Escudo escrita por Melzinha


Capítulo 11
Capítulo XI- "Amor e Justiça"




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Escudo

Capítulo XI

Por Mel

Amor e Justiça

“Vamos...Abaixem-se”- Li gritou para seus soldados que insistiam em ficar de pé delatando sua posição- “Quando eu der o sinal, invadiremos a arena de treinamento pelo lado oeste”.

“Por que o lado oeste?”- Um dos guerreiros não se conteve em perguntar recebendo um olhar atravessado do resto do grupo. A última coisa que queriam era ficar descascando batatas pela insolência do rapaz.

Syaoran o encarou com os olhos semicerrados antes de responder- “Ninguém está esperando que nós ataquemos pelo lado oeste. Em Tomoeda, as muralhas ficam ao norte do palácio, o lado leste é descampado e o grande rio fica ao sul. Há uma proteção natural gigantesca pelo lado oeste, as montanhas que separam o reino dos bosques de Gifu. Então, o mais comum seria chegar de barco pelo rio, comandar um ataque em massa pelas campinas ou tentar atacar a muralha para abrir o grande portão de ferro...”- Sorriu torto- “O lado oeste é o mais seguro. Elemento surpresa”.

O grupo de soldados olhou para seu general de forma respeitosa e impressionada. Quando imaginariam que um rapaz de vinte e um, quase vinte e dois anos poderia ter tanta habilidade em liderança e batalha? Parecia que fora treinado para ser bem mais do que um militar... Parecia instruído para ser um rei.

“Ao meu sinal”- Contou os soldados do grupo de Meyling que se encarregavam de fazer o papel de inimigos responsáveis pelo exército de Tomoeda- “Agora!”.- Chuva de flechas com ponta de algodão e panos choveu pelo lado norte a mando de metade de seu batalhão. Como o previsto todos os soldados correram para a representação do lado das muralhas. Syaoran e o resto do grupo escalou a arena pelo lado oeste invadindo o ‘reino’ de mentirinha.

Takashi liderava o grupo que representava os valentes da rainha. Um círculo menor de soldados compostos pelos dois comandantes e o general de Tomoeda que ‘guardavam’ a sala do trono fictícia, onde Sakura representando o papel de Sayiuri estava sentada em um trono de madeira, um pouco irritada por não participar do treinamento direto de invasão. Às vezes Syoaran a irritava com esse instinto protetor... Mas, no fundo, sabia que ele não conseguia evitar. Desde o primeiro dia em que entrou em sua vida, ele agia como um escudo tentando lhe proteger de tudo. O pior é que entendia seu guardião. Entendia o medo que ele tinha de perdê-la, porque era o mesmo que ela tinha em pensar na vida sem ele. Sorriu de lado ao ver como ele lutava, as habilidades tão diferenciadas que o fizeram chegar onde ninguém mais chegou com tão pouca idade... Era impossível não admirá-lo. Os músculos torneados pelo treinamento árduo faziam seu coração palpitar. Pensou na noite em que trocaram beijos em seu quarto. O quanto o queria, o quanto o desejava e ainda assim admirou-se pelo tanto que ele a respeitava. Mesmo enxergando dentro dos olhos âmbares tanto ou mais desejo que nos dela...Ele havia feito uma promessa silenciosa olhando para as belas esmeraldas. Quando tudo estivesse acabado...Eles ficariam juntos...Com filhos e netos.

Escutou um barulho alto e lá estava ele, diante dela olhando-a tão profundamente que teve a impressão de ser fincada. Havia tantas coisas não ditas ainda dentro daqueles olhos...

“Duvido que a rainha vá me receber com um sorriso tão bonito como esse”- Não resistiu em comentar e sorriu mais ainda ao vê-la corar com o comentário.

“Você sabia que quando eu falei que queria participar do treinamento...Eu imaginei de outra forma, não sabia?”.- Levantou uma sobrancelha.

Ele lhe lançou um olhar cínico e sorriu de lado.-“Não sei do que você está falando”. Recebeu um tapa no braço como resposta e gargalhou- “Eu só estou tentando proteger você...E ao mesmo tempo fazer a sua vontade, oras”.- Deu os ombros sabendo que isso a irritava.

“Engraçadinho...”- Torceu o nariz- “Você pode até me tirar do treinamento, mas não pode me tirar da batalha”.

