O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 35
Como não amar?


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Amo vcss ♥



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Stive e eu corremos para perto de Dianna e a observamos abrir os olhos lentamente. A alegria se expande por todo o meu ser, e o sorriso é inevitável. Afago-lhe os cabelos, enquanto Stive a encara, entusiasmado.

Seus cílios curtos apertam-se e se mexem devagarinho. Ela faz uma careta, como se tivesse chupado um limão bem azedo, e leva a mão à testa. Então seus olhos se abrem e ela tenta um sorriso.

– Didi... - Sussurro, com os olhos ardendo por culpa das lágrimas.

– Oi... - Responde, com um fio de voz.

Stive e eu trocamos olhares animados.

É tão bom vê-la acordada, ouvir sua voz... Se ela soubesse a falta que me fez... Dos seus sermões, avisos pressentimentos... É tão bom saber que ela está bem, que pôde escapar viva. Tenho vontade de abraçá-la e ficar ali, para sempre, em um abraço infinito. Contudo, está muito fraquinha, melhor deixá-la quieta, por ora.

– Eu não entendo... - Diz Stive, sentando-se sobre as pernas e fixando os olhos na parede ao meu lado.

Reviro os olhos. Não é novidade Stive não entender algo, ou estar confuso. Para ele, as coisas tem que ser explicadas tintim por tintim, e isso de fato irrita.

– O que que é agora, Stive? - Pergunto entre os dentes.

– Drafe é louco, não é? Por que ele deixaria Dianna aqui?

– Ele... - Murmura Dianna. - Sempre vai fazer o que eu quiser.

Stive continua com a mesma expressão.

– Mas por que isso não faz sentido para mim?

– Porque nada faz sentido para você. - Bufo.

Dianna sorri fraco e fita o teto, com os olhos vazios.

–'-'-

Mais tarde, sinto a necessidade de sair um pouco. Quero ficar um tempo sozinha, para assimilar tudo o que está acontecendo. Ando até o riacho e sento-me com os pés dentro dele, um pouco triste e confusa. Passo os dedos delicadamente por entre as águas, lembrando-me de meus pais. De Luize.

– Oi, Lu - Digo para as águas. - Eu sei que não pode me ouvir, mas queria desabafar com alguém.

A resposta não vem. Sinto um vazio enorme no meu peito, por estar conversando com alguém que já morreu, entretanto, prossigo mesmo assim.

– A Didi voltou, Lu - Murmuro - Então por que eu me sinto tão... Estranha?

– Talvez seja porque você está conversando com o riacho. - A voz grave e masculina me assusta, e viro-me para trás, com o coração disparado.

Quando vejo o sorriso no rosto de Larm, acabo caindo na gargalhada involuntariamente.

– Idiota! - Digo, em meio ao riso.

Ele se aproxima e senta-se ao meu lado, enfiando os pés sujos de lama na água. Observo a sujeira se desprender de seus pés e espalhar-se, afastando-se cada vez mais de nós e escorrendo até perder de vista. Em poucos minutos, a água está limpa novamente. É inevitável comparar isso com minhas emoções... Todas descendo pelo ralo.

– Eu já falei que você é maluca?

– Acho que só um milhão de vezes.

Ele ri, mas logo seu sorriso desaparece.

– Obrigado por ser do meu grupo na invasão ao castelo.

Há muitas respostas que eu posso dar, mas opto pela menos constrangedora.

– Eu faço o que eu quiser.

Quando ele se curva para trás, gargalhando, o mínimo que posso fazer é amarrar a cara. A verdade é que uma mistura um tanto louca se faz em minha mente. Eu realmente acertei ao pensar que ele me queria em seu grupo de invasão. Agora, mais do que nunca, sei que ele me quer por perto. Eu não fantasiei nada: Larm precisa de mim... Como eu preciso dele. Dou-lhe um beliscão para silenciá-lo.

– Ai! Esquentadinha?! - Ele segura o braço que eu beliscara e assume uma expressão incrédula. - Tudo bem, eu não rio mais...

Não respondo, apenas estudo-o, enquanto o mesmo balança os pés na água feito uma criança.

– Posso te contar um segredo? - Ele diz, em um sussurro.

Não entendo por quê, mas o meu coração dá um salto. Larm quer me contar um segredo? Ai, meu Deus! O que poderá ser? Luto contra o nervosismo que começa a surgir e, no mesmo tom de sussurro, respondo.

– Lógico, não estou segurando sua boca.

Seu sorriso cresce tanto que parece querer dar uma volta completa por sua cabeça. Ele se abaixa um pouquinho, ficando perto o suficiente para não ser ouvido por mais ninguém. Mas quem o ouviria, afinal? Só há nós dois aqui.

