Laços de Sangue e Fúria escrita por BadWolf


Capítulo 25
Pratos Frios e Conversas Acalouradas


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Promessa é divída, como sabem!! Então, vamos a um cap mais agitado. Claro, não tem tiroteio, mas tem outras coisas.
Este cap está bem grande e aborda muita coisa. Espero que vocês me perdoem por isso ;)
E prestem atenção, pois assim como os demais, eu posso ter deixado algumas pistas do caso pelas letras... Fiquem espertos!

Boa leitura.



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Em um quarto qualquer na Growler Street.

Londres, Inglaterra. 08 de Janeiro de 1895.


Watson perambulava por aquele pequeno quarto atrás de seu chapéu. Não sabia onde tinha deixado. Depois de deixar Diane na agência de empregos, seu cabriolé partiu para a Growler Street, onde Rose Willians, sua amante, morava. Mais uma vez, ela estava lá, disponível às suas vontades. Seus encontros com ela eram sempre fugazes, próximos de uma fúria da Natureza sendo desperta. Estar com Rose era sempre bom, fazia-lhe esquecer de seus problemas, que pareciam ter se multiplicado desde a chegada de Diane, e mesmo de Sophie, que pouco lhe dava esperanças. Era justamente este desespero que lhe colocava em tais situações, a ponto de perder suas coisas, como chapéus, lenços e relógios.

Indiferente á sua procura, estava Rose, sentada à penteadeira, penteando seus belos cabelos vermelhos, com um semblante nada contente.

–Me ajude a procurar, Rose! Tenho um paciente marcado para daqui a pouco! – pedira Watson, impaciente, diante do pouco caso de sua amante. Diante de sua insistência, Rose não teve alternativa senão procurar junto.

–Aqui! – ela disse, por final, entregando-lhe o chapéu. – Está vendo?

Watson penteou levemente seu cabelo, antes de vestir seu chapéu.

–Você parece muito distraído, John... Mais distraído que o normal.

–Impressão sua, Sophie.

Sophie?! Os olhos claros de Rose se arregalaram de raiva.

–Tão distraído a ponto de me chamar pelo nome dela!

Watson fechou seus olhos. Como cometera este erro? Decerto foram as taças de vinho que ele tomara nesta tarde...

–Ou irá me dizer que Sophie tem o mesmo som que Rose?

–Rose, meu amor... – Watson tentou se aproximar, mas Rose o repeliu.

–Desde que ela se mudou para o mesmo prédio que você eu sinto que mudou comigo. Está mais frio, mais distante... Não para de pensar nela...

–Você não tem o direito de me exigir coisa alguma! Eu jamais lhe prometi nada! Desde que começamos você sabia a respeito de meus sentimentos para com ela...

–Sim, e isso não lhe dá o direito de me insultar, chamando-me pelo nome dessa mulherzinha...

Watson se enfureceu. – Não ouse chama-la dessa maneira!

–Basta! – ela gritou. – Dê o fora daqui! Agora!

Watson pôs-se a correr, assim que percebeu que ela iria lhe arremessar um vaso, em uma típica crise de fúria feminina. Ao fechar a porta, pôde escutar o vidro se estilhaçar. Tivera sorte, mais uma vez.

Mulheres, sempre tão complicadas... Bem fazia seu amigo Holmes de manter-se longe delas, ele pensava.

Ainda sentada sobre a cama, emburrada, observando a porta fechada, Rose ainda estava revolta. O que aquela mulherzinha tinha que ela não o tivesse?

Ah, mas isso não ficaria assim...


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Já perto das seis horas da tarde, Esther voltava para casa.

Sua mão ainda latejava, quente, devido às palmatórias que tomara naquele dia. Elas e perguntava como um homem poderia desejar eficiência agredindo justamente as mãos, partes vitais de uma datilógrafa. Realmente, homens como ele costumam ser estúpidos o tempo todo e sequer pensam de fato na eficiência. Devem querer se auto firmar. Talvez porque a mulher em sua casa lhes coloque em uma verdadeira coleira. Esther gostava de pensar assim.

