Escudo escrita por Melzinha


Capítulo 16
Capítulo XVI "Brisa e Cinzas"




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Escudo

Capítulo XVI

Por Mel

Brisa e Cinzas

Dor...Era tudo o que conseguia sentir e seus ferimentos não tinham nada a ver com isso. Dor...Era tudo o que conseguia pensar, ao ver Takashi ser gravemente ferido diante de seus olhos. Chiharu olhou para si mesma e teve nojo de quem era...Nojo do que viu...Observou a expressão duvidosa de Sakura que apesar de firme, mostrava misericórdia e uma certa pena e um rastro de culpa transpassou seus olhos. Talvez merecesse a pena dela...Talvez merecesse a pena de todos. Sentiu seu orgulho quebrar ao poucos. Como pôde se enganar tanto? Como pôde fazer o que fez?

Olhou para os céus por um segundo. Se o Deus que sua avó tanto falava realmente existia, era o momento de suplicar...Pediu mentalmente por uma ultima chance de fazer as coisas darem certo...

Uma única chance...

Vendo o pânico e a dor estampada nos olhos chocolates, Sakura não conseguiu proceder e abaixou a espada tentando assimilar o que acontecia com a até então sua feroz adversária. A encarou curiosamente e viu algo diferente na expressão quebrada da menina... Lágrimas caiam pelo rosto branco como uma cachoeira de emoções diante da morte iminente...

Aquilo não era apenas medo...Era arrependimento puro, derretido...

Lembrou-se por um momento das águas que mudaram sua vida e teve uma imensa compaixão pela jovem, ela parecia tão perdida dentro da própria alma que duvidava que a morte pudesse lhe amedrontar, talvez fosse até um remédio... Uma saída daquela prisão de ressentimento.

Novamente o grito de Yamasaki explodiu no meio do tintilar de espadas como o uivo de um lobo perdido em dia de lua cheia. Syaoran lutava com três capitães de uma só vez tentando chegar ao amigo...O batalhão de Meyling e os ‘linces da montanha’ ainda estavam detidos na entrada norte e os outros soldados do exercito de Ueda lutavam bravamente por seus ideias com toda a convicção que Tomoeda perdera depois do discurso da princesa. Alguns soldados se renderam livremente sem ao menos tentar lutar.

“Obrigada”- Chiharu sussurrou enquanto cambaleava em direção a seu até então general.

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“Escutei que vieram de Tomoeda”- Ela começou amistosa vendo os três prepararem as armas.- “E que eram os melhores lá”.

“As pessoas falam muitas coisas”- Li limitou-se a responder- “E nem sempre elas são verdade”.

Por um momento a ruiva vacilou diante da beleza daquele homem á sua frente. Poderia jurar que era o homem mais bonito que já vira na vida. Corou um pouco tentando se concentrar. Os ambares escurecidos deixava bem claro que ele não estava nenhum pouco a fim de conversar.

“Diga por você meu amigo”- Takashi abraçou Syaoran de repente e lhe sorriu- “Meu nome é Takashi Yamaski”- Estendeu a mão- “Melhor arqueiro do universo”- Sorriu fazendo referencia.

“Melhor arqueiro?”- Ergueu uma sobrancelha- “Sério?!”.

“Se você quiser depois do treino eu posso mostrar como sou bom em acertar o alvo”- O sorriso genuíno exposto no rosto o tempo todo.

“Takashi!”- Meyling bateu firmemente na cabeça do rapaz arrancando risadas altas de todos.

“Que foi?!”- Passou a mão na cabeça dolorida- “Essa doeu...”.

Ignorando o amigo, a morena estendeu a mão para a outra amazona.

“Meyling Li”- Se cumprimentaram- “E esse aqui é o Syaoran Li”- Apontou para o primo que mantinha-se indiferente a conversa.

“Li? São casados?”- Ela perguntou de repente assustando o rapaz que deixou a espada cair.

“Não. Somos parentes. Primos e nos tratamos como irmãos”- Respondeu por ele.

