—Eu não vou. —diz Isaac desesperado. —Eu não posso. Não vou me casar.

—Você enlouqueceu? É claro que você vai! Nem que seja arrastado. —digo o olhando incrédulo.

Estávamos em seu quarto, ajeitando os últimos detalhes do smoking e tentando dar um nó decente em nossas gravatas. Hoje é o dia da cerimônia, e bom, parece que não é apenas a noiva que tem surtos no dia. Isaac estava com um comportamento quase infantil, com aquela birra de que não iria. Faltava apenas bater os pés contra o carpete e cruzar os braços sobre o peito.

—Se você fugir, ou qualquer coisa assim, e deixar a Annie naquele altar desesperada e sozinha, eu juro que vou atrás de você, apenas para arrebentar a sua cara. —diz Anthony , irmão mais velho da Annie, com uma expressão bem séria.

—Cara, eu sei que você está nervoso, mas relaxa, okay? —diz Ethan dando pequenos tapinhas nas costas de Isaac. —Quer uma água gelada? Um chocolate quente? Um soco pra despertar desse surto?

—Eu sou muito jovem e despreparado pra isso. —ele balança a cabeça. —Vou pra casa da Annie. Digo que não estou pronto e que podemos adiar isso para outro dia. —ele se levanta e se dirige em direção à porta.

O agarro pela barra de sua camisa e o puxo de volta, ele caiu novamente sentado sobre a beira da cama.

—Qual é o seu problema, Isaac? —pergunto.

—Divórcio. —ele responde encarando as mãos.

—O quê? —perguntam os outros dois juntos.

—A maioria dos casamentos acaba em divórcio. Já estou até imaginando eu e Annie caindo na rotina. —ele faz uma careta. —Não quero que isso aconteça. Não como aconteceu com seus pais ou com os pais de Jenn. Meus pais continuam juntos, mas por pura comodidade. Eles mal olham um pro outro e não quero isso pra mim.

—Seu problema é se preocupar demais. Meu Deus, Isaac! —balanço a cabeça. —Pensa nisso quando a rotina começar a acontecer e lembre-se de fazer alguma coisa. Por que não conversou com Annie antes sobre isso? Como quer começar algo já pensando em seu fim?

—Santo otimismo! —Ethan revira os olhos.

—Você só tem que fazer dar certo e te garanto que minha irmã é muito teimosa, então você precisará se esforçar muito pra que ela desista. —Anthony dá de ombros.

—Só não quero magoa-la. —ele passa a mão pelo cabelo.

—Ah, cara, então você está encrencado. —ele me olha confuso. —É obvio que você vai magoa-la. Nenhum relacionamento é perfeito. Acha que aqui é alguma espécie de conto de fadas? “E eles viveram felizes para sempre”? Isso não existe. O que existe são pessoas reais, com defeitos e qualidades, que lutam pra dar certo. E entre essas lutas, brigas e discussões, que acabam magoando uma das partes.

Ethan assoviou e bateu algumas palmas absolutamente desnecessárias.

—Desde quando você é tão poético, campeão?

—Não começa, Ethan. O assunto é sério. —bufo.

—Mas concordo com tudo que nosso amigo Dicaprio falou. —disse Ethan sorrindo. —Arrisca cara!

—Imagina se eu não tivesse arriscado com a Jennifer? —pergunto.

—Mas você e Jennifer terminaram. —ele estreita os olhos e algo em minha expressão deve ter me entregado, porque ele aponta o dedo pra mim triunfante. —Eu sabia! Sabia que era uma questão de tempo pra vocês se acertarem. Pô, cara! Por que você não falou pra gente?

—Eu sei lá. —faço uma careta. —Parece mais que estamos ficando do que reatando. Não queria cantar vitória antes do tempo, afinal, eu viajo amanhã à noite.

—Tinha até esquecido que você ia embora. —diz Anthony.

—Pois é cara. A faculdade tinha me dado duas semanas, mas eu entreguei alguns trabalhos e tarefas por email e pude ficar mais alguns dias. Mas estou perdendo muito conteúdo, aulas e tal. Preciso voltar. —digo cabisbaixo.

—Só mais um ano, cara. —diz Ethan. —Depois disso, você volta e tudo fica aquela maravilha de novo.

—Sabe o que eu acabei de me lembrar? Isaac não teve despedida de solteiro. —olho para os outros.

—Podemos improvisar agora mesmo então. —diz Anthony. Então ele desce até a cozinha e volta com algumas garrafas de cerveja e vai servindo aos outros.