No limiar de sua porta, enquanto tentava pegas as chaves de sua bolsa, Esther acabou encontrando Diane, prima de Watson, descendo as escadas.

–Preciso logo arranjar um emprego! Essa cidade é um tédio! – exclamava a moça, claramente aborrecida. – Acredita que não consegui arranjar nenhum?

–Acredito. – disse Esther, finalmente encontrando as chaves. – Nos últimos tempos, encontrar um emprego está difícil para nós, mulheres.

–Se eu não arranjar emprego, arranjo um marido. Morar como hóspede para sempre é que eu não irei permanecer. – desabafou.

–Calma! Confio que você arranjará um emprego em breve, e...

De repente, as duas moças ouviram a porta bater.

–Você está esperando visita? – perguntou Diane, alerta. – Nem eu, é claro. Deve ser algum cliente de Mr. Holmes...

–Sem dúvida. – disse Esther, esperando ver como Diane Watson se sairia recepcionando um cliente.

Mas, para sua surpresa, não era um cliente.

Era um homem com flores.

–Em que posso ajuda-lo, senhor? – perguntou Diane, com a voz surpresa.

–Bom dia, eu sou florista e pediram para entregar esse buquê de flores à... Sophie Sigerson.

Com seus olhos claros completamente arregalados, Diane voltou-se para Esther, que estava ainda mais abismada que ela.

Ora essa, Sherlock jamais me presentearia com flores em casa. O que está acontecendo aqui?

–Acho que são para você, Sophie... – disse Diane, entregando o imenso buquê de rosas vermelhas à Esther, que estava completamente vermelha.

A primeira providência de Esther foi procurar por um cartão. Não havia.

–Acaso sabe quem comprou, senhor...?

–Mankwin. E eu não sei, senhorita. – disse o senhor. – Pagou por segredo.

Esther bufou. Havia algo de errado nisto.

–Pode ter sido seu marido. – comentou Diane.

–É, quem sabe... – tentou disfarçar Esther. – Bem, vou guarda-las. Aqui está uma gorjeta pelo serviço, senhor Mankwin. – disse Esther, entregando-lhe uma moeda.

Assim que a porta do 221-A se fechou abruptamente, Diane subiu as escadas, exultante. Seu pensamento era um só: John Watson precisava saber disso.

–John! – ela chamou.

Watson, que estava sentado à beira da lareira, abriu um sorriso imediato.

–O que foi, Diane? Desistiu de comprar meu tabaco?

–Nada disso, meu primo. Simplesmente fui surpreendida por um imenso buquê de rosas vermelhas.

O médico arregalou seus olhos.

–De fato, minha irmã? E posso saber quem lhe entregou esse presente?

Diane riu. – Não, meu irmão. Eu apenas as recebi. As flores eram para Sophie.

Imediatamente, o semblante de Watson fechou-se.

–Para Sophie?

–Sim. Rosas vermelhas, símbolo da paixão... Sophie é sortuda, o marido dela deve ser um gentleman atencioso...

–Ele é um grandíssimo canalha! – esbravejou Watson. – Canalha e covarde, que não a merece!

A voz firme e alta de Watson deixou Diane chocada. Ao perceber que se estourou, Watson tentou contornar.

–Desculpe, minha prima. É que... Eu era noivo de Sophie. Ela me trocou por este tal de John Sigerson, um aventureiro desqualificado que mal a vê. Ela está enfeitiçada por ele, tenho certeza. Decerto, ele lançou-lhe algum feitiço tribal para conquista-la.

–Que exagero, meu primo! – disse Diane, afagando-lhe o ombro. – Mas agora eu posso entende-lo.

–Pode entende-lo? Pois eu até hoje não consigo.

Era, desta vez, a voz firme e decidida de Holmes, rompendo a recente calmaria de Baker Street. A mera voz dele já era capaz de fazer o coração de Diane disparar, e a moça sentia as pernas bambas apenas de estar diante dele. Sem dar-se conta disso, o detetive sentou-se à cadeira, depois de deixar seu chapéu e sobretudo na porta.

