If i remember escrita por Just a writer


Capítulo 1
Nothing in my mind




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Veja bem, perder a sua memória não é tão divertido quanto parece nos filmes. Você esquece as cagadas que você fez, essa é a parte boa. Você não sabe mais merda nenhuma da sua vida, essa é a parte ruim.

A primeira coisa que me lembro era de estar deitado numa cama. O estranho do meu tipo de amnésia, é que você não se lembra de nada da sua vida, mas você se lembra do nome das coisas. Eu fui abrindo os meus olhos devagar por causa da luz. Eu me sentia desconfortável, então me mexi um pouco, ainda desconfortável. – Cama de hospital – esse foi o meu primeiro pensamento. Quando abri os meus olhos inteiramente, a minha primeira ação fora de olhar para os lados. Do meu lado direito uma cortina branca atrapalhava a minha visão, mas dava para ver a sombra de duas pessoas e ouvir as vozes delas. Do lado direito uma fileira de pacientes inconscientes e camas vazias. A sala tinha aquele costumeiro cheiro de álcool em gel e anestesia. O barulho de muletas batendo no chão e aquele bip bip daquela maquina que não lembro o nome, que media o batimento cardíaco das pessoas, era constante. As paredes brancas refletiam a pouca luz do sol que atravessavam as janelas.

Me sentei e comecei a olhar para mim mesmo. Eu vestia aquelas roupas de hospital com pequenas estrelinhas azuis que mais parecia uma bata, uma agulha injetava um soro numa minha veia do meu braço direito, e um cobertor branco fino estava sobre as minhas pernas.

– Ah! Finalmente você acordou. Já estávamos ficando preocupados – uma enfermeira loira disse enquanto vinha em minha direção.

Primeiramente eu havia ficado com medo, pois eu não sabia o que esperar. Eu encolhi os ombros e fechei a cara.

– Como você se sente? - a enfermeira perguntou. Eu não respondi.

No começo, era estranho. Não sabia que língua ela estava falando, mas eu a entendia.

- Você se lembra de alguma coisa do acidente? – ela pegou uma prancheta e tirou uma caneta do bolso. – Você lembra-se de alguma coisa? – eu meneei com a cabeça.

- Hum – ela escreveu algo na prancheta. – O doutor disse que isso poderia acontecer. – a enfermeira pressionou o botão na parte de cima da caneta. – Espera aqui, eu vou chamar o doutor.

Eu apenas confirmei com a cabeça. A enfermeira voltou a guardar a caneta no bolso e saiu da sala com a prancheta debaixo do braço. Na cama do lado direito, ouvi aquele clang clang de metal batendo um contra o outro, e vi duas sombras se mexerem. A sombra maior se aproximou da cortina e a puxou para o lado. Do outro lado da cortina, apareceu um medico de pele escura, e em seu rosto repousava um óculos de armação redonda. Ele vestia aquelas roupas típicas de medico. Seus olhos castanhos me fitaram, e o medico deu um sorriso.

– Finalmente você acordou! – o medico passou a mão na cabeça desprovida de cabelos. – Depois venho falar com você. Quero te perguntar algumas coisas, tudo bem? – eu dei de ombros. – Ótimo!

O medico se virou para uma mesinha do lado da cama vizinha e pegou o estetoscópio que estava ali em cima e o pôs em volta do pescoço e também saiu da sala.

Virei a cabeça para frente e tentei abraçar os meus joelhos, mas então descobri que a minha perna esquerda estava engessada. – Como eu fiz isso? Como fui parar aqui? – pensei. Era tudo muito confuso pra mim. Tentei me lembrar o que havia acontecido, mas eu não conseguia. Era como se tivesse uma barreira me impedindo de lembrar das coisas.

– Ei! Você! – ouvi uma voz feminina vinda da cama vizinha me chamando.

Olhei para a direita e vi uma garota sentada em cima da cama com um lenço sobre as pernas desnudas. Ela tinha cabelos pretos curtos lisos que cobriam um pouco as orelhas, olhos castanhos claros e lábios finos um pouco claros. Ela vestia a mesma roupa que eu, exceto pelo gesso no braço direito.

