Laços de Sangue e Fúria escrita por BadWolf


Capítulo 29
Nos Rastros


Notas iniciais do capítulo

Título do cap bem simples, mas apesar disso eu juro que é um cap interessante - e que vai fazer o coração dos mais atentos disparar, eu tenho certeza!!!

Boa leitura!!



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Do outro lado da cidade, Richard Revington aguardava por Esther. Recostado a uma parede, próxima a um ponto de ônibus, ele fumava seu segundo cigarro. Estava tenso, em vista dos últimos acontecimentos, e a demora de Esther em aparecer apenas potencializava sua ansiedade em contar-lhe os últimos acontecimentos. Pior, sabia que os próximos passos poderiam ser decisivos, e isso lhe amedrontava. O medo que fazia sua garganta quase se fechar de tanto tremer, a hesitação que congelava seu sangue e lhe dava arrepios na espinha era, em parte, fruto de certo orgulho ferido. Ele, como homem, não sabia o que fazer, como lidar com aquela situação sem Esther. O revólver em seu bolso, velho e até antiquado, sempre lhe foi desconfortável. E admitir que uma mulher poderia se sair melhor nessa situação lhe dava uma pitada de vergonha. O que seu falecido irmão pensaria disso?

Pelo que ele disse de Esther, diria “não seja babaca porque ela é melhor do que você”. Uma risada boba passou por seus lábios ao imaginá-lo dizer isto.

–Rindo sozinho, Mr. Revington?

Ele virou-se, surpreso. – Finalmente, Miss Katz! Já estava preocupado...

–Tive um contratempo... – admitiu Esther.

–O que houve com a senhorita? – perguntou. – Está ruborizada...

Esther tentou ajeitar seu cabelo, ainda um pouco desalinhado.

–Um contratempo insignificante. – ela o cortou. – Mas afinal, o que tem para me contar de tão urgente?

–Eu espero que não esteja te atrapalhando em seu trabalho... – ele observou.

Esther negativou. – Pedi licença. Aleguei problema emocional, com a morte de meu colega de trabalho. Isso me dá algumas semanas ao menos, para concluir nosso trabalho. Meu chefe deve estar duvidando disso até agora, mas preferiu deixar como está.

–Menos mal, Miss Katz. Mas deixe-me contar o que andou se passando...

Revington virou para os lados, repentinamente. Esther riu.

–Tipicamente amador, Mr. Revington. – observou Esther, com diversão. – Sem fazer qualquer movimento brusco eu já me certifiquei que não estamos sendo notados. À sua esquerda, está um casal discutindo, e pelas costas há um senhor idoso que é incapaz de nos escutar porque está discutindo o troco com o jornaleiro. Mas tudo bem.

Richard pareceu surpreso, mas continuou.

–Tudo bem, então. Pois bem, eu procurei a modista que meu irmão costumava encomendar vestidos e chapéus... Claro, não era pra ele, mas para suas...

–Amantes. – disse Esther, com naturalidade que deixou Richard assombrado.

–Er, como você disse. – ele pigarreou. – Ela me disse que as últimas encomendas de meu irmão foram para uma moça cujo endereço fica na Travessa dos Hobbes.

–Lá? – perguntou-se Esther. – Parece ser um lugar de classe média.

Richard concordou. – Exato. Muitos estrangeiros costumam ter casas alugadas ali, ao lado de advogados, médicos, professores... Parece ser um bom bairro.

–Perfeito para uma assassina. Ou mesmo assassino.

Richard ergueu uma sobrancelha, desconfiado.

–Acredita que ela tenha um cúmplice?

–Possivelmente. – defendeu Esther. - Mulheres são excelentes para manipular homens. E além disso, seu irmão foi morto em seu quarto de encontros, e no corredor também havia um outro homem morto. Os dois foram mortos quase ao mesmo tempo. Não duvido que ela tenha atirado, mas duvido que tenha conseguido isso sozinha. Atirar em dois homens experientes em ambientes diferentes e em segundos? Dificilmente.

–Ainda mais quando um deles é um Pinkerton.

–Exatamente. – ela concordou. – Ela não está sozinha nessa história, acredite em mim. Há um cúmplice, e certamente um homem. Mas enfim, vamos averiguar esse endereço. – ela disse, enquanto Revington fez sinal a um cabriolé.

Após o primeiro passar – Esther sempre fazia isso, para evitar que alguém lhes seguisse – os dois embarcaram, finalmente, rumo a tranquila Travessa dos Hobbes.


