Escudo escrita por Melzinha


Capítulo 12
Capitulo XII- "Lembranças da Alma"




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Escudo

Capítulo XII

Por Mel

Lembranças da Alma

Diante das estrelas e das lágrimas contidas, Chiharu cavalgava pelas margens do grande rio, em direção ao reino de Tomoeda. Seus braços cansados pela dominação do arisco cavalo fizeram com que seus músculos formigassem a medida que se aproximava da grande muralha. Viajava há quase três dias... O capuz vermelho que escondia sua identidade balançava juntamente com o vento... O que fizera fora grave demais... O que deu nela? Por que reagiu daquele jeito? Apesar de tudo...o que mais lhe doeu não foi ver Syaoran atingido ou o desespero nos olhos esmeraldas. O que lhe matou por dentro foi o olhar de decepção que Takashi lhe lançara... Como se o seu pedestal tivesse quebrado e ao invés de uma deusa se revelasse um monstro. Era assim que se sentia...Um ser abominável, deformado, podre...

“Alto lá!”- Um dos soldados que guardava a muralha gritou vendo a pessoa se aproximar cada vez mais.- “Identifique-se”.

“Chiharu Mihara”- Tirou o capuz lentamente- “Tenente de Ueda...E eu requisito uma audiência com o general Spinel Sun”.

“Oras, mas é muita ousadia!”- O mais alto apontou-lhe a lança com os olhos semicerrados obrigando-a a descer do cavalo.- “O que tem para tratar com o nosso general?”.

“Vim oferecer uma troca...”- Olhou para os céus pedindo força.

“Que tipo de troca você poderia oferecer-lhe?”- A olhou com luxúria fazendo-a a tremer.

“Esse assunto só pode ser tratado com ele pessoalmente”.- Tentou não transparecer o medo presente em seu coração, mas a sua voz sairá falha.

“Está blefando”- O outro disse olhando firmemente nos olhos da menina.

“Acha mesmo que eu arriscaria a minha vida, se tivesse?”- Perguntou firmemente passando as mãos em seu cavalo.

“Deixe-a”- A voz do general invadiu os portões ecoando pela torre. Observou atentamente a jovem diante de si. Uma imagem interessante e tentadora em alta madrugada. Com um gesto deu passagem para a garota entrar. Em câmera lenta Chiharu vira seu cavalo ser levado aos estábulos reais e seu coração acelerou de leve. Olhando para os céus pediu mentalmente- ‘Syaoran, me perdoa...’ . Recolocou o capuz e seguiu silenciosamente aquele homem. Havia selado seu destino.

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“Você não me pega...”- A voz melodiosa invadiu os seus ouvidos como uma canção do mar para um marujo enfeitiçado.

Syaoran se revirou na cama, procurando uma posição melhor. Desde seu acidente era perseguido pelo mesmo sonho maluco.

“Quem é você?”- Ele perguntou enquanto os longos cabelos mel balançavam levados pelo movimento dos ventos. A pequena figura cavalgava em um unicórnio cor-de-rosa.

“Você sabe quem eu sou”.

“Eu não sei quem você é...”.- Falou convicto- “Não consigo ver seu rosto”.

“Oras, Syaoran...”- Riu- “Você está ficando para trás”.

“Você está muito rápida...”.- Arregalou os olhos vendo o grande rio- “Cuidado... Você vai cair!”.

“Mesmo se eu cair”- Ela virou-se para ele dando-lhe uma visão desfocada de seu rosto- “Você vai estar lá para me segurar”.

E ao longe, escutava uma voz chamar em meio as estrelas...

..Sakura...Sakura...

O general levantou em um pulo levando consigo os lençóis de linho fino para o chão de seu quarto. Sua respiração ofegante aos poucos voltava ao normal. Observou a janela entreaberta. Era alta madrugada e as estrelas estavam mais brilhantes do que de costume. Sentia sono, mas cada vez que pregava os olhos aquele mesmo sonho maluco invadia sua cabeça. Seus olhos repousaram sobre as campinas... A luz do luar transformava a grama em um tom acinzentado, quase prateado. Passou as mãos pelos cabelos molhados. Não entendia porque se sentia dessa maneira...Tão perdido, tão incompleto... Havia algo faltando. Algo muito precioso, mas não conseguia descobrir o que...Sorriu de lado lembrando-se da última parte de seu sonho. Aquela garota estava realmente lhe tirando a paz.

