O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 33
A cúpula de gelo


Notas iniciais do capítulo

Desculpe! Eu disse que postaria cedo, mas houve um imprevisto e tive que sair de casa. Bem, agora que cheguei, está ai o cap prometido :)



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Sim, é Dianna. Tão diferente, tão frágil... Não sei se fico alegre em vê-la ou triste pelo seu estado. Uma única pergunta ronda minha mente: como ela chegou aqui?

Corro para abraçá-la e Hellena faz o mesmo. No entanto, no momento em que a alcanço, ela desmaia em meus braços.

– Ah, não... Dianna! - Grito.

Hellena me ajuda a carregá-la para dentro do porão que chamamos de casa, e lá a colocamos no chão onde dormimos. Enquanto encaro a garota desacordada, Hellena se afasta de nós. Deposito um beijo na testa de Dianna- um beijo molhado por lágrimas que me escaparam involuntariamente dos olhos- e depois viro-me para Hellena.

Ela está logo atrás, virada de costas com as mãos na cintura. Eu a conheço muito bem, e sei que quando pára assim, é porque estranha alguma coisa. Levanto-me e vou até ela, parando à sua frente.

– Isso é esquisito. - Comenta, coçando o queixo. - Eu estou falando sério, Emma, não é normal.

– O quê não é normal, Hellena? - Pergunto, sem entender. - Você deveria estar feliz! Dianna voltou, ela está bem, está viva!

– Não... - Os olhos pretos de Hellena não me encaram diretamente, ela parece esconder algo. - Dianna foi raptada por Drafe, se lembra? Ele simplesmente é obcecado por ela. Por que motivo a deixaria por aqui?

Penso um pouco sobre isso. Realmente, é estranho o fato de ela surgir aqui assim, sem mais nem menos. Porém, que prova eu quero mais? Dianna está aqui, diante dos meus olhos. É ela. Eu não esqueceria aqueles cachos castanhos volumosos, aquele narizinho que todos querem apertar, aquele sorriso grande e animado, aquele vestido azul em farrapos... Não tem como ser outra pessoa.

– Drafe pode ter sido manipulado a isso, sei lá. - Sugiro. - Ela está aqui, Hellena, fica fria.

Ela ri, sem humor algum.

– Eu gostaria de transferir todos os meus sonhos para você. - Dispara. - Ao menos assim vai saber pelo que eu estou passando. Eu tenho que duvidar, moça. Perdi a pessoa que eu mais amava no mundo, sofri a tortura de Birc, e sou atormentada todas as noites. Qualquer coisa boa que aconteça, é motivo de desconfiança para mim. Ninguém aqui sofreu como eu sofri. Como eu ainda sofro.

– Sinto muito. - Murmuro.

– Desculpe, Emma, mas seus sentimentos não vão tornar as coisas melhores. - Retruca. - Eu vou definhar se vir mais alguém sofrer, mais alguém morrer. Está vendo isso? - Ela aponta para os próprios olhos. - Eu não tenho mais lágrimas. Eu estou sufocada.

– Eu não entendo... - Sussurro para mim mesma. - Dianna está aqui... Então por que está tão mal?

– Não posso te dizer... - A voz dela falha.

