Escudo escrita por Melzinha


Capítulo 13
Capítulo XIII- "Amor Imenso"




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Escudo

Capítulo XIII

Por Mel

Amor Imenso

“Fazia tanto tempo que eu não o via sorrir desse jeito”.

A voz rouca ecoou pelo quarto luxuoso, chamando totalmente a atenção do rapaz para a porta. Por algum motivo desconhecido, o general aumentou ainda mais o sorriso se dando conta da verdade contida nas palavras de seu pai.

“Ainda não consigo acreditar que ela está aqui pai”- Observou pela janela a princesa passear pelos jardins com o bisavô. Pareciam falar de algo sério. – “E que ela voltou para mim de verdade...Que eu não estou sonhando”- Sorriu de leve- “Que ela existe de verdade...”- Os ambares levemente opacos- “E pensar que...”- Fechou o rosto de repente- “Que eu me esqueci dela...Como eu pude me esquecer ‘dela’ pai? Como?”- Passou as mãos nervosamente pelos cabelos como se aquela atitude pudesse retirar toda a sua frustração.- “Eriol disse que foi uma defesa do meu corpo...Mas ainda me custa entender isso e para falar a verdade, me sinto tão culpado por tê-la feito sofrer daquele jeito...”.-Cerrou os punhos- “A fiz chorar tantas vezes que perdi as contas, e tudo o que eu sempre quis, era fazê-la feliz”.- Sorriu de lado- “A vida chega a ser engraçada as vezes”.

“Vocês passaram por tantas coisas Syaoran...Essa só foi mais uma delas”.- Sentou-se na cama.- “Lembra-se do grande rio do qual a salvara quando ainda era uma menina?”.

“Como esquecer disso pai?”- Os olhos nitidamente entristecidos. Aquela pergunta soara pejorativa, quase maldosa, mas sabia que não foi a intenção do pai.

“Ele nasce nas montanhas do leste como um manancial de águas calmas submergindo do fundo da terra, plácido...tranquilo...”- Apontou para a janela- “Mas os obstáculos que encontrou em seu caminho aumentaram a força de suas águas até o tornar um dos maiores rios que cruzam essas terras e finalmente desaguar aqui, no mar de Ueda...”.

“Meu pai e sua grande sabedoria”- Sorriu de leve fechando a expressão em seguida. Balançou a cabeça um pouco sem graça. Como deixar suas próprias duvidas mexerem tanto com seus sentimentos? Agora pouco estava sorrindo sozinho lembrando-se dos beijos que trocaram naquela madrugada há três dias atrás. Do quanto que amava.

“O que foi filho? O que te aflige?”.- Perguntou ao notar a mudança nos olhos do rapaz.

“Tudo o que eu mais quis sempre foi ela...”- Falou de uma vez após um suspiro pesado- “Eu achava que o que eu mais queria na vida era me tornar general, mas eu estava totalmente enganado, porque quando pude realizar esse sonho...o fato dela não estar aqui mudou tudo para mim”- Olhou sinceramente dentro dos olhos do pai- “Sakura é a minha vida e sempre vai ser...”- Respirou fundo- “Mas eu tenho medo de algo ter mudado. Não sei explicar...Eu a amo tanto que se eu for pensar no tamanho do sentimento que eu tenho por ela chega a me faltar o ar...Mas talvez agora que ela vá ser rainha... ela precise de um príncipe de verdade ao lado dela”- Pronunciou a ultima frase com um dor tão profunda no peito que precisou se sentar.- “Alguém que possa verdadeiramente reinar ao lado dela”.- O encarou- “E para mim, vê-la feliz, sã e salva já é mais do que suficiente”

Viu um sorriso compreensivo brotar no rosto do velho ao retirar um pequeno objeto do bolso.

“Antes da rainha morrer, ela me entregou esse anel, filho”- Fez uma pausa- “Aquela noite em que fugimos, algo me fez coloca-lo no bolso... É uma peça muito especial... Pertenceu a tataravó de Sakura... É um anel de noivado”- Explicou rapidamente colocando o objeto nas mãos do rapaz.- “O anel que ela gostaria que um dia você pusesse no dedo de sua filha”.

“Como ela sabia?”.- Observou o belo objeto de ouro incrustrados de esmeraldas.