Sakura... O nome das flores de cerejeira. Sua flor preferida desde sempre. Fechou os olhos lembrando-se da bela princesa...Não entendia como alguém que mal conhecia poderia exercer um efeito tão devastador seu sua mente. Há dez dias que acompanhava a menina em seus treinamentos e algo dentro dele simplesmente desconectava quando ela estava perto. Sentia-se arrebatado, entorpecido...

“Por que não consigo tirá-la da minha cabeça?”- Perguntou-se alto incomodado consigo mesmo...

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A risada doce parecia música ao seus ouvidos. Observando ao longe a princesa dançar no banquete, um sentimento de nostalgia invadiu seu coração. Não entendia o porquê toda vez que ela sorria, tinha vontade de sorrir também.

“Ela é muito bonita”- Um dos comandantes comentou observando a atenção especial que Syaoran direcionava para a garota.

“Muito mesmo”- Respondeu sem pensar observando a forma graciosa com que ela se mexia.

“Ouvi dizer que o braço direito do rei está interessado nela”.

“Quem?”- Arregalou um pouco os olhos. Mas porque raios estava tão incomodado com a notícia?

“Yukito Tsukishiro”- Apontou para o jovem que olhava Sakura atentamente.- “Eu acho que eles combinam, apesar dele ser sete anos mais velho do que ela”.

Ele não respondeu, apenas deu mais um gole na bebida sem conseguir tirar os olhos da garota. Sentiu algo crescer dentro de si e não gostou nenhum pouco daquela informação.

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Seu humor mudou drasticamente ao lembrar do homem de cabelos acinzentados. Yukito parecia ser uma boa pessoa, mas a proximidade com ela lhe incomodava mais do que gostaria de admitir...

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“O que estão fazendo?”- a voz alterada a surpreendeu fazendo com que perdesse o equilíbrio e caísse sentada em cima de Yukito. Xingou a si mesmo. Por que estava tão preocupado com o que ela fazia depois do horário de treinamento. Não era da sua conta...Mas, como general do império, tinha que proteger a princesa de Tomoeda...Não?

“Credo, Syaoran!”- Ralhou nervosa- “Quer me matar de susto?”- Saiu de cima do amigo- “Desculpe-me por isso”- Sorriu sem jeito ajeitando o vestido.

“Posso saber o que os dois faziam sozinhos aqui trancados na sala?”- Seu tom de voz era tão autoritário que Sakura perdeu um batimento.

“Estávamos preparando uma homenagem”- Seu tom de voz baixo e levemente entristecido fisgou o coração do general. – “É o aniversário de morte da minha mãe...”- Apontou para as inúmeras flores espalhadas sobre a mesa de madeira- “Estamos montando coroas de flores para jogar no mar”.

“Cravos silvestres?”- Um leve flash de memória passou diante dos seus olhos.

“Sim...Minhas favoritas”.

“Eu sei”- Ele sussurrou a olhando confuso. Como sabia daquilo? A encarou sentindo algo dentro si remexer-se- “Vou deixar a porta aberta... Não é de bom grado que fiquem sozinhos de portas fechadas”- Saiu escancarando a porta.

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“O que ele faz aqui?”- Perguntou entre os dentes observando o braço direito do rei assistir ao treinamento.

“Por que a pergunta, Syaoran?” Meyling estranhou- “Você nunca ficou incomodado com pessoas assistindo ao treinamento. As damas de Ueda costumam encher as arquibancadas da arena”.

“Sinto-me vigiado”- Mentiu- “Parece que o rei quer saber sobre a minha competência”.

“Oras primo”- Revirou os olhos- “Ele nunca duvidou de sua competência...”.

“Eu sei, mas-”

O grito agudo invadiu seus ouvidos. Ela não faria isso? Faria. Sentiu todo sangue escorrer pelos dedos quando a princesa sorriu de forma doce para o rapaz.

“Sakura!”- Ralhou nervoso chamando a atenção da princesa para si. Ela se aproximou devagar com o olhar confuso.

“Sim, general?”- Perguntou estranhando o brilho assassino dentro dos olhos âmbares.

“Pegue sua espada. Vamos treinar combate um a um”.

“Agora?”- Normalmente os treinos com espada eram depois do treino físico.

“Sim, por que? Está ‘ocupada’?”- Não queria demonstrar o que sentia, mas a voz falha o delatou.

“Não...Eu só-”- Balançou a cabeça- “Me dê um minuto está bem?”.