“Sakura”- Ele a olhou impaciente- “Nós já conversamos sobre isso”.

“Você já conversou sobre isso...”- Revirou os olhos.- “Ou melhor, já decidiu sem me escutar”.

“Princesa eu não quero brigar com você”- A voz dele levemente mais séria.

Ela o encarou um pouco irritada e cruzou os braços.

“Syaoran...”- Contou até dez mentalmente- “Eu passei por tanta coisa para chegar aqui... Tanta coisa...”.- Suspirou

“Eu não quero que você passe por mais nada de ruim Sakura. A última coisa que eu quero é você com memórias de guerra, ou ferida. Por favor, tenta colocar nessa cabecinha que eu só quero o que é melhor para você”- Ele explicou devagar, mas a voz ainda soava um pouco impaciente. A princesa era realmente a pessoa mais teimosa que ele conheceu em toda sua vida.

“Eu fico com você....Eu não saio do seu lado. Juro!”- Beijou os dedos cruzando-os em sinal da promessa- “Mas eu preciso ver aquela mulher. Olhar nos olhos dela e dizer que ela não me quebrou. Que ela não destruiu tudo...”- Balançou a cabeça- “E pensar que essa louca fez tudo por ciúmes...”.

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“Ela era a melhor amiga de sua mãe”- Masaki respirou apontando para o quadro que retratava uma antiga festa- Sayiuri não tinha sangue real...Era a filha de um conde que comprou o título, mesmo assim Nadeshico nunca ligou para isso, mas Sayiuri sempre quis mais...Ser filha de um conde emergente não bastava”.

“Eu não entendo...Como mamãe pôde ser melhor amiga de uma louca como aquela?”- Perguntou descrente olhando para o quadro. Syaoran pigarreou tentando não rir. Sakura tinha um ponto.

“Ela não foi sempre ruim, apesar de muitas vezes querer ser muito mais do que era.”- Comentou- “O problema não é a ambição, mas o excesso dela...”

“O que aconteceu para ela ter tanta raiva da mamãe?”.

“O reino de Tomoeda promoveu um baile...”- Sorriu saudoso- “Foi lá que seus pais se conheceram. E a inveja de Sayiuri aumentou ainda mais quando descobriu que o homem mascarado com quem Nadeshico dançava era o príncipe herdeiro do trono, enquanto o seu par era um simples soldado”- Levou as mãos as têmporas- “Ela gritou tanto com a sua mãe naquela noite. Eu nunca vi minha neta tão nervosa e chateada... Num momento de raiva Nadeshico falou que não queria vê-la nunca mais”- Observou o quadro- “Eu não a culpo. Sayuri perdeu totalmente a linha e gritou no meio do salão que um dia destruiria tudo o que ela mais presava...”- Encarou a neta- “Elas eram muito jovens, sua mãe tinha sua idade e eu jamais imaginei que aquela briga de meninas acabaria nisso tudo”- Sentou-se no trono novamente- “Sei também que hoje esse mesmo soldado que dançou com ela na festa é o general de Tomoeda”.

“General de Tomoeda?”- Li ergueu uma sobrancelha- “General Spinel Sun?! Então eles se conheciam desde aquela época?”.

“O que disse?”- Os olhos de Eriol pareciam que iriam saltar do rosto. Escutara mal, com certeza...

“Sobre?”- Syaoran o encarou sem entender. O médico estava branco como um fantasma e mantinha as mãos cerradas perto do tronco, tentando se conter.

“Como se chama esse general?”- Voltou a perguntar como se não acreditasse nos próprios ouvidos...

“Spinel Sun”- Li franziu a testa- “Conhece?”.

Ele deu dois passos para trás esbarrando na mesa. Tomoyo repousou os olhos preocupados sobre o marido que balançava a cabeça freneticamente em sinal de negação. – “Não pode ser”- Repetiu essa frase inúmeras vezes.

“Por que o espanto?”- Sakura perguntou assustada para a amiga que mantinha as mãos sobre os ombros do médico tentando acalmá-lo- “O que foi Eriol? O que aconteceu?”.

“Spinel Sun é ...”- Fez um pausa buscando por ar- “Meu pai biológico...”.- A voz grave parecia um sussurro ao vento.

