Laços de Sangue e Fúria escrita por BadWolf


Capítulo 2
Superação


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Mais um cap saindo do forno...

E pra quem queria saber o que aconteceu depois de "À Sombra da Justiça", terá uma boa novidade, começando agora e que irá se confirmar nos próximos caps. De resto, saberemos o que foi feito do nosso casalzinho depois de toda aquela confusão, e passaremos alguns meses na nossa fanfic. Daremos um tempo de Diane Watson, tiroteio e afins, mas não se preocupem que haverá mais.

Enjoy!



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Londres. 27 de Setembro de 1894.



Fazia uma madrugada fria. Havia o prenúncio de uma tempestade cair por Londres, a julgar pelos raios que iluminavam o quarto. O vento uivava, e a impressão que Esther tinha era de que o mundo estaria prestes a desabar naquela noite. Ela nunca fora de se assustar com trovões, mas aquela noite, em especial, eles estavam fortes demais, ecoantes, a ponto de fazê-la estremecer pelas cobertas. Estar sozinha em uma noite de tempestade como aquela não era nada agradável.

No fundo, ela já se encontrava arrependida de tê-lo mandado embora dali. Não foi por mal. Os dois tinham tido um jantar maravilhoso. Ela preparou mais uma receita da culinária judaica e ele aprovara, como costumava fazer, embora comesse sempre tão pouco. Após o jantar, beberam uma única taça de vinho, enquanto conversavam sobre as coisas do cotidiano. Ele contou-lhe sobre como salvou um jovem inocente de ser levado á forca injustamente por um crime que não cometeu, em Norwood, que fez sentir profunda admiração, algo completamente diferente do que estava sentindo nos últimos dias com relação a esse caso. Ela acompanhara tudo à distância, em aflição. Soubera por Watson de seu estado de prostração, quando a solução do caso parecia culminar em sua derrota. Chegou a passar por duas vezes em Baker Street – ela não lhe revelou isso – e ouviu, em uma delas, o violino tocar uma melodia triste. Seu coração ficara aflito, é claro, mas ela sabia o quão estranho e inadequado seria visita-lo, sem qualquer pretexto. Precisou contentar-se com notícias, e torcer que sua mente sempre tão perspicaz achasse imediatamente a solução para o caso. E agora, que ela o via ali, naquela sala, com o semblante ainda enfraquecido, mas com o mesmo olhar aguçado e confiante de sempre, ela sentia-se aliviada.

Nos últimos tempos, ambos pareciam ter retornado à uma espécie de estado cortejador – uma experiência que ela jamais tivera com Holmes, ou Sigerson, o que fosse. Depois de anos de indecisão com uma amizade cada vez mais duvidosa, eles optaram em ficar juntos e se casarem. De amizade a casamento. Não houve nada entre isso, e agora ela estava experimentando, pela primeira vez com ele, uma espécie de “namoro”. Sentados ao sofá, com beijos eventuais, basicamente conversando. Isso lhe fazia bem, mas ela sabia que aquilo deveria terminar eventualmente. E a perspectiva lhe assustava.

Ela nunca tinha conversado sobre isso com ele até aquela noite, em que desabafara todas as suas aflições e temores. Entretanto, Esther dava claros sinais de que não estava preparada para algo mais íntimo. Não queria dizer-lhe, entretanto, com todas as letras. Usava a sutileza, nem sempre tão sutil, como a demarcação de limites que ela fizera, na última vez que compartilharam a mesma cama. Até então, os pretextos tinham sido ótimos. Uma visita de um cliente que ele receberia no dia seguinte, ou mesmo o fato de que ela precisava acordar cedo no dia seguinte, pois estava procurando um novo emprego, dessa vez em alguma Escola de Meninas (fato que ele mostrou-se contente) e não poderia se atrasar às entrevistas. Mas aquela era uma noite de sábado, com uma tempestade se formando, e neste tipo de ocasião, uma tempestade possui sempre o efeito inverso de uma desculpa.

Ele tinha sido cortês o tempo todo. Perto das dez, pediu para ficar. Ela acabou por dizer que não, de maneira espontânea. Ele, que sabia de seu trauma, acatou, mas ela sabia que por dentro, ele estaria frustrado. Ele estava há meses sem tocá-la, e era do conhecimento de Esther que sem dúvida, ele sentia falta disso – sentia falta dela, embora ela soubesse que ele jamais lhe diria isso com todas as letras, devido ao seu irritante cavalheirismo e boas maneiras.

Foi uma recusa simples, nem um tanto grosseira, mas ele optou em simplesmente se levantar, despedir-se e ir embora. Ele poderia, simplesmente, ter optado em ficar pelo menos para dormir, nem que fosse no sofá, mas ele não queria pressioná-la. Despediram-se, com um beijo na testa.

Holmes enfrentou a tempestade que desabava por Londres sozinho, retornando para casa, desapontado por, mais uma vez, ter uma noite fracassada, por ver se confirmar o fato que mais lhe doía por dentro. Ela ainda não estava pronta. Por dentro, ainda havia rachaduras. Ele queria ajuda-la, mas ele sabia que ela não aceitaria isso. Era tão teimosa quanto ele – um dos motivos por amá-la tanto – e agora, ele provava de seu próprio veneno.

