esquerdo, fazendo-o gritar de dor. Sakura arregalou os olhos em sinal de pânico ao ver o sangue jorrar dos braços de Li.

“Não é um deus da luta como costumam dizer”- Um deles debochou- “Porque deuses não sangram”. – O atacou novamente, mas dessa vez Li foi mais rápido e o feriu mortalmente antes de receber outro golpe.

Sayiuri começou a sentir o pânico corroer suas entranhas ao ver o exercito de Ueda aos poucos triunfar sobre Tomoeda. Estava encurralada entre a guerra e as paredes de mármore. Precisava fazer alguma coisa, e rápido. Rasgou um pedaço do tecido que há pouco a impedira de prosseguir e fez seu caminho de novo até o trono. Percebendo a distração da princesa, que ao mesmo tempo que tentava ajudar Li, lutava com outro soldado, e jogou o tecido sobre a face de Sakura que por alguns segundos perdeu o equilíbrio, o soldado com quem lutava a agarrou por trás obrigando-a a gritar assustada.

Syaoran sentiu o sangue ferver.

“Solte-a!”- Ordenou apontando a espada para o soldado em um claro sinal de ameaça. Sem se importar com a dor ou a tontura pela perda de sangue. O homem apenas sorriu e puxou-a mais forte pela trança.- “Eu mandei SOLTA-LA”.

SSSS Lembranças SSSS

“Solte-a!”

Seu coração bateu quatro vezes mais rápido. Algo tinha acontecido com sua princesa. Seu mundo explodiu em um ‘flash’.

“Vá Syaoran!”- O pai ordenou- “Eu não vou a lugar nenhum”- Disse divertidamente apesar de todos os seus ossos doerem com o pensamento de que algo acontecera com suas duas meninas. Porque da mesma forma que seu menino era um filho para o rei, Sakura era uma filha para ele também.

“Tenta não se mexer pai, eu já volto”- Falou por fim.

Tão rápido como um lobo corre atrás de sua presa, Li seguiu a direção dos gritos da prima. Seu coração perdia um batimento cada vez que a prima gritava para soltarem Sakura. De repente os gritos cessaram e o pior pensamento passou pela sua mente.

SSSS Fim das Lembranças SSSSSS

Aquilo jamais se repetiria. Nunca mais. Com uma voadora certeira atingiu o queixo do soldado sem precisar usar arma, e quando estava se aproximando para golpeá-lo, sentiu um baque seco em seu peito sugar todo seu ar. Ele jamais soube de onde aquele homem retirara tanta força para empurrá-lo daquela maneira, mas aquilo definitivamente o pegou de surpresa. Bateu a cabeça no pilar abrindo o supercilio.

Sakura gritou ao ver o sangue de Li escorrer pelo rosto. Deus... Precisava fazer algo para ajuda-lo.

“Você o escutou”- Encravou sua espada no pé do soldado- “Ele mandou-lhe soltar-me”. – Desvencilhou-se do aperto e correu até onde Syaoran estava.- “Você está bem?”- Os olhos verdes preocupados. As mãos tremulas tocando na testa do rapaz. Odiava vê-lo ferido tanto quanto ele odiava que algo lhe acontecesse.

“Abaixa”- Ele gritou quando um dos soldados aproveitou a distração para ataca-los.

“Vocês vão morrer”- Sorriu debochado- “Vagarosamente”.

“Talvez um dia...”- Li impou o sangue do rosto- “Mas certamente não agora”- E com suas habilidades cortou a cabeça do homem sem sequer suar.

“Uau...isso foi...”.- A princesa tentava achar uma palavra.

“Inesperado?”.- Sorriu de lado.

“Nojento...”- Completou sorrindo- “Você está bem?”- Perguntou novamente. Estava realmente preocupada. Ele estava sangrando.

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“Você está machucado”- A pequena princesa observava o pré-adolescente com algumas escoriações no braço.

“Isso não é nada , alteza”- Ele tentava inutilmente cobrir o corte.- “Apenas uma iniciação do exercito”.

“ Eu não sei direito o que significa iniciação”- A menina de dez anos disse sinceramente- “Mas eu não gostei de terem te machucado. Você é o meu herói”- Fez cara de brava sem se dar conta do quão bonita ficava com aquele olhar- “Ninguém machuca o meu herói”.