“Entendi”- Não pôde evitar o sorriso de satisfação.

Syaoran olhou para ela intensamente e ela perdeu um batimento. Como alguém possuía olhos tão bonitos? Eram quase dourados. Aquilo existia mesmo?

“Aonde está o seu supervisor?”- Perguntou seriamente.

“Na...Na..”- Gaguejou um pouco- “Na sala atrás da torre”.

“Obrigado”- Limitou-se a dar as costas e sair de lá.

“Não se preocupe”- Takashi disse – “Ele pode parecer uma geleira por fora, mas por dentro é a melhor pessoa que eu conheço. Só acabou de passar por um trauma recente muito grande, mas nada melhor do que o tempo para fechar uma ferida”.

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Chiharu fechou os olhos. Desde sempre fora Takashi a lhe consolar, a lhe dar atenção. Era tão claro o desinteresse de Li por ela que agora sentia-se uma idiota por tudo o que fizera. Mesmo que tudo fosse diferente, tinha a sensação que jamais seria feliz ao lado do formoso general.

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“Como me achou?”- Perguntou entre lágrimas evitando olhar para o rapaz.

“Eu...Sempre soube que você vinha para cá”- Limitou-se a responder. Mal sabia ela quanto tempo ele a observava de longe.

“Ele a ama, não ama?”- Perguntou após alguns segundos de silencio- “Nunca vi os olhos dele brilharem tanto”.

“Chiharu”- Takashi começou calmamente sentando-se ao lado dela debaixo da grande arvore milenar- “Sakura sempre foi tudo para ele. Desde quando era pequeno. Não sei se você conhece a história toda, mas a princesa quando pequena caiu nas correntezas e ele pulou para salvá-la sem ao menos conhece-la... Naquela época ele jamais imaginaria que tudo isso iria acontecer, mas eles se amam desde sempre. Se amaram desde o primeiro momento de uma forma impossível de evitar”- Tocou as mãos da ruiva- “Vi Syaoran morto dentro de um corpo que respira por todo esse tempo... Eu não poderia estar mais feliz por eles agora. Sakura é uma pessoa muito especial. Dê uma chance a ela e tenho certeza que poderão ser amigas”.

“Princesas não se relacionam com militares”- Rebateu contrariada.

“Ai minha querida”- Suspirou- “O amor verdadeiro supera qualquer barreira...”- Fez uma pausa- “Mas eu sei como está se sentindo. Amar sem ser correspondido é algo que ninguém deveria passar”- Terminou a frase olhando profundamente dentro dos olhos dela.

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E pensar que nunca se sentira amada na vida ,quando na verdade Takashi a amou desde o primeiro instante... E por esse pensamento cego e egoísta deixou-se envolver na teia de elogios e sedução de Spinel. Tocou seu ventre. Há quinze dias suas regras estavam atrasadas...E sabia que tinha uma grande chance de estar com uma criança em dentro de si. Olhou para a cena a sua frente e encheu-se de coragem.

Ninguém a deteria...Porque ela era uma deles e antes que Spinel pudesse dar o golpe fatal em Takashi, ela o atacou primeiro pelas costas... O pai de seu filho morreria por suas próprias mãos. Que cruel destino.

No fundo sempre seria isso, uma grande traidora.

Ao sentir a lamina afiada cortar sua carne e atravessar suas entranhas, Spinel uivou de dor caindo de joelhos diante de Takashi que tentava conter a hemorragia de seu próprio abdômen.

“Sua...rata...”- Cuspiu sangue tentando se colocar de pé- “Prostituta sem linhagem...”- Amaldiçoou-a sentindo sua visão turvar.- “Traidora...Não passa de uma traidora vil”- Mas de que adiantava gritar agora? Não tinha mais forças para ficar de pé... Não acreditava no que acontecia. Viu de maneira distorcida Chiharu se ajoelhar na frente do capitão de Ueda aos prantos.