“O que foi isso Syaoran?”- Meyling perguntou observando a princesa procurar sua espada- “Por que a está tratando desse jeito?”.

“Não enche Meyling”- Respondeu observando a garota voltar com a espada na mão.

“Manda ver, Sakura!”- A voz de Yukito ecoou fazendo uma veia na testa de Li levantar.

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Balançou a cabeça afastando mais uma vez o pensamento. Ia fechar a janela, pronto para voltar para cama quando algo chamou-lhe a atenção. Um ponto turquesa na escuridão brilhando como uma estrela sobre um cavalo branco.

“Mas o que-”- Foi a única coisa que conseguiu formular observando a bela imagem no seu horizonte.

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Encapuzada com seu manto azul turquesa, a princesa de Tomoeda cavalgava a luz da lua sentindo o vento frio da madrugada tocar-lhe as bochechas, que coraram com a mudança de temperatura. Dez dias haviam se passado desde o acidente com Syaoran e ele não apresentava nenhuma melhora significativa na memória, pelo contrário, toda vez que estavam juntos o rapaz se tornava agressivo, sempre na defensiva, e isso lhe machucava de uma forma que jamais pensou ser possível. Cada olhar confuso e incomodado, arrancava seu coração do peito e o esmagava sem piedade. Há dois dias ele voltara a suas funções normais... Os momentos que tiveram juntos ainda vibravam em seu coração trazendo-lhe lágrimas aos olhos. Sentia tanto a falta dele...A falta do seu Syaoran.

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“Por que?”- Ele levou as mãos a cabeça passando-as nervosamente pelos cabelos.

“Syaoran! Para com isso”- Meyling falou nervosa o encarando seriamente- “Ela está aqui para treinar conosco e vai treinar! Ela tem feito isso mesmo antes de você receber alta.”.

“Mas...Justo no meu batalhão?”- Sentiu o coração fisgar ao ver a reação das esmeraldas. Que raios estava acontecendo com ele? Por que não conseguia simplesmente ficar calado na frente dela? Por que ela despertava algo tão profundo em seu coração que lhe fazia vacilar? – “Não estou acostumado a lidar com meninas tão fracas assim. Ela não vai durar um dia”.

“Não se preocupe”- A voz dela o assustou. Não havia percebido que ela estava tão próxima...Aquele perfume o deixava perturbado quase tonto- “Fui treinada por um excelente professor”- Comentou com um sorriso triste.

Syaoran por um momento hesitou tentando se lembrar onde já escutara aquela frase. Balançou a cabeça e a encarou seriamente. Ela era muito bonita... Não! Ela era a menina mais bonita que já havia visto na vida e isso não podia negar. Tudo nela era tão...irreal e ao mesmo tão familiar...O desenho dos lábios, o formato do rosto... o brilho dos cabelos...as curvas acentuadas...e aqueles incríveis e penetrantes olhos verdes...Aquelas esmeraldas lhe tiravam totalmente do sério. Toda vez que olhava para elas perdia um batimento cardíaco e aquilo não estava certo. Como uma menina como aquela poderia lhe causar tanto rebuliço a ponto de não conseguir controlar as próprias reações?

“Espero que saiba lutar, não vou pegar leve com ninguém”- Falou seriamente dando-lhe as costas. Precisava cortar o contato visual.

“Você nunca pegou leve”- Sorriu o desconcertando- “E eu sempre aguentei o tranco”.

Confuso pelas palavras da princesa, Li achou melhor não responder. Estava começando a perder seu temperamento de novo. Sentiu a cabeça doer.

“Aonde está minha espada?”- Perguntou para Takashi que se tornara mais calado depois do acidente. Sua reação só piorou com o sumiço de Chiharu...Mesmo ninguém a tendo delatado a garota simplesmente desapareceu sem deixar pista alguma.

“Afiando general. Deve ficar pronta em três dias”- Comentou baixo se dirigindo até Sakura que se acomodava na sua nova armadura- “Como está se sentindo hoje, alteza?”.- Um sorriso triste iluminou o rosto do amigo.

“Melhor...”- Respondeu sinceramente sorrindo para ele.

“Por quê?”- Novamente a voz de Li cortou a conversa fazendo seu coração saltar. Droga. Era horrível tê-lo tão perto e tão longe ao mesmo tempo- “Não estava se sentindo bem?”- Porque se importava tanto? Deus... Se sentia tão...tolo. Sentiu vontade de bater na própria boca.