“Já disse para não se preocupar”- Coçou a cabeça sem graça. Ela se aproximou de vagar avaliando a ferida.

“Doi?”.- Os olhos verdes repletos de preocupação. Seria possível que uma princesa se preocupasse com um menino pobre como ele?

“Um pouco”- Por mais que tentasse, não conseguia mentir para a bela menina.

Ela tocou a ferida com cuidado depositando um beijo carinhoso em seguida.

“Pronto! Agora vai sarar”- Falou inocentemente sorrindo sem ter ideia do quanto o coração do garoto acelerara.

SSSS Fim das Lembranças SSSS

“Agora estou”- Disse sinceramente olhando naquela imensidão esverdeada. Ela esta ali, sã e salva. Como ele não estaria bem? Sorriu antes de depositar um beijo carinhoso nas mãos de Sakura. Levantou-se com as energias recarregadas e para o pavor da rainha, sorriu um pouco antes de aniquilar dois soldados de um só vez, encarando a figura de Sayiuri empalidecer em meio a guerra.

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“Como ele está, Dr. Hirazisawa?”- A voz aflita de Chiharu demonstrava não só sua preocupação como também o seu cansaço.

“Com muita febre, ele perdeu muito sangue”- A olhou tristemente- “Só um milagre o faria sobreviver...”.

“Ele não pode morrer”- Tampou o rosto com as mãos em sinal de desespero- “Não pode...”

“Você foi a moça, não é?”- Perguntou limpando as mãos com água da moringa- “A que atacou o general Li”.

Ela não ousou olhá-lo. Ela não precisava olhá-lo.

“Ele quase perdeu a memória permanentemente por sua cena de ciúmes”- Parecia uma pai passando o sermão que merecia- “E mesmo assim vejo que eles a perdoaram...”- Levantou o rosto e a encarou- “Por quê?”.

“Eu... eu ataquei o general de Tomoeda, salvei a vida deles”.

“Spinel Sun?”.

“Ele está morto...bem”- Fez uma pausa passando a mão pela barriga- “Não totalmente, sua semente ainda vive em mim”- O encarou sem se dar conta da enxurrada de emoções que assolavam os olhos azuis-meia noite – “Talvez o senhor possa fazer alguma coisa... É medico, poderiam me dar algo para que eu perdesse a criança”.- Olhou para Takashi desacordado- “Nada de bom pode vir desse monstro”.

Eriol estava perdido em seus pensamentos. Essa enxurrada de informações o pegara de surpresa. Estava diante da mulher que trouxera Takashi, atacara Li, o salvou em seguida e tirou a vida de seu próprio pai e pior, estava grávida! De um meio-irmão seu... Perdeu o ar por incontáveis segundos. Não sabia como responder. O gemido do rapaz o trouxe de volta a realidade e sem encará-la por uma segunda vez fechou a cortina da tenda, e após verificar a situação do capitão, caiu em choro silencioso no canto do lugar. Precisava apenas ficar sozinho...

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“Maldita seja...”- A rainha cuspiu sangue após a garota lhe acertar em cheio pela quinta vez.- “Mil vezes maldita...”

“Renda-se Sayiuri”- Acertou-lhe outro golpe- “Eu fui treinada desde os doze anos. Você não vai conseguir me vencer”.

Alguns bravos soldados tentavam se aproximar das duas, mas Li não permitia. Era como um escudo protetor diante do trono.

“Acha que não sei lutar?”- Perguntou irada. O sangue manchou cada vez mais seu rosto antes bonito, escondendo como um manto vermelho todo pavor que sentia. Pela primeira vez em sua vida, sentiu medo. Medo de morrer...- “Acha que vai conseguir me derrotar?”.- A arrogância escorria em meio a suas palavras.

“Por que?”- Balançou a cabeça em sinal de indignação.- “Por que esse ódio Sayiuri?...Nós poderíamos ter sido...uma família”.

“Família?”- Riu histericamente- “Eu jamais poderia ser família de alguém que tem o mesmo sangue que Nadeshico...”.

“O que a minha mãe fez de tão grave?”- As esmeraldas sentidas.- “Por favor... eu peço perdão no lugar dela”.

“Perdão no lugar de uma morta?”- Ironizou- “Nem que ela voltasse do túmulo e se ajoelhasse diante de mim eu a perdoaria...O que lhe faz pensar que eu aceitaria as suas...desculpas...”.