Sozinha em sua cama, que parecia cada vez maior a cada noite que se passava, Esther sentia-se uma tola, estúpida, por tê-lo deixado ir. Ele não merecia isso.

Inquieta por sua angústia, Esther sentou-se sobre a cama. Estava tendo uma de suas idéias. Decidida, ela levantou-se e correu até o seu guarda-roupas. Achou ali uma capa escura, negra, que ela utilizou poucas vezes em sua curta passagem pela Agência de Inteligência Britânica. Tirou da gaveta o kit arrombamento e tentou recordar-se das lições de Holmes. Sem hesitar, ela o colocou em sua bolsa e saiu de casa, buscando ignorar a forte chuva que batia contra si.

Sua casa ficava a menos de dois quarteirões de Baker Street. A rua estava deserta, como era de se esperar naquela madrugada chuvosa. Nem mesmo os mendigos estavam por ali. Ela percebeu que sua janela estava acesa. Ele deveria estar se preparando para dormir, ela pensou. Rapidamente, ela se aproximou da porta de 221B, e utilizou-se de todo o seu conhecimento em arrombamento. A porta era complicada – culpa de Holmes – mas ela conseguiu fazê-la abrir. Estava se sentindo uma criança fazendo isso, com a adrenalina de ser pega a qualquer momento pulsando em seu sangue. Agora ela entendia como um criminoso se sentia.

O cômodo estava completamente escuro, mas ela era capaz de enxergar as escadas que levavam ao apartamento de Holmes. Ela subiu, evitando ao máximo emitir qualquer ruído. Parou diante de sua porta, provavelmente trancada. Quando estava prestes a utilizar o kit de arrombamento outra vez, a porta se abriu imediatamente, e uma mão puxou-lhe para dentro. Ela mal tivera tempo para gritar de susto, pois a outra mão daquela pessoa fora imediatamente para sua boca, evitando que o grito saísse e provavelmente acordasse metade do prédio.

Somente os raios da tempestade, que iluminavam o local, lhe fizeram perceber quem tinha sido mais esperto do que ela. Não poderia ter sido outra pessoa.

–O que você está fazendo aqui, Esther? – não dava para saber se ele estava irritado ou achava graça daquela situação.

–Queria fazer uma surpresa.

Ele riu. Estava achando graça mesmo.

–Arrombando Baker Street? Tentando invadir o meu quarto?

–Bem, eu não queria acordar a pobre Mrs. Hudson. Seus clientes já costumam fazer isso...

–Você tentou fazer uma surpresa? – ele a interrompeu.

–Digamos que sim. Acho que mereço um pedido de desculpas pelo que fiz depois do jantar.

Ele acenou, em recusa.

–Não há o que se desculpar. Está tudo bem. Você tem os seus motivos...

–Não, eu não tenho. – ela disse, aproximando-se dele.

–Esther, por favor... Eu não quero força-la a nada, nem quero que você encare isto como uma obrigação matrimonial...

–Agora sou eu quem pede que você pare. Olhe nos meus olhos e diga que você não sente falta... De nós dois...

Ele suspirou, com o rosto separado por uma distância de centímetros, iluminados apenas por trovões naquela escuridão.

–Embora eu pensasse assim há meses atrás, eu não sou imune a isso, Esther. Sou um homem de carne e osso. Essa distância entre nós, por todo este tempo, me fez perceber isso. Sinto falta de muita coisa que jamais senti falta antes... Mas não quero que seja apenas do meu querer.

Ela lhe abraçou, afetuosamente.

–Não é, acredite em mim. Não é.

Ele passou sua mão por seus cabelos, loiros e levemente cacheados, e beijou-lhe ternamente o topo da cabeça, enquanto acariciava sua bochecha. Ele poderia sentir seu coração bater mais depressa, sua respiração mais ofegante, seu cérebro entorpecido apenas pela proximidade de seus corpos. Ela o queria, tanto quanto ele. Talvez estivesse apenas confusa e ferida pelos últimos acontecimentos, mas ela o queria.

Holmes pouco se importou que estavam ali, em sua sala de estar em Baker Street, no centro do perigo, a um passo de terem toda a farsa dos últimos anos desmascarada. Ele a beijou com ternura, depois intensamente, igualmente correspondido, e lentamente a levou até sua bagunçada e desconfortável cama de solteiro, ignorando sua racionalidade e seguindo nada mais que seus instintos.

No calor e aconchego de Baker Street, debaixo da pior tempestade de Londres dos últimos dez anos, ele a teve de volta, definitivamente.


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Notas finais do capítulo

EEEEEEEEEEEEEHHHHHHHHHHHHHHH

Uhu! E eles voltaram ás boas!!!
Que bom!! Eu já estava ficando aflita pela Esther. Não é fácil se recuperar de tal trauma. Essa é uma dor que eu sequer posso imaginar. E ainda bem que Holmes foi bem compreensivo....

Mas tinha que ser em Baker Street?

Hum... Mas algo me diz que isso não vai dar muito certo....
Só no próximo cap saberemos no quê isso vai dar.

Obrigado por acompanharem, e deixem a sua valiosa e estimada opinião! Gostaria muito de saber o que pensam.

BadWolf



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