“Não muito”.- Falou sinceramente olhando para os próprios pés.

“Para aguentar o meu treinamento, alteza, tem que estar bem. Não pode estar um pouco indisposta”.-Mas que raios estava tão preocupado?

Ela levantou os olhos cravando suas esmeraldas nos incríveis olhos âmbares tirando-lhe todo ar dos pulmões.

“Já disse general”- Falou bem devagar- “Vou participar do treinamento”.

Ele resmungou algumas palavras irreconhecíveis antes de dar as costas e fazer a chamada. Se participar do treinamento é o que ela queria, era exatamente isso que teria. A trataria como um de seus soldados.

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“Eu não vou falar duas vezes, alteza”- Seu tom impaciente a incomodava- “Você não vai descer daí até acertar o alvo oito vezes seguida”.

Em cima de um tronco redondo apoiada em um pé só, Sakura fazia um esforço descomunal para manter o equilíbrio e usar o arco. Já era um desafio e tanto acertar três vezes seguida, quanto mais oito. Encarou feio o general que mantinha um sorriso torto nos lábios. Aquele sorriso charmoso que sempre a fizera se arrepiar.

“Não consigo”- Falou entre um suspiro errando o alvo na quinta vez.

“Não quero ouvir essa frase”- Já havia acabado o treinamento há algum tempo, mas ele insistia em fazê-la terminar a tarefa, mesmo com todos os outros dispensados.

“Estou cansada”- Disse sinceramente fazendo bico. Aquele simples movimento de seus lábios fez a boca de Syaoran salivar em desejo e pigarreou para disfarçar.

“Também estou, mas estou aqui, não?”- Perguntou com uma sobrancelha levantada. Revirou os olhos ao vê-la cruzar os braços e se posicionou em um tronco atrás da menina. Apoiou as costas dela em seu peito ajudando-a a posicionar o arco. O calor dela invadiu o seu corpo como um raio e seu coração acelerou tanto que pensou que explodiria. ‘Deus...O que está acontecendo comigo?’ Pegou o braço delicado.

“Assim, alteza”.- Posicionou-a da melhor maneira tentando ignorar a reação de seu corpo.

“Sakura...”.

“O que?”- Perguntou sem entender.

“Meu nome é Sakura...se não se importa”.- Ela o encarou profundamente e dentro dos olhos esmeraldas havia um misto de sentimentos tão profundos que não ousou quebrar o olhar.

“Sakura”- Repetiu o nome e seu coração doeu. Respirou fundo afastando-se- “Continuaremos amanhã...”- Disse por fim sem se virar para trás, sentindo todo o seu corpo reagir com o afastamento.

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“O que estão fazendo?”.- Os olhos ambares arregalados ao ver Takashi, Meyling e Sakura no lago.

“O que te parece, Syaoran?”- Meyling perguntou debochada olhando para o primo- “Estamos nadando, oras! Você nos deu duas horas de pausa... Quisemos aproveitar”.

“Por que não entra também?”.- O amigo perguntou levantando uma sobrancelha. Era o primeiro convite que lhe faziam em dias, e a primeira vez em que os olhos do amigo estavam relaxados.

“Não sei se devo”- Respondeu um pouco corado reparando em como a roupa branca da princesa se tornara transparente com o contato com as águas.

“Larga de ser ranzinza!”- Sakura comentou em um sorriso estonteante- “Está com medo de que, general?”- Provocou com as mãos na cintura sem entender a vermelhidão repentina do rapaz.

Li tirou a camisa e ficou apenas com uma calça fina de linho. Pulou no lago espalhando água por todos os lados. Toda vez que ele lhe mostrava aqueles dentes brancos lindamente ordenados o coração da princesa perdia um batimento, mas vê-lo sem camisa sorrindo era mais do que poderia aguentar.

“Vamos brincar de esconde-esconde?”- a morena sugeriu- “Como você foi o último a entrar começa com você”.

“Na água?”.- Sakura perguntou confusa.

“Oras, por que não?”.- Deu os ombros- “Damos um jeito de nos esconder”.

“Isso é injusto”- Syaoran revirou os olhos vendo-os se afastar.- “Por que eu tenho que começar?”- Meyling e Takashi trocaram um olhar cúmplice enquanto Sakura se afastava o máximo que podia para não ser pega.

“Conta até dez para nos dar alguma vantagem. Vai, você não é o todo-poderoso Li? Vai nos encontrar rapidinho”- Takashi falou e a contra gosto o rapaz fechou os olhos e começou a contar. Cada um foi para um lado se esconder e o casal de amigos saiu do lago deixando os dois sozinhos.

