A Garota Dos Defeitos escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 21
Era uma vez


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo mil desculpas pela a demora de verdade gente . Eu precisei de uma longa pausa , para pensar , eu meio que passei por uma crise , mas já tá tudo resolvido , pelo menos eu espero . Não foi minha intenção demorar tanto tempo , mas foi meio que um efeito bola de neve. Bem enfim sem mais desculpas aqui está o novo capítulo. Agradeçam a Beca , ela me convenceu a voltar a escrever , e me ajudou em cada ponto desse capítulo. Obrigado ,Diva!



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Acordei como os olhos inchados, e com vontade de apenas voltar a fechar os olhos e voltar a dormir. A minha briga com Giovana voltou e eu cerrei os olhos lutando contra a bola de emoção se formando. Eu queria tanto faltar à aula, e fingir que nada aconteceu. Seria tão mais fácil, mas de algum jeito eu sabia que era o que ele esperava de mim, e eu estava farta de me esconder quando as coisas dessem errado. Eu fiz isso durante todo o ano passado me escondendo no clube de teatro.

Soltei um gemido e saltei da cama. Eu não podia fingir que nada acontecia para sempre cedo ou tarde eu encontraria com Giovana. Eu só esperava que fosse tarde.

****

Matei tempo no banheiro tentando me atrasar para a minha última aula: educação física (uma das aulas que eu mais detesto) na esperança de que isso fizesse com que eu fosse dispensada dos exercícios – infelizmente isso resultou em mim correndo como louca dez voltas ao redor do ginásio - eu uma garota asmática que mal consegue subir um lance de escadas sem ofegar. Eu estava grata, por não ter esbarrado com Giovana em sala de aula, ou nos corredores. Eu não sabia qual seria minha reação se eu a visse. Eu oscilava em entre chorar, e matar.

Na terceira volta meu peito começou a doer, na quinta senti falta de ar, e na décima eu mal tinha fôlego.

Joguei-me nas arquibancadas com os pulmões pedindo socorro – e meu cérebro me dizendo para criar vergonha e começar a praticar exercícios físicos (há há há).

— Você está bem? - nem precisei olhar para lado para saber quem era.

— Aham – respondi pensando em um jeito de fugir dele.

— Você está pálida – Gabriel observou preocupado.

— Só preciso de um pouco de ar – me movi em direção à porta (que graças a Deus estava a poucos passos de distância).

— Você tem asma? – questionou vindo atrás de mim.

Concordei com a cabeça, e ele me fez sentar em um dos bancos espalhados pelo pátio da escola.

— Precisa de uma bombinha ou algo assim?

— Deixei em casa.

— Tudo bem – disse se sentando ao meu lado e pegando minha mão – o súbito contanto me deixou ainda mais afogante. - Apenas faça o que eu disser ok?

— Como se eu tivesse fôlego para discutir- grasnei fazendo-o rir suavemente.

— Coloque a cabeça entre os joelhos, e tente respirar devagar e superficialmente... Até seu batimento se acalmar. Respire pelo nariz, e expire pela boca. – Eu reconheci o que ele estava fazendo. Eram os procedimentos que eu usei várias vezes para sair de uma crise enquanto estava longe do meu inalador ou bombinha.

Respirei devagar e superficialmente, até meu peito parar de doer, e eu poder encher meus pulmões de ar.

— Obrigada – falei quando ele soltou minha mão.

Meu celular vibrou, e eu agradeci porque assim eu teria um motivo para quebrar o contato visual com ele. Sorri ao ler a mensagem da Kat.

Bom-dia espero que não esteja morrendo de tédio na aula.

K.

— Era da minha irmã – expliquei mesmo sem ele ter me perguntado.

—Vocês parecem ser bem unidas – comentou.

— É – concordei. – Nós somos.

É impossível não ser próxima de alguém que sempre me apoiou em tudo, – nas pequenas coisas idiotas de criança, até hoje. Eu sou apegada a todos na minha família – meus pais que sempre tentaram me dar o melhor, e a vovó que está sempre por perto – é estranho, mas cerca de alguns meses atrás minha avó se tornou ainda mais próxima da família toda. Sempre foi próxima a nós, mas jamais como agora. Uma vez eu perguntei para ela, o motivo, ela me deu um  meio sorriso triste e disse:_Aproveitando os momentos , Sukes.