– É! Você mesmo. – Quando eu fitei a garota, tive aquela sensação que eu já tinha visto ela. – Nossa – ela hesitou – Você não ta tão ferrado quanto eu achei que estaria.

– Por que... – eu tentava formar as palavras, mas era difícil – por que eu estaria ferrado? – consegui terminar de falar.

– É serio? Você não se lembra de nada do acidente – eu meneei com a cabeça. A garota virou o corpo na minha direção, fazendo as suas pernas saírem da cama. – Nossa! E você lembra de alguma coisa?

– Não – respondi.

– Nem do seu nome? – o rosto dela transparecia curiosidade.

Eu sacudi a cabeça negativamente.

– Muito bem! – ela bateu na perna com a mão sem gesso – Vamos descobrir o seu nome então.

A garota saiu de sua cama com um salto, e começou a rondar a minha cama murmurando alguma coisa. Ela parou em frente aos meus pés e gritou triunfantemente um achei. Ela esticou a mão e pegou uma prancheta que estava presa na minha cama.

– Muito bem, muito bem, vamos descobrir o seu nome. Senhor... – seus olhos correram todo o papel, até que achou o que estava procurando. – Você, meu caro amigo sem lembranças, se chama Evan Rowe.

Esse era o meu nome. Evan Rowe. Por dentro me sentia aliviado por redescobrir um pedacinho de mim, mesmo que fosse esse pedacinho. Agora queria saber mais.

– Gostei desse nome – a garota falou ainda olhando a prancheta. – Evan Rowe. Rowe. Esse ultimo parece latido de cachorro.

– Tem mais alguma c-coisa aí? – perguntei. Ela olhou rapidamente pra mim.

– Hum, você nasceu em 1996, olha você tem a mesma idade que eu! – ela se empolgou. – Ah, meu Deus. Você mora pertinho da minha casa.

Já tinha algumas informações, ótimo! Naquele momento pensei que minha mãe, seja lá quem fosse, tinha mais informações sobre mim.

– Sabe o que eu esqueci? – a garota pôs a prancheta de baixo do braço engessado.

– O que?

– De me apresentar – ela esticou a mão esquerda. – Prazer, Dawn Hansen.

– Evan Rowe. – eu disse apertando a sua mão.

Dawn colocou a prancheta sobre a minha cama, caminhou de volta pra cama dela e se sentou ali. Ela me olhou com certo pesar. Aprendi pouco tempo depois, que quando ela olhava assim, ela estava pensando em uma maneira de se redimir com as pessoas. Sim, ela ainda provocaria muita merda, e eu estaria envolvido. Pressionei as minha mãos contra a cama e me endireitei. Continuei fitando Dawn tentando imaginar o que ela estaria pensando, até que ela se manifestou.

– Sabe, eu posso tentar te ajudar – seus dedos se entrelaçavam e se soltavam rapidamente.

– Com o que? – perguntei.

– A se lembrar da sua vida. Acho que te devo essa – Dawn sorriu sem jeito. – Você não se lembra, mas eu tava envolvida no seu acidente, então... – a mandíbula inferior dela estava tensa. – Acho que é meu dever moral te ajudar.

Olhei para a minha perna engessada, pensando se Dawn poderia me ajudar de alguma maneira. Ela estava lá no acidente, então achava que ela se encaixaria em algum ponto. A olhei rapidamente. – Devo estar maluco – pensei.

– Tudo bem. Acho que não vai fazer mal ter você me ajudando. – eu falei.

– Ótimo! – ela saltou outra vez da cama, e pôs o rosto a poucos centímetros do meu, fazendo eu ficar um pouco vermelho. – Mas eu não vou fazer isso sozinha, você é o esquecido aqui, então você vai estar sempre presente, okay? – ela ameaçou pressionando o dedo indicador contra a minha barriga, que por sinal estava machucada, pois doeu.

– Tá, tudo bem – me apressei em dizer.

Dawn deu um sorriso sarcástico e voltou a sua cama.

Muito bem. Tinha uma potencial torturadora me ajudando a ter informações, o que poderia dar errado?


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