“O quê?”- Os olhos da princesa caíram sobre Syaoran- “Pai? Seu pai é o general de Tomoeda?”.

“Não...Sim..”- Balançou a cabeça a encarando- “Meu pai chama Yue Misuki...”.- Os olhos continham uma certa revolta- “Esse homem foi apenas ... um colocador de sementes... Ele é um monstro... Não me surpreende que ele esteja por trás disso. Ele nunca prestou”.

“Yue Misuki?”- A voz de Masaki parecia surpresa- “O falecido médico real de Ueda?”.- Sorriu um pouco- “Por isso que você me parecia familiar. Você era o menino que vivia importunando sua irmã mais velha Kaho Misuki e a minha neta Nadeshico, não?”.

Ele sorriu um pouco. Lembrava-se pouco de Ueda. Quando a mãe, fugida dos abusos e agressões do pai, foi cuidada por Yue, nunca imaginou que o médico viúvo se encantaria por ela... E o adotaria como sangue de seu sangue. Kaho tinha 16 anos e ele apenas três quando se mudou para cá...Mas nunca viveu na capital...Sempre em vilarejos mais pobres onde o pai ajudava as pessoas menos afortunadas... Quando completara 15 anos, ingressou na escola de medicina para seguir os passos do pai, recém-falecido naquele ano. Um ano depois perdeu a mãe...

“Era eu mesmo, majestade...”- Seu tom saiu constrangido. Estava tão sem graça e tão surpreso.

“Esse nome não me estranho”- Li fechou os olhos por alguns minutos tentando relembrar aonde o ouvira, mas foi da boca de Meyling que veio a resposta.

“Misuki? Por acaso ela é médica também?”.- Perguntou de repente chamando a atenção de todos para si.

Claro! A mulher que os havia ajudado a escapar. Kaho Misuki...Realmente conhecia a rainha. As peças de seus quebra cabeças encaixando-se aos poucos.

“Era”- Corrigiu com um tom triste espantando a todos- “Ela morreu há seis meses atrás...”.

“Céus!”- Meyling levou a mão a boca, muito surpresa com a informação- “Como foi isso?”.

“Ela chegou na nossa casa bem machucada. Tinha os braços queimados e um ferimento infeccionado na perna causado por uma armadilha para lobos”.

“Foi ela quem nos deu cobertura para fugir”- Takashi que até agora estava quieto ao lado de Chiharu apenas escutando atentamente a conversa contou ao rapaz- “Ela salvou a nossa vida...Sem ela teríamos morrido”.

De repente os olhos do médico repousaram sobre a princesa em um meio sorriso.- “Minha irmã morreu nos meus braços pedindo por água...Mas quando viu Sakura”- Fez uma pausa se aproximando da menina- “Ela sorriu... Diante da morte... Um sorriso tão sincero... Um sorriso de paz”.-Respirou fundo- “Agora entendo...”- Olhou para o belo quadro na parede- “Ela deve ter achando que sua mãe veio lhe buscar”.

A princesa mantinha uma expressão terna no rosto. Syaoran se aproximou com os intensos âmbares sobre o rapaz.

“Eu sinto muito por tudo isso... Eu não tenho como agradecer o que ela fez...”.- Fez uma pausa- “O que vocês fizeram na verdade”.- Devia muito àquele casal a sua frente.

“Fizemos o que mandou o nosso coração”- A resposta de Tomoyo apesar de curta, dizia a mais pura verdade.

“Eu só queria que houvesse um jeito de impedir essa louca a continuar com as suas maldades...”- Sakura suspirou pesado.

“Sayuri sempre quis ser rainha. Sempre quis... E aos olhos dela Nadeshico roubou-lhe a chance, a única chance que ela tinha” - A expressão séria envelhecia mais o rei- “Ela nunca aceitou que sua mãe, já princesa...pudesse se tornar também rainha consorte de um outro reino, tão ou mais próspero do que o nosso.”.

“Acho tão estúpido ficar brava por uma coisa que mamãe não teve culpa de nada. Se era um baile de máscaras como é que ela ia saber que meu pai era o príncipe herdeiro, oras?”.- Falou de uma vez levantando os braços em sinal de descontentamento.