Nos brindamos, não a algo especifico, mas ao momento. Diego havia chegado pouco tempo depois, como sempre atrasado. Bebemos, rimos e conversamos bastante. Apesar de não se ter muito contato, Anthony era um grande amigo de infância. Mas depois que havia se mudado, (ele era meio-irmão de Annie, apenas por parte de pai), o contato ficou cada vez mais raro, até mesmo com sua irmã. Era bom reuni-los de novo, o que doía era que aquilo não poderia se repetir por cerca de um ano. Ia sentir falta daqueles caras!

***

Eu que achava que Isaac era o mais nervoso entre nós, nunca havia me enganado tanto, até ver Annie. Estava andando entre os camarins, à procura de Jennifer, mas em vez disso, encontrei Annie sentada sobre um divã e encarando o espelho. Ela estava linda e quando me aproximei, me deu um sorriso tímido.

—Jennifer saiu daqui quase agora. —ela disse em voz baixa. Estava nervosa. Era perceptível ao observar suas mãos que não paravam de torcer e destorcer o tecido de seu vestido.

—Ah, eu estava realmente a procurando. —sento-me ao seu lado. —Está tudo bem?

—É normal se sentir nervosa?

—Acho que sim. —rio baixo. —Seu noivo estava quase subindo pelas paredes antes de chegar aqui.

—Ah, ele estava? —ela sorri como se eu tivesse lhe dito algo fofo, o que não condizia com a realidade, já que Isaac nervoso e fofura não eram sinônimos, nem de longe.

—Pois é. Mas depois de algumas cervejas, ele até que se acalmou.

—Não acredito que vocês deram bebida alcoólica pra ele.

—Ei, relaxa! Ele não vai tombar no altar ou nada assim, pelo menos, esperamos que não. —eu rio e ela me acompanha. —Vou procurar a Jenn. —me levanto. —Boa sorte. E não tropece no vestido, quase aconteça, faça questão que a equipe de filmagem flagre isso.

—Agora você me deixou ainda mais nervosa.

—Vai dar tudo certo. E também se não der, virará boas histórias um dia.

Então assim que saio, encontro Jennifer. E quando digo “encontro”, é algo literal. Quase a derrubo no chão e tenho que nos equilibrar para que isso não aconteça.

—Não olha por onde anda? —ela faz cara de zangada, mas pelo seu tom sei que ela está apenas brincando.

—Desculpe, mas a sua beleza me distraiu, senhorita. —digo sorrindo e ela revira os olhos como se não acreditasse, então entrelaça os braços envolta de meu pescoço.

—Conseguiu acalma-la? Estou nessa há horas.

—Mas é claro que sim. Eu tenho esse dom. E vários outros também, se me permite dizer.

—Vai começar o egocentrismo? —ela ri.

—Desculpe, mas é parte de mim. —dou de ombros e me inclino, lhe dando vários selinhos.

—Ei pombinhos, vamos indo, está na hora. —diz Annie autoritária e me empurrando. —Pro altar, Leo! Agora!

—Só se a Jenn for à noiva. —digo rindo e piscando para ela.

***

A cerimônia é tranquila e Isaac não foge ou gagueja quando diz sim. Talvez alguns goles de bebida realmente não façam mal. Nunca o tinha visto tão confiante. Annie estava deslumbrante quando entrou e não errou nenhum passo, ruim pra mim e pra equipe de filmagem. Mas ainda havia a festa depois disso, e lá, com certeza conseguiriam um material interessante.

No altar, os padrinhos puderam sentar-se para assistir a cerimônia. Me sentei ao lado de Jennifer, segurando sua mão e entrelaçando nossos dedos, enquanto Ethan se sentou ao lado de Nanda. Ninguém ousou discordar, todos sempre souberam que se um de nós casasse, seriamos padrinhos um dos outros. Coisa de criança? Bom, pra Annie aquela promessa fora algo bem sério.

A festa não parecia de um casamento, parecia apenas outra de nossas festas na adolescência. Bastava ignorar o vestido branco e comprido de Annie e pronto, estávamos em casa. Dessa vez, Lizzie havia ficado em casa, com a avó depois da cerimônia, então Patrícia e Diego puderam aproveitar a festa como dois jovens, e não como pais. Era bom ver que o senso de humor deles estava intacto ainda com a rotina. E assim que pensei nisso, encarei Isaac e acho que ele percebeu o que eu quis dizer.

Quanto a Jenn, não falamos um único segundo sobre o dia seguinte. O dia de minha repartida. Ela parecia ter ouvido meu conselho de aproveitar enquanto ainda estávamos juntos e ninguém pareceu surpreso quando nos beijamos na pista de dança ou resolvemos ficar um tempo sozinhos. Não questionaram sobre a distância ou qualquer outro empecilho e fiquei grato por aquilo. Só estávamos nos divertindo e pronto. Nada importava, além disso.