–Não posso esperar que entenda, Holmes. Sentimentalidades não são seu assunto de excelência.

–De fato, não. Embora sua paixão doentia por Mrs. Sigerson ainda desperte em mim o interesse de apresentar uma monografia sobre obsessão. Aliás, estes dias eu me encontrei com uma pessoa que deve empatar com você neste quesito. Você deve conhece-la, eu presumo. Laya Wood.

O nome fez Watson corar. Laya Wood era uma famosa cantora de cabaré, que inclusive costumava cantar no Delírio da Noite, onde ele conheceu Rose Willians, sua amante fixa. Como Holmes pode ter chegado a gente daquele nível?

–Espero que ela não tenha associação com seu caso antigo de Jack, que aliás, até hoje você está a me dever seus escritos.

–Continuarei te devendo, Watson. E se desejas saber, não, ela não possui associação com este caso, mas sim com o pequeno atentado daquela fatídica noite... Lembra-se, do rato...

Watson assentiu. Diane parecia confusa.

–Atentado?! Quando?

–Holmes está a exagerar, minha prima. Ele está se referindo a um episódio desagradável que nos ocorreu durante o jantar, creio que não valha a pena uma dama saber...

–É, afinal apenas alguém despejou um rato em nossa sopa.

Diante do espanto e nojo de Diane, Watson ficou enfurecido.

–Holmes! – ele repreendeu. – Assim você tirará o apetite de Diane. E o meu também, porque a mera menção me dá náuseas.

Holmes bufou, contrariado.

–Mas afinal, porquê estás tão irritado? Vistes o Mr. Sigerson outra vez, foi?

–Não, ele apenas tentou agraciar o dia de Sophie.

Holmes ficara surpreso. Afinal, nada tinha feito neste sentido.

–De fato? – Watson suspirou, resignado.

–Ele mandou flores para ela.

–Foi o que ela disse? – Holmes deveria ter disfarçado seu interesse, mas a questão era estranha demais para isso.

–Não exatamente. Mas de quem mais se deveria esperar flores senão o marido? A não ser que Sophie tenha outro pretendente além de meu primo...

Watson mostrou desaprovação com o comentário.

–Sophie não é mulher desse feitio, Diane, que isso fique bem claro. E vamos parar com o assunto. – disse o bom doutor, dando uma vagarosa baforada.

Holmes, que tinha abastecido seu cachimbo, refletia. Alheio à conversa dos Watson, a respeito de uma ida ao Teatro para uma imperdível noite da curta temporada da Companhia de Balé Parisiense, Holmes não deixava de analisar a questão.

Quem poderia ter enviado esse buquê, se eu não fiz nada?

–O que acha de nos acompanhar, Mr. Holmes? Mr. Holmes?

Ao não receber resposta da taciturna figura, pairada à janela envolta em uma cortina de fumaça, Diane quase ficara chateada, mas seu primo contornou.

–Ele deve estar pensando no caso antigo, Diane. Você precisa ter paciência.

–Ele é assim todo o tempo, meu primo?

Watson assentiu. – Sim. Um homem que não pensa em mais nada, senão seu trabalho. Uma verdadeira máquina de calcular, fria e metódica, alheia aos sentimentos mais ternos e humanos. Infelizmente, porque sei que ninguém que vive desta maneira é plenamente feliz.

Diane o analisava, enquanto apenas pequenos rastros de fumaça saíam de seu nariz. Ele parecia tão absorto, certamente analisando problemas dos outros. Como alguém poderia ser tão metódico e distante? Ele merecia alguém, sem dúvida.

Mas, interrompendo a animada conversa dos Watson a respeito de passeios por Londres, veio Mrs. Hudson.

–Mr. Holmes. Há um homem que deseja vê-lo. – disse Mrs. Hudson, entregando um cartão a Holmes.

Ao ler o conteúdo do cartão, Holmes suspirou pesadamente.

–Peça para entrar. – ele disse. – Até demorou que viesse. – confessou, apenas para si.