Ficamos em um silêncio extremamente desconfortável, até que ele disse o que eu queria evitar.

—Podemos conversar sobre sábado?

— Não – me apressei em dizer detestando a emoção exposta na minha voz. - Você já deixou bem claro o que significa na primeira vez que aconteceu. Eu estou bem com isso. Sério.

Quis dar um tapa na minha própria boca. Sempre falante demais, para o meu próprio bem.

— Eu achei que tinha deixado bem claro o quanto eu gostei de te beijar na primeira vez que isso aconteceu. Isso quer dizer que eu preciso me empenhar mais da próxima vez?

Ele sorriu. E pelo amor de Deus alguém pode mandar esse garoto parar de fazer isso? Meus pulmões precisam de algum descanso.

Levantei-me bruscamente do banco em que estávamos sentados, não consegui ir muito longe, pois ele agarrou minha mão.

—Qual é? Me solta – resmunguei.

— Só depois que me escutar – disse firmemente me obrigando a me sentar de novo.

— Eu não tenho que ouvir você se eu não quiser – o lembrei petulantemente.

— Por favor – pediu juntando as sobrancelhas.

Algo dentro de mim amoleceu.

—  Tá bom – cedi sem entender exatamente o porquê.

— Você gosta de livros, certo?

Assenti confusa.

— Pronta para uma história?

— Uma história?-ironizei. - É sério?

Gabriel suspirou ligeiramente irritado.

— Será que pode pelo menos me ouvir?

— Ok – dei de ombros envergonhada pelo sermão. - Vá em frente.

 

Ele olhou para frente por tanto tempo, que eu quase perguntei sobre o que se tratava a história, mas justo quando eu abri a boca, ele começou a conta-la.

— Era uma vez um garoto de 14 anos, voltando da escola de carro com a mãe... O garoto estava reclamando de uma besteira qualquer quando ele foi atingido por um motorista bêbado, dirigindo uma caminhonete – meu coração se retorceu dentro do peito, porque eu sabia que aquela história não era uma história qualquer. - O motorista sobreviveu praticamente ileso, enquanto a mãe do garoto morreu na hora-ele fez uma pausa como se procurando as palavras certas, e quando voltou a falar estava distante quase perdido em lembranças. - O garoto acordou uma semana depois com o pai chorando aos pés da cama do hospital... Ele perdeu o enterro da própria mãe – ergui a mão e limpei algumas lágrimas frutíferas. Eu não consegui me colocar no lugar dele, mas mesmo a ideia de perder alguém da minha família, me dilacerava. - Sabe as fases do luto?-perguntou por fim abandonando o personagem. - Eu pulei todas elas... Acho que fui direto para a raiva – ele olhou para mim pela primeira vez, havia uma dor profunda nas piscinas verdes dos olhos dele. Eu não consegui entender porque ele estava me contando aquilo, mas não queria parar de ouvir. - Eu entrei no modo “’destruir’’, Suzanne, não me importei com quem pudesse ferir no processo. Meu pai e eu nos mudamos pela primeira vez alguns meses depois do acidente... Era só por algumas semanas no início, mas conforme eu arrumava encrenca, mudávamos de lugar novamente – ele desviou os olhos de mim, e focou no céu nublado._Quando eu tinha 16 anos, eu tatuei meu pulso, eu ainda digo a todos que foi uma homenagem, mas eu sei melhor... Eu fiz isso por ter esquecido o aniversário da morte dela – isso quer dizer que ele se culpa? - Nessa mesma semana nos mudamos novamente... seguimos esse ritmo por... Muito tempo. Brigas, e mudanças.

Quando ele me perguntou sobre voltar, eu disse sim, eu seria um idiota se não fizesse isso... Eu não queria criar raíze , meu pai sim... Ele estava praticamente me implorando para recomeçar. Eu me sentia perdido, mas eu senti... Eu desejei que você pudesse enxergar através da casca quebrada que eu me tornei. E ás vezes eu acho que você realmente faz isso. Mas você me confunde, e eu nunca tenho como saber com você.

Encarei meus pés, e pelo canto do olho, o notei passando a mão pelos cabelos.

Eu o confundo? Eu?

 Como isso é possível quando o tempo todo, ele é uma incógnita para mim?

