Sinto como se estivesse vazia. Como se não possuísse sangue correndo nas minhas veias. Como se não houvesse um coração nem dois pulmões em algum lugar do meu corpo. Como se eu nunca tivesse vivido.

Não consegui ir para a escola hoje. Acordei com algo doendo no meu peito, como se tivesse errado em algo a mais e não conseguisse me lembrar. Fiquei triste só de pensar em não te ver, mas sabia que doeria ainda mais em vê-lo magoado comigo.

Acordei ouvindo os gritos. Tenho tentado não ligar muito para isso, mas, de alguma maneira, sinto algo se mexendo, meus olhos ardendo e seguro tudo até ficar sozinha. E então deixo as lágrimas saírem junto com um pouco de sangue.

Cada vez que levo um bronca, não importa sobre o que seja, sinto como se não conseguisse fazer nada certo. Sei que não dá para agradar todo mundo, mas como eu consigo não agradar ninguém? Como consigo nunca ter feito uma boa ação para alguém de uma maneira que não me trouxesse recompensas? Me sinto egoísta.

E, quanto mais eu tento fazer algo corretamente, dá errado. E brigam ainda mais comigo e não preciso que me batam porque essas palavras doem mais do que qualquer arma. Elas fazem com que eu me odeie, me fazem criar cicatrizes na minha pele, fazem meu coração rachar apenas por eu pensar que estou nesse corpo. E a sensação de se odiar é pior do que qualquer arma em qualquer parte do corpo.

Porque sinto como se estivesse condenada a viver com o que sou desde o dia em que nasci.

Parece que, antes de eu nascer, fiz algo que merecesse um castigo, e o que foi decretado era que eu seria desse jeito e convivesse com essas pessoas.

Quando fechei a porta do meu quarto depois de ouvir aquele tom de voz soar aquelas palavras, caí na cama, começando a chorar sem fazer som e deixando minha mente vagar, acreditando que eu era uma péssima pessoa. Tentei novamente me lembrar de todos os motivos que eu tinha para não morrer e parecia que eles tinham morrido.

Então, de alguma maneira, eu consegui me levantar e fazer mais mutilações ao meu próprio corpo.

Olhei-me no espelho, tentando encontrar mais qualidades que servissem para alguma coisa, mas havia um vazio. Não consegui encontrar nem a minha primeira qualidade.

Talvez meu único motivo para que eu não pegasse uma faca e a enfiasse na minha barriga era a esperança de podermos nos consertar ardendo no meu peito.

Lembrei-me de ter olhado nos seus olhos e percebido que você conseguia ver a mina alma. E de ter te tocado e sentido meus pensamentos vagarem pela minha mente, confusos. E de ter ouvido sua voz e me desligado do mundo.

E, principalmente, lembrei-me de ter visto apenas uma única vez sua tristeza de forma explícita, de modo que todos soubessem que ela existia.

Sinto como se meu espírito estivesse dormindo em algum lugar frio, sem alma.

Sinto como se eu não fosse humana, como se eu estivesse aqui por engano. Como se tudo o que tivessem dito sobre mim fosse mentira.

Preciso me encontrar novamente. Preciso me lembrar de como era ter auto-orgulho, porque a auto-decepção está me consumindo lentamente. Preciso me lembrar de como era rir sem imaginar que era enganação do cérebro para que meu coração se sentisse bem. Preciso me lembrar de como era me superestimar. Preciso me lembrar de como era bom ver o céu azul.

Preciso me lembrar de como era bom ser feliz.

Preciso de que alguém me traga para a vida.

Os únicos momentos em que eu me sentia bem era quando ficávamos juntos. Tipo, você do meu lado, com uma aura que me trazia segurança. Você me fazia sentir como se não fosse uma má pessoa, você me fazia despertar mais qualidades em mim mesma. Eu acreditava que estava me subestimando.

Você é muito importante para mim, Math. Quero que reconheça isso antes de se questionar se deve ou não me perdoar. Você me fez mais coisas do que poderia imaginar, você fez mais bem a mim do que qualquer outra pessoa. Se você se perder, me perderei junto. Para onde quer que você for, eu tentarei lhe seguir.

Só preciso do seu perdão para que meu céu volte a ser cinzento. Só preciso que me aceite para que meu céu se clareie a cada dia mais. Para que eu possa, aos poucos, ver as estrelas e para que meu sol ilumine-me.

Você é a única pessoa que parece se importar comigo e com o que sinto. Que parece se lembrar de que também possuo sentimentos e sinto tudo o que vocês sentem. E que parece se lembrar de que também sou capaz de ferir, mesmo que isso vá doer em mim depois.

Prefiro fazer as outras pessoas sorrirem usando minha própria dor do que me fazer bem com seus sofrimentos.

Talvez tudo o que eu quero é ajudar alguém, de alguma maneira. Talvez assim eu não vá me odiar tanto. Eu perceba que consegui fazer algo legal para outra pessoa corretamente. Eu perceba que não sou tão insignificante.

Tem algo, nesse momento, que estou com vontade de fazer. Ainda não vi seu rosto hoje, eu preciso vê-lo. Preciso sentir sua presença, preciso olhar nos seus olhos. Sim, isso é para me ajudar, mas também a você. Não gosto de ficar irritada com meus amigos e imagino que você também não.

Nesse momento, estou criando coragem para ir à sua casa implorar seu perdão.