“Ela sempre soube...Assim como eu e o próprio rei, tanto que ele lhe deu um titulo para acabar com o seu senso de dever de uma vez por todas ”- Colocou as mãos nos ombros do filho- “Desde pequeno você demonstrou o que sentia por ela...e ela por você. Sempre foi tão reciproco e tão inocente e forte ao mesmo tempo. Não da para brecar ou apagar um amor imenso como esse.”.

SSSSS Lembranças SSSSS

“Mandou me chamar, majestade?”- Perguntou baixinho entrando nos aposentos reais a pedido da rainha, que tossiu fazendo um movimento com a mão para que se aproximasse.

“Shang...”- Tossiu- “Que bom que veio”- Os olhos verde olivas plácidos, como se aceitasse a chegada da morte.

Olhou para uma das damas que acompanhavam a conversa e pediu para que lhe trouxesse a caixa perolada que jazia em cima da mesa de apoio. Remexeu-se um pouco retirando uma chave que usava como pingente. Sentou-se com dificuldade e abriu o objeto revelando uma linda joia antiga. Estendeu o anel e depositou nas mãos do conselheiro de seu marido.

“Pertenceu a minha tataravó...”- Tossiu novamente.

“Eu não entendo, majestade. Por que está me entregando isso?”.

“É um anel de noivado”- Respirou fundo tentando recuperar o ar- “Eu tinha esperanças de ver o seu filho colocar no dedo de Sakura, mas infelizmente os céus vão me receber antes do que eu esperava”- Sorriu tristemente como se algo precioso houvesse se perdido em meio aquelas palavras.

“Não diga isso, majestade. A senhora vai ficar boa...”- Tentou conter as lagrimas, mas diante da imagem magra de olheiras profundas a sua frente estava difícil controlar o próprio coração.

“Quando vi Syaoran pular naquele rio sem medir consequências, a minha mente não estava reagindo da forma que eu gostaria”- Confessou antes de tossir- “Ele se entregou tão genuinamente aquele ato de coragem que era impossível não amá-lo pelo o que fez...Eu sempre fui tão grata a ele...E meu marido também”- Sorriu um pouco- “Ele foi treinado para estar ao lado da minha filha em todos os sentidos...”- Tossiu- “E como se Deus me presenteasse fez com que ele a amassa tanto quanto ela o faz...”.-Fechou as mãos de Shang com as suas- “Não deixe que ele acredite o contrário...”

SSSS Fim das Lembranças SSSS

“Mesmo assim, pai... Eu não passava de um simples soldado ainda quando ela lhe deu isso e -”

“Você nunca foi treinado para ser um soldado, Syaoran”.- O interrompeu- “Você foi treinado para ser rei um dia”.

Os olhos ambares se arregalaram de repente. Para ser rei? Ele? Como assim? Um plebeu sem berço?

“Isso é impossível”.- Balbuciou como se não acreditasse nos próprios ouvidos.

“Você recebeu treinamento diferenciado, aprendeu línguas, ciências...Estava sempre junto a família real e ao lado da princesa”.- O encarou- “O próprio rei o supervisionava e o motivava, isso nunca te pareceu estranho, filho?”.

“Por que eu?”- Perguntou incrédulo observando o brilho intenso do anel- “Sakura poderia muito bem ter escolhido um príncipe ou os pais dela terem arranjado um casamento mais proveitoso para Tomoeda”- Tremeu com o simples pensamento de vê-la com outra pessoa, apesar das verdades contidas em suas próprias palavras.

“Porque um verdadeiro rei não é escolhido por suas posses ou seu sangue nobre, mas pelo tamanho do seu coração. O rei Fujitaka e a rainha Nadeshico sempre souberam disso. Mais do que uma aliança de reinos, Tomoeda foi reinada sob a sombra do amor dos dois”.- Levantou-se com dificuldade- “Eu sei que vai fazer a decisão certa, filho. Não existe nada que pode separá-los agora a não ser você mesmo”- Fez uma pausa- “Se o rio não conseguir transpassar as muralhas de uma represa, lá ele fica...preso para sempre, não deixe nenhuma dessas duvidas prenderem a força do amor de vocês”.-O olhou com carinho- “Ah e tem mais uma coisa filho...Essa guerra é tão sua quanto dela”.

