Londres, Inglaterra. 14 de Janeiro de 1895.

Fazia um silêncio gigantesco naquela tarde. Holmes estava jogado, de qualquer maneira, sobre o sofá de seus aposentos. Nem Watson, nem sua prima Diane estavam por perto. Nem mesmo sua esposa secreta, Esther. Seus olhos cinzentos pairavam, de forma quase obcecada, sobre o quadro-negro em um canto da sala. Ele estava inconformado, embora desafiado. Ou alguém lhe fizera uma tremenda brincadeira de mau gosto, mandando-lhe palavras sem nexo passadas por mensagem, ou aquela era a mensagem criptografada mais sofisticada que já recebera.

Sem dúvida, trabalho de um espião.

Nem mesmo a porta se abrindo lhe fez abandonar seu estado de concentração com aquele desafio. No entanto, havia limites à sua extrema racionalidade, especialmente um choro feminino.

Ele apenas pôde perceber a porta do quarto de Watson se fechar bruscamente. O que se ouviu foram ganidos de choro. Certamente, algo aconteceu a Miss Watson, ele deduziu. Em seguida, veio Dr. Watson, com o semblante preocupado, lhe atestando o fato de que algo tinha acontecido.

–E-Ela está no quarto dela? – perguntou Watson, um tanto preocupado. Holmes assentiu, ainda sem compreender a situação.

Watson bateu à porta, brevemente. De imediato, a porta se abriu, sem voltar a se fechar. Holmes sentiu-se incomodado com isso. Afinal, ele era um estranho, ouvindo uma conversa da qual duvidava ser de seu interesse.

O conteúdo, entretanto, chamou atenção à sua mente voltada à Criminalidade.

–Está tudo bem, minha querida... – ele pode ouvir a voz de Watson, no tom mais calmo que o de costume. – Ele não vai mais se aproximar de você...

–Oh, John... – a jovem Diane suspirava. – Oh, John... Eu tive tanto medo...

–Não se preocupe, minha prima... Já passou... Eu vou pegar um pouco de conhaque para te reanimar.

Holmes, que estava sentado sobre a poltrona, subitamente incomodado por participar como ouvinte de um momento familiar, percebeu Watson passar pela sala de estar, indo em direção às bebidas.

–Eu a encontrei caminhando na Trafalgar Street, voltando de uma entrevista de emprego de uma agência para professoras. Caminhamos um pouco, quando eu percebi que tinha alguém a vigiando. Eu percebi que era um homem. Corri atrás dele, mas acabei perdendo-o de vista. Ele correu mais do que eu, por causa de minha perna. Enfim, Diane ficou em um estado de nervos.

–Posso imaginar. – disse Holmes, friamente.

–Acho que vou dar um calmante a ela... Será bom fazê-la dormir um pouco e esquecer deste desagradável incidente. – disse Watson, enquanto examinava a gaveta. – Ah, não está aqui. Devo ter deixado com Mrs. Hudson. Vou buscar.

Watson desceu as escadas ansiosamente. Mal Holmes tinha ouvido os sons oriundos da escada, ele ouviu a voz de Diane, a lhe chamar.

–O que foi, Miss Watson? – ele perguntou, tentando ser gentil, ainda da porta.

Os olhos da moça estavam avermelhados, e havia algumas lágrimas ainda a escorrer pelo seu rosto, que ela tentava enxugar quase sem sucesso.

–Oh, Mr. Holmes... – ela disse, sob lágrimas, levantando-se da cama e caindo nos braços de Holmes, deixando-o sem reação.

Completamente sem jeito com a situação, Holmes tentava aplacar seu nervosismo. Notou que as mãos da moça estavam trêmulas.

–Acalme-se, Miss Watson, por favor... – ele disse, num tom de súplica.

A moça voltou seus olhos castanhos para os dele. Antes que Holmes compreendesse qualquer coisa, ela simplesmente o beijou.

O som do estilhaçar de um vidro irrompeu o silêncio daquele gesto.

–O que está havendo aqui?!