Capítulo 9 – Conhecendo os Lightwoods:

Clary tinha saído do meio da aula de história para aliviar sua dor de cabeça. Ela olhou para o seu reflexo no espelho e suspirou.

— Eu estou horrível.

Alguém saiu de uma das cabines. Clary desviou os olhos de Isabelle Lightwood. Seus cabelos negros e sua postura ofuscavam o brilho de qualquer coisa. Ela sorriu gentilmente para a ruiva. Isso era o pior. Isabelle parecia ser um amor de pessoa. Clary não podia culpá-la de ter um relacionamento com Jace.

— Olá – A morena disse com voz melodiosa.

— Oi – Clary respondeu lavando suas mãos.

Não puxe assunto. Não puxe assunto. Torceu silenciosamente Clary.

Isabelle a encarou.

— Clary, não é?

Clary assentiu mantendo os olhos em suas mãos.

­— Você é amiga do Jace? – Perguntou a morena olhando para Clary.

— Eu não diria ‘’amiga’’. Provavelmente alguém que ele teve o azar de conhecer desde a infância.

Isabelle sorriu e um brilho pareceu iluminar seus olhos castanhos.

— Oh você é a Clary. Que conhece Jace desde os dois anos. Ele não deve ter sido fácil. Bem, ele não é agora então imagino quando era uma criança.

Ela franziu a testa e dessa vez olhou para a menina. Isabelle estava parada perto da porta do banheiro da escola.

— Eu...devo imaginar que Jace não é um namorado comum – Clary disse sorrindo fracamente.

Isabelle fez uma careta confusa.

— O que? – Ela perguntou em um tom que pareceu esganiçado.

Clary se repreendeu mentalmente. É óbvio que Isabelle não gostaria de pessoas se intrometendo em sua relação com Jace.

Ela corou automaticamente.

— Desculpe, eu não...

— O que? – Isabelle repetiu com a boca escancarada em um perfeito ‘’o’’.

A morena começou a gargalhar de forma exagerada. Clary ficou sem graça, parada perto da pia.

Isabelle olhou para ela e começou a rir novamente.

— Você...pff...você...oh céus me desculpe! É que é hilário.

Clary franziu a testa tentando buscar a voz.

— Jace não?

Isabelle semicerrou os olhos.

— Não, Jace não. Eu sou tipo uma versão britânica de você com cinco anos a mais com ele como vantagem, apenas isso.

Clary desabou sobre a pia.

Isabelle esclareceu.

— Conheço Jace desde que tinha sete anos. Meu pai comanda o Instituto de Londres onde Michael enviou Jace.

Clary baixou os olhos esverdeados para os pés.

— Não creio que eu seja como você em relação à sentimentos com Jace.

Isabelle arregalou os olhos.

— Você é apaixonada pelo Jace!

Clary corou.

— E-eu não... – A ruiva piscou várias vezes.

— Oh sim, você sim.

Ela suspirou.

— E você provavelmente acha isso totalmente bizarro e odioso.

Isabelle franziu a testa.

— Não. Deus! Não. Eu acho isso incrivelmente adorável e fofo. E além do fato de que vocês foram criados juntos por cinco anos, essa coisa de amor proibido é super sexy.

Clary escancarou a boca e olhou para Isabelle de forma confusa.

— Mas vocês foram criados no mesmo lugar por dez anos. Isso não te deixou com sentimentos contraditórios por Jace?

Izzy riu.

— Bom eu tenho sim sentimentos contraditórios por Jace. Mas todos permanecem entre ‘’ódio mortal de irmão’’ e ‘’preocupação fraternal’’.

Clary olhou para a pia enquanto Isabelle falava.

— Eu tive uma brilhante ideia. Você gostaria de ajuda para conquistar Jace?

A morena continuou antes que ela pudesse fazer qualquer objeção.

— É claro que você precisa de ajuda e eu, como uma perfeita conselheira amorosa irei fazer isso.

Clary e Izzy saíram do banheiro. Muitos jovens se encontravam nos corredores, o que significava que elas tinham perdido duas aulas. Alguns corriam para salas, outros conversavam e riam com mais adolescentes.

Clary passava seu olhar por qualquer coisa quando um garoto loiro entrou em seu campo visual. Ela olhou atentamente para Jace conversando com uma garota morena de traços asiáticos. Como se soubesse que estava sendo observado, Jace olhou para Clary. Em seguida ele encarou a garota e sorriu antes de beijá-la.