Diane ficou sem reação. Seria este um grande caso do detetive Sherlock Holmes, que ela poderia ter a honra de assistir como ouvinte? Era o que ela se perguntava.

Um homem adentrou.

Ele tinha considerada idade. Uma barriga saliente, sardas no rosto, e apesar do cabelo branco permear-lhe toda a cabeça, sua cor e sardas lhe atentava ao fato de que era ruivo. Vestia uma roupa de boa qualidade, apesar de suas maneiras não muito educadas de se portar, pois ficara um bom tempo com o chapéu na cabeça, dando a impressão de que poderia ir embora a qualquer momento.

–Folgo em ver que você não mudou muita coisa, apesar dos anos. – disse o homem. – E este deve ser o seu biógrafo, Dr. Watson.

Watson assentiu, apertando-lhe a mão.

–E essa bela moça, quem é? Sua esposa? Oh, então você deixa isso escondido nos livros... – disse, segurando a mão de Diane com força.

–Óbvio que não. E meu atual estado civil certamente não é a natureza de seus negócios em minha casa.

O sorriso do sujeito converteu-se em seriedade.

–Então, já está a par da tempestade que está a se armar sobre nossas cabeças, Mr. Holmes. Ao menos me poupa o trabalho de contar o que anda acontecendo...

–Er, Watson, este é o inspetor Clawrence.

Comissário Clawrence. – corrigiu. – Há dois anos estou em Cornwall, e me aposento no ano que vem. Ao menos, era essa a minha expectativa...

–Watson. – pediu Holmes. – Poderia fazer o favor, meu caro, de levar sua irmã ao Green Park? – ele disse, mostrando claramente que o assunto era privado – ou forte demais – para os ouvidos de Diane. Watson ficara desapontado, pois deixaria de ouvir o Comissário, que trabalhou com Holmes no começo, mas obedeceu ao pedido de seu amigo.

–Claro. Vamos, Diane. Vamos dar uma volta.

Diane também estava desapontada, mas seguiu seu primo.

Quando os dois desceram, Clawrence sentou-se ao sofá.

–Bela moça. Daria uma boa pretendente. Sabe, um homem como você está na hora de ter filhos...

–Que tipo de novidades tem a me contar, Comissário? – perguntou Holmes, irritado com a pessoalidade do assunto.

–Ontem, meus superiores receberam a denúncia feita por Bruce. Eles ficaram desconfiados, para dizer o mínimo. Querem averiguar. O processo não pode ser reaberto porque já prescreveu, mas eu posso sofrer um processo interno. Se isso acontecer, se realmente for comprovado o seu interesse pessoal em levar desgraça àquela mulher, eu posso perder o meu cargo e minha aposentadoria! Eu estou correndo o risco de ser expulso da Força, Mr. Holmes! – esbravejou Clawrence, desesperado.

–Acalme-se, Comissário...

–Como eu posso me acalmar?! Se eu soubesse que você já conhecia a acusada, que fora noivo dela, eu jamais teria permitido que aquilo prosseguisse...

–Ela matou uma pessoa! O marido dela poderia ser acusado em seu lugar! Seria esta a melhor resolução? A morte de um inocente...

–Nem tão inocente assim, Mr. Holmes. Você sabe tão bem quanto eu que ele a espancava, era um marido violento...

Holmes demonstrou frieza. – O que ele fazia não dá a ela o direito de matar a outro para culpa-lo.

–Eu poderia ter dado o caso como sem solução... Ao menos essa tragédia não teria acontecido, aquela mulher ainda estaria viva, uma criança teria tido sua mãe...

–Tarde demais para se lamentar, Comissário! – interrompeu Holmes os lamentos do sujeito. – E saiba, eu não fazia idéia à época da relação daquela mulher com meu passado. Esse noivado se deu quando eu era criança e foi interrompido antes que eu alcançasse a puberdade. Alegar minha parcialidade no caso é ridículo.

–Você sabe que alegarão a possibilidade de que vocês ainda entravam em contato...