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A Travessa dos Hobbes era ideal para famílias com crianças, concluiu Esther. Um dos poucos locais londrinos ainda com algumas escassas árvores, além de um belo parque e lago a dar mais um clima bucólico à quem andava tranquilamente ali.

–Com meu salário, jamais conseguiria algo assim. – disse Revington, com diversão. – Mas é um bom lugar. Posso imaginar meus filhos brincando aqui.

–Filhos? – disse Esther. – Você já é pai?

–Não, mas pretendo ter um dia. Mas de todo modo, caso não venha a ter, ao menos tenho uma bela sobrinha. Você iria adorá-la. Uma menina muito encantadora. Foi a melhor coisa que meu irmão pôde deixar para mim. – disse Richard, com pesar.

Foi a melhor coisa que meu irmão pôde deixar para mim... Esther não poderia dizer isso. Seu único irmão, David, morreu jovem e de maneira estúpida, quando ambos estavam tentando reconstruir a vida na França, longe de Dmitri e do Conde Ivanov. Queria ela que ele tivesse deixado alguma “arte” pelo meio do caminho, como uma filha. Mas isso não aconteceu. David era pouco namorador e era responsável, com as velhas obrigações de irmão mais velho, auqele que impõe moralidade e educação. Embora tivesse aprontado, chegando a envolver-se com mafiosos italianos e mesmo apostando todo o dinheiro que tinham em uma partida de pôquer, ele era um bom rapaz. Não merecia morrer da maneira que morreu, apenas pelo rótulo de sua religião.

Ao ver dois meninos brincando com um pequeno barquinho nas margens do lago, um rompante de dor e nostalgia invadiu Esther. Muitas vezes, ela se perguntava como estaria a criança que ela perdeu. Seria um menino ou uma menina? Será que gostaria de brincar ao ar livre, ou seria mais introvertido? Aprovaria brincadeiras à beira do lago?

–O que foi? – perguntou Richard, ao perceber o semblante de Esther.

–Já perdi muitas pessoas, Richard. Algumas que sequer tive o prazer de conhecer.

Richard pareceu analisar.

–Você já foi mãe, é isso?

Esforçando-se para não chorar, Esther apenas confirmou com a cabeça.

–E perdeu-o no parto?

–Aborto. – ela disse, simplesmente. Richard concordou levemente.

–Sinto muito. Eu já lidei com situações como essa.

Esther não entendeu. – Como, se você não tem filhos e nem é casado?

Richard sorriu levemente.

–Eu sou médico.

Chocada, Esther tentava processar aquela situação. Como um médico tinha se tornado um mero funcionário público burocrata?

–Você deve estar se perguntando o que aconteceu... Digamos que coisas desagradáveis aconteceram pelo caminho e... Acabei parando onde estou. Infelizmente, porque tudo que eu queria era exercer minha profissão outra vez, se não fosse pela falta de dinheiro e alguns problemas que enfrentei pelo caminho e que me fizeram desistir do meu sonho.

Mal terminado essas palavras, o cabriolé parou nas proximidades do ponto de destino, permitindo que os dois se desviassem desses pensamentos dolorosos.

–Chegamos. – concluiu Richard Revington.

Richard ajudou Esther a desembarcar, como cavalheiro que era. Não era difícil se infiltrar entre os tranquilos pedestres daquele lugar. Os dois fizeram uma leve caminhada, de maneira disfarçada.

–Ela mora no número 55... Estamos perto, é logo ali.

Ao parar diante do casarão, depararam-se com uma placa de “aluga-se”.

Morava. – completou Esther. – Parece que o peixe pulou do aquário.

–E agora? – ele se perguntou.

–Nem tudo está perdido. Ela pode ter deixado algum rastro. Não vamos desistir.

–E o que você sugere? Invadir a casa?

Esther riu. – Não, nada assim tão drástico. Simplesmente vamos nos passar por um casal interessado em alugar a casa e dar uma olhada.

Ele assentiu.


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–E essa é a sala de estar. – disse a proprietária do imóvel, enquanto conduzia Esther e Richard pelos aposentos da casa. Os dois tinham, é claro, dado nomes falsos, se apresentado como Mr. e Mrs. Grunemberg, um casal sem filhos procurando residência fixa em Londres.

–Muito grande, não é? – disse Esther, para Richard, que tentava parecer verdadeiro.

–É, de fato.

–Bom, o que pode nos dizer dos últimos moradores, Mrs. Gray?

A senhora, sempre atenciosa, lhe respondeu.