“Como pode dizer uma coisa dessas?”.- Sussurrou.

“Ora menina tola, você jamais compreenderia...sempre teve tudo o que quis, nunca teve que lutar por nada”.- Tentou acertar Sakura que desviou do golpe com precisão apesar da conversa estar pesando em seu coração- “Menina mimada...”.

“Renda-se de uma vez Sayuri”- A voz firme de Li a abalou novamente dentro da própria arrogância. Sabia que estava perdendo. Não era burra. Se ao menos conseguisse ferir a princesa. Só precisava de uma chance de machuca-la para ver os tão confiantes olhos âmbares titubearem.

“Eu já me livrei de você uma vez”- Sorriu de lado- “Terei prazer em me livrar de novo, princesinha”- Levantou sua adaga contra a vida de Sakura mais uma vez, o mesmo objeto que fizera o sangue quente de Fujikata escorrer entre seus dedos. “Foi com essa adaga que seu pai morreu...”- Deliciava-se ao ver o mal que causava para a cópia de Nadeshico. – “O sangue dele escorreu aos poucos...dolorosamente...”

“Monstro!”- Gritou com raiva levantando a espada mais uma vez contra a vida da rainha enquanto Li lutava com alguns soldados que insistiam em interromper a luta das duas.

Mãe! Mãe! Mãe...

A voz apavorada de Akemi ecoou pela sala do trono como uma trombeta de guerra. Com muito medo, a garota arrastou seu vestido sujo e rasgado pelo mármore tingido de vermelho e mostrando seu rosto inchado, chamou mais uma vez pela rainha. Kerberus estava irreconhecível, mas curiosamente de pé com uma espada empunhada tentando protege-la do pesadelo que se tornara o tão suntuoso lugar.

“Akemi...Mas Como?!”- Arregalou os olhos confusa- “O que faz aqui?”.

A ruiva se colocou na frente de Sakura, como se pudesse impedir a guerra, como se fizesse a diferença naquele caos, e encarou seriamente a rainha.

“Você precisa parar com isso agora, mãe”.- Suplicou- “Por favor, essa não é você!”.

“Sai da minha frente, ou eu vou esquecer que você é minha filha”.- Rebateu nervosa, as vistas embaçando.

“Essa não é você!”.- Reafirmou elevando mais a voz.

“Essa sempre fui eu!”- Gritou sem se dar conta da atenção que chamava para si- “Sempre fui eu! Sabe o que eu fiz para chegar aqui? Sabe quantas vidas foram perdidas no meio do caminho?”- Cuspiu mais sangue- “Não sabe? Porque ao contrário do que você viveu, eu sempre tive que lutar...”.

“Você nunca lutou por nada”- Akemi perdera a compostura completamente atordoada pela matança no cenário- “Tudo o que você fez foi destruir todos ao seu redor por um ideal mesquinho...”.

“Depois de tudo”- A olhou apática- “Depois de te carregar por nove meses no meu ventre...”- Cuspiu no rosto da menina que se manchou com sangue e saliva- “Você saiu tão fraca quanto seu pai”.

“Nunca mais...”- Akemi deu dois passos para frente- “Nunca mais ouse pronunciar a presença do meu pai...”

“Akemi, já chega”- Sakura falou suave apesar da firmeza escondida em sua voz.- “Não vale a pena, ela...perdeu o juízo”.

“Vai aceitar ordens dessa assassina, agora?”- A rainha perguntou sarcástica olhando a expressão da filha mudar após o comando de Sakura.

“A única assassina que eu conheço aqui é você, mãe...”- Virou-se para o exercito ainda atônito e desbalanceado. Alguns lutavam bravamente, o sangue ainda tingia o chão de mármore, outros assistiam a cena com interesse como uma bandeira branca hasteada em meio do caos. O parlamento estava basicamente reunido em meio a guerra, tentando salvar a honra de Tomoeda com o pouco treinamento físico que tiveram. Entre o tintilar de espadas e os rugidos da batalha a voz doce soou como um alerta de tempestade. - “Sakura não matou o rei Fujitaka...”- Fez uma pausa segurando a respiração. Precisava fazer isso.- “Foi a minha mãe que o fez...E não só a ele, mas ela é a responsável pela chacina de Fukushima, e por tentar matar a verdadeira princesa e seus amigos”.

“CALA A BOCA AKEMI”- Sayiuri levantou a espada contra a própria filha- “CALA A SUA MALDITA BOCA!”.