“Não quero que ela lute”- Respondeu ríspido mudando de humor de repente.- “Ela não pode se colocar em risco desse jeito. Não agora que eu sei que ela está viva e...”.

“Não pode tirar esse direito dela”.

“Eu sei, mas”- Levou as mãos novamente ao cabelo observando o lindo sorriso que ela dera para o rei de Ueda- “Eu já morri uma vez ao pensar que a perdi... Eu prefiro morrer mil mortes do que deixar que algo acontecer com ela novamente”

“Ela foi treinada para ser rainha, filho. O que você a ensinou juntamente com Mey Ling e Takashi foi muito mais do que defesa pessoal...”. – Respirou fundo- “Você a ensinou, sem saber que o estava fazendo, a liderar não só um exercito, como um reino...De um pouco de crédito a isso. Acredite nela. Acredite em vocês”.

“Estou vendo porque era conselheiro do rei”- Sorriu de lado.

“Não é só para dar trabalho que os velhos servem”- Brincou vendo o filho rir de leve e saiu do quarto do rapaz o deixando sozinho com os próprios pensamentos.

SSS Escudo SSS

“Levante-se”

A voz grave soou ao fundo como uma memória distante, como um sonho ruim.

“Eu falei...Levante-se”.

Um banho de água gelada a despertou de seus próprios pesadelos.

“Em pé!”- O homem falou entre os dentes- “General Spinel vai vê-la”.

Chiharu grunhiu tentando se mexer. A terceira noite naquela cela fechada e húmida não lhe fizera bem para seus pulmões. Sentia uma dor profunda nas costas e a tosse não lhe abandonara desde ontem.

“E o que ele gostaria de falar?”- Perguntou sarcástica tossindo- “Eu vim aqui lhe dar uma informação de ouro e ele me jogou na prisão...”.

“Não seja insolente”- Puxou-a pelos braços a colocando em pé- “Você fede...”- Comentou com cara de nojo.

“O que esperava?”- Os olhos castanhos encontraram os dele em sinal de desafio.

“Vejo que já teve tempo suficiente para pensar”- A voz de Spinel soou por trás do soldado, que imediatamente bateu continência.

“Pensar em que?”- Perguntou debochada.

“Mandei meus informantes para Ueda...A história que contou, procede... Você realmente acertou a cabeça de seu general e desertou”- Ele se aproximou perigosamente.

“Fez tudo isso para comprovar se eu estava falando a verdade?”- Havia raiva em sua voz- “Como pôde ser tão baixo?”.

“Convenhamos que uma ‘ajuda’ assim tão de ‘graça’ é de se desconfiar um pouco...Concorda?”- Fez um sinal para que soltasse as argolas de ferro que a prendiam contra a parede mofada.

“E agora? Estou livre?”.- Desdém escorria pela suas palavras.

“Defina livre...”- Riu de lado- “Você receberá seu dinheiro e suas coisas, e devolveremos o seu cavalo...”.

Ela mal podia acreditar nos próprios ouvidos. Achou que morreria na cadeia, mas havia algo na voz dele que não gostava. Um tom sarcástico, quase sádico. Algo oculto e sombrio que a fez tremer um pouco. Depois de se esticar, passou as mãos pelos locais que o ferro a prendia tentando aliviar a dor. Spinel indicou uma mesa de madeira antiga onde os pertences da jovem estavam colocados.

“Eu estava falando a verdade...”- Ela começou baixinho enquanto vestia sua armadura- “Seu filho marcha contra você junto ao exercito”.

“Ele não sabe lutar...”.

“O exercito não é formado apenas por soldados”- Pegou sua espada analisando-a como uma peça de ouro a ser comprada.

“Se ele marcha junto ao inimigo, inimigo ele é”.- Ele tentou parecer indiferente mas a voz dele demonstrava algo muito longe disse.

“Como pode ser tão insensível em relação a seu próprio filho?”- Perguntou incrédula.

“Para alguém que jurou lealdade a um reino, depois atingiu o próprio general por ciúmes da princesa e vendeu informações de guerra para o pior inimigo da coroa, você julga muito, não acha?”- A encarou vendo a jovem se retrair com seus próprios esqueletos mentais -“Hei! Aonde pensa que vai?”.- Perguntou ao vê-la se direcionar a saída carregando sua sacola com o pagamento.