Um pigarro perto da porta chama nossa atenção. Lá estão Stive, com um sorriso animado, vestido com sua jaqueta marrom sobre a blusa branca e bermuda azul, com os pés descalços; Liam, com aquele semblante insuportável de "Eu sou o dono do mundo", o que não funciona muito com as roupas maltrapilhas que usa- blusa preta com um rasgo enorme na barriga, que fora causado por uma espécie de tigre, alguns dias após nossa chegada ao porão dos Guardiões. Caio na gargalhada todas as vezes que lembro da cor sumindo de seu rosto e ele implorando por ajuda. No fim, Hellena e eu demos um jeito naquele bicho e ele se tornou um belo de um churrasco; a calça de Liam é uma combinação de sujeira, amassados e rasgões (certa vez, ele tentou subir em uma árvore para apanhar uma fruta que Hellena pedira com aquele seu dom de persuasão, contudo, como ele é um filhinho de mamãe que nunca fez nada tão arriscado na vida, acabou por ficar pendurado de cabeça para baixo pelo bolso da calça. Pobre bolso.); e também não tem chinelos, pois os seus arrebentaram naquele acidente da árvore.- Já Larm, este irradia superioridade. Aqueles olhos totalmente pretos causam intimidação a quem quer que seja, até mesmo a mim, que já estive tantas vezes a centímetros deles. Os cabelos de Larm estão sempre despenteados e em um bom comprimento e a barba, muito bem aparada. Diferente de Liam, ele sabe fazer a própria barba e cortar o próprio cabelo, sem precisar recorrer a ninguém. A blusa cinza de Larm, embora suja e encardida, não possui arranhões ou sinal de que algum tigre feroz o nocauteou. E os jeans folgados contém rasgos sim, mas apenas nas barras e nos joelhos. Sua harpa está pendurada na lateral da calça, como sempre. É parte dele.

– Aberrações. - Ri Stive. - Bom combate, hm? Gelinho e Foguentinha.

– Cala a boca, Stive. - Digo, cruzando os braços.

– Nossa, que valente. - Diz ele.

Liam ri.

– Não me pareceu tão valente quando você imobilizou seus braços naquela luta, Stive. - Comenta.

– Você ouviram a mocinha, não é? - Larm diz, tranquilamente. - Vão embora. Lutem entre si. Não veem que elas estão mal?

Os olhos amendoados de Stive voltam-se para o corpo imóvel de Dianna, e ele recua prendendo o ar. Sem entender, Liam olha para o mesmo lugar que ele e se assusta ao vê-la ali, como um defunto. Já Larm, ao avistá-la, faz uma careta e volta um olhar calmo para Hellena.

– Quem é?

– Di-Di-Dianna... - Gagueja Stive.

– Ela deveria estar morta! - Surpreende-se Liam.

– Fecha esse bico, Galinha de Macumba! - Esbraveja Hellena.

Larm aperta a ponte do nariz e respira fundo. Ele caminha até Dianna e abaixa-se diante dela, pondo dois dedos na lateral do seu pescoço. Depois se levanta.

– Viva. - Anuncia. - Mas não por muito tempo.

Suspiro, sentindo meu coração acelerar.

– Como é? - Stive diz, esganiçado, aproximando-se dela também.

– Eu não sei explicar... O batimento dela...

Olho para Liam e ele apenas dá de ombros, depois olho para Hellena e percebo sua cor desaparecendo, seus cabelos ficando brancos... Mas não é apenas isso. Espinhos de gelo erguem-se ao seu redor, aprisionando-a. Os espinhos já estão na altura de sua barriga e eu observo-os cercá-la, tristemente. Ela quer ficar sozinha, eu sei. Não vou atrapalhá-la.

...#...

No início do dia seguinte, aproximo-me novamente da caverna de gelo onde Hellena está presa. Eu encosto minha cabeça ali, vendo-a com o canto do olho se encolhendo cada vez mais em um canto, com toda a sua brancura, feito um animal arisco. O chão no interior da cúpula é algo parecido com uma pista de patinação... Fecho os olhos com força. Me lembro de uma vez em que minha mãe e tia Bel saíram para patinar no gelo conosco. Elas sempre faziam isso quando os nossos pais as aborreciam: ora faziam a reunião do sorvete, ora iam ao cinema, ora saíam para cavalgar... Naquele dia, elas decidiram mudar um pouco. Tia Bel sugerira a pista de patinação, que não fica longe da casa dela, e minha mãe aceitou a proposta. Se não me engano, tia Bel discutira com o marido por ele nunca estar em casa, e meu pai passara a noite fora. Então, mamãe ligou para ela e combinaram de sair para se divertir. Eu tinha onze anos, Will fizera oito, as gêmeas estavam com sete e meu irmã mais velho, Stive, tinha treze. Mamãe avisara a Stive para tomar conta de nós enquanto elas iam comprar algumas guloseimas.