– Eu... - Faz um ar de suspense, aumentando minha ansiedade. - Sou tão maluco quanto você.

Solto todo o ar do pulmão, enquanto o encaro com um ar de "Ah! É mesmo?" depois empurro-o para afastar-nos. Ele ri tanto que parece que não vai parar mais. Quando começa a me deixar vermelhinha de raiva, se interrompe.

– Fala, vai - Inspira profundamente, para se recompor. - O que pensou que eu diria?

Enrijeço. Eu sei o que pensei, e foi algo bem esquisito, para dizer o mínimo. Achei que pudesse confessar algo mais sério - algo como "eu gosto de você". Por que eu diria aquilo a Larm? Para morrer de vergonha depois? Não, isso não. Respiro fundo duas vezes e tento uma mentirinha básica.

– Que, sei lá, você não gostava de morar no porão?

Suas pálpebras se abaixam e ele fica sério. Aquele olhar me chama de idiota, eu sinto isso.

– Por favor, né, meu amor? - Rola os olhos e o desvia para as águas. - Isso não é segredo.

Ele tem razão. Essa foi a mentira mais estúpida que já inventei. Larm diz isso a todo mundo, todo o tempo, nunca escondeu que prefere sua caverna fria e escura.

– Também não é nenhum segredo que você é maluco - Penso rápido, enquanto concentro-me em não corar.

– É, você está certa - Agora, ele já não ri. Me encara profundamente e chega a amedrontar um pouco, por seus olhos serem tão assustadores... E bonitos... Se pode-se ser os dois. - Eu tenho um segredo maior... e um sonho.

Mais uma vez, as batidas de meu coração tornam-se descompassadas. Agora sim: ele vai dizer. O que eu faço quando isso acontecer? Pulo no riacho e me afogo? Larga de ser besta, Emma, isso é impossível. Então vou fugir. Ah, eu vou correr até meus pés não aguentarem mais...

– Emma... - Ele se aproxima de mim. Essa não! Ele disse Emma. Ele quase nunca me chama assim. Sinto as mãos suarem e trato de mantê-las fechadas. - Quando encontrei você fragilizada naquele chão pedregoso do centro da floresta... Percebi o quanto estava confusa. Se serve de consolo, eu vivi minha vida inteira submerso em confusão e sofrimento. Mas você, meu amor, algo me dizia, naquele instante, que o que você sentia estava muito acima do que eu sentia... Eu nunta tive ninguém; nunca amei, nunca fui amado. Não tive pais, irmãos, primos, avôs... Não tive família. Tampouco amigos. Para ser franco, Myafa era a única que passava bem perto disso.

– Aonde quer chegar? - Disparo, antes de ele prosseguir.

Por minha interrupção, Larm se perde no que estava falando e sacode ligeiramente a cabeça. Os cabelos castanhos cresceram consideravelmente, cobrindo as orelhas e roçando a testa.

– O fato é: senti a obrigação de cuidar de você.

Se ele tivesse esbofeteado meu rosto, eu ficaria menos surpresa. Tentei falar, porém tranquei os dentes em seguida. Há muito, tenho Larm como uma espécie de irmão. Sempre estive ciente de que ele me protegia, nunca passou pela minha cabeça que fosse qualquer tipo de obrigação.

– Acabei gostando disso - Ele olha mais além, e vejo seu pomo-de-adão subir e descer. - Quando parei para analisar os fatos, percebi que você foi a melhor coisa que já me aconteceu. Minha melhor amiga. Minha irmã. Minha família. Meu... - Ele hesita e faz um esforço enorme para continuar. - Meu amor.

Meus pés balançam mais rapidamente na água. Agora sim: meu coração está definutivamente tentando fugir de mim.

– Larm...

– Não, Emma, não me atrapalhe, já estou todo enrolado aqui. - Avisa ele, engolindo em seco outra vez. - Eu queria te dizer...

Seus olhos encontram os meus e, por mais que eu queira, não desvio o olhar. Nem mesmo quando ele segura meu queixo com o polegar e o indicador, acariciando-o lentamente. De alguma forma, o que sinto com esse momento não chega nem perto do que senti quando Liam tentou me beijar. O nervosismo, naquele dia, era como um medo de não ser isso o que eu queria. Um receio de não poder correspondê-lo. De estragar tudo. Aqui, com o olhar de Larm preso ao meu e seu polegar circulando pacientemente por meu queixo, o sentimento que predomina é a expectativa. A ansiedade. Larm me beijará, afinal? Ou dirá o quanto gosta de mim como amiga? Como irmã? Não, eu não faço ideia.

Tento não corar, não expressar reação nenhuma, apenas encará-lo, séria.

– Meu desejo e meu segredo - Repete o que dissera há pouco que guardava consigo. - Duvidava que um dia tivesse coragem para te dizer.

