O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 34
Organização de grupos


Notas iniciais do capítulo

Roubando Wi fi kkkkk

— roubo wi fi mas não deixo vcs na mão ;)



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Mais tarde, as coisas se normalizam. Larm caçara um grande e saboroso animal, e eu não me dei ao trabalho de perguntar a respeito de sua espécie. Assei-o distraidamente e agora o que mais me interessa é comer. Dúvidas rondam minha mente, mas não é novidade. Desde que cheguei, o que mais tenho sentido são dúvidas e mais dúvidas. Parece que ninguém gosta de responder às minhas perguntas.

Dianna ainda não acordou e talvez não seja mesmo o momento apropriado. Não que eu não queira que ela acorde - ficaria muito feliz em vê-la abrir aqueles olhos escuros e me abraçar daquele jeito reconfortante - mas junto com seu despertar viriam as perguntas, os tumultos e as discussões. Honestamente? Não suporto mais as discussões. Se falássemos menos e agíssemos mais, poderíamos ter mais chances contra o rei fajuto. Porém, ao contrário do que é sensato, meus coleguinhas preferem as briguinhas sem fundamento.

Giroy, Jayssa e Liam parecem se entender agora, sentados em um círculo fechado e rindo alto - como se houvesse algum motivo para rir. Vedir se desculpa com Hellena por ter aparecido de supetão e quase a matado de susto. Larm, como sempre silencioso, acaricia sua harpa em um canto menos barulhento, já tendo acabado de comir. O que me encanta mais é o que Doquo mostra ao meu irmão. Ele também está boquiaberto. Até então, eu nunca vira Doquo demonstrar seu poder ou mesmo dizer que tem algum. Para mim, parecia um daqueles velhinhos gordos que encontramos em filas de loteria. Agora, vendo-o fazer espiralar cristais de gelo, como um mini-furacão que gira rápido o suficiente para te deixar tonto só de olhar, e depois se torna puro fogo, crepitando, bruxuleando e iluminando a sala, e, finalmente, ganha a face de algum bicho feroz, que ruge e depois, simplesmente desaparece, minha ideia sobre ele muda. Meu vô é mais poderoso do que eu poderia imaginar.

– Nunca subestime um velhinho acima do peso - A voz me tira dos meus devaneios. Eu estava tão absorta em pensamentos que nem mesmo percebera Demmie se sentando ao meu lado.

– O quê? Eu não...

Ela coloca o indicador em sua cabeça, me lançando um olhar divertido, como se dissesse "Hey, idiota, eu posso ler seus pensamentos!"

Minha boca se abre lentamente.

– Você não deveria...

– Eu ia te perguntar como são os velhinhos gordos da loteria, contudo imagino que seja alguém como o seu avô. - Ela diz, pegando mais um pedaço da carne que Larm caçara. - Eu sou ótima com armas. Mas, se quiser, posso ajudá-la a camuflar seus pensamentos. Quero dizer... Isso pode te matar, mocinha. Pense algo como "Nossa! Que cara mais esquisito!" quando estiver no castelo de Vindre e a única coisa que vai conseguir é a morte. O que há de leitores e manipuladores de mente por lá...

– O que sugere? Que eu seja falsa para entrar lá? - Franzo a testa.

Demmie enfia na boca uma quantidade considerável de carne e me responde de boca cheia.

– Ah... Nom, nom facha icho - Ela engole a força. - Vedir consegue tornar invisível apenas mais duas pessoas. Quantos somos?

Conto mentalmente e, no fim, o resultado é onze, contando com a desmaiada Dianna. Onze pessoas. Sem chance!

– Somos muitos! O que faremos? - Pergunto, indignada.

Ela morde o lábio inferior.

– Onze. - Percebe. - Nos dividiremos em três grupos. Dois de quatro e um de três pessoas, certo?

– Sim - Concordo, virando-me para chamar os outros. - Gente! Prestem atenção!

O trio risonho formado por Giroy, Jayssa e Liam olham a gente, confusos. Larm ergue os olhos da harpa, Stive e Doquo encaram-nos e Hellena, ainda emburrada pelo susto que levara, volta os olhos completamente negros para nós. Vedir, desistindo de se desculpar em vão, olha-nos tristemente.

– Espero que seja importante - Bufa Liam.

– Não para você, imbecil - Rebato.

– Pois bem - Diz Doquo. - Digam.

Demmie suspira.

– É que tem a ver com a invasão do castelo de Vindre... Quero dizer, de Doquo... Sei lá, tanto faz. - Revira os olhos. - Teremos de nos dividir em três grupos se quisermos ter sucesso na missão.

– Bem pensado. - Observa Vedir.

Hellena assopra uma mecha azul do seu cabelo.

– E como vai ser? A divisão?