Algo perfurou o coração de Clary. Seus olhos queimavam na tentativa de evitar lágrimas.

— Clary.

Ela virou-se e encontrou Sebastian.

— Oi.

— Está tudo bem com você?

Clary não conseguia parar de encarar Jace.

— Tudo ótimo. Nunca estive melhor – Ela respondeu com a voz embargada.

— Tem certeza? – Ele ainda olhava para Clary de um jeito confuso.

Tomando uma decisão impulsiva Clary ficou de frente para Sebastian e o beijou.

Os lábios dele eram grossos, estranhos e não pareciam possuir nenhum tipo de calor humano. Ela se distanciou do rosto de Sebastian mas manteve as mãos nos ombros largos dele. Ele tinha os olhos negros arregalados, um sorriso surgindo em seu rosto.

— Clary, eu...

— Desculpe. Eu não devia ter feito isso.

Ele sorriu.

— Foi ótimo. Acha que...quer dizer tudo bem se eu te beijar?

Clary sufocou um grito. Nada estava bem. Assentiu quase que imperceptivelmente.

Eles se beijaram e tudo em que Clary conseguia pensar era como o beijo de Jace era mil vezes melhor, como seus corpos se encaixavam de uma forma confortável como se os próprios corpos fossem peças separadas há anos. Como os lábios de Jace eram quentes e macios, como ele prendia sua cintura ao corpo dele de forma encantadora...

Ela separou-se bruscamente de Sebastian.

— Desculpe, eu tenho que ir.

Saiu apressada até o estacionamento e respirou fundo enquanto abria a porta do carro.

***

Clary e Isabelle conversavam animadamente no quarto da morena quando a ruiva ficou quieta.

Isabelle piscou os olhos castanhos.

— O que foi?

Clary parou de olhar a janela e encarou Isabelle.

— Nada.

— Somos amigas há um mês. Sei que é pouco tempo mas pode me contar o que quiser.

— Tudo bem Izzy. Eu estava pensando sobre a primeira vez que vi seu irmão.

Isabelle franziu a testa.

— E você já sabia que ele era gay?

— Essa é a questão. Ele não deu nenhum indício inclusive Alec me chamou para sair.

A morena suspirou e revirou os olhos.

— Coisa do Robert.

— Esse não é o nome do seu pai?

Isabelle assentiu.

— Ele mesmo em carne, osso e preconceito.

— Não entendo.

— Para falar a verdade nem eu Clary. Quer dizer, é tão ruim assim ter um filho gay?

— Não vejo isso como um problema.

— Meu pai vê e tenta colocar todas as meninas existentes no planeta na vida do meu irmão. Ele o inferniza. Alec se sente culpado por não agradá-lo. Acho que convidar você para sair foi uma dessas tentativas de aliviar a culpa.

— Mas isso é terrível. Ele não deve se sentir culpado por gostar de alguém.

Isabelle deu um sorriso cínico.

— Olha quem fala.

Clary corou.

— Eu tive uma ideia – Um sorriso malicioso começou a surgir no rosto de Isabelle.

— Oh-oh. Odeio quando você diz isso.

— Tenha fé.

— Se for sobre a minha vida amorosa desista. Você me disse isso da outra vez e quando fomos para a mesma lanchonete em que Jace estava com os amigos dele, ele me considerou uma perseguidora psicótica.

— Ora mas esse plano é infalível.

— Izzy, não quero lhe ofender mas geralmente os resultados dos seus planos são desastrosos.

— Esse não vai ser – quando Clary a olhou de forma duvidosa Isabelle continuou – Juro pelo Anjo!

Pelo menos eu espero que não – Acrescentou mentalmente a morena.

***

Jace parou em frente a floresta. Tinha sido uma ideia estúpida. Por que aceitara o convite de Isabelle? Ele, Alec e Izzy saíram do Porsche de Alec.

Outra coisa que o irritara. Izzy tinha insistido para que eles fossem em um automóvel apenas.

Ele olhou ao redor e parou quando viu Sebastian e Clary caminhando até eles.

Jace lançou um olhar furioso para Isabelle que deu de ombros. Foi por isso que ela tinha pedido um automóvel apenas. Para que Jace não pudesse ir sem deixá-los dessa forma obrigando-o a passar o dia inteiro com Clary e ele. Dane-se que Isabelle brigaria com ele depois, que o chamaria de nomes impronunciáveis para uma dama, iria embora agora.

Ele revirou os olhos e andou até o carro, alguém segurou seu braço e ele olhou para a pessoa. Isabelle o encarava com uma cara de ‘’por favor fica’’.