“Takashi....”- Chorou tentando conter a hemorragia do moreno e sentiu o coração fisgar ao ver o espanto nos olhos negros.- “Takashi...por favor...Não morra...”.- Colou seus lábios no dele- “Me perdoa...por favor...me perdoa...eu”.

“Chiharu...”- Sussurrou docemente fazendo um esforço fora do comum para não chorar- “Eu sempre soube...”- Tossiu sangue assustando ainda mais a menina- “Que havia uma mulher...incrível....dentro de você”.

“Essa não é hora para se despedir ainda amigo”- Sakura se aproximou da cena e olhou significativamente para a amazona- “Vamos...me ajude a leva-lo até Eriol”.

“Aonde pensa que vai?”- As mãos de Spinel agarraram a trança de Sakura que gritou surpresa caindo para trás. Chiharu se desestabilizou e Takashi caiu no chão gritando de dor ao sentir a ferida abrir mais. Milagrosamente o general de Tomoeda estava de pé, com os olhos inflamados de ódio e a espada ainda encravada em seu corpo. – “Se eu morrer princesa você vai para a cova junto... comigo”.

“Nem em seus sonhos”- A voz de Li atrás dele o fez tremer como bambu diante da ventania. Jamais admitiria a derrota. Olhou para ele e para seu horror viu os três capitães que atacavam o jovem, mortos diante de seus pés.

“General...devo admitir que tem fibra”- Sorriu de lado colocando a garota a sua frente que tentava bravamente se soltar do aperto firme. Uma puxada mais forte e a espada que o consumia atravessaria o coração de Sakura sem esforço.

“Solta ela, sua briga é comigo”.- Ameaçou apertando a mandíbula. Seus piores medos passando diante de seus olhos. Usarem ela como refém para destruir sua sanidade.

“É mesmo?”- Apertou o braço da princesa tão forte que ela gritou de dor, fazendo o coração de Syaoran acelerar sem aviso.

Sentindo o pânico nos olhos ambares, Spinel tentou colocar a princesa contra si no intuito de desestabilizar mais ainda o guerreiro, sabia que não tinha chance ferido daquele jeito, mas levaria aquela menina para o mundo dos mortos... Mas em um golpe surpresa Sakura passou uma rasteira lhe derrubando de costas, assim que afrouxou o braço para reposicioná-la e a espada lhe rasgou mais profundamente.

“Ratin..nha...”.- Xingou.

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“Escute bem, princesa”- Ele tentava manter a paciência, mas não conseguia. Toda vez que aquela menina estava a seu lado seu coração acelerava e a dor de cabeça piorava tanto que tinha vontade de gritar. Não sabia porque tinha que treiná-la justo em seu batalhão.- “Se o adversário a pegar dessa maneira”- Segurou os braços delicados por trás- “A sua arma será os seus pés”.

“Como vou me virar?”- Perguntou contrariada sentindo a pele queimar no lugar que ele a segurava.

“Use a intuição”- A encarou seriamente- “Haverá um momento que ele baixará a guarda ou afrouxará o aperto. São segundos...Venha. Segure-me, irei lhe mostrar”.

Ela o segurou e Li teve que se conter para não rir.

“Se me segurar assim, não preciso nem me virar”- Debochou.

“Não consigo segurar você mais forte. Tenho medo de machuca-lo”.

“Não vai”- Por um instante os olhos ambares brilharam. Aquela preocupação toda o derretia.

“Certo”- Torceu a boca e lhe segurou o mais forte que pôde e quando por um momento baixou a guarda sentiu as pernas dele tirarem seu ponto de equilíbrio, mas quando ia tocar o chão, os braços do general amorteceram a sua queda. Ele estava tão próximo que o hálitos se misturaram. O encantamento que se seguiu foi inevitável. Como se os verdes mares banhassem as areias douradas do deserto.

“Entendeu?”- Perguntou quebrando o clima antes que a beijasse ali mesmo.