“Você pensa assim, porque o seu coração e seus olhos são bons”- Beijou a testa da bisneta- “Mas nem todos são assim. Anos depois, numa virada do destino... Quando sua mãe engravidou de você, as coisas mudaram”- Suspirou- “Em uma das viagens diplomáticas que o reino de Fukushima fez a Ueda, Sayiuri conheceu o príncipe caçula e ele se apaixonou perdidamente por ela. Eles se casaram e eu nunca mais havia escutado nada, até a revolução que matou a todos...A próxima notícia que tive era que ela iria casar com o seu pai”.- Deu os ombros- “Eu nunca entendi essa decisão repentina de Fujitaka...Mas quem sou eu para julgar, não é mesmo?”.

“Vovô”- Sakura ficou séria e hesitante - “Acha que essa revolução, essa chacina foi feita por...ela?”- Arregalou os olhos- “Ela seria capaz de matar a própria família por causa de um ciúmes sem fundamento?”.

“O coração do ser humano é mais profundo e obscuro do que o maior dos abismos no fundo do mar...”- Olhou para longe- “Acho que uma pessoa capaz de matar a sangue frio o próprio marido na lua de mel, e tentar assassinar a enteada pode muito bem ter feito isso, Sakura”.

“Precisamos tirar essa mulher do trono de Tomoeda...Ela é doente”.- A determinação crescendo incontrolada nos olhos esmeraldas.

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“Esse é o meu ponto. Sayiuri é doente... E uma pessoa como ela é capaz de qualquer coisa...”- Tocou os longos cabelos macios sentindo-os entre seus dedos calejados- “E eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a você de novo...Por isso eu quero que você fique, ao lado do seu avô... aqui, protegida, longe de qualquer loucura dessa mulher”.- Beijou-lhe a testa.

“Syaoran...”- Aspirou fundo sentindo o perfume dele a confundir por alguns instantes.- “Tenta me entender...Está sendo tão difícil para mim deixar o meu reino nas mãos dela...”.

“Eu entendo, minha flor, mas...”.

Sua fala foi impedida quando vindo do nada a espada de madeira que os soldados usavam na ‘invasão’ voou em direção a princesa com muita força. Chiharu projetara um triunfante pensamento –‘a garota ser atingida entre os braços de Li e gritar de dor, e assim fazê-la sofrer um pouco da humilhação que passou ao perder a batalha na arena e ao ser trocada por Li’-, mas a realidade cheia de surpresas fez com que o general se virasse de costas para proteger a menina e fosse atingido em cheio na cabeça, perdendo os sentidos no colo de Sakura que despencou com o peso dele sobre o seu.

“Não!”- A ruiva gritou apavorada percebendo o grande erro que cometeu.- “Droga!”- Correu até eles sem saber o que fazer.- “Syaoran!”.- Droga! Droga...Droga...

“Syaoran!”- Sakura falou alarmada sentindo todo o peso dele contra o seu corpo. Seus olhos de repente encontraram os amadeirados e sua respiração falhou- “Por quê fez isso?” – Ajeitou-se com muito custo tentando colocar a cabeça de Li sobre o seu colo.- “Syaoran...Syaoran...por favor fala comigo”

“O que foi que você fez, Chiharu?”- A voz de Meyling invadiu a arena correndo até o primo- “Droga!”- Praguejou ao ver sangue manchando os cabelos rebeldes e as mãos da princesa- “Alguém vai chamar o médico real, por favor”.

“Não!”- Sakura gritou- “Chama Eriol! Chama ele agora”.- Ordenou sem conseguir evitar as lágrimas de preocupação.

Viu alguns soldados correrem em direção ao castelo. A ruiva tremia. Uma onda de arrependimento tão grande invadiu seu ser que foi impossível conter as lágrimas e sentiu-se pior ainda com o olhar gélido que Takashi lhe lançou. O que tinha feito era grave... Muito grave... E poderia acabar não só com sua carreira militar, como com sua vida. Por que fez isso? Seu juramento era proteger o reino a todo custo e por Deus! Sakura era a princesa e logo se tornaria rainha de Tomoeda e o reino de Ueda sempre estaria unido por aliança de sangue... Mas vê-lo com ela lhe doía... Lhe doía mais do que poderia suportar...Tanto que seu ciúmes ultrapassou a razão...

“Syaoran.... Syaoran, meu amor...Acorda”- Ela beijava o rosto dele por todos os lados.- “Por favor, meu amor...”.