“Embora daqui, recomeçar minha vida...Apenas o obvio. Já paguei demais pela informação que lhe dei”.

“Não senhorita...”- Sorriu bloqueando o caminho.- “Ninguém falou em sair daqui”.

“Mas eu pensei que-”- Ergueu os olhos assustados, encarando os frios azuis turquesa.

“Temos uma missão para você”.

“Missão?”- Ergueu uma sobrancelha.

“Andei pesquisando sobre você. Chiharu Mihara, capitã do exercito de Ueda, parte estratégica de todo esse plano ridículo de invasão”- Sorriu de lado.- “Darei uma chance de ouro para você... A senhorita capitã vai mostrar aos meus soldados qual a estratégia e forma de luta desse general de araque e-”.

“E porquê eu faria isso?”- O interrompeu cruzando os braços- “O acordo não foi esse. Você não é o todo-poderoso Spinel? O temido general de Tomoeda? Não precisa temer um ‘generalzinho’ de araque com metade da sua idade”.

“Acha que está em posição de exigir alguma coisa?”.- Deu dois passos para frente- “Você é uma moça desonrada, sem palavra... que desde pequena quis ser amazona... Acha mesmo que vai conseguir recomeçar a vida? Você pode comprar uma casa, plantar, criar animais ou sei lá... Mas sua reputação sempre a seguirá...Mais cedo ou mais tarde você será julgada pela traição a coroa...Ou acabará mofando sozinha enquanto planta arroz”- Grunhiu- “O que eu estou lhe oferecendo é liberdade...Pura e verdadeira”- Fez uma pausa- “Quando a guerra terminar, estará livre, vitoriosa e poderá decidir o que fazer, inclusive ficar...Como capitã do exercito de Tomoeda”.

“E se eu não aceitar?”.- Ela mantinha uma atitude altiva, mas o coração estava tão acelerado que tinha a impressão que o escutava ecoar por todo cômodo. Seu medo a traindo miseravelmente.

“Serei obrigado a machucar esse rostinho lindo”- Tocou na pele branca um pouco oleosa pela sujeira do lugar- “E mostrar o que acontecem com desertores”.

“Está me ameaçando?”- Colocou a mão na bainha da espada- “Não tem o direito de me ameaçar...Não sou sua subordinada e você não tem parte em Ueda para me denunciar”.

Ele lhe deu um forte tapa na bochecha. O canto da boca abriu e pequenas gotas de sangue escorreram pelo queixo branco. Ela levou a mão ao rosto e o encarou com raiva.

“Com quem pensa que está falando, mulher?”- Olhou para o soldado sentido os dedos estalarem- “Posso acabar com sua vida a qualquer momento...”- Levantou a mão para bater-lhe de novo, mas conteve-se- “Leve-a para a área feminina e certifique-se de que ela ficará lá”.- Ordenou ao soldado antes de sussurrar – “Você não tem escolha”. Fez uma pausa torcendo o nariz em seguida- “E providencia para que tome um banho...”.

“Certo, Senhor”- Falou rapidamente arrastando Chiharu para longe dali.

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“Está tão sério”- A voz doce se sua esposa invadiu o quarto o tirando de seus pensamentos – “Em que tanto pensa, Eriol?”.

“Está tudo tão confuso, meu amor”- Deu-lhe um beijo carinhoso na testa enquanto a sentia se aconchegar em seus braços.- “Descobrir que meu pai ajudou a essa tirana a fazer o que fez, apenas acabou de destruir a imagem que eu tinha dele...”.

A jovem de olhos ametistas conteve um gemido de satisfação ao sentir o marido envolve-la carinhosamente.

“Você não tem parte com ele, querido. Não pode se sentir culpado pelas ações de um homem como aqueles”- O encarou- “Pai é quem cria. Qualquer um pode ser um propagador de sementes”.

“Desde quando ficou tão entendida, sra Hiragizawa?”- Perguntou em um meio sorriso tocando os longos cabelos negros.

“Eu tenho um marido que me ensina muitas coisas”- Brincou sentindo as mãos dele sobre si. Um gostoso silêncio se formou até que o barulho de cascos de cavalos do lado de fora da janela relembrou-os da realidade.- “Vai mesmo marchar com o exercito, Eriol?”.

