Lua e Sol escrita por Tiny Ms


Capítulo 29
Adeus...


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Ficou maior que último, mas não tinha como falar de tanta coisinha sem deixar um pouco grande.



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A tia de Lua morava em Florianópolis, na Av. Beira Mar Norte, em um condomínio de casas de luxo, ao chegar ficou espantada, pois não sabia que sua família de Santa Catarina era rica, seu pai não havia mencionado isso, mas seria fácil se acostumar, apesar de tudo, continuava morando de frente para o mar.

– Bom Dia Senhorita Luana, eu sou Mariana, empregada da sua tia e agora sua ajudante. Sei que deve estar cansada e triste, mas garanto que sua vida vai melhorar desde que você queira que ela melhore. Dona Rosa pediu para que eu te auxilie a se instalar e também que te leve para fazer compras para o quarto novo... – Disse a empregada enquanto Luana entrava na casa e colocava suas malas no chão, Marina falou por mais alguns minutos até perceber que Luana não estava interessada – Eu perdi meu pai quando tinha a sua idade também, sei como é complicado – Luana a encarou, a moça tinha um pouco mais de vinte anos e se vestia feito uma empregada de filme, era loira com os olhos verdes e falava com muita calma – Eu compreendo que deve ser difícil para você neste momento querer fazer algo para se divertir, mas se quiser, eu posso te levar para conhecer a cidade e também podemos comprar coisas novas. Minha mãe me disse uma vez quando eu me mudei para cá, que o melhor jeito de se adaptar a um lugar novo, era mudar todas suas coisas pessoais. Portanto se quiser eu estarei aqui para te ajudar...

Luana não sabia o que dizer, apenas a encarou com um olhar vazio, como de quem não quisesse mais nada a não ser dormir, porém aceitou conhecer a cidade, dessa forma se sentiria melhor. Seu quarto era simples, havia uma cama de casal, uma estante, uma penteadeira e uma cômoda com uma TV em cima, tudo branco e sem decoração, ao entrar nele, percebeu que era assim que sua vida estava, seu dever era encontrar maneiras de tornar tudo mais colorido e agradável, por mais que seu desejo fosse passar o resto da vida deitada lamentando suas perdas, ela não poderia desistir.

Solange, por outro lado, ignorou completamente suas vontades e passou a ajudar sua mãe com o quiosque, guardou tudo o que fazia ela lembrar de Lua e continuou sua vida sem dar ouvidos ao que as pessoas diziam: “ Você precisa relaxar”, “ É normal ficar fria depois de uma coisa dessas, mas uma hora você vai ter que chorar”, “ É só uma fase, logo menos você acorda e percebe que nem foi tão importante assim”. Mas era importante, Luana fora o amor da sua vida, porém ela não queria mais chorar, precisava ajudar sua mãe, se dedicar aos estudos e assim sofreria menos; ela não queria sentir que poderia ter feito diferente, tudo na vida acontece como deve ser. Gustavo foi o que mais lhe entendeu, embora ela parecesse fria e melancólica, ele entendia que na verdade ela só queria que a vida seguisse e que as pessoas parassem de dar sugestões para o que ela deveria fazer ou não.

Os dias foram passando, Luana decorou o quarto novo com tudo o que mais lhe dava alegria, pintou as paredes de azul claro, comprou vários artigos de decoração coloridos e tirou a TV do quarto, queria se afastar de tudo o que pudesse lhe fazer perder tempo. Sua escola nova tinha um cronograma de aulas muito completo, não haveria tempo para se envolver com coisas pequenas, queria apenas terminar a escola já tendo certeza de qual faculdade entrar; em poucas semanas fez amigos novos, o que nunca acontecia em Ubatuba, suas novas amigas se chamavam, Sara e Patrícia, elas eram irmãs gêmeas e muito legais, os garotos da escola nova olhavam para Luana com desejo e isso era estranho para ela, afinal nunca ligou para garotos, já as meninas pareciam não se importar com ela, Sara lhe disse que conhecia poucos homossexuais pela região que Luana era a única da escola; mesmo assim Lua não ficou triste, dessa maneira se concentraria melhor, afinal não teria distrações.

A vida para as duas seguiu normalmente, por mais que sentissem falta uma da outra, não havia nada que poderiam fazer.

Rosa chegara dois dias depois de Lua e lhe entregara uma carta de Augusta dizendo que fora uma honra conhecer uma garota tão especial e que assim que ela pudesse, era pra voltar para Ubatuba que sempre teria um lugar para ela; as palavras de Augusta por mais que fossem para dar apoio, soavam como uma canção triste daquelas que Luana não estava afim de ouvir, porém era uma lembrança de que sempre estaria no coração de todos que ela conheceu.
O ano de 2009 fora um ano de muitas mudanças para elas, os dias passaram tão rápido que Lua apenas percebeu que tudo tinha se transformado no dia do aniversário de Solange.