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“Como ele está?”- A voz melodiosa de Tomoyo invadiu o quarto.

Há dois dias Syaoran estava inconsciente. Eriol o atendeu rapidamente e fez o possível para estancar o sangramento. Como um simples pedaço de madeira poderia ter causado tanto estrago? A pancada foi muito forte e não sabia se o rapaz acordaria tão cedo. Temia na verdade por sequelas.

“Por que ela fez isso? Por que ela queria me atingir?”. - A princesa sentiu a raiva invadir seu coração trazendo lágrimas novamente a seus olhos- “Ela gosta dele... não é mesmo?”.- Era tão óbvio. Tudo fez sentido de repente. A forma estranha com que ela lhe olhava... A raiva dela ao jogar a madeira, o desespero ao vê-lo ser atingido...

“Chiharu não é uma má pessoa”- Meyling entrou no quarto ouvindo parte da conversa- “E sim, ela está apaixonada por Syaoran...”- Suspirou- “Mas isso não lhe dava o direito de fazer o que fez. Takashi está arrasado. Ele gosta dela...”.- Contou como se fosse algo óbvio.

“Mesmo assim... Ela poderia tê-lo matado”- O nervoso da princesa era visível e suas olheiras profundas delatavam seu cansaço. Desde que ele adormecera não saiu um minuto sequer do lado do rapaz.

Um resmungo forte chamou a atenção das três. Sakura correu para o lado esquerdo de Li e sentiu o coração acelerar ao ver aqueles faróis alaranjados iluminarem o quarto. Ele acordou. Graças a Deus!

“Ai...”- Levou a mão a cabeça- “Ao..Aonde eu estou?”.- Olhou para a prima em seu lado direito que o encarava com o rosto preocupado- “Meyling, o que aconteceu?”.

“Você foi atingido durante o treinamento...”.-Sorriu um pouco- “Foi uma pancada e tanto”.

“Que treinamento?”- Tentou se levantar- “Parece que um cavalo me pisoteou... Aonde está o papai?”.

A jovem de olhos rubi estranhou a pergunta. Mas porque raios ele ainda não havia perguntado se Sakura estava bem... Deveria estar realmente muito confuso.

“Está na sala do trono esperando notícias suas...”.- Suspirou- “A cada meia hora ele vem aqui perguntar sobre você”.

“Syaoran...”- A voz de Sakura invadiu seus ouvidos fazendo o seu coração acelerar. Olhou para a bela menina a seu lado e uma onda sentimental o invadiu assustando-o um pouco. ‘Mas que raios’.

A princesa se aproximou mais, sorrindo para ele. Um sorriso tão puro e genuíno que o deixou levemente perturbado- “Ah, graças a Deus, eu estava tão preocupa e-“.

“Desculpe-me, mas... eu conheço você?”- Ele perguntou confuso encarando os belos olhos verdes de perto. Se tivesse visto aqueles olhos em algum lugar, ele saberia, não? Claro que saberia! Nunca havia visto alguém tão bela em toda sua vida. Levantou-se em um pulo assustando a princesa que deu dois passos para trás chocando-se com Tomoyo. Ele levou a mão a cabeça novamente- “Droga! Como dói”.- Resmungou observando a jovem a sua frente que mantinha os olhos confusos voltados para ele. Sentiu um arrepio na espinha ao ver a intensidade das esmeraldas e aquilo o incomodou. Por que aquele olhar mexia tanto com ele? Porque seu coração doía tanto?- “Por que está me olhando desse jeito?”.- Fechou cara não gostando de não saber o que acontecia, do porquê estava assim. – “O que eu estou fazendo aqui?”.

“Você está confuso, primo”- Meyling tentou deitá-lo novamente, mas ele permanecia em pé olhando intensamente para Sakura.

“Por que você está me olhando desse jeito, menina?”- Perguntou novamente encarando a princesa que sentiu os olhos encherem de água. O que estava acontecendo? – “Para de me olhar desse jeito...”- Ordenou autoritariamente. –“Para”

“Syaoran... Sou eu... Sakura”- Ela se aproximou novamente e ele deu dois passos para trás evitando-a. Aquelas esmeraldas faziam sua alma doer... Por quê? Por que se sentia daquele jeito? O que havia no olhar daquela garota que o deixava dessa maneira? Tão vulnerável...