“Eles precisam de um médico, minha violeta...Além do mais, me sinto em divida de alguma forma com Sakura. Eu sei que salvamos a vida dela, mas o rei nos deu terras e o nosso peso em ouro como recompensa, além de ter nos convidado a morar no palácio...”.- Suspirou- “Enfim. Teríamos feito isso, mesmo se ela não fosse uma princesa...”.

“Você não está fazendo isso para de alguma forma provar algo, não é?”- Ela perguntou séria o encarando- “Você não é o seu pai”.

“Eu sei disso...”- Pegou o rosto delicado entre as mãos- “Não se preocupe meu amor, tudo vai dar certo”.- Beijou-lhe o topo da cabeça.

“Preciso lhe contar uma coisa”- Ela falou de repente como se quisesse mudar de assunto- “Estou quinze dias atrasada...”.

“Como assim?”- Perguntou confuso.

“Para um médico, você as vezes é muito lento”- Sorriu debochada- “Minhas regras não vêm há quinze dias...”.

Sentiu o chão sumir debaixo de seus pés e uma grande alegria tomar conta de seu coração. – “Você está...gravida?”- Sorriu como um bobo sem saber como agir diante daquela afirmação.

“Acredito que sim... o doutor é você!”- Sorriu mais ainda ao ver a reação dele.

“Meu Deus”- Beijou a barriga dela com carinho- “Por essa eu não esperava...Isso é...Uou... isso é...”.

“Eu sei...”- Soltou o ar com tudo- “Que belo momento para isso acontecer, não?”- Sorriu de lado demonstrando um pouco de ironia.

“Um filho”- Ele repetiu como se falasse uma oração- “Isso é muito mais do que eu esperava”.

“Está feliz?”- Perguntou insegura enquanto observava o teto decorado.

“Muito”- Afirmou com veemência enquanto a olhava carinhosamente- “Eu amo você”.

De repente em um acesso de lágrimas, Tomoyo levou as pequenas mãos ao rosto tentando conter inutilmente a enxurrada de sentimentos.

“Você não pode...ir...”- Chorou- “Não pode me deixar...sozinha... Não pode...Eu estou com tanto medo....Eu...”.

“Shiiii”- A trouxe para perto- “Eu vou ficar bem, Tomoyo...Vai ficar tudo bem, meu amor, eu prometo...”- Beijou-lhe a testa- “Nós vamos vencer essa guerra...Nós vamos criar o nosso filho juntos”.

“Promete? Que você vai voltar para mim?”- Perguntou com os olhos marejados o olhando profundamente.

“Prometo”- Falou firmemente, escondendo das lindas ametistas o medo que sentia de não poder cumprir a promessa.

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“Hei”- A voz grave a fez saltar assustada. Estava distraída lendo um dos pergaminhos que o bisavô lhe presenteara debaixo de uma cerejeira no meio dos jardins reais.

“Syaoran!”- Ralhou em meio a uma gargalhada- “Quando vai perder esse costume de me assustar?”.

“Não consigo evitar”- Sorriu de lado- “Além do mais você fica linda quando se assusta”.

Ela corou de leve olhando para qualquer lugar que não fossem aqueles intensos ambares que pareciam suga-las a qualquer momento.

“O que faz aqui?”.- Ela perguntou um pouco contrariada tentando esconder o quanto havia gostado da surpresa.

“Vim conversar com você...”- Sentou-se ao lado dela- “Atrapalho?”

“Você nunca me atrapalha Syaoran”- Falou docemente abrindo um sorriso sem graça ao perceber a intensidade que aqueles olhos lhe encaravam.

“Lembra-se quando muito antes de tudo isso acontecer você convenceu Takashi a dizer onde eu estava e adormecemos juntos na campina?”.

“Sim”- Ela respondeu de pronto. Aquela memória a perseguiu por tanto tempo.

“Naquele dia eu estava tão... confuso”- Começou de vagar- “Não pelo o que eu sentia por você, porque disso eu sempre soube”- Tocou com a ponta dos dedos o rosto bonito- “Mas pelo o que iria acontecer. Eu achava que logo seu pai escolheria um bom marido para você... E que você seria feliz, reinando em Tomoeda e eu sempre, independente de qualquer coisa estaria a seu lado”.

“Como pôde pensar algo assim? Eu jamais me casaria com outra pessoa”.- Falou incrédula o olhando firmemente.

