Gelei. Glimmer apontou a pistola na minha testa e rugiu:

– Leve-me até ele ou eu te mato.

Engoli em seco suas palavras. Teria de leva-la. Teria que ferrar Peeta e mostrar o único lugar feliz que eu tenho como meu.

De repente, Glimmer caiu no chão e a imagem de Gale com um pau de vassoura na mão preencheu meus olhos. Ele estava transtornado, seus olhos verdes estavam totalmente pretos.

– Você está bem? – ele perguntou aflito. Pegou a arma da mão de Glimmer e jogou dentro do bueiro da rua.

– É... Acho que sim.

– O que ela queria?

– Que eu levasse-a até Peeta.

– Você sabe onde ele está? – ele fez um sinal para mim segui-lo e eu o fiz. Fiquei hesitante em contar para ele, não sabia se ele era de confiança. – Ei, confie em mim. Não acredito nas coisas que aquela mulher falou, ou não teria vindo atrás de você, certo?

– Certo... Bom, eu sei sim onde ele está. Mas não quero levar ninguém lá, é um lugar só meu e dele.

Ele apenas sussurrou um “o.k” e me levou para sua casa. Entramos e não havia ninguém em sua casa.

A sala de estar era enorme e maravilhosa, os móveis eram de mogno, os sofás com uma cor bege que combinava com as estantes e a mesa de centro. O lustre da sala devia custar todo o dinheiro que Peeta tinha descoberto no cofre de seu pai. Era cheio de pérolas gigantes.

À esquerda tinha a cozinha, que era um cômoda gigante, os armários combinavam com as cores do fogão e geladeira. Era tudo simplesmente lindo.

Havia uma escadaria na sala que parecia daquelas de novela. Lindas. O chão tinha um carpete bege que também combinava com todos os móveis, lustres e tudo mais do lugar.

– Nossa, sua casa é maravilhosa – eu estava boquiaberta.

– Ah, obrigado. Quem escolheu toda a decoração foi minha mãe, meu pai apenas pagou. Eles fizeram um trato que, ela escolheria as coisas da casa e ele as coisas do casamento. O casamento foi bem rústico, do jeito que meu pai queria. Se minha mãe tivesse escolhido, seria a festa das festas.

Rimos juntos e sentamos no sofá. Aconcheguei a mala que eu tinha em mãos debaixo de minhas pernas.

– Pode ficar aqui esta noite se quiser. Temos um quarto de hóspedes no terceiro andar.

– Ah... Eu não sei, eu estava indo levar essa mala para Peeta – apontei para a mala.

– Katniss – Gale se sentou ao meu lado e pegou minha mão. – Por que ainda insiste nele? Finnick me contou tudo o que ele fez contigo, sei que sofreu por ele. Sei que gosta dele, e não foi ninguém que me disse, percebo no jeito como você fala o nome dele. Eu acho que você deve ser feliz, tentar encontrar a felicidade em outras pessoas, ou ficará presa nele pelo resto de sua vida. Se ele é um babaca o problema é dele, permita a você mesma ser feliz – ele tocou minha bochecha com um dedo.

Ele estaria certo? Eu devia realmente esquecer Peeta? Tentar coisas novas? Ser feliz?

Gale estava mais perto do que o comum de amigos. Sentia sua respiração em minha pele. Seus lábios estavam tão perto dos meus, a uma distância pela qual as pessoas ficam antes de se beijar.

Não sei porque fiquei tão assustada quando ele me beijou. Foi um beijo calmo, tenso. Quando nos separamos eu não sabia o que dizer. Eu não gostava de Gale, mas ele, aparentemente, gostava muito de mim.

– A-ah... Eu tenho que ir – peguei a mala e saí porta a fora. Ainda estava muito assustada com o acontecido.

Segui caminho ao parque. Olhei para a rua onde Glimmer tinha sido atingida por Gale e ela não estava mais lá. Coloquei uma touca na cabeça e tentei me esconder o máximo possível para ninguém me reconhecer. Principalmente a Glimmer.

Quando cheguei ao parque já eram 22:45, não tinha mais ninguém, apenas uns caras mal encarados, mas eu fui mesmo assim. Não desistiria de Peeta, tinha que levar essas coisas pra ele, e me esconder na casa também. Glimmer é uma psicopata que está atrás de nós, precisamos nos esconder onde ela nunca vá nos achar.

Graças a Deus, nenhum louco apareceu para tentar me sequestrar na trilha. Quando entrei na casa da árvore, Peeta estava encurralado, com a cabeça entre as pernas. Joguei a mala no chão e corri até seu encontro:

– Peeta! O que foi?!

Ele não respondeu, apenas soluçou. Dava para ver que ele já estava chorando fazia um tempo. O abracei de lado, tentando trazer o conforto que ele me trazia quando era eu que estava em crise.

– Peet, me diz o que aconteceu – eu alisei seu braço devagarinho. Ele demorou, mas cedeu ao meu abraço e me abraçou de volta.

– Não... Não é nada – ele limpou as lágrimas com a manga de sua camiseta e me soltou. – O que você faz aqui novamente?

Contei sobre Glimmer pra ele, que tínhamos que tomar cuidado para ela e ele estava aflito. Dava pra ver que ele estava em crise por dentro, mas se segurou. Peguei maças que tinha trazido em minha mala e comemos antes de deitar.

Arrumamos as almofadas no chão, pegamos cobertores e dormimos, um de um lado da casa, outro do outro lado. Eu queria estar pertinho dele, agarrada com ele, mas sabia que era impossível, pelo menos naquele momento.

*

– Peeta, eu vou comprar comida no mercado e já volto – acordei-o.

– Espera! Vou com você – ele se encheu de roupas e fomos direção ao mercado.

O parque já estava cheia de crianças brincando;

Se eu não comprasse comida íamos ficar nos enlatados até quando?! Eu estava escondida dentro de casacos, capuz e tudo mais, Glimmer não iria me reconhecer.

Ao chegarmos ao mercado, Peeta disse que ia ficar olhando a banca de jornais que tem em frente ao mercado enquanto eu comprava.

A moça do caixa me cumprimentou e eu fui em direção as verduras. Depois fui para a fila do pão e dei de cara com Annie. Ela ficou me olhando, meio sem saber o que fazer, depois deu um sorriso tímido e eu retribuí.

De repente, ouvi uns estrondos muito fortes. Todos olharam para trás, assim como eu. Eram... tiros! Eram tiros!

Corri para fora do mercado, jogando todas as compras no chão. E pior: tudo que eu mais temia estava acontecendo.

Glimmer com um revólver apontado para Peeta, que estava caído no chão, com uma mancha vermelha em sua barriga.