— Dessa vez não Izzy.

— Por favor, olha a cara dela. Ela me contou. Não consegue se livrar dele nem se for para o Azerbaijão.

Jace sorriu levemente antes que ela continuasse.

— Você mais do que ninguém sabe disso.

A coluna dele se enrijeceu.

— Sorria – Isabelle sussurrou no ouvido de Jace.

— Não força a barra – Respondeu ele quase não movendo a boca.

Clary caminhou junto com Sebastian que fazia uma careta ao olhar para o outro loiro. Ela parecia nervosa ao vê-lo.

Jace decidiu falar primeiro.

— Verlac. Que surpresa adorável.

— Wayland. Não posso dizer que é uma surpresa vê-lo já que onde Clary costuma estar você inexplicavelmente está também.

A voz de Isabelle ecoando em sua mente. Sorria.

— Bem, suponho que você tenha medo de que algo aconteça com ela. Não se preocupe – Jace avaliou Clary dos pés a cabeça – não encostarei um dedo nela.

Sebastian assentiu e foi para qualquer lugar do bosque com Clary. Jace se virou para Alec.

— Comecei a me arrepender de ter concordado com essa ideia estúpida.

— Vamos acampar. Vai ser divertido – Alec deu de ombros.

Jace olhou para um pinheiro e suspirou.

— Esse vai ser um longo final de semana.

Clary mexia as mãos nervosamente enquanto Sebastian falava com ela.

— Bem, eu queria dizer que gosto muito de você e eu acho que o nosso relacionamento deveria passar para outro estágio.

Ela virou-se pronta para dizer ‘’me desculpe eu não sei do que você está falando’’ quando se deparou nos braços dele. Clary arregalou os olhos.

— Que diabos...

Ele apertou seu corpo ao dela.

— Eu quero muito isso – Ele beijou o pescoço dela. Clary se sentiu suja. Ela tentou se soltar mas os braços dele a prendiam como algemas.

— Me solta!

Ele riu.

— Sabe do que você precisa? De um mergulho para esfriar a cabeça.

Ele a jogou por cima do ombro e começou a caminhar. Percebendo a direção que ele tomava Clary começou a gritar.

— Sebastian. Não. Me solta!

Ela se debatia furiosamente. Ele não podia fazer isso. Ele não podia.

— Calma querida.

— Sebastian, não! Por favor, não... – Pânico inundando sua voz.

— Chegamos. Vamos lá Clary. Vamos nos resfrescar.

Sebastian pulou e os dois mergulharam no lago. Ele a soltou rapidamente. Clary começou a tentar mover os braços e as pernas mas seu corpo parecia não se mover. As memórias dolorosas que ela queria esquecer.

— Papai? Papai? Tá ouvindo?

Ele a encarou com os olhos gentis habituais e tudo se tornou um borrão. O carro caindo no lago. Luke saindo do banco de trás e pegando ela. Água entrando no carro. Seu pai tentando desprender o próprio cinto de segurança. Luke tirando seu corpo pequeno e flácido da água.

Mãos fortes fazendo massagem cardíaca no peito dela. Sua mãe desesperada quando Clary com dois anos sofreu o acidente.

— Luke por favor, eu não posso perder ela. Por favor.

Ela tentava gritar mas a pressão em seu peito, aquela que pensou que jamais sentiria novamente, a impedia até de respirar.

Pequenas bolhas subiam e estouravam na água cristalina.

Seu corpo sendo deitado cuidadosamente sobre as pedras.

Uma voz familiar mas não reconhecida por Clary surgindo em sua mente. Tudo que havia era escuridão e ela temia nunca mais acordar.

— Não seja idiota Clary! Fique comigo. Respira.

Clary estava atordoada. Não entendia porque não podia perder totalmente a consciência mas o desespero na voz familiar era tão evidente, quase palpável que ela quis continuar tentando pela pessoa. A voz insistiu.

— Acorde Clary. Acorde.

Acorde – A voz de sua mãe chamando esperançosa pela filha, a única família que lhe sobrara.

Acorde – Luke, que estivera presente em sua vida desde que Clary conseguia se lembrar.

Acorde – Jace, com seu sorriso sarcástico. Seus olhos ferozes. Mas o tom de voz preocupado com ela quando Clary tinha a mão machucada.

Seus pulmões doendo. Uma pressão em sua cabeça.

Sinto muito. Murmurou Clary antes de sua consciência deixá-la completamente.