“Nove...Dez...Prontos ou não, aí vou eu”- Falou virando-se para o lago. Mergulhou nas águas cristalinas e ao longe viu uma silhueta que tentava se esconder atrás de uma pedra. Sorrateiramente mergulhou tentando fazer o mínimo de barulho possível, quando estava próximo o suficiente se aproximou da pessoa a segurando pela cintura. Sakura abafou um grito assustado.

“Syaoran!”- Reclamou levando a mão ao peito- “Que susto! Como me encontrou tão rápido?”.

“Eu te disse...Eu sempre...”- Parou a frase no meio ao ver as esmeraldas se arregalarem. O que ia dizer? Que sempre o que? Que sempre ia achá-la? Que nunca iria soltá-la ou deixá-la ir? – “Vamos, precisamos voltar...”.

“Mas...e Meyling e Takashi?”- Perguntou sem entender a reação dele.

“Eles já foram”- Comentou o óbvio. Ajudou a garota a sair do lago estendendo seu manto para cobrir-lhe. Por algum motivo não queria que mais ninguém a visse assim.

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Parou bruscamente observando o quão longe estava, ia dar meia volta quando o barulho de cascos de cavalo a assustou. Já estava preparada para gritar quando a imagem dele cavalgando em sua direção lhe tirou qualquer linha de pensamento coerente.

“O que faz aqui?”- Os dois perguntaram ao mesmo tempo.

“Não conseguia dormir”- Ela respondeu sinceramente.

“É perigoso cavalgar sozinha a esse horário”- Comentou um pouco preocupado ao ver as marcas de lágrimas no rosto bonito.

“Eu sei”- Ela respondeu tão baixinho que quase não foi capaz de ouvir.

“O que você tem?”- Ele perguntou preocupado quando ouviu um soluço escapar pelos lábios da princesa- “Sakura?”.

A viu descer do cavalo escondendo o rosto entre as mãos.

“Por que você não consegue se lembrar de mim?”- Ela o encarou com a expressão dolorida fazendo seu coração se despedaçar com cena. Ela não sabia o que responder. Desceu de seu corcel olhando para a jovem.

“Lembrar de você?”.

“Lembrar de nós...”- Ela fechou os olhos e mais lágrimas escorriam pelas esmeraldas. Quando ela as abriu encontrou os âmbares tão quebrados quanto as suas esmeraldas, a encarando sem entender. Sem pensar duas vezes ela se aproximou dele assustando o rapaz que prendeu a respiração dando um passo para trás. – “Sou eu... Sakura...a princesa de Tomoeda, sua protegida...Você não lembra mesmo de mim?”.

Ele não precisava responder, ela sabia que não...

“Eu era só uma menina quando caí nas correntezas e você pulou para me resgatar...”- Deixou algumas lágrimas caírem por suas bochechas. Ele fez menção de secá-las, mas ela não deixou – “Você...virou meu professor... meu protetor... meu melhor amigo”- Sorriu saudosa- “Você era a única pessoa que me fazia sorrir sem motivo e me tirava do sério o tempo todo com sua proteção maluca”

“Sakura...eu-”- Deus, como lhe doía. Como lhe machucava ver aquelas esmeraldas quebradas daquela forma.

“Você é...a razão da minha vida...alguém que eu desejei morrer quando eu pensei que perdi...”- O encarou profundamente dizendo o quanto eram verdadeiras as suas palavras- “Eu... eu amo você...”- Fechou os olhos confessando para ele. A vida era tão injusta. A primeira vez que lhe contara, ele não podia corresponder...quando ele pôde a vida os separou pensando que haviam perdido um ao outro, e agora quando finalmente se reencontraram... ela repetia a frase, mas ele não se lembrava de quem ela era. Ele não conseguia responder, eram tantas emoções invadindo a sua alma que pensou que seu coração não aguentaria.

Sakura hesitou por alguns segundos olhando para os âmbares brilhantes a sua frente, mas, em um impulso, colou os lábios nos dele em um beijo doce, saudoso e totalmente apaixonado. Chocado ele não reagiu no princípio, mas, cada vez que os lábios dela tocavam o seu, borboletas voavam loucamente pelo seu estômago.

Agora a correnteza levava os dois e a grande cachoeira estava muito próxima aumentando a força das águas.