– Tia... Você tem o telefone da casa da Augusta?- Perguntou Luana com voz de choro, pois passara a manhã inteira chorando na escola e ainda não havia parado.
– Devo ter na agenda, por que ? Quer ligar para ela? – Respondeu Rosa sem muito interesse enquanto arrumava sua bolsa para ir trabalhar.
– Gostaria de falar com ela, hoje é aniversário da Sol...
– Liga lá queridinha, só não fica muito tempo no telefone porque a conta aumenta muito quando ligamos para outro estado. – Respondeu a tia lhe entregando a agenda com o número.

“ Outro estado... “, pensou Luana. Naquele dia cinco de maio, Lua finalmente percebeu que estava longe de Sol, por mais que tivera chorado, a ficha não havia caído, até aquele momento.

– Alô Augusta? – Disse Lua; Augusta se espantou.
– Nossa graças a Deus, Luana minha linda como você está?- Respondeu Augusta claramente animada com aquela ligação. – Fiquei tão preocupada com você... Leu a cartinha?
– Eu estou bem... eu acho... Li sim, obrigada por se preocupar... Solange está? – Lua estava seria, não queria que Augusta percebesse que estava chorando.
– Ela ainda não chegou da escola, hoje tem treino de surf, talvez volte mais tarde, vamos fazer uma festa pra ela...
– Foi por isso que eu liguei, queria dar parabéns pra ela...
– Eu falo que você ligou, quer deixar o seu número pra gente te ligar?!

Luana pensou bem se era realmente aquilo que ela queria, manter contato e sempre lembrar do que lhe aconteceu... Infelizmente sua decisão foi um tanto precipitada, desligar a ligação sem dar uma resposta deixou Augusta chateada, “ Será que ela não quer mais nossa amizade depois de tudo o que passamos juntas?”, pensou; mas Luana precisava de um tempo longe de todo aquele passado, por mais difícil que isso possa ser, Augusta e Sol, eram passado agora.
Após desligar o telefone frustrada por não conseguir ouvir a voz de Sol, Lua se trancou no quarto, sua tia sempre ocupada, não percebeu que ela estava magoada. Mariana em uma tentativa falha de fazer ela comer, deixou em cima do criado mudo uma refeição completa, com salada, macarrão e uma vitamina para tomar meia hora depois do almoço, mas Lua nem se importou, dormiu a tarde inteira. Em um de seus sonhos, viu Sol brincando com seus amigos na praia, ela corria para alcança –la porém sem sucesso, quanto mais ela corria, mais sua amada se distanciava; acordou assustada pelo clima do sonho e viu seu almoço frio ao lado de sua cama, estava faminta, resolveu levantar para preparar algo, a empregada com toda dedicação preparou uma sopa para ela e sugeriu que assistissem um filme até Rosa chegar, foi o que fizeram até Lua pegar no sono novamente e não acordar mais naquele dia.

Sol comemorou seu aniversário na praia, com todos seus amigos e depois em casa, sua mãe havia arrumado tudo para sua festinha, tudo muito simples, mas era do jeito que Sol gostava, as horas para ela passaram devagar e naquele dia, em nenhum momento pensou no que Lua poderia estar fazendo, até que quando estava se trocando para dormir sua mãe lhe contou que Lua tinha ligado.

– Mãe... por que me contou só agora? Por que ela tinha que ligar hoje? Por que tudo o que eu tento fazer para esquecer ela me faz lembrar dela?! – Gritou Sol para sua mãe, descontando tudo o que havia guardado todos aqueles dias.

– Desculpa, não pensei que ficaria desse jeito... Ela foi super grossa no telefone, eu até queria conversar com você, se está certo agir dessa forma, como se nada tivesse acontecido, mas depois de hoje percebi que é assim que ela quer... Desculpa ter furado essa sua bolha, mas a realidade não é fácil assim Solange! – Sol concordou que fora injusta com sua mãe e também sabia que um dia isso iria acontecer.

As duas lidaram com aquilo de formas diferentes, mas a realidade é que nunca esqueceram nenhum detalhe. A aliança que Augusta havia dado para elas, agora servia de colar, tanto para Lua, quanto para Sol, mesmo sem saber elas pensaram igual, era o jeito mais fácil de conviver com elas sem ter que guarda – lãs.

Tudo se normalizou na manhã seguinte, Lua fora pra escola como de costume; suas amigas nem desconfiaram que ela não estava bem, mas resolveram tomar um sorvete depois que saíssem.