“Entendi Syaoran...”- Sentou-se com a ajuda dele e mordeu os lábios sem perceber o quão tentadora para ele era aquela atitude- “Digo, General Li”.

Por um instante o seu coração doeu ao ver o estranho desapontamento dentro dos olhos esmeraldas e tentou ignorar completamente a sensação cálida que lhe apoderou ao escutá-la chamar-lhe pelo primeiro nome.

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“Eu já disse e vou repetir”- A princesa sacou a espada e apontou para o rosto de Spinel- “Esse é o meu reino...E eu vou pegá-lo de volta e ninguém vai me impedir”.

“Você pensa... que... aca...bou?”- Sorriu sarcástico cuspindo sangue. Mesmo diante da morte o olhar arrogante o perseguia.

De repente Chiharu gritou desesperada por ajuda ao ver Yamasaki perder os sentidos em seus braços. Li e Sakura correram apressadamente até eles.

“Você precisa leva-lo até Eriol o mais rápido possível”. – Li disse preocupado vendo o rosto do melhor amigo perder a cor.- “Aguente firme Takashi. Você vai ficar bom, meu amigo”- A voz de Li saíra tremida, dolorida...

“Não o aguento”.- A ruiva declarou após tentar levantá-lo.

“Você é uma guerreira treinada Chiharu Mihara”- Lembrou-a- “As frases ‘não consigo’ , ‘não posso’ ou ‘não aguento’ não existem no nosso repertório”.

“Como podem ainda me tratar assim?”- Perguntou chorosa- “Depois de tudo o que eu fiz?”.

“Você errou muito, mas também acertou...”- Sakura olhou para Spinel agonizando no chão.- “Anda rápido!”- Viu a ruiva concordar e com toda a força que tinha colocar Takashi nas costas.

“Say...sayur..Sayuri”- O general clamava em seu leito de morte- “Say...Say...”.- Sakura o olhou com pena. Será que tantas pessoas precisavam sofrer desse jeito por causa da loucura de uma mulher?

A luz fraca emitida pelo por do sol transformou a imagem da princesa diante dos olhos turquesas que já não viam com clareza.

“Na-de-shico?”- Balbuciou assustado como se percebesse que a morte o levaria a qualquer instante. Como um anjo negro vindo tragar seu espirito. Seus pensamentos subiram, viu a vida passar diante de seus olhos.- “Você veio me...buscar...?”.- Sorriu de lado sentindo a morte- “Sayiuri...vai...ven...ven...cer”- Foi a ultima frase de devoção que deixou os lábios do general.

Uma angustia fora do comum invadiu o coração da princesa enquanto ela observava o seu amado reino queimar diante de seus olhos. As cinzas escureceram o dia antes do tempo e tudo o que conseguia ver eram as luzes do palácio brilharem em meio da escuridão.

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“Trago más noticias majestade”. – Um dos soldados falou temeroso observando a rainha devanear olhando pela janela do balcão. A conversa que tivera com Akemi só lhe servira para confirmar aquilo que já sabia...Sua filha era uma traidora e merecia o destino de todos os traidores... Ainda escutava a voz de sua única herdeira a chamar de louca repetidas vezes. Tudo porque ela resolveu se apaixonar por aquele soldado ridículo... Se soubesse que isso aconteceria, já teria casado Akemi com algum lorde rico.

“Nada pode ser tão grave assim”- Comentou sem sequer olhá-lo. Brincava com a adaga de Fukushima em sua mão como uma espécie de amuleto...esperando o momento em que a cravaria no coração de Sakura diante de todos. O grande momento em que triunfaria.

“Spinel Sun...O general... morreu”- Falou de uma vez ainda ajoelhado diante do trono. Um espasmo muscular transpassou os olhos da rainha que encarou o soldado sentindo a ira inundar seu corpo.

“O que disse?”- Perguntou com a voz baixa, quase um sopro. O primeiro sinal de abalo daquela grande mulher em meses.

“O general Spinel foi ferido e morto... A princesa e os soldados de Ueda seguem para o palácio. O que deveremos fazer majestade?”.

