A noite passou muito rápido, o clima estava agradável, então todos dormiram muito bem; porém Solange estava ansiosa, ela levantou antes e acordou Lua, a levou para ver o nascer do sol. O ar na fazenda era limpo e fresco, garantia uma sensação de tranqüilidade a elas; depois de tantos problemas aquilo era o que mereciam.

– Amor... por que me acordou tão cedo? – Perguntou Luana sonolenta.
– Quando você ver isso, vai me perdoar, eu tenho certeza! – Respondeu Sol segurando Lua pela cintura.

Em um minuto estava tudo escuro, no outro, os raios solares invadiram toda a extensão da fazenda e encheram os olhos de Luana. Claro que já havia visto outros nasceres do sol, mas aquele era especial; estava com sua namorada e estava feliz.

– Ual, Sol você é incrível!!! – Disse Lua quase gritando.
– Está falando de mim ou dele?!
– Dos dois!!! Mas você eu posso beijar!!

Elas se beijaram e o galo começou a cantar, logo em seguida Sr. Lucio apareceu na porta e interrompeu o beijo, envergonhadas elas correram para a cozinha, que ficava um pouco distante dos quartos, Augusta e Vinicius ainda estavam na cama. Um dos funcionários do Sr. Otavio, convidou as garotas para ordenhar a vaca, seu interesse em Lua era quase gritante, desde que chegaram ali, ele não parava de olhar para ela ou de perguntar se ela precisava da ajuda dele. Sol não gostava da ideia de tocar nas tetas da vaca amarrada até mesmo porque não gostava muito de leite, mas jamais deixaria Lua sozinha com aquele rapaz. Jordan e Luana foram na frente, ignorando o pedido de Sol para esperarem por ela, quando finalmente Sol conseguiu alcançar eles, Lua já estava ordenhando a vaca, preferiu ficar meio distante, apenas observando; Jordan olhava para Luana com um olhar malicioso, de quem quer muito algo e antes que Solange pudesse impedir, ele pegou na mão de Lua e a chamou para ir com ele na noite da fogueira, uma comemoração que faziam todo ano no aniversário do Sr. Otavio que coincidentemente também era o do Sr. Lucio; assustada Lua soltou da mão dele e disse que iria, mas não iria com ele, o rapaz insistiu; Sol interrompeu aquela conversa antes que ficasse pior.

– Ela vai comigo!
–Ah, desculpa, pensei que como amiga você não se importaria se ela ficasse comigo.- Disse Jordan um pouco arrogante.
– Você é cego?! Ela é minha namorada cara, sai fora! Vamos voltar pra cozinha amor?!
Lua sem jeito pegou o balde quase jeito e seguiu na frente de Sol.
– Não sabia que aceitavam sapatas nessa fazenda! – Gritou Jordan claramente frustrado.

–Amor, por favor deixa ele pra lá, não vamos estragar os planos. – Disse Lua tentando acalmar Sol.

Na cozinha, Augusta e Vinicius já haviam terminado de tomar o café da manhã, Sr. Lucio esperava pelas meninas, assim que elas entraram, Vini puxou Augusta para dar um volta, fazendo ela correr atrás dele até o lago.

– Ai espera, não sou mais uma adolescente esqueceu?!- Gritou Augusta ofegante.
– Nem eu e ainda consigo correr! Vamos, vamos agitar esse corpo lindo ai!

Quando ela ultrapassou ele na corrida, foi surpreendida por um puxão na cintura que a fez cair em cima dele. Rindo muito, os dois ficaram deitados na grama por alguns minutos.

– Você está feliz?! – Perguntou Vini, fazendo Augusta refletir por alguns segundos.
– Olha... pensei que nunca mais diria isso, mas sim estou feliz! – Deu uma pequena pausa e levantando ela continuou – Meu Deus, Vinicius, finalmente eu estou feliz!!!
– Por que finalmente amor?! – Disse Vini levantando também.
– Um dia eu te conto a historia completa. Agora quero acerola, olha aquela arvore carregada- Claramente Augusta não queria lembrar de tudo o que havia passado.
– Ei, não muda de assunto, depois pegamos acerola... Confia em mim... Me conta o que aconteceu com vocês antes de eu maravilhosamente melhorar sua vida!? – Disse Vini com pose de convencido.