–Um absurdo por completo! Nunca mais voltei a vê-la após o rompimento. Sequer sabia que ela estava em Plymouth.

–Um advogado competente fará seu túmulo apenas com essa possibilidade. Deixará que o juiz imagine o resto. Será um prato cheio à imprensa, e lamento, o decreto do fim de sua carreira! Bem como da minha!

Holmes levantou-se, contrariado.

–Eu não deixarei que isso aconteça, Comissário. Dou-te minha palavra.

O Comissário riu.

–Da mesma maneira que seu pai dera ao pai da moça? – riu outra vez. – Porque se for...

Holmes ficara ainda mais irritado com a mera menção de seu pai, vinda da boca de um estranho. Mas depois, deu-se conta de um fato.

–O senhor citou meu pai... Acaso ele apresentou alguma prova concreta sobre esse noivado entre eu e a moça?

–Sim. Uma série de cartas do seu pai para Mr. Morgan, o pai da moça. Ambos falavam, em alguns trechos, sobre como esse noivado seria bom para ambas as famílias, e até mesmo na possibilidade de vocês morarem em uma tal de Mansor of Holmes...

Manor Holmes. – corrigiu Holmes.

Ele realmente tem provas concretas...

–Ao menos os meus superiores estão tendo a dignidade de manter esse caso às escondidas, dado sua fama. Não querem ser processados, caso isso não dê em nada.

–Pois é o que eu farei, se eles prosseguirem com isso. Arrancarei um bom dinheiro da Coroa com essa insinuação infame.

–Coloque meu nome embaixo quando esse dia chegar, Mr. Holmes. Coloque meu nome embaixo. Enfim, Mr. Holmes, não é preciso ser um gênio para entender que discrição irá nos beneficiar. Enquanto o senhor não encontra uma contraprova que possa nos tirar desse buraco, eu farei o possível para que esse pavoroso caso permaneça assim, no anonimato.

Holmes assentiu, em agradecimento.

–Obrigado pela atenção, Mr. Holmes. E escute meu conselho: um casamento lhe fará muito bem. – disse o Comissário, fechando a porta.

Holmes, que trazia um ar impassivo, soltou uma risada leve, quando o Comissário deixou a sala. Se ele fizesse idéia do quanto já estava casado...

E havia ainda Esther e o problema das malditas flores. Holmes olhou em seu relógio. Menos de meia hora tinha se passado daquela visita. Isso significava que Watson ainda deveria estar no parque com sua prima. Ele ainda tinha, pelo menos, mais trinta minutos às sós com ela.

Descendo as escadas rapidamente, tomando o cuidado de não ser notado por Mrs. Hudson, Holmes adentrou ao apartamento 221-A, sendo recebido imediatamente por Billy, que tentou lhe lamber a ponta dos dedos. Holmes acariciava a cabeça do cachorro, enquanto caminhava por dentro da casa, à procura de Esther.

Ele a encontrou em seu quarto, fazendo um pequeno curativo na mão. Esther, que estava entretida com isso, demorou a lhe perceber.

–Boa noite. – ela disse, de maneira simples, sabendo o que ele iria perguntar.

–Eu cheguei aqui com uma pergunta, mas agora tenho duas.

Ela assentiu. – Acidente de trabalho.

Holmes ergueu uma sobrancelha.

–Acidente de trabalho? Esse é o risco ocupacional de uma datilógrafa agora? – ele perguntou, seriamente.

–Foi o meu novo chefe, Mr. Hopkins.

Os olhos de Holmes se arregalaram imediatamente. – O quê? Ele te bateu?

–Sim, mas... Sherlock, não fique furioso... Por favor, me prometa que não fará nada...

Esther tentava acalmar seu marido, furioso e descrente.

–Não posso prometer nada, Esther. Não mesmo.

Esther tentava acalmá-lo, em vão.

–Sherlock...

–Você tem que sair desse emprego!

Esther bufou, enquanto passava suas mãos por seus cabelos. – Nós já tivemos uma conversa parecida antes...