– Então diga - Falo, um tanto precipitada.

– O segredo ou o sonho? - Permite-se dar um sorrisinho brincalhão.

– Qualquer um, pouco importa a ordem - Reviro os olhos.

– Tá. - Larm respira fundo duas vezes e, se é possível, chega ainda mais perto de mim. Seus dois olhos completamente negros parecem reluzir assim, de pertinho. Ele é lindo, isso já deve estar claro, mas seria ainda mais encantador se seus olhos fossem normais, como os meus. - Bem, eu vou falar no três. Um... - Enche o pulmão de ar. - Dois... - Solta todo o ar em seguida. - Três! Eu acho você linda e, ultimamente, tenho pensado que estou enlouquecendo. Eu deito pensando em você, como pensando em você... Droga, meu amor, saia um pouco da minha cabeça!

Ele está visivelmente atordoado. Minha boca se abre alguns centímetros e tento falar sem gaguejar.

– Eu... Eu não...

– Cala a boca, caramba, deixa eu falar! - Sua mão solta meu queixo e ele limpa a garganta. - Acho que te amo.

Acha? Não consigo segurar o pensamento e acabo soltando-o involuntariamente.

– Como assim você acha? - Eu nem pretendia dizer isso em um ar tão inconformado...

– Certo, certo - Ele balança a cabeça. - Eu te amo. Eu amo a garota mais chata do mundo.

Mais uma vez, a perplexidade me pega de jeito. Invisto com alguns tapas no braço dele, o que não o afeta e, no intervalo entre uma bofetada e outra, uma palavra:

– Eu-não-sou-chata! Seu-besta-babaca-imbecil.

Ele ri tão alto que eu desisto. Na verdade... não é bem assim que acontece. Larm me desarma, segurando as duas mãos e rindo do jeito mais descarado possível. Quando o vejo a centímetros, esqueço totalmente o que fazia e meu semblante irritado desaparece rapidamente. Puxo meus punhos das mãos dele e me levanto, tímida. Larm repete o movimento e me olha como se esperasse alguma coisa.

– E então? - Diz.

– Então o quê?

– Eu disse que te amo.

Recuo um passo, e o contato dos meus pés molhado com a grama quente é, no mínimo, delicioso.

– Eu sei o que disse.

Por uma fração de segundos, seu rosto fica sem expressão, mas logo o sorriso ressurge.

– Não vai dizer nada?

– Eu já falei.

– Falou o quê?

Ai, não, penso. Me embolei.

– Você me ama, sim ou não? - Pergunta, lentamente.

Me sinto encurralada e recuo mais um monte de passos. E agora? O que eu digo? Uma verdade obvia ou uma mentira esfarrapada? Se eu disser sim, corro um risco sério de magoá-lo depois, com minha possível morte. Porém, se eu morrer, morrerei assim, infeliz, sabendo que rejeitei a quem me amava e a quem eu amava também? Tento não parecer desesperada. Se eu deixar transparecer o nervosismo e a confusão, posso desapontá-lo. Se ficar muda, no entanto, a reação dele não vai ser muito diferente.

– Bem, Larm... - Começo, sem nem mesmo saber começar. - Eu não sabia o que sentia por você, eu fiquei muito confusa...

– Ah - Diz, desgostoso, olhando para os pés. - Não se preocupe comigo, Emma, não vou me importar se...

– Fica quieto - Corto-o. - Eu percebi, porém, que esconder meus sentimentos vai me fazer explodir.

Larm ergue o olhar e me encara profundamente.

– Sim, Larm. - Suspiro. - Te amo desesperadamente.

Ele não sorri. Não diz nada. Caminha até mim, toma-me pela cintura e, simplesmente, me beija. Uma alegria cresce dentro de mim, e a incerteza de que algum dia terei coragem para soltá-lo. Durante o beijo, um pensamento me ocorre:

O quanto me sinto feliz por ter o primeiro beijo com o cara que eu gosto.

Mas a melhor parte mesmo, acontece após o beijo. Larm se separa de mim e permanece com os olhos fechados e um sorriso esboçado. Sua felicidade o deixa, inclusive, mais belo. Solto umas risadinhas também, ainda nos braços do homem que salvou minha vida, que cuidou de mim, que me fez redescobrir um sentimento há muito esquecido: o amor.

– Esse foi o momento em que me senti mais feliz. - Comenta, abrindo os olhos lentamente.

Abafo um grito, surpresa, e empurro-o para trás. Eu nunca vira Larm daquele jeito, nunca vira seus olhos tão... Normais. Quando consigo digerir aquilo, me aproximo novamente e o inspeciono: eu tinha razão. Prefiro ele assim, de fato.


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Notas finais do capítulo

Aaaaawwnnn Larmma



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