“Sakura?”- Repetiu o nome dela... Algo clicou dentro de si, mas logo desapareceu- “Eu... eu não conheço você... eu não conheço nenhuma Sakura”- Ele a olhava profundamente. Porque lhe doía tanto o coração? Por que sua alma estava lhe matando ao ver os olhos entristecidos a sua frente?

“Primo, você está me assustando”- Aflita, Meyling o fez sentar, mas ele estava agressivo e a repeliu.

“Me responde Meyling...O que eu estou fazendo aqui? Que lugar é esse?”.

“Você está em um dos quartos de hospedes do palácio... Já te disse que você foi atingido na cabeça durante do treinamento...”.

“Quem é ela?”- Não conseguia evitar. Não conseguia tirar os olhos de Sakura.

“Nossa princesa...”- Os olhos rubis levemente entristecidos pela situação. Ao ver as esmeraldas quebradas a morena só pôde lamentar. Que destino cruel...

“Princesa de Ueda?”- Arregalou os olhos. A dor de cabeça piorando.

“Não! Princesa herdeira de Tomoeda... Mas, que raios aconteceu com você, primo?”

“Tomoeda?”- Estranhou – “Mas a princesa de Tomoeda está morta...”.- Irritado- “Já falei para parar de me olhar desse jeito”.- Não conseguia evitar. Ela o deixava tão nervoso, tão fora de si.

“Que gritaria é essa?”- Takashi abriu a porta de uma vez interrompendo as falas da comandante – “Syaoran, meu amigo! Finalmente acordou...”.

“Takashi, graças a Deus”- Levou a mão novamente a cabeça agradecendo a aparição do rapaz.

“Na hora que eu vi aquela espada indo na direção de Sakura, meu sangue parou... Mas você sempre se coloca na frente dela para tudo...”- Brincou- “Aposto que vai ganhar muitos beijos como recompensa”.

“Eu não sei do que estão falando... eu... “- Encarou a princesa que fazia um esforço enorme para não chorar e isso o fazia morrer por dentro. Droga o que estava acontecendo com ele? - “Desculpe-me alteza, não estou me sentindo bem... Será que a senhorita poderia se retirar?”.

“Você... Você não se lembra de mim?”- A voz dela saiu trêmula, mal acreditando na frase que acabara de pronunciar. Ele a estava lhe afastando de si. Ele só estava confuso pela pancada... só isso... Como ele lembrava de todos os outros, menos dela? Aquilo era possível?

“Desculpe-me alteza”- Havia tanta verdade na voz dele que o desespero tomou conta do coração da jovem- “Mas não me lembro”.- O olhar dela o incomodava. Deus! Sentia todos os pelos do corpo levantarem.

Aquilo bastou para terminar de arrancar seu coração do peito. Com passos largos Sakura se retirou do quarto segurando as lágrimas o quanto pôde. Correu para seu quarto sob o olhar atento dos guardas que se assustaram um pouco ao ver o estado caótico da menina. Jogou-se em sua cama, e quase sentiu o coração parar quando sentiu o cheiro dele ainda impregnado em seus travesseiros. Um perfume tão intenso que fez suas lágrimas jorrarem. Tomoyo a seguiu, mesmo sabendo que era proibido entrar no quarto da princesa sem convite. Sentou-se ao lado dela na cama com um enorme nó na garganta...

“Com-Como isso é po-poss-possível, Tomoyo?”- A voz completamente abafada pelo travesseiro. – “Como ele pode se lembrar de todos e não se lembrar de mim?”- Enxugou as lágrimas com as mangas do vestido.

“Eu não sei Sakura”- As ametistas doloridas por ver sua amiga daquela maneira.- “Mas, Eriol deve saber... Você vai ver, tudo vai se resolver...”.

Ela não respondeu. Apenas chorou ainda abraçada ao travesseiro.

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“Ele bloqueou Sakura em sua mente”- Eriol começou a explicação- “Com a pancada, imagens da princesa provavelmente perturbaram o seu coma.”- Observou o rosto preocupado dos presentes- “Então, sua mente bloqueou todo sofrimento... Como se durante o sono ele tivesse revivido a morte dela várias vezes... Ele se lembra de tudo, mas não do que o fez sofrer por tanto tempo. Então a morte da princesa para ele foi apenas um fato qualquer”.