Augusta então apontou para um banco próximo ao lago e decidiu que contaria com detalhes a historia, para nunca mais ter que lembrar dela.

Lucio estava descansando na rede, Lua o observou de longe e comentou com Sol que havia algo estranho com seu pai, ele não ficava mais daquele jeito, cabisbaixo e sem vontade de viver, ele estava bem, disse Lua; mas mesmo que ela sentisse algo diferente nele, não imaginava o conflito em que ele se encontrava; Sol por outro lado preferia acreditar que era apenas cansaço da idade e que logo menos ele estaria animado.

A noite chegou, os funcionários já haviam começado a organizar a festa, faltava apenas acender a fogueira, Jordan mesmo de longe continuou olhando para Lua enquanto ela ajudava as cozinheiras a finalizar a mesa, ele aproveitou que Sol ainda estava se arrumando e foi conversar com ela.

– Luana, me desculpe aquilo mais cedo?! – Disse Jordan ajudando a levar os pratos para mesa.
– Ah, tudo bem, mas pensei que você já tivesse notado que Sol é minha namorada! – Disse Lua ainda irritada.
– Eu não sou muito de gostar dessas coisas, mas conversei com seu pai e ele me explicou o porque é fácil para ele aceitar vocês duas juntas... Então você me perdoa o mal jeito.
– Relaxa Jordan, não é a primeira vez e nem a ultima.

Enquanto isso, Sol se trocava no banheiro, o clima havia esfriado e ela teve que escolher um conjunto de moletom quentinho para passar a noite; apesar de tudo o que passara, ainda parecia uma garota de quase 15 anos, seus cabelos loiros brilhavam muito com a luz e sua pele ainda macia, parecia pertencer a um bebê, por alguns minutos ela se olhou no espelho e viu quem ela queria ver. Antes de sair do banheiro, Lua bateu na porta e pediu para entrar.

– Eita que isso? – Disse Sol espantada por Lua estar tirando a roupa sem falar nada.
– Acho que entrou algum bicho na minha roupa, me ajuda!!!! – Gritou Lua agoniada.
Sol a ajudou a tirar o macacão e não acharam nenhum inseto, mas quando o olhar das duas se encontraram, Sol não resistiu e abraçou ela tão forte, e a beijou, um beijo sensível, amoroso e cheio de desejo. Ficaram no banheiro por alguns minutos; não desejavam estar em outro lugar, se não ali, uma ao lado da outra, como se o mundo inteiro não importasse.
– Você está tão fofinha nessa roupa!!! – Disse Lua interrompendo o beijo – Temos que ir para a fogueira, todos já estão lá.
– Não podemos ficar aqui pra sempre?! – Insistiu Sol desanimada, sem sucesso, ela pegou sua blusa no chão e seguiu atrás de Lua que se vestira antes dela.

Em volta da fogueira, estavam varias convidados do Sr. Otavio, inclusive a tia de Lua, o que alegrou muito Sr. Lucio. Entre risadas e histórias de vida, Sol e Lua se levantaram e foram passear um pouco antes de dormir, a noite estava muito estrelada e o friozinho típico do Sul, deixava tudo ainda mais romântico; elas andaram de mãos dadas ao redor do lago, pararam quando encontraram um banco para sentar e olhar as estrelas pelo reflexo da água.
Lucio percebeu que as meninas não estavam perto e chamou Augusta para conversar.