“Deixe-os vir”- O mesmo olhar perdido de antes.- “Deixe-os entrar”.

“Mas majestade...eles-”

“Vão cair na nossa armadilha. O plano continua o mesmo. Os soldados permaneçam em volta da sala imperial. Quero a princesa e o general presos na torre ainda essa noite”- O encarou maliciosamente- “Hoje teremos a maior fogueira que Tomoeda já presenciou...”.

“Como quiser, majestade”- Disse por fim evitando encarar a rainha.

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“Rápido!”- Li ordenou vendo os soldados escalarem os muros do palácio com cordas especiais e sapatos com travas de ferro obtidos por um artesão da cidade.

“Mey Ling ainda não chegou”- Sakura comentou preocupada escutando os gritos ecoarem pelos muros da cidade.- “E se-”

“Ela vai ficar bem”- Ele lhe assegurou mesmo quando seus olhos lhe diziam o contrário.

“Syaoran eu nunca vou me perdoar se....”

“Shiiii”- Ele pegou o rosto dela entre suas mãos- “Vai ficar tudo bem...Essa guerra é nossa”.

Ela queria muito acreditar que aquilo era verdade.

Muito mesmo.

“General!”- O grito estrondoso de um dos soldados- “Não há ninguém aqui”.

“Isso é estranho”- Li balbuciou para si mesmo. – “O soldados jamais desprotegeriam o castelo em meio a uma invasão, jamais”.

“Parece que todos os guardas estão na entrada norte. O palácio está completamente livre para invasão”- Um outro falou pela fresta do muro.

“Isso não me cheira bem”- Comentou incomodado. – “Nenhum pouco”.

“Estão todos esperando suas ordens, general”.- Um dos capitães comentou. Milhares de olhos voltados para si.

Ele suspirou e olhou para a princesa.

“Invadam”- Disse por fim- “Cerquem todas as entradas, verifiquem se há soldados perto dos muros e da torre...e cerquem a sala do trono por fora”.

“O que acha que está acontecendo?”.- Ela perguntou desconfiada.

“Parece que Tomoeda está se rendendo por conta própria”.- Falou baixo tentando achar uma boa explicação.

“Há algo errado...” Encarou as pedras da muralha- “Meu coração está apertado”.- Deu uma ultima olhada por cima de seus ombros antes de entrar pela porta levadiça recém aberta pelo exercito de Ueda. – “Por favor Mey Ling....Fique bem”.- Sussurrou

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“Akemi....Akemi meu amor...fala comigo”- A voz distante ecoou em sua mente como um sonho.

“Não quero falar com ninguém Kerberus”- Ela mantinha os braços trazendo os joelhos para perto de seu tronco. Desde a conversa com a mãe permanecia encolhida na mesma posição.

“Você precisa reagir...”- Ele suplicou impaciente detestando vê-la prostrada em suas próprias amarguras.

“Eu não quero reagir”- Levantou o rosto dando-lhe uma boa visão do estrago que a mãe lhe causara. O lado esquerdo estava inchado e havia sangue seco no canto de sua boca.

“Tem uma guerra acontecendo lá fora e não há guardas guardando a torre...”

“Eu não me importo”- Rebateu.- “Nada mais me importa”.

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“Mãe, ainda dá tempo de parar com tudo isso. Sakura é a herdeira do trono por direito, eu sei que você não é esse monstro que todos falam”.

“Monstro?”.- O olhar perdido não lhe mostrava muita coisa. Desde quando os olhos de sua mãe perderam a vida dessa maneira?- “Posso ser muitas coisas Akemi...Ambiciosa, gananciosa talvez um pouco má, mas... Monstro?”- Riu um pouco- “Essa é uma das coisas que eu não sou”.

“Me prova então. Mostra que você não é, mãe por favor”- Ajoelhou diante dela numa tentativa desesperada de comover a rainha- “Por favor”.

A bofetada que recebeu no rosto como resposta ecoou pelas celas da torre.