– Lua, como a garota tem que ser pra te chamar atenção? – Perguntou Sara, mas Lua nunca tinha pensado nisso.
– Como assim? Que tipo de garota é isso? – Lu perguntou de volta.
– Isso! Porque eu e a Paty gostamos do mesmo tipo de garotos, então é fácil fazer esquema, agora você nós não temos ideia.
– Ah... eu não sei... só beijei duas garotas até hoje e elas eram bem diferentes, acho que não tenho um tipo...
– Então ta, vamos te ajudar a escolher seu tipo – Disse Patrícia.
– Como farão isso? – Disse Lua sorrindo um pouco sem jeito.
– O que você acha daquela garota ali ?- Sara apontou para uma garota baixinha, com cabelo loiro natural, vestida com roupas casuais.
– Bonita...
– Ficaria com ela ? – Perguntou Patrícia com tom malicioso.
– Não sei, nem a conheço.
– Eu sim, vou lá falar com ela ! – Disse Sara correndo até a garota antes de Luana dizer que não queria. Ela não havia contado nada de sua vida pessoal, apenas que estava solteira e beijava garotas.

A menina se chamava Luiza e tinha 17 anos, dois anos a mais que Lua e por mais que suas amigas alertaram que não conheciam outras lésbicas por ali, Luiza era e aceitou ficar com Luana.

– Não meninas, não posso fazer isso, não conheço ela... – Reclamou Luana enquanto suas amigas a levavam para conhecer Luiza.
– Não e não... só sabe dizer isso? Vai beijar sim, você precisa conhecer outras pessoas. – Interrompeu Sara, que era a gêmea morena e mais autoritária. Patrícia estava loira e era mais tranqüila, mas as duas não desistiram enquanto Luana não se rendeu. Ao chegar perto da garota e perceber que ela era realmente linda, quis voltar atrás com sua decisão de não se distrair e aceitou dar um beijo em Luiza, só não contava com uma coisa, sua tia trabalhava ali perto e acabou vendo o pequeno beijo, o que lhe causou um probleminha ao voltar para casa.

– Luana, você precisa se esforçar na escola, não ficar a tarde toda com essas gurias e pior beijando outras gurias na frente da cidade inteira!!! Uma funcionaria veio me contar que te viu beijando a filha da Maria, aquela guria é uma bêbada, terminou a escola e nem trabalha e ainda por cima fuma. Eu aceitei você com aquela sua namorada porque seu pai aceitava, mas não vou ficar pagando escola cara pra você estragar tudo ficando com essas gurias daqui, está me ouvindo!? – Brigou Rosa; os gritos chegaram aos ouvidos de Mariana que depois de ver como aquilo afetou Luana, foi conversar com ela.

– Olha guria, sua tia não é fácil de lidar... Depois que se divorciou, nunca mais foi a mesma, Agora ela só sabe gritar e mandar nas pessoas, acho que nem feliz ela é...
– Eu percebi Mariana, mas ela não tinha que falar aquilo. Poxa eu vim pra cá contra minha vontade, aceitei morar com ela, porque ela é minha tia, esperava que ela mais do que qualquer outra pessoa me apoiasse, mas tudo o que ela tem feito é me deixar pra baixo... foi só um beijinho...
– Eu entendo sua indignação, mas ela deve estar sofrendo também, só que ela é orgulhosa demais pra assumir isso.
– Eu preciso dormir, amanhã tenho uma prova importante e nem sei se estou com cabeça para tudo isso...
– Boa noite Lua, pense em coisas positivas e você conseguirá dormir, não se desespera, vai dar tudo certo! – Disse Mariana ao fechar a porta do quarto.

“Querido diário, como querem que eu pense em coisas positivas? Como? Se tudo o que eu mais queria era fugir daqui... Nem beijando outra garota eu consegui parar de pensar na Sol... Como vou suportar todos esses sentimentos ruins que ando sentindo? Estou sentindo falta do meu pai, querendo um abraço da minha mãe...e principalmente querendo minha Sol aqui comigo... Mas nada disso eu poderei ter... Então não consigo pensar positivo droga... a escola nova está me estressando, ainda não sei o que quero pra mim e todas minhas tentativas de seguir em frente estão dando errado!! Sei que não vai adiantar eu ficar querendo eles aqui, preciso aprender a andar com minhas próprias pernas... Então... Adeus pai... Adeus mãe... e com toda dor no coração... Adeus Sol...”

Amanheceu a quinta feira , Sol saiu de casa sem comer, precisava nadar e sentir a brisa fria da manhã, no fim de semana ela participaria de outro campeonato de surf, mas não se sentia confiante. Sentou na areia e olhando para o céu, que não estava totalmente claro, respirou fundo e chorou, cada lágrima era uma palavra que gostaria de ter dito para Lua, naquele momento tudo o que ela sonhava era que Lua aparecesse atrás dela dando aqueles sustinhos que adorava receber, porque a risada que Lua dava quando via ela se assustando era adorável. “Impossível de acontecer”, ela pensou, precisava esconder de todos que sofria, não gostava de ver o olhar de pena das pessoas. Quando levantou para ir a escola, sentiu uma brisa forte, imaginou o perfume de Lua e deixou ali todas as suas tristezas.

– Adeus Lua... – E foi embora sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Enfim... Se preparem para algumas mudanças nessa reta final. Serão mais 4 ou 5 capítulos apenas. Estou chorosa ahaa beijos até breve



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