– Duas pessoas irão com Vedir - Gesticula Demmie. - Por ele ter a capacidade de se tornar invisível, pode entrar sem ser visto e com facilidade.

Murmúrios enchem o porão e eu estou quase me voluntariando quando uma mão se ergue no ar. É Jayssa, a garota da água. Olhando-a agora, posso ver o quanto ela é pálida. Realmente pálida, fantasmagoricamente. Aquele cabelo liso e negro enorme a deixa ainda menos... Humana. Os olhos azuis, o vestido longo azul... Tudo parece pertencer ao mar, às águas, assim como ela própria.

– Se tudo der errado, eu viro uma poça - Ri baixinho. - Ao menos nada pode me atingir.

– Sem contar que você lutando... - Giroy respira fundo, empolgado. - Nossa, é incrível!

Ela cora e abaixa a cabeça perante ao elogio.

– Quem mais irá com Vedir? - Pergunto.

Outra mão. Eu quase não acredito no que estou vendo. Por que Hellena decidira ir com ele? Que eu saiba, ela odeia que peguem no seu pé. Vedir é bem... Grudento. Percebo que todos os olhares estão voltados para a loirinha mais fria que conhecemos, e logo ela se aborrece com isso.

– Que que é agora? - Diz, irritada. - Chamo atenção?

Desvio o olhar, abafando uma risada.

– Larm liderará o grupo dois. - Informa Demmie. - Ele é ágil e forte, além de poder hipnotizar quem quer que entre em seu caminho. Quem irá com ele?

Meus olhos se voltam para Larm e percebo que ele olha diretamente para mim. Sinto o rosto esquentar e abaixo a cabeça, evitando-o. Algo me diz que ele quer que eu vá com ele. Talvez pelo jeito que me fita, por todas as nossas conversas... Até mesmo seu nome, Larm, havíamos escolhido juntos! E, por mais que não queira admitir, eu preciso dele por perto. Ele também, eu sei.

Ergo o braço e Demmie me olha, maldosa. Larm sorri daquele jeito divertido e quase debochado. Demmie provavelmente sabe de tudo o que pensei sobre Larm e, quer saber? Não dou a mínima. Depois da minha família, ele é a pessoa mais importante para mim. Necessito dele aqui sim, não vou negar.

– Emma e Larm - Diz ela. - Mais duas pessoas?

Num canto, os olhos amarelados de Liam varrem o local, desconfortáveis. Ele parece irritado com o fato de Larm e eu estarmos juntos, no mesmo grupo. Liam sempre foi impertinente, chato e gosta de estar por dentro de tudo. Essa perturbação comigo começou quando eu tinha doze anos e ele quatorze. Ele me xingava, fazia-me parecer a coisa mais repugnante e indesejável, mas sempre me perseguia. Não me deixava sozinha nunca, nem na escola, nem quando vinha à minha casa. Minha raiva por ele só crescia por causa disso. Ele ergue três dedos acima da cabeça e os olhos de Demmie se semicerram.

– Pois bem - Diz ela, com rispidez. - E eu também sou desse grupo.

Se não conhecesse Demmie, diria que está com ciúmes. Ao pensar isso, os olhos vermelhos dela faíscam em minha direção, e ergo as mãos em rendição.

– O.K. - Diz, ainda seca. - Grupo três vocês já sabem. A dorminhoca ali, a vossa majestade, o manipuladorzinho e o alaranjado.

– Ei! - Protesta Stive.

– Já deu isso aqui - Finaliza, se levantando, pegando seu arco e aljava que estavam a alguns metros e, em seguida, saindo a passos pesados do porão.

Posso ver que ela se irritou. Talvez não fosse apenas por causa do meu pensamento, talvez tivesse captado algo da mente de outra pessoa que a irritara. Bem, é melhor deixá-la um tempo sozinha, quem sabe para que possa refletir. Meus olhos encontram os de Liam e ambos damos de ombros.

Algumas horas mais tardes, todos saem e ficamos apenas meu avô, Dianna, Stive e eu no porão. Larm fora caçar - não que não tenha comida o suficiente, mas ele vê a caça como um hobby. Uma vez me dissera que o ajuda a pensar. Giroy, Jayssa e Liam foram dar uma voltinha, e Demmie ainda não retornara. Hellena também queria ir um pouco à floresta, treinar seus dons. Vedir, como era de se esperar, a seguiu.

Lembro-me do que Hellena havia me contado, a respeito do vendedor de pipocas no parque de diversões. Agora é o momento perfeito para abordar esse assunto com Doquo, melhor impossível. Me aproximo dele e abraço os joelhos, encolhida. Ele não possui o perfil de um grande rei poderoso, parece mais com um daqueles vovôs que leem historinhas para seus netinhos. É alto e rechonchudo, vestido com roupas que já deveriam ter sido bonitas. A camisa cinzenta está em farrapos e a calça jeans está realmente em um péssimo estado. Dou uma olhada rápida em Stive, que está distraído com os próprios dedos, e comparo. Os dois são realmente muito parecidos. Se nota ao longe que são parentes.