Gabriel chutou uma pedra do chão, e mordeu o interior da bochecha.

— Eu gostaria de saber o que está pensando.

Nem eu sei o que eu estou pensando – senti vontade de dizer.

Ele suspirou.

— Olhe para mim.

— Por que você me contou tudo... Isso?

Ele deu de ombros, me observando.

— Eu não sei... Nunca contei a ninguém a maior parte disso... Acho que, só queria que soubesse. Eu sei que não é desculpa para ser esse filho da puta que eu sou, mas – ele encolheu os ombros. – É uma parte do porque.

Que diabo, isso significa?

Eu juro que eu não planejava entrar em prantos, mas, as lágrimas não pararam de cair.

Gabriel me lançou um olhar confuso, e um pouco surpreso, antes de me abraçar.

— Por que está chorando? - Me afastei e limpei meu nariz com a manga do meu moletom, eu sabia exatamente o que dizer.

— Você não pode se culpar, por algo que não estava ao seu alcance, entendeu? Se alguém teve culpa foi o motorista. Eu nunca conheci sua mãe, mas eu tenho certeza que ela odiaria ver você se culpando, assim como eu estou odiando agora.

Tranquei a respiração, esperando uma resposta que não venho.

— Gabriel? – falei me afastando ainda mais para segurar o rosto dele entre as minhas mãos. _ Me diga que entendeu.

Ele suspirou parecendo cansado, mas em seguida me deu um sorriso torto.

— Eu não sei ao certo se gosto de você me dando ordens. – confessou.

Rolei meus olhos, deixando minhas mãos descansarem no meu colo.

— Oh, tenha dó. – Ele estava desviando o assunto, e eu não sabia ao certo se devia dizer alguma coisa, ou apenas deixar o assunto para depois. O problema, é que com Gabriel nunca se sabe quando haverá um depois. Caberia a ele decidir isso, eu acho.

Ele riu.

— Eu provavelmente vou me acostumar, sabe? – continuou. – Dependendo do tipo de ordens que você me deu.

Acho que ele escolheu deixar para lá, pensei.

Uns grupos de alunos, da minha turma de inglês, se entreolharam e cochicharam quando passaram por nós, mas eu estava muito autoconsciente do garoto a minha frente para prestar atenção neles.

Ele franziu o cenho, e virou o rosto para beijar a minha bochecha. O contato me deixou tão surpresa que eu não me mexi.

— Obrigada por me ouvir.

Franzi a testa. - Por que eu sinto que sou que deveria agradecer?

Ele deu de ombros. - Posso pensar em algumas maneiras agradáveis de ser recompensado por compartilhar a minha triste história de órfão com você.

Estreitei meus olhos. O modo cafajeste estava ativado outra vez.

— Você vai voltar a ser um babaca não, é?

Ele me deu um lento sorriso. - Eu nunca deixei de ser. Continuando com as formas de me retribuir, talvez uma massagem?

Mmmm, por que eu não odiei essa ideia tanto quanto eu deveria?

— Eu acho que eu deveria ir – falei.

— Ou então, algo que envolva nós dois juntos, e muita pouca roupa – ele mexeu as sobrancelhas , e lambeu o lábio inferior. - Ou quem sabe nenhuma? Acho que seria rude da minha parte deixar você ir, sem dar um beijo de adeus.

Suguei um pouco de ar. Seria extremamente rude – pensei.

— Acho que vou ter que me esforçar mais dessa vez – murmurou perto da minha boca._ Não, acha?

Bufei com uma risadinha. Eu parecia as garotas que ficavam ao redor dele, mas não liguei. - Sim, muito mais.

Ele me fez levantar para o meu desgosto e vergonha.

— Então... Quer fazer alguma coisa amanhã?

Eu não deveria achar fofo, o fato de ele estar desconfortável, mas bem, eu achei. Eu ia ter problemas.

Sacudi a cabeça, fazendo uma cara séria.

— Não posso isso seria contra as regras.

— Que regras?

— Meu pai, me fez prometer quando eu tinha 11 anos que nunca sairia com garotos que dirigem motos.

— Esse pode ser nosso pequeno segredo – ele tinha um daqueles sorrisos torto-cafajestes no rosto.

— Acho que não... É um grande fardo. O que eu vou ganhar em troca?

E sem aviso nenhum, ele colidiu minha boca com a dele.


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