“Isso era o que o meu coração egoísta dizia toda vez contra a minha mente...”- Respirou fundo- “E então tudo mudou. Seu pai me deu um titulo real e me abençoou como genro... E tudo o que eu queria foi dado a mim em menos de um minuto”- Beijou a testa dela- “E tirado de mim no minuto seguinte”- Olhou dentro dos olhos verdes tentando enxergar o coração de sua princesa- “No fundo eu gostaria que você fosse sempre aquela linda e doce menina que eu resgatei da morte na cachoeira. Que eu pudesse cuidar de você... e mantê-la debaixo da minha proteção para sempre...”-Levantou o rosto dela- “Mas eu não tenho esse direito... Tomoeda é sua... E eu sei que um dia quando tudo isso acabar você será uma excelente rainha”.

“Por que está me dizendo tudo isso?”.

“Por que eu amo você mais do que qualquer coisa na minha vida”- O pequeno coração perdeu um batimento- “E eu nunca imaginei que um dia eu estaria nessa situação que estou...Aprovando que você parta para uma guerra”.

“Quer dizer que-”- Arregalou os olhos.

“Você vai marchar ao meu lado para lutar pelo seu povo”.

“Nosso povo”- Ela o corrigiu emocionada- “Nossa Tomoeda, Syaoran”.

“Nosso povo”- Sorriu para ela sentindo os pequenos braços lhe envolverem em um abraço caloroso.

“Muito, muito obrigada”- Beijou-lhe rapidamente nos lábios.- “Eu amo muito você”.

“E você princesa não tem a ínfima noção do quanto eu amo você”.-Respondeu totalmente rendido a ela.

Um mês depois...

Por tanto tempo sonhara com aquilo e agora que a hora chegou suas pernas tremiam covardemente como as de uma raposa assustada diante da armadilha de um caçador. Mas não iria recuar, não agora...Não depois de tudo o que passou. As mãos tremulas em seu escudo mostravam seu estado emocional. Observou o objeto em suas mãos com certa admiração. As rosas e o grande leão da montanha entalhados em ouro lhe mostravam algo profundo. Aquele não eram o símbolo de Ueda e sim de seu reino, de seu povo, de sua Tomoeda.

Forjara um escudo próprio para ela, um símbolo real para que todos vissem que quem marchava contra a ditadura imposta por Sayiuri era princesa herdeira, a regente por direito...Mais do que um reino, mais do que uma guerra, mais do que vingança...Estava lá porque amava o seu povo com todas as suas forças.

Apesar de tudo, não podia negar que estava com medo, mas como dizia seu saudoso pai, ‘medo’ não é de todo ruim, porque te ‘protege’ e não é de todo bom porque te ‘priva’...

Suspirou pensativa tocando em sua armadura. A peça que vestia tinha sido projetada especialmente para ela. Baseada na tecnologia grega e romana da época de Cristo, o metal não era muito pesado e lhe permitia fazer movimentos precisos. Seus longos cabelos mel, estavam ordenados em uma grossa trança. Olhou para o pescoço e tocou de leve a parte do pingente que ficara com ela. Syaoran insistiu em lhe dar um outro, mas ela não quis. Aquele pequeno objeto a manteve viva. Não acreditava em amuletos ou coisas parecidas, mas o que aquele lobo trincado e poucas flores quebradas significavam, lhe dava forças para não jogar seu escudo no chão e desistir de lutar.

Escutou cascos de cavalos e observou a imagem imponente do general sobre o seu inseparável corcel negro. Com um movimento preciso subiu em seu cavalo e o encarou. Não precisava ser nenhuma vidente para desvendar o incomodo nos olhos âmbares. Uma profunda preocupação estava estampada em seu belo rosto.

“Ainda da tempo de desistir, princesa...”- Sua voz continha uma súplica contida.

“Eu vou ficar bem, Syaoran”- Sorriu docemente se aproximando até conseguir toca-lo com a ponta de seus dedos. Eles se encararam por alguns instantes, um misto de sentimento tão grande que não haveriam palavras suficientes para serem ditas naquele momento. Ele levou a pequena mão até sua boca e a beijou. O mundo parou por instantes só para os dois, até que a voz de Meyling lhe tirassem de seus devaneios.