– Sabe, Doquo... - Começo. - Poderíamos conversar?

– Primeiramente: não me admira seus conceitos a respeito de mim. - Diz, para minha surpresa. - Talvez eu não pareça mesmo um grande e poderoso rei; já passei por muitos julgamentos do tipo. Acho que a aparência, ou mesmo o jeito, é algo que não deve-se considerar. E sim, Emma. Eu sei tudo o que pensa.

Abro a boca e fecho-a em seguida, sem argumentos. Ao ver minha perplexidade, ele apenas sorri.

– Linda, você. - Elogia. - Me faz lembrar sua mãe. Sinto saudades das bagunças que ela fazia... Na época em que as coisas eram mais bonitas... - Suspira, encostando a cabeça na parede e voltando os olhos amendoados para o teto. - Sabe, eu não tenho todos os poderes do mundo. Mas grande parte deles. Consigo causar catástrofes, porém coisas boas também. Sua avó tinha dons parecidos... Na verdade, quando a conheci, ela era apenas uma órfã, como eu. Achei sua beleza tão... Específica, seu jeito tão diferente... Foi aí que cometi o maior erro da minha vida.

– Sei que deve se arrepender muito, mas não fique triste. - Apoio a mão em seu ombro. - Essa mulher trouxe-lhe coisas boas, não é mesmo? Se não tivesse casado com ela, eu não nasceria. A anta do Stive não nasceria...

– Cala a boca! - Defende-se Stive.

Doquo sorri. Um sorriso triste, amargurado, de quem não aguenta mais sofrer.

– Não me arrependo das coisas que fiz - Assegura. - Apenas das que não fiz.

– Então... Hm... - Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha. - Era mais ou menos sobre as coisas que você fez que eu queria falar...

Finalmente, ele olha para mim, com as sobrancelhas alaranjadas erguidas.

– O senhor, hm... - Pigarreio. - Andou enviando mutantes para o nosso mundo?

– Mutantes? - Recua. - Da Terra dos Mutantes?

Repito a última frase mentalmente, buscando algum sentido. Terra dos Mutantes? Dessa eu nunca havia ouvido falar.

– Daqui. Desse país. Gente esquisita, entendeu? Como eu e você - Explico, me emaranhando ainda mais na confusão.

Doquo me encara uns segundos, sem entender e, só então, sua expressão se ilumina.

– Ah! - Exclama - Ah, sim, sim. Só atendo desejos. Há pessoas que pedem para ir ao mundo dos sem-dom. Assim como há gente que é punido e enviado para lá. Também existem casos acidentais e não intencionais. Eles produzem portais e vão parar lá. Só que depois não sabem mais voltar.

Desvio os olhos. Isso aqui não é o melhor país que existe, evidentemente. Mas daí a querer se mudar para o meu mundo? Eu diria que é um pouco de exagero. O que eles sabem sobre aquilo lá? Se aqui é ruim, lá não está entre os melhores.

– É, Emma - Diz Stive, olhando para os dedos. - Lembra da Biby Bruxa?

Sei que é maldade, mas é inevitável sorrir. Na escola, há uma menina que se chama Bianca. Ela usava - ou ainda usa - roupas negras e gigantescas para ela. É meio esquisita, o tipo que atrai os valentões da escola. Bem, certa vez, um murmúrio rondou a escola, dizendo que essa menina mexia com bruxaria. É mais que obvio que as zoações aumentaram e ela foi apelidada de Biby Bruxa. Eu nunca entendi o porquê de ela ser chamada assim, achava muita covardia, porém não dava muita importância.

– Que que tem? - Pergunto.

– Um dia, eu e o Liam estávamos passando pelo corredor da escola, aquele que dá acesso aos banheiros, e vimos ela... Bom, ela meio que fez as torneiras girarem sozinhas, enquanto resmungava algumas coisas. Obviamente, nos apavoramos e contamos ao Chris. Logo foi parar nos ouvidos de Will e assim o boato se espalhou.

– E ela ganhou o apelido de Biby Bruxa... - Sussurro.

Os olhos de Stive se arregalam, provavelmente por causa de algum pensamento súbito que lhe ocorre.

– Eles estão por toda parte! - Grita. - Vão destruir o mundo! Temos que matar tudo!

– Larga de ser besta - Giro os olhos.

Ouço um resmungo. Todos paramos de falar ou se mover, atentos ao som. Curiosamente, ele vem de Dianna. Ela está acordando.


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Notas finais do capítulo

Mais um cap feito com carinho ;) desculpem os erros ou qualquer incoerência, eu tive de passar (manualmente) todo o texto do Pc pro celular kkk pobres dedinhos :3



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