–Esther, esse caso é completamente diferente! Não é mera petulância minha!

–Esse emprego é importante para mim!

–Por quê?! Você não foi afastada pelo Governo depois da morte de seu parceiro? O que ainda tem a fazer lá?

Esther tentou se explicar.

–Eu estou em uma missão paralela.

–O quê?! É isso que estou entendendo? Você está realmente investigando o Governo?

–Algo assim. – ela admitiu.

Holmes parecia horrorizado. No fundo, sentiu-se responsável por esta loucura. Afinal, ele lhe ajudara a elucidar pontos da morte de Morrison e fazê-la acreditar que era tudo uma grande armação. Pela primeira vez, suas habilidades detetivescas mais atrapalharam que ajudaram.

Ele tinha razão. Não poderiam se intrometer, nem mesmo ajudar, um nos negócios do outro. Quão estúpido eu fui...

–Não sei quanto a você, Esther, mas não é meu desejo ficar viúvo...

–E acaso é o meu, Sherlock? Porque você pouco parece se importar em se colocar em situações que tornem essa possibilidade quase realidade.

–Não diga isso, Esther...

Esther pôs as mãos na cintura. – Ah, não? E o que você me disse, há noites atrás, depois de levar uma surra num beco imundo qualquer? “Eu sabia que era uma armadilha, mas precisava saber o quão longe eles iriam” – ela disse, imitando a voz dele.

Holmes respirou fundo. – Tudo bem. Eu reconheço que fui imprudente...

–Imprudente é pouco! – ela exclamou. – Será que você não pensa nem um pouco nas pessoas que sentirão a sua falta se você...? – ela suspirou, pesadamente. – Ou você ainda age como se fosse um jovem de 20 anos?

Holmes se sentou, ainda nervoso, e respirou fundo.

–Esther, por favor...

Ao perceber a reação de quase prostração de Holmes, Esther parou de fazer reclamações e foi vê-lo. Ele estava sentado em sua poltrona, cabeça baixa, submersa entre suas mãos. Algo parecia lhe afetar.

–O que está acontecendo? – ela perguntou, sentando-se em seu colo e acariciando seu cabelo preto, àquela altura com algumas mechas fora do lugar.

–O caso de quase vinte anos atrás... Pode ser reaberto. Querem alegar meu envolvimento com a acusada e que meu testemunho era falso, sob alegação de vingança por motivo pessoal. Se fizerem isso, posso ser preso por falso testemunho. Alguns anos fazendo trabalhos forçados em um presídio costumam ser a pena para isso.

Esther ficou chocada.

–Sherlock...

Holmes sorriu fracamente diante do choque de sua esposa. – Não fique assim. Eu irei me livrar dessa falsa acusação. Amanhã, vou procurar meu irmão Mycroft e pedir sua elucidação em uma ou outra coisa sobre isso. Mas afinal, ainda não fiz a pergunta que me motivou a vir aqui...

De repente, ambos ouviram vozes do corredor.

Watson e sua prima tinham acabado de chegar.

–Oh não... – Holmes tentou se levantar. – Eles já chegaram... Pensei que se demorariam mais no Green Park.

–Você sugeriu o Green Park? – perguntou Esther, depois de rir. – Watson detesta aquele parque, ele me disse isso quando... namorávamos.

Ao perceber hesitação em Esther, Holmes contornou.

–Você não precisa ficar embaraçada quando se referir ao seu antigo namoro com Watson. Embora eu confesse que não fico feliz em vê-la sendo cortejada por ele quase todo o tempo, ele fez parte de seu passado. E uma parte feliz, creio eu.

–Sim. Foram bons tempos, mas não tão bons quanto os que eu passei (e passo) com você. – ela confessou.

Holmes sorriu. – Realmente?

–Realmente. – ela confirmou, antes de beijá-lo.

–E afinal, ao que parece, Mr. Sherlock Holmes precisou sair às pressas, e não tem hora para voltar.

Holmes pareceu surpreso e também empolgado com a possibilidade. Esther continuava, recebendo um olhar atento daquele par de olhos cinzentos.