– Ouviram, praguinhas? Estou no controle. - Disse Stive. - Me obedeçam.

O chão estava muito escorregadio, eu não entendia nada de patinação. Ainda mais com todos aqueles agasalhos. Eu estava me sentindo enorme. Hellena veio patinando perfeitamente bem, com o casaco branco, luvas azuis, calça preta e touca amarela. Eu pensei que ela ia parar, que ia frear quando chegasse em Stive. Mas não foi bem assim. Ela literalmente voou em cima dele e os dois caíram com tudo. O peso de duas crianças não foi suficiente para rachar o gelo, então estava tudo O.K. Desviei o olhar, fingindo não ter presenciado nada, e olhei de meu irmãozinho à minha prima menos terrível. Ambos deram de ombro.

– Que acha disso, machão? - Riu Hellena, se levantando e rodopiando com seus patins. - Uma menininha de sete anos consegue te derrubar! Check mate!

Tentei agarrar o braço dela, mas quase caí por cima de Stive. Will e Luize impediram a queda.

Stive tentava se levantar, mas todas as vezes que se punha novamente sobre os patins, outro tombo se sucedia.

– Praga loira. - Xingou. - Você me paga.

Hellena fez uma careta para ele.

– Te pago sim, se você conseguir me alcançar. - Gargalhou. - Enferrujado.

Abro os olhos, só para perceber a lágrima que me cai da ponta do nariz. Olho para Hellena e a vejo tremer. Não é frio, seria muito improvável. Talvez seja medo, frustração...

– Lena...

– Eu sei. - Diz, com a voz trêmula. - Parece que nossas vidas viraram de cabeça para baixo.

– Não vou negar isso. - Digo, encostando as palmas das mãos na parede de gelo. - E não vou sofrer mais. Escuta aqui, Hellena, eu cansei! Éramos felizes, éramos normais, o maior perigos que corríamos era nos afastarmos demais de casa! Olha para a gente! Eu não fico aqui mais nem um dia, entendeu? Estou partindo. Morrerei, se preciso for, mas não vou deixar os que eu amo lá, naquele castelo de horrores, sofrendo como condenados!

– Você está certa. - Sussurra. - Não adianta nos escondermos.

O gelo todo no qual ela própria se aprisionara, derrete-se aos poucos, e quando está liberta, Hellena me abraça o mais forte que consegue.

– Eu não ia te contar, mas... - Murmura. - Lembra aquele dia na roda gigante?

Eu me lembro. Hellena, Stive, Will e Dianna haviam ido na mesma cabine, enquanto eu, Luize, Chris e Annabely fomos na outra. Fora um dia particularmente divertido.

– Sim, o que houve?

– Quando Stive, Will, Dianna e eu descemos do brinquedo e não achamos o seu grupo, resolvemos comprar pipoca doce.

Reviro os olhos.

– Nossa, grande coisa.

– Não, Emma, não foi só isso. - Ela me olha com seriedade. - O moço que vendia pipoca. Ele mudou diante dos meus olhos. Se transformou, de um homem loiro e magro para um homem ruivo e rechonchudo.

– Está brincando? - Rio. - Apenas trocaram o vendedor.

– Qual a parte do "Diante dos meus olhos" que você não entendeu? - Ela diz, sacudindo meus ombros.

Eu desvio o olhar, pensando sobre aquilo. Se, no nosso mundo, pessoas tinham a capacidade de mudar de forma... Há lá pessoas daqui. Assim como minha mãe e meus tios. Doquo deve tê-los mandado para lá acidentalmente. Anotei mentalmente na minha lista abstrata do que fazer:

Perguntar à Doquo sobre moradores daqui em meu mundo.


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Notas finais do capítulo

Amooooooores



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