“Ela me prendeu na torre e a Kerberus por tentar fazê-la desistir dessa guerra...Mas agora percebo que ela perdeu o juízo”.- Deu uma ultima olhada para sombra aterrorizante que substituía a beleza da rainha de horas atrás- “Ela não tem direito a esse trono. Nunca teve. Esse trono pertence a Sakura.”.

Aquela fora a gota d’agua, Sayiuri partiu para cima de Akemi que gritou apavorada dando alguns passos para trás, Sakura se colocou na frente da menina e atingiu a rainha nas pernas a fazendo se ajoelhar diante do trono de Tomoeda. Com as vistas embaçadas a rainha viu a tocha do sacrifico a Deus acesa ao lado da cadeira e com a pouca força que lhe restava derrubou o objeto derramando azeite inflamado por todos os lados. As cortinas pegaram fogo com rapidez, assim como os objetos de madeira. Um tapete de chamas rodeou a sala.

“Vou morrer, mas vou levar Tomoeda comigo... Nada sobrará nesse lugar, nada...”.

“Mãe!”- Akemi gritou ao ver que o fogo mais forte rodeava a rainha. Ajoelhou-se diante da cena, imóvel e chocada- “Mãe!”.-Queria que a mãe fosse presa, cuidada em alguma casa para loucos, mas vê-la queimar diante de seus olhos era algo completamente diferente.

“Estou vingada!”- A mulher gritava histericamente- “Está vendo isso Nadeshico? Tudo o que era seu VAI QUEIMAR”.

“Akemi!”- Kerberus tentava em vão alcança-la, mas as chamas o impediam de prosseguir. Colocou a capa na frente do rosto tentando não aspirar a fumaça.

“Precisamos sair daqui...”- Syaoran pegou o braço de Sakura na intenção de tirá-la de perto das chamas.

“Não posso deixar Akemi para trás”.

“O fogo está muito alto”- Ralhou em meio aos gritos dos soldados que tentavam sair do castelo.- “Precisamos sair agora”.

“Já disse que não vou deixa-la morrer!”.

“Você não tem escolha...”- Ele suplicou-lhe vendo o castelo basicamente derreter.

“Sempre há escolha...”-Respondeu em meio a um sorriso e dando meia volta desapareceu em meio a fumaça. Apavorado Li seguiu as sombras da menina gritando desesperadamente para que ela voltasse.

SSSSS Flash Back SSSSS

“Por favor senhor, preciso de uma informação”- O belo general sentado ereto no corcel negro se aproximou de uma pequena vila de pescadores. Coberto por um manto de linho vermelho deixando pouco de suas feições de fora, aproximou-se do velho.

O pescador o olhou curioso e um pouco assustado pela imponência da imagem a sua frente. Como um guerreiro-deus misterioso.

“Em que esse humilde pescador pode ajuda-lo, senhor?”.- reconheceu o símbolo real de Ueda na sela do cavalo.

Syaoran olhou para o horizonte buscando forças para formular sua pergunta. Chegara tão longe, se arriscara tanto.

“Há alguns meses atrás uma moça caiu no rio e... Não sabemos o paradeiro de”.- Pigarreou- “dela...Talvez o senhor saiba alguma coisa”- O jovem não precisava olha-lo para o pescador perceber a nítida tristeza que se apossou dele.

“Não faz muito tempo, o médico da vila socorreu uma moça ferida”- Disse receoso- “Mas soube que ela não resistiu aos ferimentos”.- O encarou com medo- “Ela está enterrada no cemitério da vila, talvez gostaria que eu ... o levasse”.

Por mais que soubesse que havia perdido sua princesa para sempre. Por mais que soubesse que sua vida perdera o sentido naquele dia cinzento... Por mais que soubesse que as mesmas aguas que lhe trouxeram sua maior preciosidade, a tiraram para sempre. Escutar que ela realmente havia partido ainda o matava. Procurara por todas as vilas litorâneas, mas era muito coincidência, não havia mais duvidas...

“Se o senhor puder fazer esse favor”- Disse por fim engolindo as lágrimas.

O pescador o guiou até as margens de um lindo campo florido e apontou para uma pequena lapide de pedra enfeitada com margaridas. Sem se conter ajoelhou-se diante do tumulo e tocou as flores.