–Moradora, na verdade. Chamava-se Marjorie Eccles e esteve aqui em Londres para uma temporada curta. Um contratempo a fez encurtar sua estadia aqui, mas garanto que não foi por causa das acomodações. – disse veementemente.

–Duvidava que este fosse o motivo. – disse Esther. – Essa casa é muito agradável. Mas a senhora disse que essa Miss Eccles...

–Mrs. Eccles, na verdade. Ela era casada, pelo que me disse. O marido dela chegou a visita-la aqui algumas vezes.

Esther pareceu espantada. – Estranho, um casal morando em casas diferentes...

–Não costumo fazer fofoca a respeito de meus inquilinos, Mrs. Grunemberg, mas apesar de manterem tal relacionamento, eu poderia dizer que ambos formavam um casal apaixonado. – ela disse.

Esther entreolhou brevemente a Richard, que tentou disfarçar sua excitação o quanto antes. Sem dúvida, os dois estavam próximos do assassino.

–Bom, e quanto ao aluguel?

–Infelizmente, o contrato só poderá ser realizado a partir de dois meses. Ainda não consegui localizar Mrs. Eccles para terminar o contrato.

Esther pareceu surpresa.

–Então, ela pode voltar a qualquer momento, sem problema?

–Neste prazo, sim. Ela ainda é a inquilina, mas duvido que faça isso. O contratempo que teve pareceu-me grave, dado a urgência que saiu daqui. Pode ter sido a morte de algum familiar, não sei... Mas enfim, isso não afeta a nossa negociação. Agora, irei te mostrar os quartos. Como vocês devem ter percebido, aqui há uma boa variedade de...

Enquanto a senhora dava explicações e tecia elogios ao seu imóvel, Esther procurava um pretexto para ficar às sós, ao menos por dez minutos, que fosse.

Por fim, quando a senhora estava servindo chá e biscoitos às visitas, Esther aproveitou-se que ela estava dando atenção a Richard e derrubou propositalmente sua xícara de chá sobre o colo dela. De imediato, a senhora deu um pulo, ao entrar em contato com o chá quente umedecendo seu vestido.

–Oh, como eu sou desastrada... – lamentou falsamente Esther, sob olhar atento de Richard, que percebeu de imediato a sagaz estratégia dela.

–Er, não foi nada... – disse a senhoria se levantando. – Se me dão licença...

Assim que a senhora deixou a sala de visitas, Esther rapidamente se levantou.

–Richard, permaneça aqui vigiando. Ao menor sinal, dê um assobio.

–Um assobio? – estranhou Richard. – Igual um passarinho?

–Sim, e o mais convincente que souber. Não temos tempo, preciso procurar pelas evidências dela.

–Tudo bem. – ele assentiu, enquanto Esther subia as escadas rapidamente.

Esther tinha sido treinada pela Agência de Inteligência sobre como proceder em buscas rápidas de maneiras eficientes, procurando por buracos, paredes falsas e todo o tipo de artimanha necessária para ocultar coisas.

Depois de exatos sete minutos, procurando pelo quarto que ela tinha deduzido ter pertencido a tal de Marjorie Eccles, finalmente Esther percebeu um detalhe curioso.

Um pedaço do papel de parede do quarto estava descolando.

Tinha recebido cola há pouco tempo.

Esther se esgueirou, apoiando-se em seus joelhos, naquele canto do quarto. Passou seus dedos pelo papel cedente e percebeu uma saliência na parede. Ao forçar um pouco com as unhas, uma tampa se abriu, revelando uma pequena caixa.

–Parece que encontrei você, Marjorie. – disse, triunfante.


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Notas finais do capítulo

CLAP CLAP CLAP!!!!

Esther, você tá muito danadinha nos últimos tempos!!! Não está perdendo uma!!! Parece que esse dias com Mr. Holmes estão fazendo muito bem a você.
HAHAHA E Richard é bem diferente de seu irmão... KKKK Ele é bem mais bobão. E tem mais algumas coisinhas sobre ele que vocês verão mais adiante.

Aliás, notaram alguma coisa por aí? Hmn?
Quem acertar vai receber um abraço virtual e uma menção no próximo cap.

No próximo cap: Diane irá mostrar ao Mr. Holmes do que é capaz... #eita
(Sim, é isso mesmo que você está imaginando, pequeno gafanhoto)

Um grande bj e aguardem por FORTÍSSIMAS emoções no sábado. A dose será pequena mas será mortífera e o bastante para vocês desejarem uma TARDIS para pularem para quarta-feira... Ah, adoro fazer vocês sofrerem por antecipação, rs.

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