“Isso é definitivo?”- Masaki perguntou preocupado com a bisneta que até então olhava para os próprios pés tentando digerir a informação.

“Não sei afirmar. Algumas vezes é...outras não...”- Falou sinceramente- “A pancada foi muito forte. Se tivesse atingido Sakura, talvez a tivesse matado”.

“Tão forte assim?”- Os olhos de Takashi refletiam certa decepção. Apesar de todos saberem que foi Chiharu a responsável pelo golpe, ninguém a delatou. Reportaram como um acidente durante o treinamento.

“Sim, muito forte”- Respondeu- “Mas, na maioria dos casos a memória volta gradativamente...”- Olhou para a amiga- “O amor de vocês é tão forte que eu creio que não vai ser uma pancada que irá separá-los”.

“Ele não quer me ver...”- Ela falou em um tão de voz tão baixo que quase tiveram que deduzir as palavras.

“Isso é porque você o faz sentir coisas de que ele não se lembra”- Eriol se aproximou dela- “Ele te ama...Imagina um coração te amando, enquanto a cabeça o bloqueia de se lembrar de você. Deve ser enlouquecedor, Sakura”.

Ela finalmente levantou o rosto mostrando as olheiras profundas e as marcas de lágrimas em sua pele.

“Eu quero participar do treinamento”- Comentou deixando todos confusos com aquela afirmação no meio da conversa- “Nada disso teria acontecido se nós não estivéssemos aqui...Eu estaria feliz com meu pai ao meu lado e... Syaoran também”- Levantou-se- “Quero uma armadura tão flexível como a sua Meyling”.

“Sakura... Raiva não nos leva a lugar nenhum”- A morena tentou argumentar, mas a princesa não deixou. O olhar que ela lançara era tão decidido que não havia como contestar.

“Não me importa”.

“Deixa ela”- Eriol comentou- “Talvez seja bom para Syaoran conviver com Sakura durante os treinamentos. Qualquer detalhe pode ser um impulsionador para sua memória”- Encarou o rei- “Como uma catapulta”.

“Que assim seja”- Masaki se levantou e todos se levantaram em seguida. Não podia negar isso a Sakura...e não iria.

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“Viva?”- Sayiuri balbuciou as palavras como se não acreditasse nos próprios lábios- “Como ela pode estar viva...se eu mesma...a matei?”.

“Rumores dizem, majestade...que um casal a encontrou a beira da morte e cuidou dela”- Spinel estava ajoelhado diante do trono- “E ela sobreviveu”.

“Maldita!”- Gritou revoltada quebrando o vaso de porcelana a seu lado- “Mil vezes maldita!”.

“As más notícias ainda não acabaram”- Pigarreou chamando a atenção da rainha sobre si- “Parece que algumas pessoas juraram ter visto o ex-comandante de Tomoeda ao lado dela...”.

“Se você me disser que Fujitaka estava junto também eu mesmo cortarei sua língua general”- O tom de cólera em seus lábios delatavam o furacão que estava seu coração.

“Não estou brincando, majestade”- Sério- “Eu jamais brincaria com algo assim”.

“Preparem as tropas...”.

“Vamos montar uma estratégia de defesa”.- Se colocou em pé- “Não há como eles invadirem o palácio”.

“Tem certeza disso?”- Levantou uma sobrancelha.

“Absoluta...”

“Pois bem”- Fez uma pausa- “E traga-me a cabeça dos mentirosos que disseram que o ex- comandante havia morrido”- A voz fria o fez tremer sem querer- “Numa bandeja de prata”.

Continua....


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Notas finais do capítulo

Ok! Eu sei, eu sei… Vocês devem estar querendo me matar nesse momento. Uffff Mas olha eu TENHO UMA BOA EXPLICAÇÃO … Os próximos capitulos vão ser MUITO FOFOS… de verdade!! (PROMETO)
Vamos la...
Sim, eles descobriram sobre Misuki (Que bom, né?) E que o Eriol foi adotado por uma boa pessoa (Lindo né?) Ruby tinha sido agredida (Coitada)… A Chiharu não está sabendo lidar com o sentimento de perda mesmo né(Perder o Syaoran não deve ser fácil rs)… Acabou fazendo uma besteira muito grande que vai determinar os próximos capítulos…Mas acalmem-se…Eu sou fã incondicional desse casal :)



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