“Deveriam ser cravos silvestres, do jeito que você gostava”- Sentiu os olhos húmidos. Pensou que não tivesse mais forças para chorar, mas estava enganado. Estar diante do tumulo do amor de sua vida era sem duvidas o momento mais doloroso de toda sua existência. Nada até agora se comparara a isso.- “Me perdoa Sakura...Me perdoa meu amor, por não poder te ajudar...Por ter falhado com você...Por não conseguir chegar antes”- Lágrimas e mais lágrimas alaranjavam os brilhantes âmbares- “Nem um funeral descente eu pude te dar”- Tocou a pedra.

“Ela deveria ser muito importante para o senhor...”.- Sentia-se triste por aquele belo rapaz, que agora chorava compulsivamente.

Ele não teve forças para responder, e ao invés disso, levantou-se deu as costas em silêncio, mal sabendo que chorara não no túmulo de sua princesa, mas na lápide de sua salvadora Kaho Misuki.

“Esse médico ainda mora aqui?”- Perguntou, após alguns minutos, tentando manter a compostura.

“Ele saiu não tem muito tempo...Não sei quando eles voltam”.

“Eles?”.- Levantou uma sobrancelha.

“Sim, a esposa e creio que a prima da esposa que há alguns meses mora com ele”.

Acenou de leve e depositou algumas moedas nas mãos do homem que se assustou com o valor do tesouro.

“Obrigado por tudo”- Foi a ultima frase que disse antes de partir. Em seu intimo planejava após o grande torneio de Ueda voltar para carregar de cravos silvestres o descanso eterno de seu coração.

SSSS Fim do Flash Back SSSSS

E então tudo ficou escuro...Como um labirinto negro, não conseguia enxergar nada a sua frente. As vozes pareciam irreais, o mundo girava em câmera lenta, sentiu-se zonzo. Tossiu um pouco voltando a realidade ao sentir um balde de água gelada cair sobre si.

“Fica esperto, priminho”- A voz brincalhona de Meyling o trouxera de volta. Ela havia, passado da muralha ao norte e junto com o exercito e os linces da montanha, lutava para extinguir o fogo. Estava aliviado ao vê-la, mas o medo perder Sakura novamente o travara dentro de seus próprios pesadelos até que ouviu a voz doce perto de si novamente.

“Me ajude... Ela é muito pesada”- Pediu ofegante carregando a ruiva desacordada para fora da sala do trono. Kerberus vinha logo atrás, mancando.

Ele segurou Akemi desacordada e encarou a princesa suja pelas cinzas. Nunca vira uma cena tão linda em toda sua existência.

“O que faremos agora, princesa?”- Um dos soldados de Tomoeda se ajoelhou diante de Sakura, reconhecendo sua autoridade, seguido por vários outros.

“Salvar o que pudermos”- Encarou Li e sorriu de leve- “Salvar nossa amada Tomoeda”.

SSSS Flash Back SSSS

“Isso não teve graça nenhuma!”- A voz firme do comandante machucou seus ouvidos – “O que passou por essa cabecinha oca, posso saber?”- Estava tão nervoso que não conseguia controlar os próprios pensamentos.

“Eu não fiz por mal, eu só...”- A princesa tentou se explicar- “Queria salvar Tomoeda”.

“Salvar Tomoeda?”- Riu alto- “Se pendurando no balcão?”- Suspirou- “Você não tem ideia do que passou pela minha cabeça”.

“Eu ouvi alguns barulhos estranhos e eu achei que... Achei que minha mãe corria perigo!”.

“Você poderia ter me chamado”.

“Você nunca teria deixado eu subir lá. Não me deixa fazer nada”.- Cruzou o braço.

“Eu que não deixo?”- Levou a mão a cabeça- “Você que tem uma mania louca de se colocar em perigo o tempo todo”.

“Parece um velho ranzinza. Só tem 19 anos e age como se tivesse 70!”.

“E você com 16 e age como se tivesse oito?!”.

Ela revirou os olhos e bufou irritada.

“Um dia eu vou salvar Tomoeda”- Murmurou- “Com ou sem você”.

“Se sou tão ‘dispensável’ assim, então acho que devo me retirar do meu papel de seu protetor, alteza”.- Doía dizer-lhe aquilo, mas se fosse o que ela queria...