“Não me solta”- Foi o pedido da linda menina que via a força das águas aumentarem.

“Eu não vou soltar você”.- Ele a encarou sério.- “Eu prometo”.

Memórias invadiam sua mente como uma enxurrada de imagens desconexas fazendo sua cabeça latejar.

“Eu queria ter morrido junto”.- Confessou sincera.- “Queria arrancar meu coração do peito”.

Ele travou ouvindo isso. Não permitiria que ela falasse essa bobagem nem por brincadeira.

“Nunca mais fala uma coisa dessas”- Ralhou puxando-a para um abraço, sentindo as lágrimas molharem sua camisa.- “Nunca mais”- Deus! Será que ela não percebia que ele não suportaria viver sem ela?- “Fala para mim, Sakura o que fazer... Fala, pelo amor de Deus”.

“Não tem o que fazer”- Chorou- “Só não me deixa sozinha”...

A dor de cabeça piorou sem aviso embaçando seus olhos. Os beijos cada vez mais intensos o tiravam do ar.

“E o que seria?”- Perguntou. A dor no peito ainda o incomodando.

“Ah, perder as pessoas que eu amo, por exemplo”- Sentiu um arrepio-“Deus me livre de perder você, por exemplo”- Confessou em um sussurro.

“Deus me livre de perder você”.- Os olhos âmbares invadindo sua alma. Sentiu o coração bater duas vezes. Sem pensar tocou os longos cabelos mel – “Eu não sei o que eu faria”.

Como havia esquecido dela? Do grande amor de sua vida? Como?

“Poderia a lua algum dia em sua existência não atrair a noite?”.

Viu-a abrir um sorriso tão sincero que fez seu coração bater duas vezes mais rápido. Sentiu as pernas amolecerem e a apertou mais contra o peito. Como não amá-la mais ainda Deus? Ela era seu mundo, seu tudo, seu universo...sua vida.

“Eu te amo, Syaoran”- Ela sussurrou, enquanto as lágrimas finalmente se libertaram das esmeraldas, tão baixo que ele pensou estar tendo uma alucinação, pensou que seu amor por ela traía sua mente.

Ele a encarou tentando conter as próprias lágrimas ao vê-la se declarando tão abertamente. Aquilo não poderia ser possível. Não para ele, não para um menino pobre adotado por um rei com dó. Ele a amava tanto que toda razão que tinha explodiu em um flash e rompendo a barreira entre eles a beijou docemente. Não sabia se lhe era permitido, mas naquele momento era a única coisa que queria de verdade. Um beijo tão apaixonado que o desestabilizou por completo.

Beijou-lhe o rosto várias vezes antes de tomar a boca rosada novamente entre seus lábios, sentir os cabelos sedosos entre seus dedos. O gosto dela lhe deixando louco.

“Antes dela chegar eu ...eu estava prestes a dizer que esse título me possibilitou alcançar aquilo que eu achei que nunca alcançaria”- Ele passou as mãos nos cabelos dela e brincou com uma das fitas e ela prendeu a respiração sem perceber.-“Seu pai me deu a possibilidade de poder dizer o porquê, naquele dia na campina, eu disse que você havia pagado o débito sem perceber”- Sorriu abertamente a fazendo corar- “Que eu não a beijei apenas porque eu ‘quis’... Olhou dentro dos olhos dela- “Eu sempre amei você, Sakura”.

“Vo-você me ama?”.- Ela piscou várias vezes tentando processar o pensamento- “Mas eu pensei que-”.

Ele a beijou de novo a impedindo de continuar. Ele queria que ela entendesse que ela sempre foi a melhor coisa de sua vida, que sem ela nada fazia sentido. Seu mundo era ela.

A apertou mais e mais forte lembrando-se do dia que pensara que a perdeu...Do dia em que sua alma morreu.

Ele havia falhado em protegê-la. Apertou o pingente e chorou desesperado. Seu corpo tremia com uma tristeza e uma raiva que não podia controlar.

Não conseguia acreditar que sua princesa o havia deixado para sempre, aquilo não poderia ser possível, nem em seus piores pesadelos. Naquele momento sua vida perdera o sentido.

Naquele momento, naquela clareira, metade de seu ser, todos os seus sonhos morreram levados pelas águas.

Sentiu lágrimas se formarem nos próprios olhos ao reviver aquilo. Beijou-a mais profundamente como se não houvesse outro dia...Como se só houvesse eles dois.

‘Sakura?’