“Uma rainha jamais se ajoelha Akemi, jamais”- Bateu-lhe novamente sem dó- “Está agindo como uma plebeia irritante que não sabe o seu devido lugar”.

“Você é louca”- Lágrimas amargas escorriam pelo rosto machucado- “Perdeu completamente o juízo...”.

“Primeiro sou um monstro e agora sou louca?”- Balançou a cabeça- “Pensei que esse tempo de ‘castigo’ uma menina mimada como você teria pensado melhor nas suas escolhas, mas esse lugar infectou sua mente...”.

“Está me dizendo que vai continuar com isso e nos manter presos na torre?”.

Ela a encarou novamente com raiva e levantou a menina do chão com força. A altura parecida a permitia encarar sua filha com firmeza.

“Acho que você precisa de um tempo para pensar melhor...”.- Acariciou o rosto machucado de Akemi de forma doente.

“Majestade!”

A voz de um dos soldados interrompeu a conversa de família em meio as celas de ferro. Os olhos perturbados recaíram sobre o oficial de forma intensa.

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“Não se entregue desse jeito Akemi”- A voz de Kérberus saiu sofrida.- “Por favor...”.

“E lutar para quê?”- Resmungou- “Do que adianta sair daqui? Ela não me ouve...”

“Se existe alguém que pode chegar ao coração dela...Essa pessoa é você princesa. Não se conforme com o primeiro não”.

“De que lado você está?”- Perguntou machucada.

“Do de Tomoeda...”- Fechou os olhos- “Precisamos parar isso, não percebe?”.

“Você quer mata-la...”- Sussurrou compreendendo- “Por isso que você a trouxe aqui, não foi?? Você queria mata-la...”- Levantou-se furiosa encarando Kerberus com os olhos em chamas- “Ela pode ser um monstro, mas ainda assim é minha mãe”.

“Nunca pensei em mata-la Akemi”- Falou furioso- “Mesmo nessa situação horrível em que ela me colocou... Eu jamais pensei em mata-la...Não por falta de vontade, mas por você”.- Despejou- “Eu estou nessa cadeia...por...você princesa, será que está tão difícil de entender?”.- Olhou para o teto- “Eu realmente acreditei que ela pudesse te ouvir...Eu achei que...”- Balançou a cabeça- “Deixa para lá. Não importa agora...”.

A ruiva encontrou os olhos esverdeados e um mar de emoções contraditórias surgiu em seu coração. Ela queria salvar a mãe, mas queria salvar o reino...

“Eu te ajudo a arrebentar essa corrente”- Disse por fim se levantando- “Se houver alguma chance ainda de tentar parar com isso tudo... vamos tentar”- Comentou por fim procurando algum prego solto ou algo pontudo que pudesse usar de chave.

“Você pode presenciar algo que não queira...”.

“Vi meu próprio pai morrer diante de meus olhos por uma decisão de minha mãe...”- Ela evitava encará-lo- “Acho que já presenciei o bastante Kerberus...Muito mais do que eu gostaria...”.

Ele tocou a mão dela que se agitava ao tentar enfiar o prego no cadeado que o prendia.

“Vai dar tudo certo...De alguma forma, de algum jeito...”.

“Você é sempre tão otimista assim?”- Sorriu de lado.

“Só quando necessário”- Retribuiu ao sorriso escutando novamente o tintilar de espadas ecoar pela torre como uma sinfonia imperial.

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“O que está acontecendo?”- Syaoran perguntou nervoso vendo a sala do trono vazia.- “Aonde está a rainha?”.- Apontou sua arma para o único soldado que guardava o local.

Aquele silencio era um péssimo sinal. Seus pelos se arrepiaram de repente.

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“Você sente isso, filho?”- Shang perguntou com a voz baixa no meio da floresta.- “Isso é o ruído de um predador”.

“Não há ruído algum pai”- Respondeu no mesmo tom sem saber porque seu coração estava tão acelerado.