–Afinal, será difícil encontrar um argumento para sua saída de meus aposentos antes das quatro da manhã...

–Correto. – ele disse, firmemente. – E que planos de entretenimento a senhorita poderia oferecer para essa minha “breve estadia inesperada”?

Esther se preparava para dar uma risada, mas Holmes a conteve com um beijo. O casal começou a beijar-se avidamente no sofá, sob o olhar atento de Billy, que tentava brincar, pulando sobre as costas de Esther.

Para afugentar o cão, Holmes tacou uma almofada. O cachorro desviou seu foco por um momento, mas retornou a implicar com o casal.

–Privacidade, Billy! Por favor! – pediu Esther, depois de ter as costas de seu vestido arranhadas pelo animal.

–Acho que ele não concorda com o que estamos fazendo aqui. – disse Holmes. – Ou ele tem ciúmes de você.

Por fim, o casal decidiu obedecer aos apelos do cão e seguiu para o quarto, fechando a porta com força. Sequer ouviram Mrs. Hudson chamando à porta por Mrs. Sigerson para o jantar. Não parecia haver força no mundo que lhe seria capaz de separá-los.


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Passava das dez quando Watson deixou seu cachimbo sobre a mesa. Era impressionante o quanto Sophie lhe fazia falta. Um simples jantar sem ela lhe parecia algo vazio, monótono. Nem mesmo a comida lhe tinha o mesmo paladar, embora fosse costeleta de porco (algo que Sophie jamais comia, mas que era um de seus pratos preferidos) e vinho tinto.

–Pensando em Sophie, meu primo? – perguntou Diane, diante de sua melancolia.

–Sim. – confessou Watson. – Ela não chegou até agora, de onde quer que tenha ido.

–Talvez seu marido tenha vindo até aqui, busca-la para jantar fora. Aquele buquê pode ter significado mais.

–E é isso que me dói. – disse Watson. – Eu... Eu a amo, mas basta um aceno daquele desgraçado que ela corre para ele... Quando ele nunca está aqui, ao lado dela... Nunca.

Diane tentou afagar-lhe o ombro, mas Watson se levantou.

–Irei dormir, Diane, e espero que você faça o mesmo. Meu amigo Holmes deve ter acompanhado o Comissário e a essa hora, deve estar envolto em alguma investigação. Nestas ocasiões, costuma não ter hora para voltar.

–Eu sinto muito se lhe fiz perder isso, John.

Watson sorriu em resposta, apaziguando a situação. – Não há o que se desculpar. Afinal, o passeio no parque foi agradável. E ao menos não pude ver Sophie se lançando aos braços daquele calhorda... Enfim, minha prima. Boa noite.

A porta do quarto de Holmes (agora ocupado por Watson) se fechou.



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Notas finais do capítulo

Vou comentar por partes:

—Rose é uma moça perigosa!!! kkkkkk Bela maneira de dar o troco no Watson e cutucar a rival, rsrs.
—Alguém percebeu que a Diane tá prestando muita atenção no Holmes? Sei não....
—E agora, mais essa, Holmes!! Parece que o caso está se complicando para o seu lado!!! Bruce Finnegan consegue até provar que você foi noivo da mãe dele, fora que o rompimento do noivado está muito mau-contado. (Falaremos mais no próximo cap)
—Mesmo todo complicado com o caso, Holmes ainda consegue tempo para a Esther... E para o Billy, também, por quê não??
—E Watson, tá mais perdido nesse rolo todo que mulher enganada. Sempre o último a saber, pobrezinho...

Comentem, comentem!! É por vocês que essa história ainda existe! Espero que tenha feito vocês rirem e se surpreenderem, pelo menos um pouquinho.

Próximo cap: Holmes terá uma conversa séria com Mycroft sobre o caso Bruce Finnegan. Será que Mycroft poderá ajudá-lo? Aguardem muitas revelações a respeito do passado de Holmes nesta conversa, fiquem ligados!!

Um grande bj e até sábado!!!



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