Lágrimas brotaram nos olhos âmbares antes que ele as pudesse freiá-las. Aquilo não era possível. Eram os mesmos olhos verdes, grandes e brilhantes... Os cabelos compridos da cor do mel, o corpo esguio...Era ela...Sua Sakura. Teve mais certeza quando a abraçou e o perfume tão característico inundou suas narinas. Com a voz repleta de emoção a apertou ainda mais forte.

“Deus... eu pensei que eu tivesse perdido você”- Sussurrou no ouvido dela, incapaz de brecar seu choro. Teve medo. Medo de estar sonhando novamente... Medo de acordar e descobrir que enlouquecera de vez, mas quando a voz dela invadiu sua mente e suas dúvidas desapareceram.

Parou o beijo bruscamente encarando sua princesa. Ela tinha os lábios inchados pelos toques que acabaram de trocar. Sakura arregalou os olhos ao perceber a forma como ele a olhava. Conhecia aquele olhar...E sentira tanta saudades dele. Era o seu Syaoran...Poderia jurar. Ele havia voltado para ela de alguma forma. Será que fora o beijo? Que fora convivência? Não sabia... mas ele estava ali.

“Sy-Syaoran?”- Perguntou esperançosa encarando o rapaz com um certo receio do que viria a seguir.

“Minha flor...”- Ele respondeu em meio a um sorriso eliminando todas as suas dúvidas. –“Estou aqui...”

“Senti tanto a sua falta...”- Ela não conseguiu terminar de falar. Os lábios dele devoraram os seus novamente em um beijo ardente.

“Me perdoa...eu...”-Encarou-a com carinho- “Como eu pude esquecer de você, meu amor? Como?”- Perguntou culpando-se.

“Não foi sua culpa...”- Tocou o rosto dele limpando uma lágrima solitária que escorreu pelos âmbares- “Você salvou a minha vida...mais uma vez, mas infelizmente...acabou atingido na cabeça...”.

“Eu te fiz sofrer, minha flor...Eu...”

Ela lhe deu outro beijo o calando.

“Eu te amo, Sakura”- Foi a única coisa que pensou em falar- “Eu te amo mais do que a minha própria vida...”.

Ela sorriu e o beijou novamente.

“Você me faz feliz...”- As esmeraldas brilharam de repente o interrompendo.- “Sempre me fez feliz, desde o primeiro dia que entrou na minha vida.”.

Ele olhou profundamente dentro dos olhos dela- “E eu nunca mais vou deixar você sair de perto de mim”.

Era uma promessa que ansiava cumprir com todo o seu ser.

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“Estou ouvindo”- a voz grave ecoou pelo quarto sombrio fazendo seu coração acelerar mais.

“Eu vim propor uma troca”- os olhos castanhos revelando algo muito profundo.

“E por que eu estaria interessado em fazer uma troca com você?”- A olhou dos pés a cabeça- “Você é muito bonitinha...Mas prefiro mulheres mais velhas”.

“Se eu estivesse interessada em me vender, general...Teria ido a um prostíbulo e não a sua procura”- Falou entre os dentes fechando a cara- “Quanto você pagaria por informações sobre Ueda?”.

“Ueda?”- Levantou uma sobrancelha – “Acho que não a entendi senhorita...”.

“Cometi um erro muito grave que pode não só custar a minha carreira militar como a minha vida e não estou disposta a pagar para ver”- Colocou os braços sobre a mesa fazendo com que o castiçal tremesse e a fraco luz disturbasse.- “A princesa de Tomoeda está viva”.- Falou calmamente vendo o sorriso debochado daquele homem desaparecer aos poucos.

“Não precisava dessa informação. Já gastei uma boa quantidade de moedas para obtê-la”.

“A questão não é essa. Antes ela era um ‘mártir” ...Agora ela é uma líder, uma heroína... E quem lidera o exército de Ueda é alguém muito conhecido nesse reino...”- Sorriu de lado- “O ex-comandante Syaoran Li é o novo general e eu te garanto que ele não vai medir forças para derrotar vocês...Nem que Tomoeda fique em ruínas...”.

“E o que você sugere?”- A voz dele era calma, mas a veia dilatada em sua testa o delatava.

“Eu participei do treinamento de invasão...das reuniões particulares...Eu sei tudo...Como virão, quando virão...”- Fez uma pausa- “A questão agora é...Quanto você estaria disposto a pagar?”.