– Está se divertindo Lucio? – Perguntou Augusta, que logo se preocupou, pela cara dele não poderia ser coisa boa, pensou.
– Eu estou morrendo...- Disse Lucio baixinho. Augusta se espantou.
– Como assim Lucio, você fez a cirurgia, você está bem agora!!!
– Não Augusta, eu não estou!
– Me explica isso, meu Deus Lucio, assim você me assusta!
– Estou pirando... pensei que depois daquele susto eu teria mais tempo para curtir minha vida, ver minha filha se formar, ver o quiosque crescer, ver você se casando... Mas a medica disse que eu só terei uns seis meses e que uma cirurgia agora é muito arriscado, pois meu coração está fraco demais.
Ao ouvir aquilo, Augusta quis chorar, mas se manteve forte para acalmar o amigo.
– Deve ser sensacionalismo Lucio, se ela deixou você viajar, por que você estaria morrendo?! É mentira dela! Você ta ótimo!! – Disse Augusta o abraçando.
– Eu entendo.. também estou preocupado.. mas ela não queria me autorizar, porque a pressão no avião pode me fazer enfartar, eu vim de teimosia mesmo... Só que com essas dores que estou sentindo, não tem como aproveitar...
– Por isso te senti meio desanimado... Ai meu amigo, eu não sei o que fazer...
– Eu também não sei, como vou contar isso para Lua? Como vou estragar os planos dela para nós dessa forma?
– Não conta... Pelo menos não agora... Vamos procurar um medico que opere você e vai dar tudo certo, talvez consigamos um transplante, tudo é possível !!

O clima ficou pesado quando eles voltaram para perto da fogueira, mas eles decidiram não contar para ninguém. Rosa estava ligeiramente alcoolizada e começou a contar histórias deles quando eram crianças, aquilo acalmou o coração de Lucio e a noite pode seguir tranqüila.
As meninas ficaram conversando tanto e nem perceberam que todos já estavam indo dormir, mas como estavam sem sono, voltaram para a casa e colocaram um filme para ver agarradinhas no sofá. Já passava das 3 horas da manhã, começara a chover, todos estavam acomodados, parecia uma das noite perfeitas para se dormir de conchinha, pensou Lua. Seu pai por outro lado, não conseguia dormir, estava preocupado demais, sua irmã se jogou na cama bêbada e dormiu feito uma pedra, porém ele não parava de pensar que aquele poderia ser seu ultimo aniversário. Resolveu então escrever uma carta que serviria como testamento; Augusta levantou para ver se as garotas estavam dormindo, para desligar a TV, mas no caminho viu que Lucio ainda não estava dormindo e entrou no quarto.

– Nossa, ela vai acordar com uma ressaca.... – Disse Augusta sobre Rosa – O que você está escrevendo.
– Uma carta para Lua...
– Ela vai ficar bem... eu vou cuidar dela.
– Eu sei que vai, não me preocupo com isso, mas eu sei como ela vai ficar abalada...
– Vai dar tudo certo, pense positivo, você pode viver muitas coisas boas ainda.
– Não sei o que eu faria sem você querida... – Disse Sr. Lucio emocionado.

O cronograma para o dia estava muito divertido, Sol havia planejado uma gincana com todos que quisessem participar, afinal seria o ultimo dia deles na fazenda, depois iriam para um hotel antes de ir embora. Mas por causa da chuva que não havia parado, eles perderam um espaço enorme no campo. Lua teve a ideia de arrastar os moveis da sala que era enorme e fazer ali mesmo, assim foi.

As brincadeiras estavam bem diversificadas e Sr. Lucio adorou aquilo. Depois do almoço Sol separou todos os prêmios e também os materiais que seriam usados nas brincadeiras, até Jordan participou. Foram quatro horas de pura alegria, foi possível até esquecer toda aquela tristeza que Lucio estava sentindo; ter sua irmã e sua filha ali com ele foi o suficiente para sentir que nada poderia tirar a felicidade que ele havia conquistado com muito esforço naquele ultimo ano. Verônica iria amar tudo isso, pensou ele, e iria mesmo, ela era divertida e adorava brincadeiras de crianças e poder esquecer os problemas por pelo menos algumas horas.

– Obrigada por tudo pai! – Disse Luana.
– Luh, nem tenho como te agradecer, você é tão nova e ainda assim conseguiu fazer um velho como eu voltar a viver bem. – Emocionados com aquele momento família, Evelyn, uma das funcionárias da fazenda, pegou seu violão e começou tocar “ Pais e Filhos” do Legião Urbana, aquele dia com certeza, fora um dos melhores de suas vidas.