“Olhe seu corpo”- Ensinou- “Nosso corpo foi feito para sobreviver, por isso mesmo que não percebamos o nosso instinto nos leva a saber quando estamos em perigo, mesmo quando o cenário parece lindo”- Virou o corpo magro do menino em direção da pedra onde um leão da montanha os encarava.-“Apenas uma flecha certeira, e teremos comida para a semana toda, mas se não acertá-la...Seremos a comida do nosso predador”.

“Isso não tira meu medo”- Rebateu incomodado vendo o animal se preparar para ataca-los. Como faria com um pai manco?

“E não quero que o perca, porque o medo lhe dá respeito sobre a vida. Mas o excesso dele o torna um covarde”- Passou-lhe o arco- “Vamos...”.

E após três respiradas profundas concentrou-se e controlando o próprio coração, acertou o leão em uma flechada precisa.

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“Me procurando?”- A voz fria ressonou pelas paredes de mármore. – “Ora, ora não é todo dia que um belo e jovem general invade um castelo a minha procura”- Riu debochada- “Acho que estou lisonjeada...”.

“Sayiuri?”- Os olhos de Sakura se arregalaram quando a bela rainha se aproximava deles a passos firmes e lentos a encarando ferozmente.

“Olha se não é a nova versão de Nadeshico empunhando uma espada”- Riu novamente- “Que cena chocante, acho que estou tremendo...”.

“Está diante da morte iminente e ainda consegue ser tão fria, como pode?”- As esmeraldas faiscavam de raiva- “Como pôde fazer tudo o que fez?”- Deu dois passos para frente sendo impedida por Syaoran que a segurava. Sentia que havia algo errado naquela situação, só não sabia o que era. – “Matou meu pai, tentou matar a mim e aos meus amigos e destruiu Tomoeda em menos de um ano...O povo sofre por sua causa”.

“Não sei do que está falando”- Desdenhou de pressa dando as costas em sinal de desrespeito. A rainha sabia que os soldados estavam a postos apenas esperando um comando para atacar. Não podia se delatar na frente de seu próprio exercito. Não daquela maneira.

“Ainda tem coragem de negar?”- A voz sempre delicada explodiu em um grito nervoso- “Dissimulada...”.

Um barulho seco de metal tinindo chamou a atenção de Li.

“Ela não está negando porque quer te provocar, princesa”- Syaoran disse de repente se colocando na frente da garota- “Isso é uma armadilha...”.

“As vezes sua inteligência me surpreende. Se não tivesse tanto mau gosto para mulheres poderia ter chegado muito mais longe na vida”- Disse por fim fazendo um movimento com as mãos como uma ordem silenciosa. As cortinas caíram e milhares de soldados apareceram como em um passe de mágica.

“O que estávamos falando sobre morte iminente?”.- Levantou uma sobrancelha.

“Acha mesmo que...”- Li começou com os âmbares em chamas- “Que não esperaríamos algo assim? Que realmente acreditamos que depois de tudo iria se render com tanta facilidade?”.- Bastou essa frase para milhares de soldados de Ueda arrebentarem as portas e as janelas entrando em grande estilo na sala do trono.

“Vocês vão pagar por isso”- Disse nervosa- “Ataquem! Matem todos!”- Gritou e em seguida se virou para Sakura que apontava sua espada desafiadoramente em sua direção - “Acha que pode comigo?”- Perguntou furiosa erguendo uma adaga.

“Se não achasse”- A princesa falou bem de vagar encarando profundamente a rainha- “Não teria começado essa guerra”.

Continua...


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Notas finais do capítulo

N/A: Vocês me perdoam? Mesmo com o roteiro pronto na minha mão eu tive um bloqueio de como transformar a ideia em cena... Por isso que demorou tanto. Acredito que essa fic terá 18 capítulos + Epílogo então estamos quase lá! Não desistam de ler!! A todas as pessoas que comentaram, muito, muito obrigada! Espero que tenham gostado desse começo de guerra...Beijosss!!!



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