“Estou achando muito estranho você vir vender essa informação”- Os olhos azuis a examinavam- “Acha que nasci ontem?”.

“Eu estava com Syaoran Li... Eu...”- O encarou- “Ele seria meu se a princesa não tivesse voltado, e acabei deixando meu ciúmes falar mais alto do que a razão. Joguei a espada de madeira com força contra ela...e quem acabou sendo atingido foi ele”.- Levantou-se- “Minha cabeça está em risco. Tentei contra a bisneta do rei... e acabei acertando o homem mais importante do império no momento...Acha mesmo que eu preciso de mais alguma boa razão para fazer isso?”.

“Seu peso...”.

“O que?”- Arregalou os olhos.

“Seu peso em ouro... Estou disposto a pagar seu peso em ouro por essa informação”.

Ela o encarou surpresa. Valia tanto assim para aquele homem o plano de invasão?

“Traga um mapa do reino”- Pediu- “Quero metade agora... e a outra metade depois da guerra”.

Tocou o sino de ouro que estava sobre a mesa e um homem encapuzado apareceu entregando-lhe um grande pergaminho. Spinell abriu o grande mapa diante dela encarando-a profundamente.

“Estou esperando, tenente Mihara”.

“Não sem ver o meu ouro primeiro”- Torceu o nariz- “Acha que sou idiota?”.

“Pois bem...”-

Com um outro sinal o homem derrubou um saco de ouro em seus pés. Pela rapidez da entrega percebera que não eram os únicos a escutarem aquela conversa...Mas não iria recuar... Não agora. Pegou os bonecos de bronze que representavam os exércitos.

“Ueda invadirá pelo norte”.

“Pelo lado das muralhas?”- Levantou uma sobrancelha- “Isso seria burrice”.

“Não... Isso seria o óbvio, e como vocês não estão esperando pelo óbvio...O exército se movimentará entre as muralhas e trará navios de madeira pelo grande rio”.- Apontou as direções fazendo o melhor possível para sustentar sua mentira. Era o único jeito que poderia ajudar a sua gente... Se desse sorte Spinel cairia em sua conversa e não montaria guarda pelo lado das montanhas.

“Quais são as armas?”.

“Catapultas persas, escudos romanos, lanças de bronze, coletes de couro... flechas de fogo”- Fez uma pausa- “E espadas...tantas quantas puderem ser fabricadas”.

“É melhor estar certa, menina...”- Fez um sinal e o homem encapuzado a pegou pelo braço.

“O- O que está fazendo?”- Perguntou nervosa- “Tínhamos um acordo...”.

“Você ficará presa na torre... até a guerra acabar...”

“Por...Por que?”.

“Não se preocupe... Levarei o seu general a lhe olhar no olho antes de matá-lo....”- Sorriu sombriamente- “Se é vingança que você quer, é vingança que você terá”.

Ela tentou se soltar, mas não conseguia. O homem era muito forte. Olhou para ele friamente sentindo todo seu sangue escorrer por suas mãos.

“Apenas tome cuidado...Seu passado pode te perseguir nessa guerra”.- Falou ainda lutando para se soltar.

“Por acaso é algum tipo de bruxa?”- Debochou contando o ouro entre seus dedos.

“Não...”- Sorriu de lado- “Mas o seu filho já sabe que você é general de Tomoeda”.- O encarou- “E adivinhe só... Ele virá lutar contra você”.

Franziu a testa observando os olhos acastanhados profundamente. O que ela estava falando? Como sabia sobre seu filho?

“Você não sabe o que fala...”.

“Eriol”- Soltou o nome ao ar fazendo o coração do general parar.

“Bruxa!”- Gritou algumas vezes perdendo o temperamento- “Maldita, bruxa!”.

E nas sombras da madrugada Chiharu foi levada para a cela. Seu plano estava dando certo...Ele havia acreditado e isso bastava naquele momento.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gente não consegui corrigir os erros do sistema... Aparece umas coisas esquisitas depois do continua... Ja apaguei 17 vezes e o erro continua... Vou ver se consigo alterar de outro computador depois...

Olha a Chiharu ai corajosamente participando da história de uma forma que ninguém esperava!!! Uhuuuu Foi só um momentinho de esquecimento, Fala sério... Foi muito fofo ele relembrar não foi??? Aiii eu quase morri com essa Sakura demonstrando tanto amor por ele, quanto ele por ela! O que vocês acharam????? Contem-me tudinho e não escondam nada!!! Beijo Beijo Beijo



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