“Você não é dispensável Syaoran”- Baixou o tom de voz, um pouco preocupada ao ver que ele estava realmente chateado. – “Mas as vezes me sinto como um passarinho solitário preso dentro de uma gaiola dourada. Ninguém nunca espera nada de mim”- Cerrou os punhos- “Isso é frustrante. Só porque sou mulher e...princesa... as pessoas acham que não posso fazer nada”.

“Eu nunca achei isso de você”- Passou as mãos nervosamente pelos cabelos os bagunçando ainda mais.

“Mas não me deixa fazer nada legal”.

“O que você chama de legal, eu chamo de arriscado”.

“Syaoran”- Aproximou-se dele- “Você realmente tem um alma velha”.

Ele sem pensar a abraçou puxando-a mais para si.

“Você ainda vai me deixar de cabelos brancos”.

“Não”- Ela sorriu mordendo os lábios- “Um dia nós dois estaremos juntos de cabelos brancos”- Deu-lhe um beijo na bochecha fazendo o coração do rapaz acelerar- “E quando eu digo juntos, eu realmente quero dizer isso”.

“Princesa eu...”- Fechou os olhos aspirando o maravilhoso perfume dos cabelos dela- “Melhor nós irmos, está ficando tarde”.

Ela o olhou com um sorriso provocante e saiu correndo.

“Só se você me pegar...”.

E após uma gargalhada alta e de dar alguma vantagem, correu atrás de sua princesa. Do alto da torre, uma debilitada rainha ao lado de seu marido assistia a cena com um sorriso doce.

“Você precisa dar um jeito nisso, Fujitaka”- Deitou a cabeça nos ombros do rei- “É muito tempo torturando esses jovens apaixonados”.

SSSS Fim das Lembranças SSSSS

“Esse é o ultimo”- Li comentou ajudando um rapaz que mancava entrar na tenda de Eriol. O lugar que fora preparado para receber os feridos do exercito de Ueda, agora era um Hospital e abrigava os dois reinos.- “Você viu a princesa?”.- Perguntou para o amigo que examinava a ferida na perna do soldado.

“A vi com Mey Ling perto da tenda das mulheres”- Comentou casual- “Falando nisso, a situação de Takashi não é das melhores”.- O encarou seriamente- “Chiharu está com ele...”- O incomodo na ultima frase era palpável, mas depois conversaria com ele sobre isso.- “Se quiser vê-lo, é o terceiro leito na quarta tenda”.

Assentiu e saiu da tenda observando o cenário a seu redor. Olhou para o castelo ao longe. Fumaça ainda subia ao céus deixando o alaranjado do amanhecer tingido e nostálgico. Mal conseguia acreditar que aquele pesadelo havia finalmente acabado. Seguiu até a tenda do amigo e encontrou Chiharu dormindo na cadeira. Tocou no ombro dela que levantou-se assustada em posição de defesa.

“General Li” – Esfregou os olhos- “Eu...só...”.

“Como ele está?”- Impediu que ela começasse a se explicar.

“Mal...Respira do dificuldade”- Comentou tocando carinhosamente os cabelos negros do rapaz.

“Ele vai ficar bom”- Não soube se disse para ela, ele, ou para o próprio Takashi- “Ele é um homem muito forte”.

“Ele tem que ficar bom”- Sussurrou.

“General?”- Um soldado entrou na tenda procurando por Syaoran- “Acho melhor o senhor vir conosco”.

“Aconteceu alguma coisa?”- Perguntou imediatamente ao sair da tenda.

“É a rainha...digo a ex-rainha de Tomoeda. Não achamos o corpo dela em lugar algum. Há muitos corpos queimados, irreconhecíveis mas...”- Fez uma pausa- “Havia uma saída secreta por baixo do trono”.

“O que?”- Perguntou mal acreditando nos próprios ouvidos. Aquilo não seria possível, seria?

Então o som mais horrível que já cruzara seus ouvidos estourou pelos ares. O grito apavorado e dolorido do amor de sua vida.

Continua...


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Notas finais do capítulo

N/A: Deus esse capítulo demorou para sair. Perdi a inspiração, depois ela voltou, depois eu perdi de novo... E eu estou gravidíssima de 5 meses, e no começo passei tal mal que só de olhar na tela do celular eu ficava enjoada.



Me perdoem pelos erros de digitação, eu acabei não revisando o capítulo.



E aiii???



O que acharam???



Próximo capitulo será o ultimo capítulo!!





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