“Tudo preparado general”- Observou Takashi e os quatro outros capitães acenarem com a cabeça. Encarou Sakura uma ultima vez antes de grunhir e atiçar seu cavalo. Ela sempre dava um jeito de fazer o que queria e ir para onde não podia... Ela era seu amor e sua perdição ao mesmo tempo.

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“Eu não posso Sakura, por favor...Não me peça isso de novo”- Seus olhos estavam apavorados com a insistente ideia da princesa de subir a torre.

“Mas Syaoran!” – Fez bico- “Eu sou a única garota do palácio que nunca subiu na torre dos candelabros. Não é justo”- Cruzou o braço. Mesmo com quinze anos parecia uma menina mimada, e isso o deixava louco e um pouco irritado.

“Porque você é uma princesa...Tenta entender isso! A torre dos candelabros não é lugar para você”.

“O que tem lá?”- O brilho curioso clareando as esmeraldas diante dele.

“Festas dos servos, alteza”.

“E por quê é tão proibido?”- O rosto contrariado se tornando tão atraente para o jovem comandante que era quase impossível controlar a própria respiração. –“Algumas ladies e lordes também participam, oras!”.

“Porque não é uma festa para a realeza...”.- O temperamento quase perdido.

“Mas você vai lá o tempo todo”.- Provocou.

“Porque eu sou um servo da coroa, Sakura”.- Suspirou pesado antes de encará-la- “E não vou tanto assim...Não gosto muito de festas”.

“Eu sei”- Sorriu- “Você nunca gostou muito de festas...”.

“Então por que me acusa?”- Pensou em recuar, mas a doçura dela o estagnou por completo bloqueando o movimento de suas pernas.

“Porque eu não gosto de pensar em você em festas com ...”- Fez uma pausa e corou de leve – “Com as servas ou ladies...Já não basta as damas de companhia atrás de você o tempo todo...”.

“Está com ciúmes?”- Levantou uma sobrancelha incrédulo. Como ela poderia pensar que alguma mulher algum dia se compararia a ela?

“Morrendo...”- Respondeu sinceramente arrancando um sorriso bobo do rosto do jovem. Mesmo sendo errado, o sentimento que nutria por ela era tão profundo que não conseguia brecar seu próprio coração.

“Não precisa ter ciúmes...Venha”- Pegou-a pela mão.

“Para onde estamos indo?”- Perguntou confusa.

“Para a torre dos candelabros”- Estendeu uma capa- “Cubra-se. Sei que normalmente ninguém se atreveria a mexer comigo, mas não quero dar a chance de algo acontecer com você”.

“Por que está fazendo isso?”- Perguntou de repente vestindo a capa.- “Se você agora mesmo disse que-”

“Para mostrar princesa que não há motivo algum para você ficar com ciúmes”.- Se ela soubesse que seus olhos e seu coração sempre tiveram dona.

“É inevitável Syaoran”.- Os olhos esmeraldas tão brilhantes quanto as estrelas.

“Digo o mesmo princesa”- Deixou escapar enquanto ajeitava o capuz sobre o rosto dela, recebendo um belo sorriso como recompensa.

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“Por onde vamos?”- Ela perguntou cavalgando a seu lado. Mantinham um ritmo lento e continuo. Observou Eriol em seu corcel marrom seguindo-os ao lado de Meyling. O olhar perdido e a expressão preocupada fisgaram-lhe o coração.

“Pelos bosques de Gifu”- Syaoran respondeu sério. A mandíbula cerrada. - “É a maneira mais rápida de chegarmos as montanhas”.

“Sente esse cheiro?”- Ela perguntou de repente enrugando o nariz.- “Parece algo queimando...”.

“FOGO!!”- Um dos soldados da comissão de frente gritou e o tudo o que se via a distancia eram grandes labaredas de fogo e gritos desesperados ecoando no meio das árvores mortas.

Continua...


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Notas finais do capítulo

N/A :

Primeiramente eu gostaria de me desculpar pela demora. Esses dias foram impossíveis e eu acredito que o próximo capitulo também demorará para sair, mas vou fazer o meu máximo para postar o mais rápido possível ;)

O que acharam? Estou MUITO curiosa para saber a opinião de vocês!!!! Agora a coisa vai esquentar, LITERALMENTE....



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